História Do viver que é uma corrida para a morte. - Do amor até a morte.

Era irônico ao mesmo tempo que era clichê. O relacionamento paradoxal deles era engraçado se visto de fora, por olhos vivos que não sentem, por almas vazias de muitas angústias.

Aki simplesmente não podia evitar rir noite adentro, preste a eliminar mais um demônio qualquer, enquanto a nicotina fazia o efeito esperado em seus pulmões ardentes. Ele sentia o que não deveria e fazia o que devia e se afogava em agonia desesperada. E Angel sequer sabia sobre a teoria do amor nada platônico que crescia dentro de seu peito esquerdo, aquela sensação boba que pulsava fortemente em seu coração humano, que exigia atenção como algo necessitado de afeto cru.

Era hilário como a vida poderia virar de ponta a cabeça e mudar as rotas de um caminho já marcado por linhas retas e sem atalhos desnecessários. 

E se por um acaso do destino seus pés insolentes se perderem nas ruas indiferentes de Ginza, ele ousaria cantar com perfeição linguística o poema Le Léthé de Charles Baudelaire, hiper consciente da pequena forma o seguindo sem pressa, pupilas confusas com curiosidade ingênua.

A fluidez de um rio de águas cristalinas não chegava nem perto de se comparar aos olhos angelicais que permaneciam em seus pensamentos noturnos nas madrugadas mais inoportunas. 

O caçador fazia o possível para não se envolver nas maquinações dos seres humanos. Temia ser sugado por esse redemoinho¹, todavia, ninguém tinha a permissão de escapar das garras da sua própria subsistência trivial.

Risível, porém real. Uma piada cruel que o universo gostava de brincar com constância. O sofrimento apenas alimentava sua ânsia por um nunca antes desejado. E os lábios demoníacos ainda se mantinham aquecidos e presentes nos dias mais frios do outono japonês.

A divina comédia escrita por Dante Alighieri resumiu basicamente todos os círculos infernais que aquele anjo o obrigou a vagar. E assim ele o fez, e sem hesitação abriu as portas sombrias do Vale dos Ventos e riu de Asmodeus com todas as forças que sua existência poderia conter dentro de seu corpo mortal descartado para os deuses usarem e abusarem.

Ah, era um sentimento dócil, alguns o chamavam de "amor", Aki gostava de apelidar carinhosamente como seu próprio inferno pessoal, que portava longos cabelos vermelhos feito sangue carmesim, olhos de uma cor celestial e asas brancas tais quais representavam a paz de um futuro distante.

Angel Devil era a própria contradição personificada que vagava pela terra dos homens como um ser surreal, cujo existia com muitos e poucos propósitos. Difícil dizer se Hayakawa um dia poderia fugir de sua adorável vida ou teria que tocar e esperar pela morte que ainda assim não acabaria. Seria um ciclo vicioso e atemporal, pois mesmo que suas vias respiratórias parassem de funcionar e seu coração fraco decidisse descansar da correria mortal do mundo, o paraíso ainda seria os braços delicados e convidativos de seu assassino e salvador. 

Tudo era sim e não, calma e confusão, um beijo e um arranhão na raiz de um vulcão em erupção.

Ainda bem que os cigarros continuavam a ser uma droga constante numa existência inconstante.