CAPÍTULO 159
As emissoras de TV de toda a capital, os sites e tabloides mostraram imagens de Ako Matsunaga sendo presa na manhã do dia 25. O escândalo foi tanto que chegou até na Europa e Estados Unidos. A empresária era conhecida mundo afora principalmente por ser filha de alguém tão poderoso e conhecido como Matsunaga.
Naomi não esperou a prisão da sua tia esfriar. Foi logo tratando de arrumar uma mala com rodinhas. O seu intuito era pegar o jatinho particular da família para fugir do país antes de ser presa. BlackTailmon viu a sua parceira se arrumar apressadamente. Nakawa tentou convencer a herdeira a ficar e enfrentar a justiça, porém a moça nem quis conversa com a governanta.
─ Por que eu não posso ir?
─ Não, Black, não insista! Não posso correr o risco de chamar mais atenção ainda. Prefiro que fique aqui sob a tutela de Nakawa. Aqui você ficará segura. Depois darei um jeito de você ir para onde eu vou.
─ Minha filha, por favor fique. Assuma o seu erro e se entregue.
─ Nunca! Eu não vou ser presa de maneira nenhuma! Os imbecis contratados pela tia Ako são uns incompetentes. Não dá mais tempo. Até mais, Nakawa. Se me dedurar para a polícia, eu juro que te demito por mais que você esteja aqui há anos.
─ Não se preocupe. Eu não vou falar nada.
─ Ótimo.
Naomi levou a sua bagagem até a limusine e mandou o motorista ser o mais rápido possível. O carro saiu da propriedade e foi direto ao aeroporto. A moça olhava para as horas em intervalos de poucos minutos.
Enquanto isso, na delegacia, o advogado de Ako apareceu para defender a empresária. No depoimento do bandido, Ako foi a mandante, mas a sua sobrinha teve a participação. O advogado, porém, tentou distorcer as palavras dele.
A polícia estava esperando um mandado de prisão para Naomi quando um telefonema anônimo surgiu no gabinete do próprio Ken. A pessoa misteriosa informou da fuga de Naomi. O policial ficou abismado e logo se apressou.
─ Todas as viaturas da polícia ao aeroporto internacional. Quero que vão aos outros aeroportos nacionais. Avisem a aeronáutica para fechar o espaço aéreo e escoltem um jatinho particular.
─ O que foi, Ken?
─ Kari, a Naomi está fugindo. Estou indo pegá-la agora mesmo.
O policial, sempre acompanhado do seu parceiro digimon, entrou na viatura. Foi direto ao aeroporto com mais quatro carros logo atrás.
A limusine parou numa parte do aeroporto reservada para clientes vip e que tinham jatos particulares. O motorista retirou a bagagem e tentou ajudá-la, mas a moça negou e foi sozinha até o portão de embarque.
O trânsito estava um pouco tenso naquela manhã, e por mais que os carros da polícia usassem a sirene, não havia jeito. Ken previu que chegariam atrasados quando Wormmon teve uma ideia genial.
─ Segura firme ─ disse Stingmon.
─ Agora vamos ─ disse ele sobre as costas do parceiro.
Stingmon voou livremente toda a avenida. Logo viram o aeroporto ao longe. Estavam mais perto e poderiam alcançar a fugitiva.
Naomi foi até a pista de pouso e preparou-se para sobrevoar. O dia estava nublado, por isso o piloto estava revisando a aeronave para que algo ruim não aconteça. Naomi ficou furiosa quando o homem pediu alguns minutos. Ela olhou no relógio. O homem subiu a bordo e preparou o avião para decolar levando-o à pista certa. Ele taxiou até chegar à pista. Foi quando a torre de controle informou ao comandante que ele abortasse a viagem por ordem da aeronáutica.
─ O que foi? Por que não sobe logo?
─ Não posso. Estou proibido de voar neste jato.
─ Cala a boca. Eu te pago o triplo ou o que você quiser. Finge que não ouviu e sobe logo essa desgraça. Vai, vai!
─ Coloque o cinto.
As turbinas foram ligadas e a aeronave começou a sair do lugar.
Stingmon deixou Ken na pista e voou para a frente do jato. O piloto freou quando viu o digimon. Naomi surtou geral pedindo para que ele atropelasse. Porém era tarde demais. Stingmon arrebentou a porta do jato e pediu para o piloto sair imediatamente. Ken chegou um pouco depois e entrou na aeronave mostrando o distintivo para a herdeira.
─ Senhorita Naomi Matsunaga, está presa por tentativa de fuga e por mandar matar Hikari Yagami e Takeru Takaishi. Saia deste avião, por favor.
─ Eu não estava tentando fugir. Eu ia para a Flórida a trabalho. E isso de tentar matar é uma calúnia, eu posso processá-lo.
─ Vamos, saia.
─ Tudo bem, mas não rela a mão.
Ela desceu do avião. Logo os jornalistas correram feito malucos na tentativa de tirar a melhor foto. Outros repórteres tentaram uma entrevista ao vivo com ela. Ken impediu que isso acontecesse. Logo os carros da polícia chegaram e levaram-na para a delegacia.
Morta de vergonha, Naomi ficou escondendo o rosto. A notícia ficou falada instantaneamente Ninguém mais falava outra coisa apenas nisso na cidade.
...
Kari, TK e os seus digimons já haviam saído da delegacia. Eles arrumaram as malas assim que chegaram no apartamento ou no que restou dele. Depois foram para Odaíba sob o convite de Yuuko que pediu aos dois que fossem morar por uns tempos com ela e o marido. Os dois aceitaram, mas passariam por poucos meses até arranjarem um outro lugar para se instalarem.
Kari viu o porta-retrato de quando era criança com a sua família. Uma melancólica saudade daqueles tempos antigos subiu-lhe ao coração. Era tão bom os tempos de criança, ingenuidades e brincadeiras. Takeru abraçou a amada e ficou falando coisas fofinhas no ouvido dela.
Yuuko, apesar de estar aliviada por sua filha estar bem, ficou apreensiva por causa da sua outra filha. Descobriu há pouco que Naomi foi presa tentando fugir do país. Quis ligar para Nakawa, mas não podia porque a sua família estava ali e chamaria muita atenção.
Um tanto longe dali, Weiz descontou a sua raiva em Cyberdramon que não matou Paulo quando teve a chance. Eles ainda estavam no laboratório quando isso aconteceu.
─ Pensei que você tivesse mais atitude. Decepcionou-me muitíssimo. O Paulo te abandonou quando ainda morava numa droga de ovo e teve a chance de ouro de se vingar dele. O que há contigo, Cyber?
─ Eu juro que estava furioso. Mas algo me impediu de fazer o serviço. Desculpa.
─ Meu irmão e sobrinho zombaram de mim. Agora você foi o cúmulo ─ Weiz digitou algo no aparelho do pulso.
─ O que vai fazer comigo?
─ A sua punição ─ Weiz apontou o punho na direção do digimon. Um raio branco fez com que ele retrocedesse para a sua forma criança. ─ Agora vá para o digimundo e vá para a base de operações. Aguarde-me por lá.
─ Sim, chefe ─ disse Monodramon tristonho. Ele passou pelo portal e voltou ao digimundo.
─ Hehehe, chefinho engana esse otário direitinho. Acha que foi Paulo quem o abandonou ─ disse Dracmon.
─ Cala a boca, Dracmon. Vamos voltar.
...
Naomi chegou na delegacia escoltada pelos policiais. Como sempre os paparazzi não deram sossego e quiseram tirar fotos dela. A moça entrou e foi logo para a sala onde a sua tia estava depondo.
As duas ficaram cara a cara pela segunda vez no dia.
20 minutos antes...
─ Eu posso conversar um pouco com a minha cliente a sós. Não vou demorar.
─ Ok, cinco minutos ─ o policial saiu.
─ Doutor, vai ter que me tirar daqui.
─ Eu já preparei o documento para você responder em liberdade. Pedirei ao Ministério Público para fazer a mesma coisa pela sua sobrinha.
─ Não, não faça isso. Não a defenda. Quero que ela saia do meu caminho e prefiro que ela apodreça na cadeia até o julgamento.
Voltando ao tempo real...
Ken sentou-se na sua cadeira e pegou o depoimento da tia. Ele liberou Ako e o advogado por um instante.
─ Hei, o advogado não vai me representar? ─ perguntou Naomi.
─ Não, eu o pago para os meus interesses. Que tal um defensor público, sobrinha? ─ disse Ako.
─ Maldita! Vai ver quando eu também sair dessa!
─ Olha só, policial. Ela está me ameaçando.
─ Parem já as duas ou eu as coloco na cela. Tire a sua cliente daqui, por favor.
Ken deu uma chance para a Naomi chamar um defensor público, mas a socialite ficou com tanta raiva que resolveu dar o depoimento sozinha.
Horas se passaram naquela delegacia. O advogado enviou um documento para que a sua cliente respondesse em liberdade. Ako ficou feliz de sair livre como um pardal. Contudo, o mesmo não aconteceu com Naomi. Ela foi presa e aguardaria o julgamento no presídio. Foi a sua ruína total.
Paulo ficou sozinho com Slash na parte exterior da casa. O viajante do tempo estava revisando a sua super-moto do futuro quando o garoto chegou até ele. O digiescolhido não estava com o semblante nada feliz.
─ Você sabia sobre o parentesco do Blizzard Daregon com o meu pai? Sabia que ele era o meu tio?
─ Sim.
─ E por que não contou nada então?
─ Calma, Paulo.
─ Não, cara. Você sabe de muita coisa do que ainda vai acontecer. Se eu um dia for morto você sabe e não conta.
─ As coisas não são simples assim. Eu não posso revelar fatos deliberadamente ou posso distorcer o futuro, o tempo e o espaço. É uma grande responsabilidade ter que vir para outras épocas, imagine a minha consciência quando não conto coisas que eu sei.
─ Há mais coisas?
─ Paulo, sim há. Mas por favor não me force a contar. O curso deve seguir naturalmente. Haverá coisas que eu poderei impedir, outras não. É a minha sina.
Paulo saiu decepcionado com Slash.
...
Na Zona 2, a cidade ficou movimentada. Os digimons moradores daquele região saíram para as ruas para ver a chegada do Chanceler que passaria em carro aberto. Era meio-dia quando isso aconteceu. O carro mais parecia um tanque de guerra com seis rodas e grande. O líder do governo digital acenava para os pedestres enquanto passava pela avenida mais movimentada da zona.
O líder possuía longos cabelos verdes e usava adornos por todo o corpo. Ele era bem musculoso o que causava a simpatia das digimons femininas. Sua imponência era tanta que ele ganhou a eleição para chanceler logo no primeiro turno derrotando os oito governadores. Um M dourado enfeitava a frente do carro.
A cidade era cheia de trilhos de bondes e trens, além do próprio metrô. Dizem que o governador foi baseado num filme humano com carros que viravam robôs. Muito poucas pessoas o viram, pois ele se disfarçava bem.
O Chanceler foi levado pelas máquinas até o quartel general baseado na Ilha de Alcatraz que ficava num lago bem no centro da cidade. O lugar era completamente tecnológico e para chegar lá era preciso passar por uma pista única com uma malha ferroviária. O local era parecido uma cúpula gigante de aço. Havia um nível no subsolo onde ficava o governador.
O Chanceler se reuniu com o governador na sala de operações. O digimon governante era grande em extensão, mas não era reconhecido ainda. Apenas os seus olhos vermelhos chamativos aparecia.
─ Você é o único governador que não foi nas reuniões. Pelo menos vá desta vez, pois o Imperador Supremo irá se comunicar conosco e pediu que nos reuníssemos no meu palácio para assistir à sua transmissão.
─ Ele não podia passar aqui?
─ Vamos lá, Locky. Desde quando você é orgulhoso? Eu te venci nas eleições, mas estamos todos do mesmo lado. A qualquer momento os digiescolhidos voltarão. Precisamos estar unidos.
─ Tudo bem, eu vou. Só espero que ele traga boas notícias.
─ Assim que se fala.
Um tempo depois, todos os oito governadores estavam reunidos no salão principal do Palácio de Gelo do Chanceler. Eles tinham formações diferentes, e eram fisicamente diferentes. Cada um era especializado em uma área específica. O próprio Chanceler suportava o frio enquanto outro governador era um excelente domador do fogo e assim por diante.
No telão apareceu o rosto escuro do imperador. Ninguém conseguia ver a sua face. Os governadores cochichavam entre si criando teorias de quem seria essa tal pessoa. Weiz nunca havia falado claramente quem era o sujeito, apenas que ele em breve iria ao digimundo.
O tal Imperador falou por 30 minutos numa transmissão gravada ─ óbvio, pois foi feita no mundo humano e se fosse feita em tempo real o discurso levaria 30 dias para acabar! Após assistirem ao discurso, os governadores continuaram no palácio para falarem sobre a possível volta dos escolhidos e o que fariam.
Muito longe dali, Gaia ensinava artes marciais aos pequenos digimons da pacata cidade de Píxel. A escola não era tão grande assim, mas ele trabalhava com satisfação e brincava com os pequeninos. Seu filho também estudava lá e participava das aulas com o próprio pai.
O homem estava num pátio quando a diretora, uma Togemon anã, chegou perto dele avisando que alguém esperava em seu escritório. Isso o deixou muito desconfiado, pois ele levava uma vida sem nenhum glamour e pouca gente o conhecia. Ele pediu para que as crianças ficassem onde estavam e foi com a diretora. Gary desobedeceu o próprio pai e foi espiar atrás da porta.
Linx lia uma revista quando o homem chegou. Reconheceu a mulher na mesma hora. Togemon deixou os dois a sós.
─ O que veio fazer aqui?
─ Bom dia pra você também, Gaia.
─ Ora Linx, você vindo aqui deve ser porque Gennai morreu ou alguma outra coisa séria aconteceu.
─ Venho tentar te convencer a deixar essa vida pacata e voltar a integrar ao nosso exército. O seu irmão precisa muito da sua ajuda. Você deve ser mais agradecido, pois foi ele que te ajudou a ter essa aparência. Bom, você não era nada feio na sua real forma.
─ O culpado disso tudo é ele que decidiu se virar contra mim.
─ Você deturpou a ordem deste mundo. Puxa vida, quem iria imaginar que o digimon se relacionaria amorosamente com uma humana e ainda por cima a parceira dele. Você violou as regras deste mundo.
─ Cala a boca. Vocês não conhecem a minha história com Diana. Quando ela era nova, tornou-se órfã. Ela só tinha a mim como amigo. Foi num momento a sós que eu me atraí por ela, e a mesma me correspondeu. Ninguém teve culpa de se amar. Já o Gennai, acha que é tudo no preto e no branco. Sabe que sou contra a manipulação de digimons nascerem por meio de digitamas.
─ A sua resposta é não?
─ Não ─ Gaia viu Gary na porta, o menino correu. ─ Olha só o que você fez. Sai daqui. Gary!
Linx não esperou mais e foi embora.
─ Gary, filho, porque está correndo assim?
─ O senhor mentiu. O meu tio estava brigado com o senhor. Sempre me disse que estavam se dando bem.
─ Filho, quando o papai mentiu foi pra proteger você. Seu tio fez uma coisa feia e estou com raiva dele. Espero que me compreenda. Dá um abraço no pai ─ Gary o abraçou. Os dois voltaram de mãos dadas.
Linx observou os dois no seu binóculo. Era um mistério onde o homem morava com a sua família. Esse segredo seria revelado logo pois Linx o seguiria.
...
Enquanto isso, Naomi desceu ao fundo do poço de cabeça. Foi traída por sua tia que a deixou sem advogado. Já estava na ruína mesmo. Pra completar a desgraça em sua vida, ela foi transferida para o presídio feminino naquele dia mesmo, no Natal.
A socialite foi levada pelos policiais até o presídio. Ela teve que retirar brincos, pulseira e pertences assim. Depois foi assinar e pegou uma muda com roupas do presídio.
─ Tenho que usar esse uniforme?
─ Não, há roupas de grife nos closets das suítes. Isso porque aqui é um hotel cinco estrelas, e dos bons. Aqui é tão chique que o sol nasce diferente, quadrado. Ah, vai te catar, madame. Pensa que está onde?! Vai, se veste logo. Próxima ─ disse a agente.
Naomi teve que se contentar, pois iria passar uma estadia de muitos dias naquele lugar.
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