História Discombobulate - Sempre nas madrugadas

Gidá, Arábia Saudita | Madrugada

20 de março de 2023

Olivia estava ficando muito boa em se afastar de Carlos como se nada tivesse acontecido, pois foi questão de segundos para estar indo na direção do número 4 da McLaren, ao vê-lo cambalear até os dois. O piloto da Ferrari quase sentiu vontade de questionar se ela conseguia se teletransportar, mas conseguiu se deter a tempo. Lando não precisava saber mais que o necessário... Se bem, que depois do acontecimento de mais cedo, Lando já sabia de muita coisa... O ouviu reclamar a vida de Charles Leclerc por um bom tempo, enquanto se arrumava para vir... A McLaren tinha o proibido de sair se não fosse na companhia de Carlos. Incrível como ele tinha conseguido se livrar do monegasco, mas o empurraram um britânico para o incomodar.

— Hey, mocinho! 

Olivia sorriu para o Norris, fazendo Lando sorrir também e Carlos o entendia, porque a Maurer tinha um sorriso meio hipnotizando que acabava o deixando com vontade de rir para o vento. Não que ela precisasse saber daquilo.

— Olli-Ollie! — ele gaguejou, passando os braços pelos ombros dela e apoiando a testa na da ruiva. Carlos se aproximou dos dois, a sobrancelha suspensa — Cara, você é muito linda! Alguém já te falou isso?

— Hoje ainda não. — ela brincou, tocando o corpo do britânico, sem saber como agir.

Na cabeça da mulher, não fazia sentido estar sendo elogiada, ainda mais ao pensar que estava questionando seus atributos, enquanto falava com Lewis. Se bem que aquela deveria ser uma reação meio natural, não? Era o Lewis Hamilton, heptacampeão mundial, e um dos caras mais bonito que ela conhecia.

— Então... — Lando soluçou — Eu preciso dizer o quão bonita você é! Tipo, no "Setor 1" já falamos isso, mas, cara, você excede os limites e...

— Setor 1? — ela suspendeu as sobrancelhas.

— Grupo dos solteiros. — Lando falou como se fosse óbvio — Setor 1: solteiros, Setor 2: namorando, Setor 3: casados.

Ela não questionaria mais o nome, porque fazia mais ou menos um sentido. E, por alguns segundos, ela pensou em Mick. Os dois tinham planejado um casamento futuro, então a ideia era subir para o "Setor 3", mas, ele tinha descido para o "Setor 1" no final.

— E o que vocês falaram de mim? — Ollie questionou, tentando esquecer Mick.

Eles não estavam mais juntos, não deveriam dominar a mente um do outro. E ela não deveria se importar com o fato de ainda ser difícil bloquear o número dele, ou arquivar todas as fotos em que estavam juntos. Seu perfil ainda parecia um grande santuário para seu antigo relacionamento, mesmo tendo acabado a bons meses. Alguma coisa ainda a fazia deixar os comentários lá, toda sua história exposta nas poucas fotos do namoro, que mesmo assim dominavam todo seu feed ainda.

— Que você é linda. — Lando cantou, agarrando a face da ruiva e praticamente apertando sua face.

— Ela sabe que é linda, Landito. — Carlos sibilou, afastando o britânico da alemã, a lançando uma olhadela nada boa quando ouviu uma risadinha — Você não estava bebendo água?

— Nah! Eu não coloquei nenhuma gota de água na boca desde que cheguei. — ele parecia orgulhoso de dizer aquilo, o que sinalizava o fato de não ter percebido a artimanha de Daniel — E eu estou bem, sabe? Acho que estou ficando duro na queda, estilo você com shot's.

O dedo de Lando apontou para o peito da Olivia e um sorriso maroto surgiu no seu rosto. A Maurer abriu a boca para agradecer, brincar que aquilo se devia a longas noites com sua irmã e cunhada, quem sabe alguns bares, quando Carlos a interrompeu:

— Kelly deixou ela ganhar para o Mick fechar a boca.

— O que? — a ruiva se voltou para Carlos. 

Como assim Kelly havia a deixado ganhar? Olivia se lembrava muito bem do modo como a brasileira tinha feito careta, torcido o nariz ao aproximar o shot de sua boca... Se bem que logo em seguida, quando estavam com Kika, ela recordava de ver a Piquet bebendo mais um pouco e... Mein Gott! Kelly tinha a deixado ganhar!

— Você não sabia? — ele franziu a testa, assumindo uma feição culpada — Eu achei que ela tinha te contado...

— Aparentemente as pessoas esquecem de me contar as coisas. — ela murmurou, fingindo uma cara brava, apenas para ver o espanhol arregalar os olhos. A alemã quase saiu do papel para rir, mas conseguiu se manter assim que Lando chamou sua atenção.

— Te contar, Olivia. — Lando voltou a tocar os ombros dela, dessa vez não juntando suas testas pelo menos — Eles nunca contam, apenas te entregam um garoto mais novo e dizem que você precisa cuidar dele e aí esse garoto novo é todo misterioso e tem uma risada muito boa de escutar, mas ele não ri para nenhuma das suas brincadeiras e você se sente inútil...

— Lando, estamos falando de quem?

Olivia tinha a sobrancelha erguida em confusão e nem ao menos tinha conseguido terminar de degustar da bebida nova que Lewis havia a apresentado para culpar o álcool. Carlos, por outro lado, o analisava de cima a baixo, como se algo tivesse passado a sua cabeça e os pontos estivessem finalmente se entrelaçando.

— O que? — ele piscou os olhos de maneira preguiçosa, antes de ver o rosto desconfiado do Sainz — Carlos!

— Acho que está na hora de alguém ir embora. — Olivia se entrometeu, mudando o britânico de posição e passando o braço por sua cintura, o ajudando a manter o equilíbrio — O que você acha de um banho, querido?

— Vamos tomar banho juntos? — Lando parecia animado com a ideia, sorrindo para ela, antes de ficar sério — Olivia, você não pode tomar banho comigo, o Carlos me bate se isso acontec...

O Sainz tapou a boca do Norris, desviando os olhos da alemã e os fazendo voltar ao meio do pub, escapando das perguntas que viriam no corredor vazio. E ela anotou mentalmente que precisaria tirar aquela história a limpo. O que ela vinha perdendo?

— Eu só preciso avisar Charles que estou saindo. — Olivia acabou gritando para os dois, já os guiando na direção do bar, vendo o monegasco conversando com Max, Daniel, Pierre, Lily, George e Alex.

— Para! Para! Para! — Lando pediu, inclinando o corpo para a frente de maneira suspeita, deixando o corpo de Olivia tenso ao pensar no britânico vomitando seus pés, apenas para se soltar e colocar uma postura respeitável até — Como eu estou?

— Bêbado.

Carlos foi simples, ganhando um tapa no braço de Olivia. Ele ergueu a mão, como quem não entendia. O que ela queria? Carlos não iria mentir para Lando apenas porque estava bêbado. De qualquer forma, ele não teria tempo para isso, pois, no momento que se aproximaram do grupinho no bar, Charles o fez o favor de empurrar o Norris, não o dando tempo de falar qualquer coisa a Olivia, precisando apoiar o Norris.

— Fica longe dela! — Charles sibilou, parecendo um pinscher, já puxando a ruiva para trás de seu corpo.

— Hey! —Olivia chamou sua atenção, o puxando pelo braço — Charles mau! Feio! Muito feio!

O monegasco parecia discordar dela, negando com a cabeça e cambaleando, evidenciando que tinha seguido o conselho da ruiva e ido ao bar beber. O que fez Olivia pensar que talvez tivesse passado mais tempo no corredor com Carlos, do que realmente pareceu na sua cabeça, porque não havia chance de Charles estar tão bêbado com apenas alguns minutos.

— Ele é mau! Charles é um garoto bom! — respondeu, apontando para si mesmo — Charles não tentou ficar roubando a glória dos outros.

— O que é isso? Percy Jackson e eu não sabia?

Lily brincou, arrancando uma gargalhada de seu namorado. Olivia também teria rido, se não estivesse mais preocupada em fazer Lando sentar e controlar um Charles irritado, fugindo um pouco para a linha do mimado.

— E é por esses motivos que Liam precisa de uma educação mais dura. — Max completou, sinalizando Charles para Daniel, ganhando uma olhada nada boa de Olivia no processo.

— Não é porque você é cheio de traumas que o nosso garoto também vai ser. — Daniel resmungou — Checo me apoiaria se estivesse aqui.

— Legal que vocês excluíram Carola, Kelly e a minha adorável pessoa da família disfuncional. — Heidi ergueu os polegares para os dois, bebendo em um gole o líquido de seu copo.

— Desculpa, Berger. — Max se voltou para ela, ganhando um aceno sem importância da loira — Mas em algum momento vocês tinham sido incluída e eu não sei? Porque eu não lembro de vocês terem falado com ele em momento algum, até Olivia já deu bala a Liam e vocês não...

— Você deu bala a Liam? — o grito de Charles acordou a ruiva do fato de estarem ali para debater a sua própria família disfuncional e não prestar atenção a da Red Bull. E, quando ela se voltou para o Leclerc, os olhos dele beiravam a decepção após uma traição. — É por isso que não me ofereceu nenhuma hoje? Mesmo eu tendo ganhado uma corrida, por que tinha a dado ao Lawson?

— Ele não queria estar no pódio... — Carlos se intrometeu, o braço ainda na volta de Lando, o equilibrando para não cair do banco do bar — Olivia só tentou o alegrar um pouco.

— Você não tem que alegrar o garoto do Max. Você tem que alegrar o seu garoto! — Charles apontou o dedo para ruiva, a fazendo suspender uma das sobrancelhas e ele abaixar a mão rapidamente — Desculpa.

— Charles é mais educado que o filho de vocês, por isso prefiro ele. — Heidi aproveitou a ação do monegasco para rebater a fala de Max.

— Liam só é reservado, Heidi. — Daniel saiu em defesa do piloto reserva, ganhando um aceno de Max.

— Pelo amor de Deus! Ser reservado e não cumprimentar uma pessoa são coisas bem diferentes. — Heidi devolveu, rindo em seguida — Vocês falam de Charles, mas ele ao menos cumprimenta as pessoas.

— Verdade. — Charles sorriu para os dois, apoiando a cabeça no ombro da loira, sentindo a cabeça girar um pouco, o obrigando a piscar repetidas vezes.

Olivia ergueu a mão, tentando chamar a atenção do barman, apenas para o ter abaixado por Carlos.

— O que você quer? Eu pego.

— Água pro Charles.

Carlos concordou, sinalizando para a ruiva voltar a prestar atenção pra conversa e se virando para apoiar um Lando que já estava piscando de forma mais lenta.

— Eu sempre me sinto perdido em assuntos assim, porque nunca sei o que sou nessas famílias. — Pierre comentou, coçando a nuca — Eu até ficaria meio triste, mas a Kika disse que Yuki é o nosso Charles, só que sem todo o trabalho...

— Babá. — Lily o respondeu — Tipo, Olivia conseguiu montar uma família no fim de semana de Bahrein, mas desapareceu na madrugada de domingo, Carlos sumiu quando o Charles encheu o saco dele e sobrou você e a Kika para cuidar da criança mal-criada dela.

— Eu não sou uma criança mal-criada. — Charles gritou novamente, ganhando um empurrão de Heidi por ter o feito em seu ouvido e quase caindo, se não fosse Olivia segurar seu braço.

— Cala a boca que os adultos estão conversando. — Lily mandou, o fazendo dar um passo para trás da Olivia — Olha só, baby! Não funciona só com o Logan.

Alexander tinha a face avermelhada pelo apelido, mas concordou com a namorada. E depois da carteirada de Lily, ninguém parecia ter coragem de o incomodar com aquilo.

— Eu sou o único que tenho uma criança calma? — Lewis questionou, fazendo todos notarem sua presença atrás da algazarra, no mesmo lugar de quando estava bebendo com Olivia, bebericando seu drink e sorrindo na direção de George. O número 63 pareceu estufar o peito e Lando deu risada.

— Ele fez igual o Rocky! — o Norris riu mais um pouco, apontando o dedo na direção de George, soluçando antes de repetir — O Rocky quando a Ginger elogia.

— Que Rocky? — Pierre questionou, aparentemente tentando recordar de alguém com esse nome — Ginger é quem? A Olivia? 

— Meu Rocky? — Max perguntou, se lembrando de seu carro, confuso ao se voltar a Olivia — Você elogiou o meu Rocky?

— Eu não faço ideia do que estão falando. — Olivia respondeu de maneira sincera — E nós vamos levar Lando embora agora, Charz. Você quer ir junto?

— Rocky daquele filme. — Lando falava entre risadas, aparentemente tinha se acordado com a fala de Lewis e agora ria sem parar — O galo Rocky... Que a Netflix tá fazendo a continuação...

— Rocky da "Fuga das galinhas"? — Daniel sugeriu, ganhando um aceno e olhos questionadores sobre si — Nós vimos o filme com a baby P, Heidi... Lembra?

— Não. — ela foi sincera.

E Charles tinha os braços cruzados novamente, o mesmo bico de quando Olivia tinha falado com ele antes.

— Por que temos que levar Lando? Se ele venho sozinho, ele sabe ir sozinho.

— Porque ele tá bêbado. — Olivia respondeu com certa suavidade, tocando os cabelos escuros do monegasco — E podemos fazer ele dormir e pedir pizza sem o Andreas saber, o que você acha?

Daniel cutucou Max, apontando com o queixo, enquanto via a ruiva dobrar Charles. O Leclerc parecia ter recebido a melhor notícia do mundo, concordando de forma apressada e recebendo animado a garrafinha de água que Carlos tinha o oferecido. Heidi reparou bem o modo como Olivia sorriu para o Sainz, ganhando um aceno do espanhol com um meio sorriso.

— Certo! — a alemã respirou fundo antes de sorrir para os outros — Estamos indo embora, vão ficar bem? Nada de encrenca, ok?

Todos riram do modo como a ruiva falou, mas Pierre foi um dos únicos a responder, enquanto ela se despedia com um abraço de Heidi e Lily:

— Kika me bate se eu me meter em encrenca, ou pior, me deixa. Agora, se vocês não se importam, eu vou com vocês. 

— Já ouvi alguma coisa parecida com isso. — Olivia comentou, mas aceitou que ele pegasse "carona" com eles.

Nenhum deles fazia ideia como foi decidido que dispensariam a presença de Pierre no primeiro carro com uma boa quantia de dinheiro e um senhorzinho que os reconheceu de forma quase automática, mas eles o fizeram. E, logo depois, se dirigiram para o hotel fechado para a Ferrari com Lando Norris. Não que o piloto da McLaren fosse um problema, visto que sentou no bando de trás, escorou a cabeça no ombro de Olivia e dormiu. O problema em si era Charles, que tinha voltado a assumir sua feição irritada ao perceber que não conseguiria se livrar do Norris.

Olivia tinha certeza que nunca tinha experimentado uma viagem tão torturante em um espaço de tempo tão pequeno. Isso incluía até mesmo o dia em que foi para a fazendo dos Schumacher com Mick estando brigada com ele. E isso era uma grande coisa. 

— ¡Gracias a Dios!

Carlos comemorou quando o carro parou na frente do hotel e aparentemente não havia nenhum paparazzi ou fotografo os aguardando, apenas meia dúzia de fãs acordados e alguns dormindo. E uma ideia meio idiota passou pela cabeça de Olivia.

— Não. — Carlos a avisou, quando se moveu para a ajudar a descer Lando, a vendo sair com Charles.

— O quê? — ela tinha a face corada.

— Eu conheço essa cara. — ele murmurou, passando o braço pelo corpo de Lando antes de a pegar pela mão — Vamos entrar, dar banho no Lando e comer pizza com Charles. Apenas e só.

E ela provavelmente poderia reclamar sobre o fato de Carlos estar sendo mandão e mal-humorado, mas não quis, porque pensou no ver dos fãs, que os olhavam como se fossem completamente loucos por estarem chegando de madrugada com Lando Norris sendo arrastado por Carlos Sainz, enquanto o espanhol a arrastava junto consigo e Charles Leclerc vinha como uma criança birrenta atrás. Deveria estar parecendo um caos, mas era apenas o segundo pós-festa depois de uma corrida... E, talvez, apenas talvez, eles fossem um pouco estranho também.

Mick e Olivia tinham o costume de alugar uma cabana no meio do nada e irem passar o recesso de três semanas após o GP de Mônaco. Eles desligavam o celular e iam até altas horas da madrugada enchendo a cara, normalmente, isso resultava em uma ressaca brava, mas eles não ligavam para isso, acordando em posições estranhas e com uma memória cortada da noite anterior. E isso era bom, porque quando se esta bêbado, você acaba passando por situações que não gostaria de lembrar e esse era o exato problema que a Maurer estava vivendo no momento.

Ela, com certeza, se lembraria da imagem estranha que era Lando Norris correndo pelo seu quarto vestido apenas com uma cueca da McLaren, enquanto Carlos Sainz tentava o levar para o banho. Agradecia ao único fato de não estar tão avançada nas suas aulas de espanhol para entender as ofensas que o Sainz gritava para tentar conter o Norris.

— Eu acho que vou ter pesadelos.

Charles confessou, se jogando ao seu lado. Ele parecia mais sóbrio depois de ter sido o primeiro a tomar banho, enquanto Lando se recusava a ir para baixo d'água, discutindo com Carlos. 

— Eu tenho certeza. — Olivia concordou com o monegasco.

E Lando fez um movimento estranho, tropeçando na própria calça e batendo com tudo no chão. Olivia fez careta, pronta para ir ajudá-lo, quando Carlos conseguiu o recolher e o levar para o banheiro. Charles engoliu em seco, escutando o que parecia ser o Sainz berrando em espanhol com o Norris. E, então, a ruiva se deu de conta do que teria acontecido se Lando não tivesse aparecido, juntando as mãos na frente do corpo e engolindo em seco ao escutar o número 55 praguejar alguma coisa.

Por algum motivo estranho, toda aquela situação estava a fazendo lembrar da última vez que foi para a bendita cabana com Mick, do fato de Gina ter aparecido do nada. Eles estavam tão bêbados e nem ao menos questionaram-se quem poderia estar batendo na porta pela madrugada, apenas correram alegres e abriram para o furacão Gina. Não era necessário uma grande explicação sobre o fato daquilo ter os feito ouvir poucas e boas como Lando estava o fazendo com Carlos. E aquilo não era uma lembrança boa, Olivia não queria lembrar daquilo e seu coração estava acelerado por isso, por estar voltando a mais uma memória ruim com os Schumacher e...

— Você quer dar o fora daqui?

A pergunta pulou de sua boca antes que pensasse muito, quase como se tivesse planejado aquilo desde o início. Mas ela só queria sair dali, ir para qualquer lugar onde pudesse não pensar sobre os Schumacher ou lembrar deles. E Charles se voltou aparentemente surpreso para si.

— Agora?

— É.

— Vestido assim?

E Olivia analisou as vestimentas do monegasco. A camiseta polo que Carlos havia o emprestado tinha ficado levemente solta — ainda pequeno comparado ao Sainz —, a calça jeans quase surrada do mais velho e uma meia preta. E ele não estava fugindo muito do usual, apenas discreto demais para se parecer com Charles Leclerc, o terror da moda. Então, ela se voltou para si, rindo ao proferir:

— Charz, eu estou de minissaia e moletom... Um moletom que nem meu é, com um enorme 55 nas costas... Você estar vestido isso, não é nada comparado com isso.

E Olivia sabia que tinha razão, mas foi meio acolhedor o modo como Charles apenas riu, indo colocar seu tênis. E, quando estavam descendo o elevador, ela percebeu que estava fugindo de um lugar pela segunda vez, com a diferença de estar indo com o Leclerc para qualquer lugar da cidade, ao invés de para Maranello com Antônio, Jean e Thomas. E ela se obrigou a mandar mensagem ao espanhol, não iria fazer igual a Sakhir e apenas desaparecer.

"Charle e eu fomos dar uma volta. Espero que você e o Norris fiquem bem... Até amanhã?"

Certamente aquela não era a sua melhor mensagem, mas a verdade era que ela não sabia como deveria falar com o espanhol. Tudo parecia uma loucura se analisado de fora, porque eles mal se conheciam e já tinha acontecido duas situações estranhas que quase os levaram a um beijo. Se bem que um beijo não necessariamente significava alguma coisa.

— O que fazemos? Pedimos um táxi? — Charles questionou, a acordando dos seus pensamentos e a fazendo perceber que estavam no saguão de entrada — Também podemos voltar lá para cima, só que para o quarto de um de nós e assistir aquele filmezinho que combinamos...

Charles parecia mais animado com a ideia do filme do que com o fato de saírem e Olivia concordou. Parte porque gostava de fazer os outros felizes e parte porque percebeu que dessa vez não queria companhia para a hora que saísse. E ela seguiu o monegasco, batendo o pé que seu quarto estava uma bagunça e o obrigando a irem para o dele.

Charles abriu a porta e foi rápido em se jogar na cama, o controle na mão quase automaticamente. E Olivia o acompanhou, a mão contra o colarinho do moletom, tentando o afastar do pescoço, o esgaçar um pouco, antes de desistir de vez e arrancar do corpo. Ela negou o fato de estar com frio, apesar de sentir os braços gelados e até mesmo conseguiu fingir um leve entusiasmo em uma discussão sobre que filme iriam ver. De qualquer forma, ela conseguia vislumbrar como seria o final daquilo e não estava muito errada assim que Charles cedeu ao cansaço da corrida, as bebidas que tinha tomado e uma coberta quentinha, dormindo apoiado ao travesseiro.

Olivia até mesmo o ajeitou melhor, o deitando de maneira que não o deixaria com dor nas costas ou qualquer coisa do tipo, antes de sair do quarto. Ela parecia estar agindo um pouco no automático e ela costumava fazer muito isso antes. E, então, coincidia de ter pensado isso desde quando estava na Suíça com sua irmã e Clarisse, e ela estava no hotel da Mercedes — o que eles tinham reservado a equipe.

Mick não pareceu realmente surpreso com sua aparição maluca no meio da madrugada, mesmo seus olhos tendo demorado a focalizar a ex-namorada. Ele tinha o rosto inchado e uma marca de travesseiro na bochecha. Em outros tempos, alguns meses, aquela seria uma das visões favoritas de Olivia. Chegar em uma cidade de GP, fugindo da carga horária da faculdade e apenas ir ver o namorado correr. Ela não entendia o motivo de Mick precisar tanto disso, até esse último mês, de estar realmente junto com uma equipe. Ser parte da equipe. E agora ela entendia ele. E ficaria feliz se ele tivesse com ela, se eles não tivessem tido aquela maldita "briga" que decidiu tudo. Então, naquele instante não era mais. Era uma visão comum, até meio chata, pois pensando bem, ela tinha acabado de o acordar.

— Entra.

Ele não precisava a convidar, ela tinha dado um pequeno passo para dentro antes dele falar. Todavia, foi meio afável ouvir de sua voz. E ela ainda não se entendia bem o suficiente, mas sentia que deveria estar ali. A lembrança da cabana parecendo em eterno loop em sua mente, a deixando vulnerável o suficiente para ir até o hotel onde seu ex-namorado estava hospedado.

— Não está tropeçando, o que é um bom sinal. — Mick seguiu falando, a vendo se assentar no chão, escorando suas costas contra a cama e ele sorriu na direção dela — Não bebeu tanto ao ponto de estar chorando, o que é outro bom sinal.

— Eu tomei três golinhos de Old Fashioned.

Mick piscou, os olhos parando em um ponto fixo, tentando recordar de já ter experimentado essa bebida, apenas para negar em seguida.

— Nunca tomei.

— Eu também não tinha, mas não conhecia nenhuma bebida do pub que estávamos e Lewis disse que era um dos carros chefes do lugar.

— Lewis é? — ele soltou uma pequena risada, antes de aceitar ao convite silencioso que Olivia fez batendo a mão no carpete ao seu lado.

— Nós fomos comemorar a vitória do Charz.

— Não fez live dessa vez.

— Meu celular estava ocupado, Clary e Lucy tinham ligado e tudo foi uma loucura na hora que nem lembrei.

Mick soltou um som de apreciação, como se entendesse e logo os dois ficaram em silêncio. Eles deveriam estar estranhos um com o outro, sua última interação não havia sido a melhor e o Schumacher tinha passado dos limites, como em todas as outras vezes em que brigaram. Entretanto, o mais estranho era que não estavam. Parecia mais uma noite em que tinham se estranhado e precisavam se aturar mesmo assim. 

Eles iam passar por aquilo, eles sempre passavam. 

Olivia lembra de quando Corinna sentou ao seu lado depois de uma briga e disse que toda relação passava por uma tempestade para ter um arco íris e ela achou aquilo um enorme cliche. Mas quando ele pedia desculpas e a abraçava, entendia bem o motivo de sempre ficar. Era ele. Ela amava ele. E ele era tão falho quanto qualquer outra pessoa e ela precisava ficar, precisava cuidar dele. Mesmo que as vezes quem precisasse de cuidado fosse ela.

— Sinto muito pelo que falei no outro dia.

Olivia não pode deixar de pensar que Mick sempre começava com aquela frase ao se desculpar. Sem mais, nem menos. Era sempre a mesma frase. E ela deitou a cabeça para trás, mexendo a mão de maneira despojada e falando:

— Está tudo bem.

E o loiro deitou a cabeça também, mas não na direção do teto como ela, mas encarando o seu perfil. Seria uma completa falta de vergonha na cara se ele dissesse que não sentia falta de Olivia. Não havia sido apenas ela que esperava qualquer sinal no primeiro mês. Todavia, ela era a única que tinha o direito de o fazer. 

— Eu realmente te esperei por três dias. — ela voltou a falar, estava tão cansada e esgotada com aquilo, mas eles sempre acabavam se excedendo ao citar o acontecimento e ela precisava conversar sobre aquilo para conseguir tirar aquele peso enorme que tinha alugado uma morada fixa sobre si — E o primeiro dia foi meio opressor, porque eu achei que tinha apenas ido para um hotel qualquer e me deixado ali para pensar no que tinha falado... Mas você tinha pego o jatinho e ido embora e eu só soube porque saiu em todos os sites de fofoca...

— Liv...

— Por favor, só me deixa falar tudo. — ela pediu a ele, virando o rosto e olhando dentro dos olhos de Mick, recebendo um aceno — E você realmente maquinou tudo ao levar uma loira encapuzada junto... Sério! Foi um golpe de mestre... Você sabia que eu seria estúpida o suficiente para ficar na cidade para não causar nenhum escândalo, esperando até todos irem embora...

Mick concordou, não se dando ao menos o trabalho de mentir.

— E no dia seguinte já postou o término, tipo... — ela respirou fundo, sentindo o cheiro do perfume do loiro e se obrigando a fechar os olhos — "É com muita dor no coração que venho informar que Olivia e eu não estamos mais juntos. Ontem, depois de uma longa conversa, resolvemos chegar ao fim de nossa relação, depois de cinco anos. Respeito muito ela e amo muito ela, mas existem relacionamentos que contém um prazo de validade e, muitas vezes, precisamos terminar para que novos ciclos comecem. Espero que nossa decisão seja respeitada. Obrigada." Eu decorei sua postagem... Cada letra... Sílaba... Palavra... Frase... Porque doeu... E foi mentirosa... Nós não conversamos, Mick. Nós não conversamos e... Scheisse! Ninguém que ama outra pessoa faria o que você fez comigo... Eu nunca teria feito isso com você...

Ela não sabe em que momento tinha começado a chorar, mas ela estava chorando ao encarar ele. Nenhum dos dois tinha se encostado e Olivia estava se enrolando ao falar, demorando mais que o normal para terminar, porém, Mick não tinha a interrompido, apenas a olhava se desmanchar na sua frente.

— E eu liguei para você... Não uma, duas vezes... Eu liguei por 39 dias ininterruptos e você só aceitou no dia primeiro, porque precisava que eu fosse fingir ser sua namorada para Michael... Você não me ligou nenhuma vez, não respondeu nenhuma das muitas mensagens, apenas mandou um "Preciso que venha para a Espanha, meu pai está perguntando de você e amanhã é o aniversário dele. O jatinho te pega de noite, esteja pronta." Eu decorei até isso... Mein Gott! Pensando agora, é extremamente revoltante a forma como você me tratou desde o nosso término... E eu não acredito que vim aqui, me sentindo culpada por quase ter beijado um cara, depois de tudo isso...

— Você venho até aqui para me contar que quase beijou um cara?

Olivia não se orgulhava nem um pouco do som que saiu de si com a pergunta, mas ela não tinha muito o que fazer, pois apenas tinha desmoronado mais um pouco.

— Eu não posso mais fazer isso. — ela declarou entre soluços, e Mick ergueu a mão, ele poderia tocar os fios ruivos e a trazer para perto, abraçar o corpo delicado e despedaçado. Eles poderiam se reconstruir, sempre era possível. Mas alguma coisa o impedia, mesmo a vendo precisando daquilo, toda a sua linguagem corporal parecia implorar por qualquer contato e ele não conseguia. Então, ela conseguiu se controlar um pouco, se erguendo de onde estavam, e de alguma forma, ele sabia que aquela tinha sido a última vez que ela viria até ele — Eu não posso mais fazer isso.

Possivelmente Olivia Katharina Maurer era a única mulher que Mick conhecia que o via como ele era, não como uma cópia de seu pai. E foi a primeira pessoa que ele amou fora de sua família. E ela era o seu primeiro amor. Todos os primeiros dele foram com ela, bom, tirando algumas coisas toscas como primeiro beijo e a perda da virgindade. Todavia, ela foi a pessoa que deu sentido a tudo isso. Entretanto, ele ainda estava a vendo pegar sua bolsa e ir embora sem fazer nada. Não parecia haver reação necessária para fazer qualquer coisa. E ele apenas a observava ir.

— Quando deu meia noite, completou 117 dias sem você, Liv.

Olivia não escutou a fala do loiro, muito menos viu quando George e Lewis a chamaram — recém-chegados da farra — ignorou, entrando no táxi que já a esperava e seguindo para o hotel que a Scuderia tinha reservado. A mente dela ainda parecia estar fritando e o peso de seus ombros tinha aliviado, mas estava quase desmaiando de dor de cabeça. Então, a única coisa que queria era cair na cama do quarto alugado e dormir até melhorar. Quem sabe se excluir desse mundo até a próxima corrida, assim daria para tempo para discernir tudo o que tinha acontecido nesse GP e...

— Boa noite!

E Carlos Sainz Vázquez de Castro Cenamor Rincón Rebollo Virto Moreno de Aranda Don Per Urrielagoiria Pérez del Pulgar estava escorado na sua parede, como se tivesse acabado de sair de uma revista, enquanto ela tinha um top e uma saia sujos, um rosto inchado e um nariz escorrendo. Que visão incrível!

— Você mandou a mensagem dizendo que ia dar uma volta com o Charles, aí eu falei com o porteiro para me avisar quando voltassem, só que ele disse que a única que saiu foi você e eu fiquei preocupado... Charles acordou e surtou por estar sozinho, acabou indo dormir com Lando no meu quarto e a menos de um minuto o porteiro me avisou que você chegou e eu... Eu só vim aqui ver se estava tudo bem.

Ela não queria nem pensar em como toda sua fisionomia deixava claro que algo tinha acontecido. Mas Carlos estava ali, portanto, suspirou.

— Eu estava com o Mick.

Ela reparou bem como o moreno levou o pescoço um pouco para trás, concordando em seguida.

— Me senti culpada por querer beijar você.

— Então foi atrás do seu ex-namorado. — ele completou, fazendo uma feição engraçada — Faz muito sentido.

E a Olivia acabou rindo, porque ela entendia ele. 

E devia ser estranho para Carlos saber disso, ela tinha ido no meio da noite atrás do ex-namorado e estava na sua frente declarando que era porque se sentiu culpada por querer o beijar. Entretanto, a Maurer tinha 22 anos. E era a primeira vez que ele pensava aquilo, que Olivia era quase tão bebê quanto Charles conseguia parecer ser. E ela tinha ficado cinco anos com Mick Schumacher e a família problemática dele. E ela tinha praticamente sido obrigada a ter uma maturidade esquisita que a fazia adotar qualquer pessoa que precisasse de carinho. Ele via isso com Charles e viu isso com Lando no início da madrugada. Porque era dela, essa coisa de querer cuidar de todos. Ficou bem óbvio isso. Ela tinha ido até o ex-namorado porque se sentiu culpada e, ele achava, tinha ficado com medo de  machucar, mesmo nem tendo feito nada consigo.

— Eu entendo se estiver irritado e...

— ¡Por el amor de Dios! Claro que não, cariño. — ele riu, dando um passo a frente e pegando a mão dela, um toque suave e um leve puxar, a trazendo para o meio de seus braços — Não estou irritado coisa nenhuma.

Ela acenou, respirando o cheiro de Carlos, sem saber o que poderia falar.

— Tá com sono? — ela concordou — Quer deitar aqui ou ir pro quarto comigo e aqueles outros dois?

— Eu não sei...

Carlos passou a mão pelos cabelos dela, sem saber o que devia fazer.

— Mas vai ter lugar na sua cama?

— Para você? Claro que tem. — ele falou de forma apressada, a fazendo rir — Sua mente é suja, patroa.

— Patroa é?

Carlos riu, dando um pequeno cutucão nas costas da alemã.

— Idiota!

— Não, não. — ela apontou o indicador pro espanhol — Cariño ou patroa agora.

— Ou Katharina.

Ela rolou os olhos, puxando o cartão do quarto do seu quarto e o avisando que precisava de um banho antes de ir dormir no quarto com eles. E Carlos ficou, a esperou e a levou pro quarto, até mesmo ajeitou Lando Norris e Charles Leclerc para arrumar espaço para os dois. Agradecia por Caco sempre lutar pelas maiores camas quando reservavam os hotéis. E, de qualquer forma, ele foi o último a ir deitar, precisou enviar uma mensagem a seu primo antes de cair ao lado da ruiva:

"Talvez você tivesse razão... Existe algumas coisas para você saber sobre a Olivia... A primeira é que eu acho que estou apaixonado por ela..."