Precisava admitir, Severus tinha um pescoço muito bonito.
James havia levantado às oito da manhã, duas horas depois de ter se masturbado enquanto pensava em Severus. E agora estava sentado na bancada da cozinha enquanto olhava o homem fazer o café da manhã. E não conseguia esconder o fato de que estava corado e comendo Snape com os olhos.
Toda a vez em que Severus se virava e o olhava, James desviava o olhar para o chão, o prato vazio, a parede ou a janela. Estava tentando não ser tão óbvio, o problema é que não estava obtendo muito sucesso. Como agir normalmente depois de ter tido um sonho erótico com a pessoa com quem você está dividindo a casa?
Comicamente, tentava lembrar se já havia se atraído por um homem antes, mas não conseguia se lembrar de já ter olhado para a bunda de um cara ou, até mesmo, se excitado com um toque qualquer. Tentava também encontrar teorias diferentes para o elo criado, mas não sabia como e nem porque estava com tesão em Snape.
–Potter,--a voz de Severus é como um tiro no escuro–você está esquisito.
–Não é o meu natural ser esquisito?--Tentou brincar, mas a pressa com que as palavras soaram o entregaram.
–Você quebrou alguma coisa não consertável?--Perguntou Severus, olhando ao redor como se fosse encontrar um vaso com algum pedaço faltando.
–Eu estou bem, Severus.--James deu de ombros.--Nada para se preocupar.
Severus o olhou de sobrancelhas arqueadas, mas deu de ombros, desinteressado.
James poderia abrir um buraco nas costas de Severus de tanto que o fitava. Se continuasse, seria um buraco profundo, um buraco extremamente profundo que causaria naquelas lindas e marcáveis costas.
–Não estarei em casa hoje à tarde.--Severus comunicou e James sentiu um soco no estômago, uma tristeza aleatória, dolorosa e cômica. Achara que poderia passar o dia jogando com Snape e tendo conversas profundas.
–Tudo bem…–James bebeu um gole do suco, porque se sentia estranho demais.-- Trabalho?
–Prometi visitar Lucius, lembra?
James arqueou uma sobrancelha.
–Já é Sábado?
–Está perdido nos dias da semana, Potter?
James revirou os olhos.
–É impressão minha, ou você gosta de usar o meu sobrenome para me zoar?
–É justo, não é?
James ficou vermelho, embora o motivo não parecesse tão óbvio quanto era. No dia anterior não estava agindo feito uma bomba relógio.
–Poderia voltar mais cedo.--Se viu falando e só percebeu que era estranho quando já havia falado.
–Por quê?--Snape arqueou uma sobrancelha, aproximando-se com um prato cheio de panquecas.
–Preciso arrumar uma maneira de me desculpar pelo showzinho que fiz ontem.--James emendou, arrependendo-se amargamente quando Severus arqueou uma sobrancelha e sorriu ladino.
Se perguntava se a bunda de Severus era como havia sonhado.
–Agradeço a preocupação, mas sou adulto o suficiente para me colocar no seu lugar e perceber que teria agido igual, talvez pior.
–Duche.
James pegou cinco panquecas e as inundou com mel. Desejava olhar para Severus, ver aquele rosto, nariz grego. Ele tinha covinhas… James nunca havia percebido que Severus tinha covinhas.
Estava excitado por um homem… Bem… Não tinha muito o que fazer a respeito, porque fugir da casa não era uma opção viável.
Uma coruja bateu na janela da cozinha e James se assustou. Severus já tirava a carta do bico da coruja quando ela se afastou, voando de volta ao respectivo dono.
–Você não recebe o Profeta Diário, agora que eu percebi.--James comentou, talvez para fingir que não havia se assustado.--Quem é?
Severus o olhou como se dissesse que ele não precisava saber, quem dirá pedir, mas, mesmo assim, respondeu:
–É de Lucius. Está me obrigando a ir lá hoje.
–Eu gosto da amizade de vocês.--James deixou escapar.--Mesmo sabendo que foi ele quem te puxou para o exército de Você sabe quem.
James não estava olhando para Severus enquanto falava, ocupado em tremer levemente do lugar em que estava sentado. Se Severus estava notando? Não sabia e nem queria saber.
–Fico preocupado com Lucius às vezes, mas eu sei que não posso impedi-lo de fazer as coisas que faz. O Draco ainda vai sofrer muito pelas escolhas do pai.
E Severus havia se aberto mais do que James esperava que fosse possível. Levantou a cabeça e se obrigou a olhar nos olhos de Severus. E, caramba, que olhos lindos! Como não tinha se dado ao trabalho de fita-los com tanta atenção?
Sem nem perceber, estava com uma expressão boba enquanto falava:
–Você se preocupa com o filho deles, é fofo.
Quase correu para fora e se enterrou na terra quando o fofo se soltou de seus lábios. Olhou para Severus por tempo o suficiente para perceber que ele havia notado.
–Potter, eu espero com sinceridade que você não tenha visto uma lembrança íntima minha.--Severus falou e James corou até a raiz do cabelo. Não havia sido uma lembrança, mas algo pior do que isso.
–Não, Severus… Eu apenas me sinto gripado.--James mentiu, tão bem que até ele acreditou. Tossiu para aumentar a mentira.
–Beleza… Mente mais mais um pouco que eu acredito.--Severus falou, mas não fez qualquer movimentação que assustasse a James. Forçou tanto a Oclumência que sentiu dor de cabeça, por medo de Severus tentar invadir o seu cérebro e ver o sonho.
Terminaram o café da manhã sem conversarem mais sobre nada. Severus foi para o quarto e só saiu de lá meia hora depois.
–Por que está vestido para sair?--James perguntou, corando ao notar que havia olhado para Severus de cima para baixo, demorando-se um pouco na bunda alheia.
–Na carta Lucius falou para eu almoçar lá e que eu não tinha escolha, porque senão ele viria aqui e me arrastaria.
–E você vai obedecer ele?
–Vou, porque aí eu tenho desculpa para voltar mais cedo.
James meneou a cabeça, um tanto quanto aturdido. Severus voltaria mais cedo porque James havia pedido ou porque não queria passar muito tempo na mansão dos Malfoys? Por mais desejoso que estivesse de perguntar, James decidiu por deixar passar.
–Tudo bem, só me diz algo que eu posso fazer para acabar com o meu tédio.
Severus apontou para a estante.
–Leia um livro.
James arqueou uma sobrancelha.
–Não foi você que disse para eu não mexer nos seus livros?
–Sim.
–Então por que você vai deixar que eu mexa?
Severus sorriu debochadamente e um milhão de borboletas mexeram no estômago de James. Malditas borboletas.
–Porque eu quero.
Severus saiu porta afora e aparatou. James, um tanto quanto perplexo e sentindo que, talvez, fosse uma armadilha. Andou até a estante e analisou os títulos.
A maioria eram livros acadêmicos, mas, na prateleira que tomava a parede oposta, James se surpreendeu ao ver títulos de livros de fantasia. Puxou um de meio a todos e riu ao reconhecer um título trouxa.
Um tom mais escuro da magia.
Largou-se deitado de bruços no sofá e mergulhou no mundo imaginário.
Deixou de ler quando escutou picadas da janela na cozinha. Largou o livro e soltou uma risada divertida ao constatar que já se tratava de meio dia. Já fazia um tempo que não lia, tampouco se considerava um fã da literatura, mas era um livro bastante curioso e divertido.
Andou até a cozinha e deixou que a coruja adentrasse a casa. A carta que ela tinha na pata parecia curta.
Era de Dumbledore.
James gelou, a carta estava endereçada com o seu nome, não com o nome de Severus. A abriu e respirou fundo antes de ler o seu conteúdo, tremendo que algo houvesse ocorrido errado ou que alguém que amava havia ido para o saco.
Prezado senhor Potter, não fique tão assustado, são boas notícias as que eu tenho! Fico feliz em dizer que, logo mais, o senhor estará livre para ir para a sua casa, voltar ao trabalho e viver normalmente.
Espero que esteja indo bem em relação ao elo e que esteja se dando bem com o senhor Snape também. Tenho certeza de que os senhores estão sendo adultos o suficiente e resolvendo a questão da melhor maneira possível.
Ass, Albus Dumbledore.
James abaixou o bilhete e franziu as sobrancelhas. Era curioso, porque não havia chegado perto de entender o que Dumbledore quis dizer. Seria possível que a guerra estivesse chegando ao fim depois de tantos anos? A ideia o alegrou.
A lareira se iluminou e James correu até a sala, somente para dar de cara com Severus, que parecia um tanto quanto mortificado. O homem estava com as mãos na cintura e fitava o chão como se antes ele não estivesse aí.
–O que foi, Severus?--James se aproximou, curioso e preocupado.--Aconteceu alguma coisa enquanto esteve com os Malfoys?--Severus sussurrou algo que James não entendeu.--O que foi, Severus?
–O Lorde das Trevas se foi.
James arregalou os olhos, incapaz de entender e de aceitar que aquelas palavras eram mesmo reais.
–O quê?
Severus levantou o rosto e o fitou.
–O Lorde das Trevas se foi, James.
James piscou, aturdido.
–Se foi, tipo, morreu? O cara morreu?
Severus meneou a cabeça. Meneou e James simplesmente saltou em cima dele e o enlaçou em um abraço. Afundou a cabeça no pescoço do homem e soltou uma risada estrondosa. Snape não devolveu ao ato, ainda mortificado.
–Mas como isso aconteceu? Qual o contexto?
–Eu não faço a mínima ideia, James.--A voz de Severus é nervosa.--Do nada adentrou um patrono na sala de Lucius falando que o Lorde das Trevas estava morto.
James engoliu em seco.
–E se não for verdade?
James viu a preocupação tomar conta daqueles olhos e os seus próprios se inundaram de medo.
–Teremos que confiar no que Dumbledore nos disser.--Severus fechou os olhos.--Dumbledore sempre está certo.
–Ele me mandou uma carta!--James exclamou, os olhos se arregalando de estusiasmo.--Disse que logo eu poderei voltar a ter uma vida normal.
–Então o Lorde das Trevas realmente se foi…–Severus pareceu engolir em seco.--É estranho.
–Mas é ótimo, não?
–E se eu for para Azkaban?
James piscou, por um segundo assumindo uma postura confusa. Havia esquecido que Severus, para todos os afins, era um comensal.
–Por que você iria para Azkaban?--Perguntou, embora soubesse o motivo.--Você é um homem de Dumbledore.
Severus estava com os olhos aguados, mas ele não os mantinha levantados por tempo o suficiente para James ter certeza.
–Porque só Dumbledore e você sabem que eu sou espião… Eu vivo sendo caçado pelos aurores, James.
Severus estava desesperado. James sentiu o coração arder.
–Dumbledore tem influência, Severus! Ele não vai deixar você ir para Azkaban.
Severus meneou a cabeça, tentando manter as lágrimas quietas dentro dos olhos. James queria pegar a cabeça dele, a levantar e forçá-lo a olhá-lo. Queria acabar com aquela ansiedade com um beijo, mas a ideia parecia não passar de loucura.
–Acho que você tem razão…
Então James a viu, a lágrima deslizante cair no chão. Engoliu em seco e apenas agarrou a Severus, forçando-o a um abraço apertado. Envolveu os braços ao redor do pescoço do homem e enterrou a cabeça no cabelo sedoso.
–Garanto que Dumbledore possui provas suficientes para impedi-lo de ir à Azkaban, Sev.
Sev.
James costumava tomar cuidado com as palavras que usava, mas isso não o impediu de utilizar aquele apelido. Estranhamente, ao invés de afastá-lo, Severus enlaçou os braços na cintura de James e deixou que a cabeça deitasse no ombro alheio.
James sentiu o coração acelerou e soube que aquele retumbar era nítido, porque o coração de Severus também estava acelerado.
Mas, por quê? Por que o coração alheio estava acelerado? Seria coisa do elo criado?
–James?--A voz de Severus soou baixa e isso arrepiou cada mínimo pelinho do corpo de Potter.
–Sim?--James falou, embora com a voz rouca.
–Comicamente, eu não consigo vê-lo como aquele adolescente que eu tanto odiei.
James sorriu e não soube o porquê de ter gostado tanto daquele elogio.
–Não consegue?
–Parece que você é uma pessoa totalmente nova.
–Isso é bom?
–Isso é ótimo.
Severus afundou a cabeça no pescoço de James e suspirou, fungando baixinho. James cheirou o cabelo alheio e o apertou ainda mais.
–Severus?--James não sabia exatamente o que dizer, mas deixou que o nome fugisse.
–Sim, James?
–Desculpa por ter criado o elo.
Severus olhou para James, estranhamente próximo e bonito. James queria jogar tudo para o alto e tascar um beijo naqueles lábios.
–Por incrível que pareça, não estou irritado por você ter criado esse elo.
–E por quê?--James não consegue esconder a surpresa.--Faltou você me matar quando eu contei das lembranças!
Severus deu de ombros.
–Bem… Sinto que você não teria essa personalidade estranhamente nova se não tivesse começado a obter as lembranças. Você só é quem é por causa da culpa, não é?
James fitou aqueles olhos por tempo o bastante para notar uma leve vermelhidão surgir no rosto de Snape. Lambeu os lábios e, nitidamente, Severus notou, mas não fez nada além de fitar James.
–Ouvi você gemer o meu nome ontem à noite.--Foi tudo o que Severus disse e James arregalou os olhos, afastando-se do abraço com uma estranha brusquidão.
–Não é o que você está pensando!--Partiu a falar, acanhado ao extremo e com as pernas tremendo ao ponto de quase derrubá-lo.
–Não é o que eu estou pensando?--Severus riu, não de forma irritada.--Você estava todo fora de foco hoje pela manhã e ainda acordou cedo!
–Não significa nada!
Snape cruzou os braços e o olhou com uma estranha malícia. James engoliu em seco, nervoso. Era horrível não ter ideia do que aconteceria.
–Seja sincero, Potter.--A voz de Severus veio carregada de deboche, mas havia algo a mais e James não conseguiu identificar o que era.-- Está querendo me beijar?
A pergunta fez James arregalar os olhos, abrir a boca e não conseguir falar.
Tentou recuperar a consciência, mas a única coisa que foi capaz de fazer foi menear a cabeça, fechar os olhos e esperar que Severus não fugisse dele.
No final das contas, o que James sentiu foram os lábios de Snape grudados nos seus.
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