– Teme apresse-se, eles estão chegando! –alguém com uma voz aguda gritou. – Ei, o que está fazendo com essa criança nos braços?
Sentiu-se sendo colocada no chão e então lá estava Sakura, desprotegida novamente.
– Leve-a para junto dos outros sobreviventes. –ordenou o moreno com sua voz grossa.
– Mas os inimigos estão logo ali! –apontou um loiro agitado.
– Dobe. –chamou-o. – Mandei levá-la para junto dos outros... Agora. –insistiu ainda mais brusco.
– Tudo bem Sasuke-sama! –assentiu mal humorado, mesmo com o capacete e a escuridão da noite, era possível enxergar uma parte dos fios dourados em sua cabeça. – Venha menininha. –estendeu-lhe a mão, um sorriso branco iluminou a face do loiro que parecia ainda mais jovem que o dono do par de olhos negros.
Lentamente a menina encaixou sua mão na dele e antes que se desse conta, estava sendo praticamente arrastada por aquele rapaz destrambelhado.
Enquanto isso, o moreno continuou avançando pelo campo de batalha que havia se formado tão repentinamente. Como líder do esquadrão, era sua função preservar a vida de seus soldados.
Poderia até ser jovem para tal responsabilidade, afinal tinha apenas quinze anos. Mas era um Uchiha, um dos filhos de Fugaku e desde o ataque ao Império de Jiraiya junto dos Hyuga, tinha mais sangue nas mãos do que muitos soldados com anos de experiência. As vantagens que vieram com a vitória de Hiashi foram muitas e agora seu clã tinha seu próprio distrito e era a principal força militar do país.
Entretanto aquele ataque não havia sido o primeiro. Os samurais sem identificações pareciam surgir do nada e traziam com eles muitos conflitos, de modo que não sabia a quem de fato queriam afetar.
Aproximou-se sorrateiramente de um inimigo, cortando seu pescoço antes mesmo que ele percebesse sua presença ali. No mesmo instante, outro deles apareceu investindo com seu machado, o golpe teria feito um grande estrago, mas como a arma tinha um grande porte a velocidade de seu ataque era limitada. Sasuke então acertou um chute certeiro em seu tronco e o inimigo desequilibrou-se o suficiente para que o moreno lhe deferisse o golpe fatal.
Olhando ao seu redor, viu que a situação parecia agora mais contornada, então um terceiro inimigo apareceu á sua frente, o mesmo usava uma roupa verde e aparentemente não trazia armas consigo. Seus grandes olhos redondos e escuros eram vazios como a noite e seus cabelos pretos lustrosos pareciam refletir a luz da lua.
O samurai pôs-se em posição de ataque, o inimigo correu em sua direção fazendo menção de lhe atacar o rosto, porém sem que Sasuke pudesse acompanhar a velocidade de seus movimentos, só notou que o alvo não era seu rosto e sim a katana quando ela fora lançada de sua mão, caindo á alguns passos de distância.
Agora ambos estavam desarmados, seria homem contra homem em um combate inteiramente físico. O Uchiha foi o primeiro a atacar dessa vez, usando uma sequência de golpes com os punhos, mas seu adversário mostrou-se extremamente habilidoso, ora bloqueando com os antebraços, ora movimentando-se rápido. Então o rapaz de verde lhe passou uma rasteira e Sasuke foi ao chão. Quando se preparava para levantar-se, viu uma espada apontada para a cabeça do outro:
– Renda-se. –conhecia muito bem aquela voz.
– Um jovem de verdade nunca se rende! –proclamou afastando a lâmina e antes que pudesse ser acertado, fugiu ás cambalhotas.
Seu salvador guardou a espada na bainha e estendeu á mão ao mais novo:
– Precisa de ajuda? –o homem com vestes idênticas as suas sorriu-lhe.
Orgulhoso, recusou a ajuda e ergueu-se sozinho, só então reparou nos corpos de inimigos caídos ao chão.
– Não precisava ter vindo Itachi. –declarou vendo que o irmão estava acompanhado de seu próprio pelotão de samurais.
– Não seja tolo nii-san. –repreendeu. – As coisas estavam meio caóticas quando cheguei aqui, conseguimos aniquilar vários deles, porém outros recuaram.
Sasuke pensou que aquilo seria um problema e mais um motivo para que o pai exaltasse a capacidade de seu irmão mais velho enquanto para ele, bastaria a fama daquele que precisava ser socorrido.
– Você não precisava mesmo ter vindo até aqui. –repetiu pondo-se á caminhar junto dos outros.
– Não é fraqueza alguma precisar de ajuda Sasuke, além disso, acredito em sua capacidade e se mesmo assim vim até aqui é porque quero protegê-lo onii-san. – tocou seu ombro pronunciando para que só o irmão escutasse.
Continuaram em silêncio, até chegarem ao campo onde os sobreviventes estavam com Naruto. O loiro acenou para eles assim que os viu e parecia contente em vê-los ali mesmo que não fosse bem aceito entre os samurais. Naruto Uzumaki era afilhado do Imperador deposto, Jiraiya. Na noite do ataque ao palácio, o loiro surpreendera a todos com suas habilidades e o próprio Fugaku ordenou que, ao invés de preso, o jovem de apenas catorze anos deveria ser treinado como um samurai. A proteção despertou o desprezo de vários outros soldados, mas o rapaz não ligava e desde então treinava junto de Uchiha Sasuke.
– Apenas esses restaram? –Itachi indagou surpreso notando as cinco pessoas que jaziam trêmulas até agora, incluindo um velho, um casal de meia idade, um jovem alto e uma menininha de cabelos cor de rosa.
– Hai. –confirmou o caçula.
– Acho melhor levá-los ao distrito, otou-san saberá o que fazer.
Sakura caminhava perdidamente cercada pelos samurais, assim como os outros sobreviventes. Tudo o que conhecera e vivera até então estava perdido, queimado e devastado para sempre. Não tinha mais família e sentia-se agora um pequeno ponto rodeado por medo e nada mais.
Observou então seu herói. Parecia tão sério e inabalável mesmo tendo presenciado as mesmas coisas que ela e foi se espelhando nele, em sua força, que engoliu o choro que lhe subia pela garganta.
Atravessaram grandes portões que transformavam o conjunto daquelas casas idênticas numa verdadeira fortaleza. Os primeiros raios de sol principiavam-se a surgir no horizonte e o lugar parecia tão deserto quanto o funeral de um criminoso.
Entraram numa casa, a maior delas. Retiraram seus sapatos á porta e seguiram em fila até uma sala ampla, onde esperaram por alguns minutos até que um homem de roupas escuras entrou no local, acompanhado de uma mulher morena que tinha na face uma expressão assustada. Todos se curvaram em saudação e Sakura perdida, limitou-se á imitá-los.
– Essas foram as únicas pessoas daquela pequena vila que conseguiram sobreviver. –o moreno com um rabo de cavalo baixo disse primeiro.
– Um de vocês pode me dizer como começou e a que horas exatamente? –o homem de vestes escuras questionou, ele tinha uma expressão grave que fez Sakura tremer.
– Com sua licença... –o velho tomou á frente. – Foi assim que o sol se pôs, eles vieram das montanhas, á oeste e começaram a depredar e queimar tudo o que viam á sua frente.
– Como eles eram? –perguntou o mesmo homem de antes.
– Vestiam roupas marrons ou cinzas, não sei ao certo. Estavam armados com ferramentas selvagens e sem bom acabamento, seus rostos estavam cobertos por máscaras de modo que apenas seus olhos eram visíveis. –o jovem alto falou dessa vez.
– São os mesmos samurais dos outros ataques otou-san.
– De fato Itachi. –concordou. – Restara alguma coisa á vocês? Pertences ou familiares?
– Tenho uma filha em Quioto. –o velho disse.
– Perdi toda a minha família. –o jovem informou.
– Ainda temos alguns pertences, não o suficiente para recomeçar. –a mulher de meia idade choramingou aninhando-se ao marido.
– Terão um leito aqui, depois que repousarem levarei o caso de vocês ao Imperador, ele deve prestar ajuda. Lyoto acompanhe-os até os aposentos. –ordenou á um criado que estava no canto.
– Mas enquanto aquela menininha? –a mulher bonita apontou para a garota que tinha a cabeça baixa.
– Os pais dela foram mortos. –o rapaz que salvara sua vida disse.
A mulher caminhou com delicadeza até ela e ajoelhou-se para ficar á sua altura:
– Meu nome é Uchiha Mikoto. Como se chama? –indagou gentilmente.
Os olhos verdes subiram á ela e lhe observaram de perto, tinha olhos negros brilhantes e um cabelo da mesma cor que parecia ser tão sedoso quanto era longo.
– Será que é muda? –Mikoto indagou sem jeito.
– Se me permite dizer Mikoto-sama, tentei ter ao menos um diálogo com ela, entretanto não deixou que escapasse uma palavra sequer. –o loiro que havia a acompanhado antes se intrometeu.
– Não consegues mesmo falar? –insistiu com calma.
Mais uma vez não obteve resposta, porém viu quando a menina caminhou até a grande janela que havia na sala e apontou para a cerejeira que havia no exterior da casa.
– Seu nome é Sakura como aquela árvore? –a menina assentiu com a cabeça. – Pois bem, ela escuta. E quantos anos têm pequena Sakura? –com as mãos miúdas mostrou sete dedinhos. – Tão jovem... –lamentou. – Tem mais alguém em sua família? –dessa vez Sakura tornou a baixar a cabeça e a balançar como se dissesse não.
A morena então se voltou esperançosa ao homem sério como se suplicasse algo apenas com o olhar:
– Fugaku... –começou.
– O Imperador tem o dever de cuidar das vitimas. –respondeu cortando-a.
– Ele nada pode fazer, no máximo mandá-la a um abrigo. Se ficasse aqui poderia aprender os deveres de uma criada e até ter uma infância normal com as outras crianças do distrito. –argumentou.
Mikoto era uma mulher extremamente doce e fiel ao marido e suas escolhas, entretanto como um casal deve se completar, ela sabia que enquanto Fugaku era a força e a razão da união, a própria era o coração, os sentimentos.
– Por favor.
– Tudo bem. –assentiu. – Leve-a daqui.
– Vamos Sakura. –pegou-lhe a mão conduzindo-a para fora, contente por ter conseguido o que desejava.
– Podem se retirar também, quero falar á sós com meus filhos. –Fugaku comandou e logo a ampla sala foi esvaziada. – Sasuke, como explica tantas mortes em um período tão curto, dentro de um território que deveria ser guardado por seu esquadrão? –questionou diretamente.
– Otou-san... –começou, na verdade tinha ouvido murmúrios de que os tais samurais desconhecidos estariam rondando outra região, então por escolha própria, havia encaminhado seu time para lá. Quando a notícia chegou-lhe aos ouvidos já era um tanto tarde demais.
– Pedi á Sasuke que ficasse com seu time em guarda no meu posto. –interveio o irmão. – Nosso companheiro Toshio irá se casar em breve, então saímos e tomamos algumas doses de saquê, conversamos um pouco e nos atrasamos de modo que quando voltei para o meu lugar Sasuke já havia corrido para socorrer a vila. –mentiu.
– Isso é verdade Sasuke? –perguntou desconfiado.
– Hai, foi isso mesmo. –confirmou fazendo o máximo para disfarçar seu nervosismo.
– Não sei qual dos dois é mais irresponsável, um por faltar ao seu dever ou o outro por consentir. Talvez Madara tenha razão á respeito dos dois. –bronqueou gélido como um cubo de gelo.
– Lamento otou-san, não irá acontecer novamente. –Itachi desculpou-se.
– É o que espero. –concordou. – Acho que chega de novidades por hoje. –antes de sair, ambos deixaram um beijo na mão do patriarca.
Quando suas vozes estavam fora do alcance do pai, o mais novo agradeceu:
– Arigatô onii-san.
– Não precisa me agradecer, apenas pense bem antes de valorizar qualquer fofoca que ouve por aí. –disse-lhe sorrindo bagunçando ainda mais seus cabelos arrepiados.
...
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