Gidá, Arábia Saudita | Jeddah Corniche Circuit
18 de março de 2023
Charles estava estranho. Essa foi a primeira coisa que Olivia reparou quando chegou na qualificação. Ele estava todo arredio e fugindo a todo instante para a Alpine, trocando cochichos com Pierre e, de uma forma bem discreta, lançando olhadelas confusas para Carlos e Rebecca. Parecia haver um misto de emoções passando por seu rosto, mudando de forma bem rápida de uma pessoa a outra. Era estranho ver o modo como ele parecia alegre ao encarar Carlos, mas tristonho com Rebecca.
A ruiva entendia que poderia parecer fora do comum a presença da modelo. O problema estava sendo que Charles parecia carregar uma mágoa fora do comum para cima da mulher, mesmo ela não tendo o visto próximo do casal por muito tempo. Olivia poderia contar a quantidade de vezes em que os viu conversando, e Charles sempre parecia estar com uma coceirinha persistente na lateral do corpo.
Carlos ainda o abraçava, ou o entregava a garrafinha de água, o que Olivia achava de certa forma fofo. Sainz parecia ter reparado que o Leclerc vinha o evitando, mas ainda fazia pequenas interações rolarem. Não era como no primeiro GP, que eles pareciam inseparáveis.
Era por causa disso, que a Maurer estava do lado de fora da garagem da Alpine, mexendo a mão e tentando chamar a atenção de Pierre. Os mecanicos e tecnicos pareciam confusos com sua aparição, entretanto, não a encaravam como os italianos da Scuderia Ferrari ao conhecê-la. Ao que dava a entender, franceses eram menos desconfiados. O Gasly parecia surpreso com sua presença, ainda mais por conta de Charles não estar próximo. Ele até mesmo procurou o Leclerc, como se esperasse o encontrar atrás de um monte de pneu.
— Ollie! — o francês sorriu para ela — E aí? A Kika já mandou mensagem para você?
Francisca havia conseguido o número da alemã com Charles, porém só mandou mensagem para Olivia na noite anterior. A Maurer estava sozinha no quarto que a Ferrari a alocou, quando o celular começou a tremer com a ligação da portuguesa. Ela tinha acabado de voltar do jantar com os outros. E o mais estranho daquilo tinha sido realmente o fato de estar sozinha. Não que ela fosse achar que Carlos iria viver no seu quarto como na primeira corrida. Ainda mais agora que estava namorando com a Rebecca. Todavia, Charles era quase uma certeza. Mas o Leclerc não apareceu. Nem no seu quarto, nem no saguão para jantar como os outros. E aquilo estava cheirando mal. Parecia que alguma coisa havia acontecido e ela precisava descobrir, pois sua consciência não estava a deixando pensar em mais nada além disso.
Charles não brincava que era sua criança? Não a chamava de mãe e se dizia seu filho? Então, ele veria como ela era uma "mamãe coruja". Céus! Olivia nem entendia o motivo de estar tão preocupada com um homem adulto.
— Nós ficamos conversando ontem.
— Pera aí! Ela estava em ligação com você ontem de noite? — a ruiva concordou — Aí meu Deus!
— O que você fez? — ela questionou ao vê-lo assumir uma feição culpada.
— Nada...
— Pierre, eu conheço uma careta culpada quando vejo uma.
— Eu posso... Você sabe... Ter dado uma pequena surtadinha que ela estava de papo com outras pessoas... Bom... Coisa de relacionamento...
A ruiva piscou, vendo ele mexer as mãos.
— Em minha defesa, ela sempre me atende em fim de semana de corrida, porque ela sabe que eu fico nervoso sem ela aqui comigo...
— E esse surto justifica você acusar ela de qualquer coisa?
Pierre desviou os olhos.
— Foi o que pensei.
— Eu vou ligar para ela.
— Acho bom.
Olivia cruzou os braços, sentindo a faixa do crachá incomodar seu pescoço. Pierre negou com a cabeça, murmurando alguma coisa baixo.
— O que você disse?
— Charles me disse que você parece uma mãe recriminando as crianças.
— Ele fala isso porque é minha cria.
Pierre sentiu vontade de incomoda-la sobre o fato de falar como se Charles fosse uma criança e, não, um homem tão velho quanto ela. Entretanto, depois da pequena puxada de orelha, achava melhor se manter isento dessa piada. Naquele momento.
— Você é o que minha? Minha tia?
— Nessa família disfuncional que o Charles tá montando, você precisa entender a árvore genealogia com ele.
— Certo. — ele riu um pouco — Até agora ele só tem a família sagrada, que é você e Carlos como pais.
— Pierre... — ela não precisou continuar para o francês perceber que ficaria encrencado.
— Mas você tá aqui...? — ele desviou o assunto — Quer falar com o Ocon?
— O Ocon está aí? — Pierre viu como o rosto de Olivia pareceu se iluminar ao falar do outro francês. E ele não gostou daquilo, Charles tinha dito que Esteban precisava ser vigiado.
— Não, ele tinha ido pra Aston Martin conversar com o Stroll.
— Oh. — ela sorriu meio amarelo — Claro! Duvidar até Mick está com eles.
— É! Os nepobabys adotaram o Ocon.
— Senti uma pitada de ciúmes...
— De quem? Ocon? Pelo amor de Deus, mulher! Prefiro o meu Charles e Yuki... Enfim, se não é o Ocon, você queria falar comigo.
— Olha ele! É um super mago!
Pierre sorriu tal qual uma criança arteira. Olivia respirou fundo, porque entendia o motivo de Charles o ter como melhor amigo. Os dois eram parecidos. E a coisa toda voltava para Charles Leclerc.
— Você não notou o Charles estranho hoje?
Pierre coçou a cabeça, desviando os olhos, como se soubesse de algo, mas não quisesse comentar. Ou não pudesse.
— Tá rolando uns negócios aí...
— Que negócios?
— Umas coisas e tal.
— Você está sendo vago.
— Eh...
Olivia suspirou ao reparar.
— Você não vai falar né?
— Ele pediu segredo.
Pierre se defendeu, erguendo as mãos à frente do corpo.
— Desde quando vocês conseguem manter a boca fechada? — o tom da ruiva saiu um pouco mais alto — Por favor, todo mundo só sabe comentar o quanto vocês são fofoqueiros e aí quando chega a minha vez, vocês querem ter "segredo"? Isso é sério?
— Ele é meu melhor amigo.
— Você disse que eu era a melhor amiga de vocês dois!
Pierre encolheu os ombros, a fazendo bufar irritada, não se dando ao trabalho de se desculpar e apenas girando nos calcanhares e voltando brava para a garagem da Ferrari. Onde já se viu isso. Os dois ficarem cheios de segredinhos, quando ela precisava descobrir o que estava acontecendo. Fora que eles pensavam o que dela? Que era uma fofoqueira? Ela sabia manter as informações para si. Viveu cinco anos escondendo segredos que não eram seus e quando saiu, mesmo tendo tido oportunidade de lucrar muito, ainda se manteve com a boca fechada.
A ruiva voltou a entrar irritada na garagem, quase fazendo o mesmo do dia anterior e batendo a porta. Pelas graças de Deus, tinha sido mais discreta, mas a feição no seu rosto mostrava o quanto estava azeda.
— Alguém parece que dormiu com os pés para fora. — Jean provocou ao passar ao lado dela. E antes que pudesse pensar muito, a ruiva pulou nas costas dele, enganjando os braços na volta de seu pescoço e quase fazendo o técnico se enforcar, se não tivesse acontecido o mesmo na visita em Maranello a alguns dias.
— Ah você vai aprender! — Jean a avisou, firmando as mãos nas coxas de Olivia, com medo de derruba-la, antes de correr na volta dos carros.
Os presentes na garagem abriam espaço, alguns até mesmo erguiam a mão e a faziam bater, dizendo que fazia parte do percurso. E a ruiva começou a rir, deixando o mau humor para trás tempo o suficiente para receber com um sorriso gigante o piloto número 55. Carlos, que estava voltando da garagem da McLaren, parou de caminhar, vendo o técnico correr com a apresentadora do "Discombobulate" até Antônio. O mecânico recebeu a ruiva como se fosse uma coisa comum.
— Se alguém se machucar e tentar se encostar como acidente de trabalho, irei fazer você pagar, Olivia.
Frédéric a provocou, erguendo o celular apenas para dar entender que estava tudo gravado. A ruiva riu, soltando o pescoço de Jean e praticando uma posição de sentido, até mesmo mexendo a mãozinha. O Vasseur negou com a cabeça.
— Eu completei o percurso e ainda fui vencedora. — Olivia murmurou, deitando a cabeça contra o ombro de Antonio — Qual meu prêmio?
Carlos deu alguns passos na direção deles. E Antônio suspendeu as sobrancelhas na sua direção, quase como se o desafiando a falar alguma coisa. O Romano tinha percebido bem as intenções do número 55 para cima da sua garota e Carlos era uma boa pessoa. O problema era que Carlos era uma boa pessoa comprometida, com uma mulher que vinha dando pequenos indícios de má vontade com Charles.
— Eu pago o jantar hoje.
Jean sugeriu a Olivia, fazendo um sorriso se expandir na face da ruiva, antes de erguer a mão e aceitar a proposta.
— Vocês viram o Charles? — Carlos não fazia ideia do motivo de estar perguntando aquilo, normalmente ele apenas se aproximaria e se deixaria incluir na conversa. Porém, daquela vez, ele queria que a atenção focasse nele.
— Boa noite, Sainz. — Antônio sorriu de forma debochada ao perceber o modo como o piloto encarava a mão ainda junta de Olivia e Jean.
— ¡Buenas noches! — Olivia sorriu ao terminar de cumprimenta-lo em espanhol, o claro orgulho de quem conseguia algo que vinha treinando a tempos — Não tô com muito sotaque né?
— Está pegando o jeito. — o espanhol sorriu para ela, não vendo quando Jean levou uma cutucada discreta de Antônio.
— Eu baixei um aplicativo de idiomas, mas eu não entendo nada do que aquela moça fala. — Olivia suspirou — Mas ontem o Caco me ajudou em umas lições e...
— Caco? Caco, meu primo?
— Acho que é o único Caco que conheço.
— Por que não perguntou para mim?
— Porque você não jantou comigo...
— Você jantou com o Caco?
— Aham. — a ruiva deu de ombros — Todos jantamos juntos ontem. Caco, Frédéric, Antônio, Jean, Thomas... Nos encontramos no saguão e acabamos indo jantar no restaurante do hotel mesmo.
— Por que não me chamaram?
— Porque estava com sua namorada, lembra?
— Rebecca não é minha namorada.
— Mein Gott, Carlos! — ela arregalou os olhos, mexendo os ombros — Okay! Não te chamamos ontem, hoje chamamos e pronto.
— Vocês tão brigando? — a pergunta venho da entrada da garagem e os dois se voltaram de maneira rápida para ver Charles se aproximando.
— Onde você estava? — Olivia foi mais rápida que o espanhol, colocando as mãos na cintura e estreitando os olhos na direção de Charles — Eu estou te procurando desde cedo! Para que tem celular? Porque para responder uma mensagem ou atender uma ligação não é.
— Eu... Eu... — Charles encarou a ruiva parecendo confuso — Mas... Você queria falar comigo?
— É o que se deseja quando procura a outra pessoa, Charles.
O monegasco piscou.
— Eu não te via desde ontem, Charles. Estava procurando você também. — Carlos completou, a voz mais calma do que a irritada de Olivia.
E a coisa mais estranha que Olivia poderia esperar aconteceu, quando viu o Leclerc se voltar para a mulher que estava se aproximando da garagem com um copo de água na mão. O modo como a feição de Charles se mostrava tão perplexa ao encarar Rebecca, como se buscasse entender algum quebra-cabeça estranho.
— Charles, quero falar com você na sua sala. — a ruiva avisou, não se deu ao trabalho de convidar, apenas o avisou — Agora!
Charles primeiro encarou Rebecca, depois seguiu para Carlos e finalmente chegou a Olivia. E alguma coisa estava incomodando a Maurer com o modo como o monegasco sempre parecia olhar para a Donaldson para confirmar as coisas que eles falavam.
Charles nunca conseguia manter a boca fechada, era uma coisa dele. Sua mãe costumava dizer que vinha desde criança, porque ele era o primeiro a entregar os coleguinhas na escola ou dedurar seus irmãos. O problema começava com isso, pois as coisas estavam acontecendo de maneira muita rápida desde o dia anterior e Rebecca Donaldson tinha conseguido entrar na sua mente com tão pouco tempo de convívio. E agora ele não sabia como continuar se mantendo quieto, porque sua tática de fugir de Olivia tinha sido descoberta e ele estava cercado dentro da sua própria sala. E ele se sentia uma criança ao pensar que Rebecca estava certo quanto a ele não ser confiável, pois não conseguia manter nada em segredo.
— Começa.
O monegasco desviou os olhos para o teto de sua sala. Ele não era muito interessante, mas conseguia enrolar Olivia se não olhasse na sua cara. A tática de fuga ainda era impossível com ela na frente da porta. Então, precisava enrolar.
— O que?
A ruiva estreitou os olhos, antes de passar a língua pelos lábios, secando as mãos na sua calça e se aproximando rápido do outro, colocando ambas as mãos no rosto de Charles e baixando seu rosto para conversarem. Charles iria falar, por bem ou por mal. Ela descobriria o que estava acontecendo.
— Oi... — Charles cumprimentou, sentindo as bochechas quentes e apertadas entre as mãos da alemã.
Era estranho para ele pensar que Olivia parecia tão carinhosa com ele, sendo que reclamava sobre sua pessoa para a nova namorada de Charles. Ou, como Rebecca se nomeou, futura senhora Sainz. Ele sentia vontade de rir ao lembrar que Carlos nem era verdadeiramente o Senhor Sainz e, sim, o Senhor Del Pulgar. Duvidava que Carlos tenha falado o nome completo a ela, normalmente só falava depois de muito tempo. Bom, falava antes de revelar para todos os tifosis.
— Quero saber o que está acontecendo.
— Não faço ideia do que está falando.
Charles desviou os olhos, a fazendo apertar um pouquinho mais os dedos no rosto dele. Ainda não era de uma maneira que pudesse o machucar, mas firme o suficiente para que não ousasse se afastar.
— Não vamos sair daqui até você começar a falar.
— Frédéric não me deixaria ficar aqui, hoje é dia de qualy.
— Acredite em mim, Charz. — ela sorriu para ele, de maneira que quase o deu medo — Você não sai daqui sem me falar o que está acontecendo e não tem Frédéric, mecânico, técnico, estrategista ou FIA que muda isso.
Charles tinha os olhos arregalados, porque alguma coisa no modo como Olivia dizia aquilo, o dava a certeza de que estava falando a verdade e, não, apenas o ameaçando.
O grande problema era que deveria falar? Aquilo era um drama enorme de sua parte, a própria Rebecca já estava debochando de si. Certo que Olivia era diferente da Donaldson, bem diferente, mas ainda parecia pensar da mesma forma. Se não pensasse, não teria reclamado para a outra.
— O que está acontecendo, querido?
A Maurer questionou novamente, o polegar mexendo de maneira carinhosa contra a face do monegasco. E ela tinha entendido o motivo de tanto alarde das fãs quanto aos olhos do Leclerc, ainda mais agora que ele os mantinha de forma tão arregalada. Eles eram tão expressivos que quase assustavam.
— As pessoas estão falando que sou inconveniente.
Olivia soltou a face do monegasco, a testa franzida e a sobrancelha suspensa. Quem tinha falado aquilo? Charles era literalmente a pessoa mais doce que ela conhecia. Certo que passava do ponto em alguns momentos, mas era apenas conversar com ele. A pessoa que ousava falar isso sobre o Leclerc só podia ser uma mal amada qualquer, que não tinha motivo para ser amarga e que se sentia melhor colocando outra para baixo.
— Que pessoa?
— Todo mundo tá falando...
— Não tem essa de "todo mundo", sempre tem um amargurado sendo a âncora de tudo. — Olivia o avisou, precisando dar alguns passos para trás, buscando pensar direito — Foi algum dos mecânicos? Porque se foi, eu posso fazer Jean surrar eles... Se foi Jean, eu mesmo bato nele... Ou foi um hate da internet? É por que está se mostrando mais nas lives? Podemos mudar isso... Eu só preciso que me fale quem foi para que eu possa ir até esse mal amado e acabar com a raça dele...
Charles desviou os olhos novamente. E Olivia se lembrou do modo como Charles pareceu surpreso com o fato dela e Carlos estarem o procurando. Logo depois parecendo lançar um olhar confuso na direção da pessoa que estava chegando.
— Rebecca tem alguma coisa a ver com isso? É uma amiga dela? — Charles fechou seus olhos e ela voltou a tocar o rosto do monegasco, uma espécie se medo diferente em seu corpo dessa vez ao questionar — Me diz, por favor, que quem te falou isso não foi a Donaldson?
— Do-Donaldson?
Olivia virou o rosto, mordendo o lábio inferior ao ganhar a confirmação necessária com a gaguera do Leclerc. Charles pulou do lugar que estava sentado, se movendo para a porta ao vê-la se guiar naquela direção e parando igual uma estrela do mar a frente. Suas duas mãos pararam no batente e ele quase brincou sobre estar igual o George na abertura feita para a FIA. Todavia, estava preocupado demais com o modo como Olivia o encarou para fazer farra do britânico... Naquele momento, esperava poder lembrar o fato mais tarde.
— Saía!
— Não.
— Charles, saia para que eu possa ir destruir a carreira dessa modelinho de quinta.
— Não.
— Por quê?
— Porque ela tem razão. — Olivia fechou a boca, o olhando sem acreditar — E você sabe que ela tem. Todo esse grude que estou em cima de você, o modo como se sentiu aliviada por eu ter ficado mais tempo com Pierre do que com você... Eu não sou idiota, Ollie... Isso sempre acontece e...
— Eu fiquei aliviada por estar com Pierre? Quem te falou isso?
— Sim... E eu não preciso da confirmação de ninguém para saber.
— Eu fui até a Alpine tentar descobrir o que estava acontecendo com você, moleque. — ela se segurou muito para não bater na cabeça de Charles — Falei sobre você o jantar todo ontem, pode perguntar para Caco, Fred, Jean, Thomas ou Antônio. Qualquer um deles vai dizer o quão insuportável estava ontem reclamando que você não tinha tempo para mim. Então não venha com isso de ser inconveniente, porque você não é inconveniente para mim.
— Mas você falou para a Rebecca que eu...
— Mein Gott! Eu nem falei com essa mulher, Charles! — ela o interrompeu — O único contato que tive com a Donaldson foi com você junto. Você lembra de eu ter falado algo sobre estar sendo inconveniente?
Ele abaixou a cabeça.
— Me responde, Charles. Eu falei alguma coisa?
— Mas ela disse...
— E você prefere acreditar nessa modelinho que chegou agora do que na sua melhor amiga? — ela suspendeu a sobrancelha, porque era quase hipócrita de sua parte julgar o fato de Rebecca ter aparecido a pouco tempo, visto que ela chegou apenas duas semanas antes — Não é isso que você gosta de me chamar?
— Eu te amo. — Charles soltou do nada, a fazendo piscar os olhos confusa com a mudança repentina de assunto.
— Que?
Charles reparou no modo como a postura de Olivia pareceu mudar, dando um passo para trás e tombando levemente a cabeça para o lado. O indicador se movendo dele para ela. E o monegasco entendeu como a ruiva tinha conseguido a enorme façanha de aguentar o Schumacher por tanto tempo, porque somente sendo tonta daquela maneira. Céus! Como assim ela estava considerando algo fora a amizade?
— Como amigo.
Charles completou, apenas para a ver respirar de forma mais aliviada. Ele não sabia se deveria se sentir ofendido com isso, mas foi de forma bem revigorando ver que não haviam confundido as coisas. E, então, ela voltou a se aproximar, o pegando de surpresa ao ser abraçado.
— Eu também te amo. — ela murmurou contra o seu ombro, e o piloto a abraçou. Graças a isso, um pequeno gemido saiu de sua boca, quando ela o apertou, friccionando o braço contra o espaço machucado na lateral do corpo de Charles — O que houve?
— Nada...
— Achei que havíamos passado isso.
— Eu precisei revelar que "te amo" para conseguir te acalmar quanto a Donaldson me dizendo coisas ruins... Não sei o que posso fazer para te acalmar se você ver isso...
Pior que Charles realmente parecia nervoso com isso. E ela o viu passar a mão de maneira muito superficial pela costela. E a sua imagem de sempre mexer na lateral do corpo voltou, ela perderia a conta se pensasse em quantas vezes o viu mexendo naqueles lugares durante o dia. E isso não estava cheirando bem.
— Tira o macacão.
— Olivia, eu já disse que não vai rolar...
— Tira o macacão.
— Somente amizade, Ollie.
— Charles, ou você tira o macacão sozinho como um homem crescido ou irei o arrancar de você. Anda.
Olivia não fazia ideia de quão alto estava falando até escutar um som parecido com um assobio do outro lado da porta, comprovando que baixo não era. E ela estreitou os olhos na direção de Charles, evidenciando que não se importava com o pensamento errôneo que provavelmente viria de quem quer que tivesse a ouvido mandar tirar a roupa. E o pior era que ela não se importava mesmo, ela apenas queria saber o motivo de Charles ter ficado dolorido com um abraço. Se isso saísse em um site de fofoca, arcaria com as consequências e resolveria a situação depois. Naquele instante, o foco era Charles Leclerc e o motivo para estar mexendo tanto na lateral de seu corpo.
Charles a encarou derrotado, antes de soltar o botão de cima e puxar o zíper para baixo. E Olivia desviou os olhos para o lado, não por ter se sentido afetada, como acreditava que uma grande quantidade de mulheres poderia vir a se sentir, mas por respeito ao monegasco. E, quando retornou, não precisou falar para o fazer erguer a camisa debaixo e mostrar as pequenas marcas distribuídas dos dois lados da costela.
— Quem fez isso com você?
— Ela disse que eu estava sendo inconveniente e por isso fez... Para me avisar...
Olivia não precisou pensar muito em quem era o "ela" citado por Charles e aquilo a enfureceu. Quem essa mulher achava que se tratava para encostar em Charles? Ele era um cristalzinho!
— Eu vou fazer um bem parecido na cara dela para deixar de ser uma desgraçada.
Charles nem teve tempo de se mover para impedir Olivia de sair da sua sala, visto que o seu macacão acabou se prendendo. Era como se fosse o destino agindo. E, quando se soltou, a ruiva já não estava na sua sala. Charles tinha certeza que conseguiria ganhar de Max em uma corrida ao sair no corredor.
Ele não precisou realmente adivinhar onde a ruiva estava, porque para a sorte ou azar de Carlos, as salas deles ficavam uma de frente para a outra. E o Sainz tinha acabado de destrancar a porta e a abrir, quando Charles saiu e viu Olivia invadir o cômodo.
— O que...?
Carlos não conseguiu completar a frase.
— Eu quero que você junte as suas coisas e desapareça dessa garagem agora! — Olivia gritou antes mesmo dos olhos encontrar a modelo sentada no canto da sala.
— Ollie! — Charles empurrou o corpo de Carlos da frente da porta, vendo pelo canto dos olhos que o grito da mulher havia chamado a atenção dos demais presentes na garagem. Torcia para Carlos ser esperto e fechar a porta.
— O que você falou para ela? — Rebecca se levantou, apontando o dedo na direção do monegasco.
— Não fala com ele. — Olivia se meteu entre os dois, frente a frente com a modelo, dando um tapa na mão da Donaldson — O que você achou? Que ia inventar coisas e ninguém ia saber?
— Do que estão falando? — Carlos perguntou perdido, sem entender o motivo das duas estarem se olhando de maneira tão irritada.
Rebecca ainda era a mais alta entre as duas, o rosto inclinado para baixo, os olhos azuis estreitos em desafio para a ruiva. Olivia não parecia pensar que aquilo interferia em algo, os ombros tensos, o pescoço espichado e a face esbanjando desprezo para a outra mulher. Existia raiva entre as duas e nem fazia sentido para Carlos aquilo, porque não havia as visto perto em momento algum.
— Eu não fiz nada com ele.
— Eu também não vou fazer nada com sua cara. — Olivia apontou o dedo na cara da morena — Mas aposto que não vai ter ninguém para vir te defender, sua fingida! Duas caras!
— Defender ela do que? — Carlos perguntou a Charles ao ver que não arrancaria nada das duas.
— Encosta em mim, garota! Encosta a mão em mim e vamos ver quem sai perdendo mais! — Rebecca rebateu, voltando a dar um passo a frente, quase encostando seu corpo ao de Olivia.
— Se aproximou por quê? — a ruiva ergueu mais o queixo — Olha bem para mim, não me assustei nem mesmo quando me ameaçaram, dirá com teu tamanho!
— Sua namorada me chamou de "inconveniente". — Charles explicou de forma bem direta ao número 55.
— Me aproximo porque eu posso, criança. — Rebecca empurrou o ombro da Olivia, a fazendo dar um passo para trás — Agora sai daqui antes que eu faça você desaparecer dessa garagem.
— Tenta, Rebecca. — a Maurer sorriu ao falar o nome — Tenta e vamos ver quem realmente vai desaparecer. Você vai juntar as suas coisas e ir embora agora daqui se for esperta.
— E se eu não for esperta? — Rebecca debochou da ruiva.
— Se você não for esperta, eu vou ir até a garagem da Red Bull e junto com o bicampeão mundial, vou destruir a sua carreira.
— Eu só quero ver. — Rebecca devolveu.
— Você vai ver.
Charles segurou os braços por trás da ruiva, a segurando no lugar, quando fez menção de avançar em cima da modelo. Rebecca sorriu, como se fosse acostumada com aquilo. Porém, antes que pudesse abrir a boca para falar qualquer coisa, Carlos se meteu entre as duas, ficando de costas para Olivia e Charles e de frente para a Rebecca.
— Junta as suas coisas e vai pro hotel. — se voltando rapidamente para os outros dois completou — Deu de escândalo vocês dois também.
Carlos viu quando os olhos da ruiva caíram de forma decepcionada em cima de si, o fazendo engolir em seco, e retornar a atenção para a modelo.
— Você me ouviu. — ele não encostou nela, nem a deixou fazer o mesmo — Junta as coisas e me espera no hotel.
Rebecca respirou fundo, antes de dar um aceno mínimo e pegar sua bolsa. Ela se retirou tão rápido quanto Olivia se enfiou dentro do cômodo. E Carlos se intrometeu na frente de Charles, quando o monegasco tentou abrir a porta e seguir o exemplo da modelo com Olivia.
— Agora vocês dois vão me explicar o que acabou de acontecer aqui.
— Tira o macacão, Charles. — Olivia ordenou ao número 16, os olhos fixos de forma raivosa ao 55 — Mostra o que a namorada de Carlos fez em você.
— Ela não é minha namorada, Olivia. — Carlos repetiu a mesma frase do outro dia.
— Não me importo com o que ela é de você, me importo com as merdas que ela fala e as mentiras que destila. E, principalmente, se ela se mete com as pessoas que eu gosto. — Olivia bateu a ponta de seu indicador no peito de Carlos.
— Tira a mão de mim.
A ruiva negou, o coração acelerado devido à raiva que vinha sentindo. Era impossível que Carlos estivesse mais irritado quanto a ela tocar nele, do que com aquela situação.
— Olha para ele, Carlos! — ela apontou pro número 16, antes de apontar o dedo para ele — Sua namoradinha estava agredindo teu colega de equipe.
— Tira o dedo da minha cara.
Carlos pediu antes de olhar para Charles. O Leclerc tinha os olhos no teto, enquanto as mãos ainda seguravam sua roupa para cima, para mostrar o pequeno estrago. O número 16 não sabia dizer se sentia humilhação pela situação em si, ou emoção pela forma como Olivia estava o defendendo.
— Eu posso colocar os cinco se você quiser. — Olivia murmurou irritada — Melhor, eu vou colocar os cinco na sua cara e na da sua namorada se ela continuar a falando merda.
— O que ela falou para você, Charles?
— Que sou inconveniente, inventou que a Olivia não me aguentava mais e que sou grudento demais e que só atraso a sua vida.
— Isso tudo no meio segundo que ficavam sozinhos?
— Desculpa, não cronometrei. — Charles baixou sua roupa, voltando os olhos para Olivia — Podemos ir embora agora?
— Desculpa. — Carlos pegou o braço dele, respirou fundo depois — Eu acredito em você.
— Por quê?
— Porque você é o Charles. — ele não sabia explicar o que aquilo justificava, mas o Leclerc pareceu entender — Só estou furioso por não ter percebido antes.
— Lesado do caramba. — Olivia murmurou baixo, mas alto o suficiente para o espanhol ouvir.
— Olivia...
— Falei para você ouvir mesmo. — ela foi passar pelos dois, quando a mão do espanhol pegou seu braço — Não encosta em mim, Sainz!
Carlos a soltou da forma mais rápida que conseguiu.
— Se ela aparecer aqui de novo, eu não estava brincando, eu vou ir até a Red Bull e vou convencer o Max a destruir a carreira dela. Eu posso não ter influência para isso, mas ele tem... E, se duvidar, convenço até mesmo o Fernando a fazer isso.
— Ela não vai aparecer mais.
— "Me espera no hotel". — Olivia o imitou — Sabemos muito bem o que vai acontecer naquele hotel... E eu tô nem aí se você namorava ou não namora com essa babaca do inferno. Mas se ela aparecer aqui de novo, eu vou destruir a carreira dela, Carlos. E eu não estou brincando.
Olivia não se deu ao trabalho de se despedir, apenas entrelaçou os dedos com os de Charles e o levou dali, deixando Carlos sozinho na sua sala. Se os mecânicos escutaram o barulho de alguma coisa sendo jogada na parede, ou o fato do número 55 e a Maurer não se comunicarem depois disso, ninguém comentou.
HOTEL
Carlos se lembrava perfeitamente de como foi seu término com Isa. Os dois estavam desgostosos no relacionamento e se tornou inviável continuarem juntos. Mas o indício do fim, quem deu a cartada de que iriam terminar foi ela. Se dependesse dele, provavelmente estariam empurrando o namoro por mais um certo tempo, só não saberia dizer quanto. Ele gostaria de dizer que era um bom companheiro, mas aquilo seria uma completa mentira, pois ele reconhecia que aquele relacionamento só estava beneficiando a si mesmo, porque não fazia nada de bom a Isa. E ela merecia mais, alguém melhor do que um cara que aprontava sempre que se sentia solitário ou decepcionado consigo mesmo.
Seu envolvimento com Rebecca foi uma jogada técnica, na verdade. Eles já vinham conversando — Carlos não negaria a beleza de Rebecca — e seu RP disse que seria interessante ver como os fãs reagiriam a esse envolvimento. E as coisas estavam indo certo. Conseguiram boas matérias, a popularidade na altura e havia sido uma boa semana, antes de ter a brilhante ideia de trazê-la para Gidá. Sendo sincero, ele nem queria aquilo. Não queria desfilar com a modelo e fazer todos pensarem que eram namorados, mas Rebecca insistiu. E Rebecca tinha posto na cabeça que era sua namorada, esquecendo o combinado de manter a coisa toda informal e agindo de maneira totalmente ridícula. E, pior de tudo, se metendo em assuntos que não era de sua alçada.
— Achei que não iria chegar nunca.
A voz de Rebecca era insuportável depois de ter a mente cheia pelo péssimo lugar na qualificação. E, não podendo esquecer, o modo como foi tratado pelos próprios mecânicos que até dois dias atrás diziam nem suportar Olivia, mas que agora tinham o tratado de maneira totalmente fora do comum apenas para mostrar seu apoio a ela. Não fazia a porra do sentido. Aquele estava sendo um péssimo fim de semana e ele só gostaria de poder voltar para Sakhir e fugir de um dono de bar qualquer, porque esqueceu da sua carteira. Aquele seria um escândalo menos problemático do que ter Rebecca em Gidá.
— Em qual lugar ficamos? Não aceito menos que o quinto.
A sua classificação tinha sido péssima, já que foi eliminado na primeira bateria, depois de pegar um tráfego horrível que apenas o atrapalhou. O Q2 se tornando apenas um sonho distante para si, dirá o Q3. Todavia, nessa parte, não poderia ficar irritado com Rebecca, porque ela não estava presente na qualificação. Não, ela tinha aprontado antes e o feito perder toda sua concentração. E, nessa parte, ele poderia apontar o dedo na sua cara e a culpar.
— Vamos tirar essa mochila e relaxar. — a Donaldson murmurou, se aproximando de onde ele ainda estava parado na porta do quarto e levando as mãos na intenção de ajuda-lo, apenas para ser surpreendida com o afastamento bruto — O que foi?
— O que você falou a Charles?
A modelo rolou os olhos, os ombros caindo e um pequeno biquinho assumindo seus lábios. Sério que eles precisavam retornar a aquele assunto? Não estava tudo resolvido depois de todo aquele escândalo da Maurer? Rebecca sentia seu sangue ferver ao recordar daquilo. Aquela ruiva não sabia com quem estava mexendo.
— Ele não se contentou em ir reclamar para a ruivinha e tinha que encher sua cabeça também? — ela debochou de Charles — Pelo amor de Deus! Eu não falei nada demais e aposto que pela sua cara, graças as caraminholas que ele colocou na sua cabeça, não conseguiu uma qualificação boa. Provando o meu ponto.
— Que ponto?
— De que ele apenas te atrapalha e é inconveniente.
— Como é?
— Qual era a necessidade de ir correndo para sua sala junto com aquela outra louca te importunar antes de uma qualificação? Sempre ficou bem claro que para os tifosis e a Ferrari, não importa o quão bom seja o seu desempenho, porque você nunca vai ser "o predestinado", aquele que vai fazer o que o Vettel não fez... Você é apenas o segundo piloto e Charles está fazendo de tudo para que isso continue acontecendo e...
Ela parou de falar quando o espanhol ergueu a mão, cruzando os braços a frente dos peitos, se perguntando se Carlos tinha reparado sobre o fato de estar com uma camisola bonita e quase transparente. Ele ainda era um homem e eles tinham conseguido bons "momentos", "momentos" interessantes nessas últimas semanas. E, depois de todo o drama de mais cedo, esperava ser recompensada por ter feito o que foi pedido sem nem pestanejar. As coisas funcionavam assim, era apenas saber as armas que tinha o time certo e tudo se organizava para o que ela queria. Rebecca estava acostumada com aquilo, aquele joguinho.
— Primeiro, eu quero que você abaixe o tom de voz, pois não está falando com seus amiguinhos. — Carlos orientou, já que ela parecia não ter notado que estava gritando no final — Segundo, Olivia em momento algum te chamou de "louca" ou qualquer palavra pejorativa, apenas defendeu o seu ponto e te mandou embora, coisa que ela pode, já que trabalha lá e você não. Então vamos baixar um pouquinho a bolinha e ser uma pessoa educada. Terceiro, se os tifosis ou a Ferrari me tratam como segundo piloto, eu não me importo. Eu sei meu próprio potencial, meus resultados estão aí para quem quiser, Rebecca. Qualquer um pode ver. E, por último, Charles...
— Me diz, por favor, que não sou a única pessoa que vê como ele se aproveita da imagem de "bom garoto", "menininho fofo" para te deixar para trás e conseguir posições melhores.
— Qual é o seu problema com o jeito de Charles?
— Aquilo não é real, Carlos! — ela gritou, o fazendo estreitar os olhos e ela moderar o tom — Ninguém é daquele jeito e se você acredita naquilo, me desculpa, mas está sendo um trouxa.
— Você já me chamou de "segundo piloto" e "trouxa" até agora. — Carlos a interrompeu de novo — E para alguém que estava chamando a Olivia de "criança", está sendo muito madura, Rebecca.
A morena arregalou os olhos.
— E você deveria tentar conviver com Charles antes de julgar o seu jeito. — ele continuou — Charles é uma pessoa muito especial, que infelizmente a mídia fez assumir compromissos e desejos que não eram somente dele. As pessoas gostam de cobrar um legado dele, algo desde a morte de Jules, que o deixa em extrema pressão e o faz se apegar muito rápido nos outros... Você teria percebido isso se tivesse dado uma chance e...
— E aí eu seria igual a Maurer que te deixa de lado e não respeita nem mesmo o teu momento de concentração antes de uma qualificação, apenas porque o Charlinho não pode ouvir algumas palavras duras...
— Você o machucou, Rebecca. Deixa de se fazer de sonsa, eu vi o que você fez. — Carlos a retrucou, a vendo mudar o peso da perna e dar um passo para trás — Falar alguma bosta e se desculpar é uma coisa, agora ter o machucado foi além. Os vermelhões e roxos vão ficar, mesmo que fosse fraco e isso é demais, entende?
— O que está dizendo?
— Estou dizendo que não quero uma pessoa assim perto de mim.
— Pelo amor de Deus, Carlos! Que drama por conta de uma pessoa que é apenas seu colega de equipe.
— Ele não é só o meu colega de equipe! Acho que isso você não percebeu ainda. Charles não é apenas meu colega de equipe.
A morena o encarava sem saber o que poderia falar ou fazer. Aquela era a parte em que normalmente as coisas já estavam resolvidas e apenas tinha que aproveitar toda a tensão de Carlos. Eles não tinham chegado aquela nova fase. A feição do número 55 deixava claro que não estava aberto para seguir a discutir, dialogar o que aconteceu. Ele estava bem determinado, para dizer o mínimo.
— Eu não posso te mandar embora agora, os hotéis estão cheios por conta da corrida de amanhã. — Carlos continuou a falar — E seria até mesmo irresponsável da minha parte fazer isso, você está sozinha aqui, venho comigo... Mas amanhã de manhã, nós vamos ir pro aeroporto e eu vou comprar a sua passagem de volta para casa e acabou... Não vamos mais aproveitar de toda essa atenção que causavam por estarmos "juntos" ou o que merda as pessoas acharem que estava acontecendo.
— Você não acha isso muito extremista?
— Não, porque eu estou me segurando muito para agir como adulto com você.
O espanhol sentia o cansaço da péssima bateria no Q1 e as discussões caindo sobre si ao pensar que o assunto estava resolvido, se movendo para pegar sua mala e juntar as coisas que estavam espalhadas pelo quarto.
— Onde você vai?
— Caco já está me esperando.
— Você vai para o quarto do seu primo?
Ela parecia desacreditada.
— Sim...? — Carlos franziu a testa para ela — Onde achou que eu ia dormir? Eu acabei de dizer que os hotéis estão cheio, obviamente soube disso porque estava tentando achar um para ir.
— O que as pessoas vão falar?
— E isso importa?
— Claro que importa, Carlos!
— Olha o tom de novo, Rebecca! — o espanhol chamou sua atenção, fechando sua mala.
— Você não pode me deixar aqui, tem papparazzi para tudo que é lado, eles vão tirar foto de você saindo e...
— Vão dizer que você me correu daqui. — ele completou — Mais mídia para você e não vamos precisar explicar que "não estamos mais juntos".
Rebecca passou a língua pelos lábios, o vendo colocar a mochila nas costas novamente e já seguindo para a porta. Aquele tinha sido a sua chance de voltar para a mídia, enterrar todos os boatos sobre si, e estava indo embora por conta de um homem que se finge de amigo e uma ruiva intrometida.
— Você vai perder amanhã, Carlos. Estou te avisando.
Carlos tripudiou das palavras da mulher.
— Se eu perder amanhã, ganho na próxima. — deu de ombros — Mas é você? Vai fazer o que?
Ela agarrou o abajur ao lado da cama, arremessando na direção da porta onde o Sainz se encontrava. O espanhol se abaixou, escapando com facilidade, e a deixando mais irritada. Carlos analisou o estrago, negando com a cabeça.
— Amanhã eu venho para te levar pro aeroporto, Rebecca. Boa noite!
Ele ouviu o grito feminino ao sair no corredor, arrastando sua mala e não conseguindo entender como Caco achou que aquela mídia toda com a Rebecca seria boa para sua carreira. Ele não gostava de pensar em uma mulher como sendo louca ou surtada, mas agradecia por ter deixado acertado que não se tratava de um namoro. Se apenas mantendo um "casinho" essa foi a reação, dirá uma coisa mais séria.
Carlos tinha ficado em outro hotel, por conta disso, o Sainz se colocou dentro do elevador, pronto para apertar o botão para a garagem, onde o carro dado pela Scuderia a ele se encontrava, quando pensou melhor. Rebecca tinha razão quanto ao escândalo que seria estar saindo com seu carro para outro hotel. E ele estava devendo um tempo a Charles, juntamente com um pedido de desculpas. E isso poderia acabar ajudando para alguma coisa. Por conta disso, apertou o andar do Leclerc, saindo de forma animada no corredor.
Se existia uma coisa que ele invejava em Charles era a sua facilidade para dormir. Ele poderia demorar para cair no sono, mas quando acontecia, somente no dia seguinte. Tanto era que Carlos tinha o costume de vir ao quarto acordá-lo para não se atrasar. Como foi o caso do dia em que Olivia foi apresentada, eles se atrasaram porque Charles não acordava de jeito nenhum.
O problema era que essa foi a primeira vez que os dois não trocaram as chaves dos quartos. Charles não tinha a sua e ele não tinha a de Charles. E agora fazia bons minutos que batia na porta, tentando acordar o monegasco. Tempo suficiente para incomodar as pessoas dos outros quartos. Uma dessas pessoas era um italiano que estava o olhando torto desde a cena de mais cedo na garagem.
— Tem pessoas que querem dormir aqui!
A voz de Antônio o assustou. Carlos não tinha um convívio muito grande com o mecânico, apesar de o conhecer desde antes de entrar para a Scuderia. Antônio era um homem grande, não que Carlos reparasse isso, mas quando o homem estava o encarando de maneira a deixar claro que queria o matar. Foi a primeira coisa que reparou.
— ¡Lo siento!¹ Digo, sinto muito. — Sainz sentiu vontade de se bater — Eu queria falar com o Charles e ele provavelmente está dormindo e preciso o acordar e...
— Charles não esta no quarto.
— Como? Ele tá onde?
— Onde você acha? — Antônio cruzou os braços e Carlos queria dizer que aquilo não o oprimia, mas voltava a repetir que o Romano não estava muito feliz com sua presença e os braços dele pareciam maiores naquela posição.
— Olivia ficou em que andar? — perguntou após engolir em seco, vendo a feição do mecânico se tornar mais dura.
— Olivia não está dormindo no quarto dela. — e a feição de Antonio quase se tornou risonha ao continuar — Por que você não tenta na porta do Jean? Acho que ele tá no andar de cima, quarto 706 B. Boa noite!
Antônio não deu nem mesmo tempo para Carlos responder a ele, girando nos calcanhares e entrando no seu quarto. Carlos piscou, vendo a porta bater, o deixando sozinho no corredor.
O espanhol passou a língua pela parte frontal dos dentes, não gostando do gosto estranho que sua boca tinha ao pensar em Olivia e Carlos no quarto com Jean. Primeiro que Jean nem ao menos tinha uma relação com qualquer um deles antes de Olivia aparecer e agora parecia querer ficar toda hora na volta. Seu nome sempre tava na roda. E, quando ele apareceu na porta de Caco, meia hora depois, o seu primo sabia que o humor não estava bom. E não comentou nada, apenas o presenteou com seu lado da cama, já que não havia conseguido uma segunda cama e nem iria para o sofá. Aguentou a meia hora de reclamação depois que Carlos viu algumas mensagens do grupo dos pilotos, sabendo que o dia seguinte seria ainda pior.
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