Berna, Suíça
29 de março de 2023
Carlos na maioria das vezes tentava ser um cara legal. Sabia que havia cometido muitos erros durante sua vida, alguns nos quais se arrependia por machucar pessoas nas quais amava. Alguns nos quais sentia que acabaria tendo feito a mesma coisa se tivesse a chance, pois serviu para amadurecer. Mas, enquanto discava aquele número, se questionou se estava fazendo mais uma bobagem ou apenas acertando pela primeira vez com Isabel.
Ele havia apagado o número de sua ex-namorada depois daquela pequena troca de mensagens no GP do Bahrein. A maneira como conversaram o deu a sensação de ter liberdade para o ato. Talvez fosse a maneira como estavam se tratando como dois adultos que já haviam superado. O "x" da questão era que ele lembrava, tinha decorado o número.
Carlos tinha os olhos sobre Olivia, analisando todo o corpo nu disposto na cama. A ruiva, que dormia, tinha jogado a coberta para o lado em algum momento da madrugada, deixando a pele branquinha a mostra, quase como uma visão dos deuses. E, bom, Carlos já havia contado cada pequena pintinha disposta pelo caminho e havia tido certeza que aquela mulher era a personificação dos prazeres.
— Alô...?
A voz sonolenta e meio assustada do outro lado sa chamada o trouxe de volta a realidade, desviando os olhos de Olivia, apoiando os braços nos joelhos e se aproveitando da estatura da poltrona para focalizar.
— Alô...? Carlos...? Aconteceu alguma coisa, Carlos?
Isa parecia genuinamente preocupada. O que o fazia se sentir um merda por todas as coisas que havia feito a mulher e por estar a ligando aquele horário. O que ele estava pensando ao telefonar pela madrugada para sua namorada?
— Noite, Isa. — ele cumprimentou baixo, em espanhol, um sussurro, com medo de acordar a mulher adormecida na cama.
Olivia se mexeu na cama, como se conseguisse adivinhar seu receio, dobrando a perna direita e espichando a esquerda, fazendo o corpo de Carlos reagir quase instintivamente a nova posição. A visão da bunda outrora branca, quase como a neve, vermelha devido suas mãos, o fazia morder os lábios.
— Aconteceu alguma coisa? O que aconteceu? Está tudo bem, Carlos?
— Sim.
— Carlos, são quatro da manhã.
— Eu sei. — ele suspirou, o peso da falta de sono caindo sobre si — Eu só... Eu quero que saiba por mim.
Isabel ligou a luz da cabeceira, saindo da posição que estava ainda deitada embaixo das cobertas para ficar sentada no colchão. Ela fazia uma breve ideia do que Carlos gostaria de compartilhar. Ela não era burra. Muito menos cega. Havia percebido muitas coisas nas coisas que os fãs a marcavam.
— Eu...
— Está com ela?
Carlos engoliu em seco ao ser interrompido. Era claro que Isabel saberia. Ela sempre sabia. Mesmo quando achava que tinha feito um ótimo trabalho, ela descobria.
— Sim.
— Ela parece uma boa garota.
Carlos acabou soltando uma lufada de ar, encarando a mulher deitada na sua cama. Olivia tinha toda aquela péssima fama com os fãs que de pouquinho a pouquinho estavam a conhecendo e vendo que não era bem o que achavam. E ela era doce, uma boa menina. Parecia emanar aquilo. E, sim, ela era uma boa garota.
— Queria que soubesse por mim.
— Acho que chegou atrasado, Carlos. Seus fãs estão me marcando em várias suposições desde o dia que Charles a fez te chamar de "muy guapo"... Ela realmente não sabia o que significava?
— Sim. Ela não sabia, fez quase uma tortura psicológica com Charles ao usar a tática do silêncio. Você tinha que ver, provavelmente teria rido muito.
— Ele continua agindo como uma criança?
— Ele a fez adota-lo. É quase como um filho, inclusive fez Olivia quase voar na cara de Rebecca a alguns dias.
Ele acabou rindo, porque na hora parecia muito sério, mas reparando agora, tinha sido engraçado. Olivia não tinha nem tamanho para encarar Rebecca e, mesmo assim, parecia uma leoazinha para defender Charles. Fora que ele havia ficado com medo dela. Onde que isso pareceria real?
— Por que está ligando por ela e não o fez com Rebecca?
— Porque com Rebecca não era real.
No fundo, Isabel sabia disso. Era muito simples ver o jogo de marketing, a manipulação presente no "casal". E ela vinha acompanhando as lives da "La Ragazza Ferrari", não que as demais pessoas precisassem saber disso, e não era difícil de perceber a diferença no olhar. Os olhos nunca mentem. E os de Carlos eram expressivos demais, ainda mais depois da ceninha de Charles e ela se abraçando na garagem com ele sorrindo. Até mesmo Rebecca tinha percebido, ao menos, era o que indicava a maneira como parecia capaz de pular em cima dos dois.
— Olivia disse que nunca paramos de amar uma pessoa. — ele contou, passando a língua pelos lábios — Ainda mais depois de passar tantos anos juntos a ela. O amor apenas se desenvolve e para de doer com o passar do tempo.
— Sua garota parece ser inteligente.
— Ela é.
Isabel sabia que não era mais apaixonada por Carlos quando terminou tudo. A ação tinha partido dela. E talvez eles estivessem empurrando com a barriga até aquele instante. Talvez tivesse doendo de uma maneira diferente da atual. Mas seus olhos estariam molhados do mesmo jeito, porém com um sentimento diferente.
Isabel tinha sido a garota inteligente do Carlos por muitos anos. E, agora, Olivia estava assumindo seu posto. E ela tinha superado o número 55, mas talvez a Maurer tivesse razão, eles sempre se amariam de maneira diferente e isso não mudaria.
— Isa...?
— Obrigada por ter me ligado.
— Você já sabia.
— Mas foi importante que tenha ligado, mesmo sendo de madrugada e me acordando.
— Eu amo você, Isabel.
— Eu também amo você, Carlos.
Nenhum dos dois mentiu. Apenas... Era diferente.
— Como ela é?
— Isa...
— Não estou fazendo nada demais, seu idiota. Eu só quero saber como ela é. Sinto que não poderei a conhecer, li muitas coisas desde a sua entrada na Ferrari e não quero causar nenhum hate a ela. Apenas... Quero saber como ela é.
— Ela é como uma volta perfeita.
Isabel fechou os olhos, um sorriso orgulhoso no rosto. Era claro que Carlos faria uma referência a corridas. E um tipo estranho de orgulho preencheu seu peito.
— Não. Eu... É um treino livre bom, junto com uma liderança no Q1, Q2 e Q3, a pole position e o P1 na corrida com a volta mais rápida.
— Um fim de semana perfeito?
— O fim de semana perfeito para um piloto.
Ela riu. E era de certa forma revigorando a Carlos saber que aquilo não machucava Isabel, mesmo ele dando tudo para mostrar que não se tratava de uma bobagem, que era real. Que ele não estava fazendo aquilo para a cutucar. Ele queria que Isa soubesse que era verdadeiro, pois conhecia a mídia.
— E você?
— O que tem eu?
— É uma mulher bonita, Isabel. Eu via os olhares, mesmo que tivesse ignorado.
Ela riu alto dessa vez e Carlos deixou o corpo cair para trás, mais relaxado do que esperava, os olhos ainda fixos na mulher deitada a cama. Desconfiava não ser possível mais desviar depois do que aconteceu mais cedo.
— Estou saindo com alguém.
— E não me falou nada?
— Acho que o pedido de autorização ainda não foi entregue pelo correio, meu senhor.
Carlos sentiu vontade de gargalhar, se controlando a tempo de não acordar Olivia.
— E como ele é?
— Isso é sério?
— Quer que use as mesmas palavras que usou?
— Isso é... Meu Deus!
— Vamos lá, Isabel!
— Ele é... Como um bom vinho. Doce e quente... — ela acabou rindo, levando a mão até a face, agradecendo que Carlos não a visse — Seguro e acolhedor em noites de inverno... Forte e duradouro... Está sendo fora do normal o conhecer...
— Ele parece legal.
— Ele é.
O mesmos sentimento anteriormente sentido pela mulher bateu em Carlos, o fazendo fechar os olhos por alguns segundos. Como alguém que digere a nova informação. Ele não era mais o grande amor de Isabel. E estava tudo bem, porque ela não era mais o seu também.
— Poderíamos marcar algo um dia.
— Sua namorada não merece mais fãs idiotas em cima dela.
Carlos não fazia qual a quantia exata de vezes em que diziam que Olivia era sua namorada, mas também não sabia qual era a quantidade de vezes que não negava a informação. Apenas aceitava.
— Ainda não me disse o nome dele.
— Você não precisou me dizer o nome dela para que soubesse.
— Isso é um desafio?
Os dois tinham esse costume quando juntos e talvez fosse o motivo de ambos estarem sorrindo. Eles sabiam que estava acontecendo, mesmo não se vendo.
— O nosso último desafio, Carlos. — ela acabou abrindo a boca, um bocejo — Estou cansada...
— Droga! Acabei te alugando mais que o esperado. Desculpa, Isa.
— Estava um papo bom.
— Sim.
— Mas preciso dormir agora. — ela decretou, outro bocejo acontecendo — Quando descobrir mande mensagem, ok?
— Ok.
— Se cuida, Carlos.
— Se cuida, Isabel.
Nenhum dos dois desligou, apenas contemplaram o barulho das respirações por mais um tempo, antes de Isa pedir:
— Não apronte com essa garota, Carlos.
Ela desligou a chamada antes que ele pudesse pedir desculpas por ser um idiota. Todavia, ainda não havia peso em seus ombros, porque Isabel tinha deixado claro que o perdoou quando se separaram e o tempo havia se mostrado se tratar de uma verdade.
Carlos tinha amadurecido depois daquilo.
Se envergonhava do que fez.
O espanhol se ergueu da poltrona, indo ao banheiro e passando uma água no rosto. Perdeu um tempo se olhando no espelho. Ele não era mais nenhum menino. Se arrependia por coisas passadas, aquilo era algo que gostaria de mudar.
Isabel não merecia aquilo.
Ninguém merecia aquilo.
E ele se arrastou pelos lençóis, se aproximando da mulher deitada, o rosto se encaixando no vão do pescoço, a ouvindo soltar uma lufada de ar mais alta.
— Deu tudo certo?
— Estava ouvindo?
— Não. — Carlos queria ligar a luminária ao lado da cama de Olivia, pois a do seu lado não contemplava toda a visão necessária, o deixando sem uma parte da face da mulher — Só a parte que pediu para ela se cuidar... Juro que foi sem querer...
— Confio em você, cariño.
Ela sorriu ao escutar o apelido, se arrumando melhor contra as costas do homem. Carlos tocou a pele de seu pescoço, a fazendo rir.
— Como vai ser a partir de agora?
— Você é minha, eu sou seu.
— Sim, mas qual é o nome disso?
— Que nome quer dar a isso?
— Não sei.
Ele a deixou se mexer entre seus braços, a mulher se virando e ficando cara a cara consigo, a luz de sua luminária finalmente trazendo a claridade certa para poder enxergar os olhos azuis.
— Você me faz sentir como se fosse a única garota do mundo.
— Porque você é para mim.
— Isso é meio galante vindo de você.
Ele passou o polegar pela bochecha de Olivia, a mulher fechou os olhos, aproveitando o carinho e quando ele afastou o toque, baixando o braço e tocando seus dedos, os entrelaçando.
— Namorados é um bom começo para você?
— Começo? — ela piscou, o encarnado desconfiada.
— Poderíamos nos casar hoje.
— Para de brincar com isso, Carlos.
— Não estou brincando.
Ela negou, rolando os olhos. Carlos a puxou para mais perto, deixando espaço suficiente para apenas se olharem nos olhos. Era mais pessoal do que Olivia esperava.
— As pessoas...
— Quero que eles vão a merda.
— Não quero que eles saibam.
— Que? — ele afastou o rosto, uma pequena ruguinha se mostrando presente na sua testa.
— Não agora pelo menos.
— Por quê?
— Você estava com Rebecca... Acho que devemos esperar alguns meses.
— Meses, Olivia?
— Dois? — ela mordeu os lábios.
— Um, no máximo.
— Carlos, um mês é quase nada.
— Faz um mês que nos conhecemos.
— É diferente.
Ele suspirou, a puxando para mais perto, abraçando o corpo quente da sua garota. Olivia pareceu ronronar com o carinho, o fazendo rir.
— Certo. Dois meses. Mas os outros vão saber.
— Charles já deve ter espalhado de qualquer forma.
Carlos riu, concordando.
— Ele é um pequeno fofoqueiro.
Olivia se aconchegou mais a ele. O silêncio dizia o que queria, aquele momento estava bom. Ela queria continuar com ele para sempre, porque Carlos a passava segurança para isso. Ela não fazia ideia como seria a partir dali, tudo estava meio nublado, confuso. Mas estava certa de que poderia dar certo, ao menos não tinha começado como sua relação com Mick. Eles discutiram o que precisava, não precisou embarcar em algo que apenas o beneficiasse. Talvez eles pudessem ficar juntos.
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