Sakhir | Um dia antes do início da temporada
2 de março de 2023
A palavra "chamando" nunca pareceu tão assustadora quanto naquele momento para a alemã. A ligação nem ao menos tinha sido atendida ainda e ela quase conseguia sentir o quanto estava fazendo algo no qual não era mais da sua alçada. Certo que Corinna tinha sido uma pessoa importante em sua vida, elas passaram cinco anos convivendo como uma família, principalmente do acidente de Olivia e sua decisão quanto a aposentadoria e se mudar para a mesma cidade dos Schumacher. Entretanto, estar telefonando para a amazona depois de seu término com Mick parecia uma coisa fora do comum.
A Maurer tinha passado o dia em uma reunião com o pessoal de Relações Públicas da Ferrari, planejando como seria sua abordagem, visto que Frédéric deixou claro que queria uma visão pessoal da influenciadora e, não, algo tão certinho e correto quanto o marketing. E, mesmo não parecendo, isso precisava de certo planejamento para um não invadir a área do outro. E não ser totalmente intrusa na privacidade dos pilotos. Carlos ainda parecia não gostar do seu trabalho, mesmo com suas declarações sobre não querer revelar seu término.
Portanto, havia esperado até os últimos minutos para fazer a bendita ligação para felicitar a antiga sogra. Mick até mesmo já havia mandado mensagem, dizendo que a mãe estava aguardando qualquer sinal da alemã. E isso, de repente, tinha descarregado uma tensão maior sobre os ombros da ruiva.
Gina também entrou em contato, apenas para ser a "querida" de sempre e dar sua humilde opinião do quão insensível seria da sua parte fingir que não era o aniversário de Corinna. Afinal, Olivia devia muita coisa para a mulher, ela que tinha dado a autorização para a família ser citada e o novo número de pessoas que a host do "Discombobulate" expunha nas redes sociais mostravam a influência do assunto.
Claro que não seria o fato de Olivia ter aceitado o contrato da Ferrari, ou por conta dela mesma. Era os Schumacher, toda a influência que o nome da família tinha. A alemã sabia disso, ao menos caiu na real quando perdeu tantos seguidores depois do anuncio de seu término com Mick.
As pessoas gostavam da família. Algumas até cediam aos encantos de meros mortais como ela, mas a maioria apenas se mantinha por causa deles. Mesmo sendo tão reclusos e contra a mídia, eles ainda conquistavam muito.
E a chamada foi atendida, revelando o rosto de seu ex-namorado.
Mick que ainda parecia o garoto de dezoito anos que elogiou o modo como montava, ficando vermelho ao perceber o modo como a garota interpretou. O Mick que fez Gina passar o número da alemã, que elogiou seu cabelo colorido e que era seu mundo até o último ano.
— Gott! Eu ainda não me acostumei com o quão linda você está ruiva!
Olivia piscou, um peso diferente sobre seu peito, ao lembrar que vinha negociando para ter seus cabelos naquele tom a dois anos com Gina. De que mudou a coloração depois que Mick a abandonou em Abu Dhabi, depois de a chamar de "fraca" por ter se aposentado do hipismo depois que melhorou. De ter desistido de seu sonho.
— Se bem que deve estar acostumada a receber elogios. — ele continuou, pouco se importando sobre ela ter ficado em silêncio — Vi que o Leclerc postou uma foto de vocês jantando com o Sainz em um restaurante ontem e você estava espetacular.
A lembrança do dia anterior acabou trazendo um sorriso para a face da ruiva e o pensamento errôneo para Mick de que tinha conseguido a "dobrar" ao ostentar sua opinião de quão bonita ela estava. Entretanto, os elogios nem ao menos foram capazes de chamar a atenção de Olivia. Não quando um dos motivos para tal feito tinha sido negado a ela por muito tempo. Seus cabelos tinham se tornado um foco depois do término. Era como se eles fossem o pilar de separação também. Ela tinha perdido o direito sobre eles na sua relação com o Schumacher, e recuperado com a separação.
— Foi uma noite muito boa.
Ela falou por fim. Mick fechou um pouco do sorriso ao perceber que Olivia tinha ignorado seus elogios ao ponto de nem ao menos agradecê-los. Mas sorria ao comentar da noite ao lado dos dois pilotos da Ferrari.
— Você já começou a falar em francês com o Leclerc?
— Não, Carlos não fala francês. — ela projetou levemente o lábio inferior para a frente — Mas já sei que ele e Pierre costumam fofocar em francês e que o mesmo acontece com Caco e Carlos, só que em espanhol.
— Você não sabe falar espanhol.
— Carlos já me ensinou algumas palavras. — ela sorriu mais ao lembrar do espanhol tentando ajuda-lá com o idioma — Charles tá insuportável só porque sabe mais palavras do que eu.
— Tem passado bastante tempo com eles né?
— Sim. — Olivia sorriu mais largo — Nem parece que nos conhecemos somente na terça.
— Eles estão te tratando bem?
— Quem não me trataria bem? — brincou, soltando uma pequena risadinha, fingindo não ver o modo como o ex-namorado parecia sério.
Mick mordeu o lábio inferior, tremendo um pouco a face. Era difícil para ele pensar que Olivia não era mais sua namorada, que não poderia força-la a parar de sair com Charles e Carlos.
Quando eles estavam juntos, ela estava finalizando a faculdade e no ano passado criando o "Discombobulate", o que não sobrava muito tempo para o acompanhar em sua temporada. Mas, então, eles terminam e magicamente ela recebe uma proposta da Ferrari? Por que a Scuderia não fez isso no ano anterior? Por que eles não continuaram com seu contrato? Por que a Ferrari tinha conseguido levar tudo de si?
Não que a Mercedes fosse ruim. Não era. Ele gostava da Mercedes e estava muito grato por fazer parte dela. Mas por que droga ele não podia ter sido escolhido como piloto reserva da Ferrari? Se isso tivesse acontecido, ele estaria comemorando o aniversário de sua mãe de forma mais descontraída, apenas pensando que no dia seguinte seguiria para o Bahrein e veria sua garota.
A batina na porta da ruiva o fez prestar atenção a alguma coisa que ela estava dizendo, sorrindo meio envergonhado, esperando que ela não tivesse falado nada de importante.
— Passa para sua mãe, enquanto atendo aqui?
Ela não o deu tempo de responder, já seguindo para a porta, os olhos azuis brilhantes. Mick suspirou, se movendo atrás de Corinna, os ouvidos atentos a movimentação do outro lado da tela.
Mick viu a mãe pela porta de vidro. Ele esperava que Olivia não tivesse se dado de conta que ele ficou esperando sua ligação desde cedo e que tinha "roubado" o celular de sua mãe apenas para aguardar sua chamada. Tomando coragem, a vendo se embaralhar ao colocar a chave na porta do lugar onde estava, ele começou:
— Olivia, eu estava pensando se não poderíamos nos encontrar quando eu chegasse em Bahrein?
A mão da ruiva deslizou pela maçaneta, abrindo a porta, enquanto os olhos azuis se arregalavam pela oferta. Mick sorriu para ela, tentando o seu melhor para fazer sua ex-namorada aceitar o convite.
— La ragazza Ferrari!
A voz quase teatral de Charles assustou a ruiva, a fazendo dar um passo para trás, tirando os olhos do celular e focalizando no monegasco.
— Eu liguei para a recepção e eles disseram que não tinha jantado ainda, então trouxe esse alimento rico em folhas e saladas sem gosto para dividirmos, já que meu personal disse que não podia extrapolar muito hoje. — ele continuou com um sorriso de criança, apenas para ver o olhar atônito na face da ruiva — Mas se você não gosta de salada pode pedir outra coisa, eu apenas... Sei lá... Pensei em jantarmos juntos como ontem... Foi legal ontem né?
— E aí, Leclerc? — Mick o cumprimentou ao ver que a ex-namorada não o faria, abanando a mão do outro lado.
Os ombros tensos de Charles relaxaram ao perceber que não era exatamente a sua presença a causadora daquela feição em Olivia. Ela estava falando com o antigo namorado.
— Oh! Estava ocupada? Prefere que eu volte mais tarde?
— Seria bom... — Mick respondeu por ela, apenas para Charles suspender suas sobrancelhas para o piloto reserva, antes de retornar para cima da ruiva, sua mão tocando o braço dela. Olivia piscou, como se estivesse voltando do estupor e sorriu para o número 16.
— Adoraria jantar com você, Charz. — ela aceitou o gesto com facilidade, antes de voltar os olhos para a tela de seu celular — Você pode passar o celular para Corinna como pedi, Mick? Vou a parabenizar antes de jantar.
— Mas e o conv...
— Quando chegar aqui conversamos sobre isso, agora passe para sua mãe, por favor.
Charles percebeu que o loiro não gostou nem um pouco da fala da ruiva, muito menos de sua presença para o atrapalhar. E o Leclerc não sabia dizer o motivo de ter ficado satisfeito com aquilo. Apenas sabia que Olivia merecia mais do que aquele relacionamento com Mick, principalmente depois da "conversinha" que teve com Pierre, que descobriu através do Esteban, que é amigo do Mick, que existiam facetas naquele namoro que quase ninguém sabia.
— Mama, Olivia möchte mit dir reden!¹
Olivia traduziu a frase para o monegasco, antes de o guiar mais para dentro de sua suite, pronta para fechar a porta, quando viu uma outra figura conhecida despontar no corredor. Ela sorriu para Carlos, o deixando passar com um sorriso, antes de voltar os olhos para a tela e ver o ex-namorado a encarando sério ao lado de sua mãe.
— Cor! — ignorou de forma deliberada a feição de Mick, se guiando para o banheiro, não querendo incomodar os dois pilotos com felicitações para pessoas que não eram de seu convívio e sorrindo para a loira — Feliz aniversário, meu amor! Tudo de bom! Muita saúde e muitas alegrias nesse novo ciclo de vida!
— Obrigada, querida. — Corinna sorriu para a ex-nora — Que tudo isso venha em dobro para você.
— Seu presente deve chegar por essa semana. — a ruiva avisou, lembrando do livro que tinha encomendado em uma livraria próxima a região onde os Schumacher moravam — Espero que goste.
— Tudo que ganho com amor é do meu agrado. Sabe disso, querida.
Corinna sempre a chamou de "querida", mesmo quando brincou sobre o jeito carinho ser apenas usado pela matriarca Schumacher porque ela esquecia seu nome. Todavia, naquele momento, de algum jeito, parecia ter um tom levemente mais açucarado. Mais falso. E ela voltou a sentir aquele peso desconfortavel de não fazer mais parte daquilo, de estar impondo sua presença numa família que não a queria mais.
— Eh... Os meninos estão aqui no meu quarto para jantarmos, então vou deixa-la aproveitar esse tempo com os filhos e...
— Meninos? — Corinna questionou com uma sobrancelha suspensa, como se fosse errado pensar na ruiva com mais alguém no seu quarto.
— Charles e Carlos, vamos planejar a estratégia de imprensa para amanhã.
Olivia não fazia ideia do porquê de ter mentido, ao invés de simplesmente dizer que os dois estavam ali, porque Charles deve ter chamado Carlos para irem. Todavia, parecia errado pensar que o Leclerc tinha decidido isso a conhecendo a dois dias. Mais ainda pensar em citar isso a Corinna, que mantinha os olhos desconfiado em cima de si. Como se estivesse fazendo algo errado.
— Entendi.
Ela não parecia muito contente ainda. Olivia não sabia dizer o motivo, mas sabia que Corinna ou Gina viriam em seu privado conversar sobre suas saídas com Carlos e Charles. Bom, achava até se lembrar que elas não o fariam mais. Não era como se fosse namorada de Mick ainda e estivesse com outros pilotos. Estar num quarto com dois pilotos agora não era mais da conta da família Schumacher. E isso dava uma liberdade e um sentimento de vazio no seu peito de maneira controversa.
— Certo, irei desligar então. — sorriu novamente para a Corinna — Parabéns novamente, Cor!
— Obrigada, querida.
Olivia sorriu para ela, lutando contra a vontade de voltar os olhos para a pessoa parada ao lado de Corinna, quando desligou. Ela abriu a boca, respirando com dificuldade, precisando buscar o apoio da parede para não cair.
Aquilo era demais para a Maurer.
Não podia continuar fazendo aquilo.
Precisava realmente se desligar dos Schumacher.
Ela não aguentava mais aquilo.
Não conseguia mais.
Olivia precisou de bons minutos para se recuperar, passando a mão no rosto para limpar as lágrimas que tinham escorrido em algum momento. Antes de abrir a porta.
O corpo caiu para frente antes que pudesse se estabilizar, a assustando antes de conseguir raciocinar de quem se tratava.
— Você tá brincando comigo né?
— Foi maior que eu.
Charles se desculpou, a fazendo engolir a vontade de bater contra o piloto. Mesmo que a raiva estivesse fazendo seu sangue ferver. A verdade era que a mulher não sabia dizer qual era o real motivo para não pular no pescoço do monegasco. Quem sabe fosse porque no dia seguinte ele começaria e não pegaria bem se o público soubesse que foi lesionado por ela. Ou, quem sabe, fosse porque toda aquela raiva acumulada na qual estava sentido não era direcionada a Charles. E descontar em cima dele não seria justo. E ela gostava de ser justa.
— Nós precisamos ter umas regrinhas para que isso funcione. — disse a mulher por fim, saindo do banheiro e deixando o piloto 16 ainda sentado nas lajotas, o fazendo se erguer rapidamente para a seguir — Você não vai escutar minhas conversas com Mick.
— Com as outras pessoas pode? Só ele que não?
— Não deveria escutar a conversa de ninguém, você sabe disso né?
— Por que não?
— Privacidade. — ela retrucou.
— Não precisamos de privacidade, se quiser, posso contar tudo para você.
— Nos conhecemos a três dias.
— Para mim, parece que nos conhecemos a vida toda. — Charles sorriu para a ruiva, antes de lembrar das palavras de Pierre quanto ao que descobriu por Esteban sobre o antigo relacionamento de Olivia — Eu não tenho o costume de esconder meus sentimentos, Olivia. Não me importo com mídia, me importo com trocas, e gosto de demonstrar o que sinto. Eu gosto de você, me traz uma sensação boa, então, se for do seu interesse, irei continuar a aparecer de surpresa e, com certeza, a querer descobrir tudo sobre você.
A alemã piscou seus olhos, voltando a sentir aquela necessidade de chorar de quando estava no banheiro. Os olhos azuis se forçando a analisar o monegasco, antes de seguir para onde o espanhol estava sentado, arrumando os dois potes de salada na mesa de sua suite. Carlos parecia quase envergonhado de estar ali, ao mesmo tempo, que parecia bem a vontade arrumando tudo para os três.
— Eu também gosto de vocês.
Olivia relatou por fim, sorrindo com a ideia de manter o contato com os dois. Charles, apesar de ser um pouco intrometido, a dava uma sensação de segurança. E Carlos parecia confiável o suficiente para não deixar um silêncio se tornar tenso.
Ter passado o resto de sua tarde com o espanhol, logo depois seguido para jantar junto com o monegasco no dia anterior à fez se sentir bem. Apenas de lembrar sobre isso hoje na ligação com Mick a deixou radiante.
Ela gostava daquilo.
Gostava deles.
— Ótimo! Todos nos gostamos!
Charles bateu palminhas, tal qual uma criança animada, se movendo para perto de Olivia e a dando um abraço apertado. Dessa vez, ela não precisou de sua ajuda para retribuir, mas ainda uns segundos até se embolar com ele. E, quando a Maurer sentou ao lado de Carlos na mesa, recebendo um prato com um frango grelhado e muita salada. Ela não conseguiu deixar de sorrir para ele.
Charles ligou a TV, como se o quarto fosse seu, perdendo o momento que Carlos se inclinou na direção da ruiva, sibilando baixo:
— Quer aprender mais uma palavra em espanhol?
Ela se voltou para ele, a afirmativa o fazendo sorrir ao declamar:
— ¡Chismoso!²
Ela tentou repetir, o fazendo rir e a obrigando a desviar os olhos para o Leclerc, que tinha uma expressão engraçada no rosto os vendo.
— Sabe o que significa?
Carlos continuou a sussurrar, a mão apoiando na parte detrás da cadeira da ruiva, o corpo inclinado na sua direção, ignorando os olhos do monegasco em cima de si.
— Não.
— Dica importante: Tudo o que Charles é.
Olivia riu ao ter uma palavra flutuando em seus pensamentos, antes de se voltar para o espanhol. A face do Sainz estava a centímetros da sua, quando respondeu:
— Fofoqueiro!
— Touché!
E o movimento de Olivia ao escutar o seu acerto foi sincero e sem malícia nenhuma ao apenas inclinar o tronco para a frente e deixar seu rosto encontrar o ombro do espanhol. Uma risada espontânea saindo de sua garganta, enquanto deixava Carlos tenso por alguns segundos, antes de relaxar e rir consigo.
Charles franziu a testa, como se estivesse vendo uma coisa a mais, antes de sua expressão clarear e ele negar com a cabeça.
Ele tinha percebido.
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