Quando alguém se vê em uma situação ruim, esta pessoa tenta, ou pelo menos deveria, pensar que não tem como ficar pior. E se a sua positividade for forte o suficiente, realmente não fica. Mas não é o meu caso.
Se as coisas estão ruins para mim ou eu: ignoro completamente o problema; fico puto da vida com tudo e todos que não tem nada a ver com meu mau humor; torço para não piorar e eu acabar chorando.
Desde que Yoongi e Jeongguk começaram a aula, eu precisei de alguma coisa para distrair a cabeça. Minha vontade era entrar e ficar olhando para cara dos dois, só para não me sentir tão sozinho, porque por mais que eu goste de estar sozinho, as vezes eu fico muito carente e necessitado de atenção e, neste momento, é esse o caso.
Já que eu não podia obrigar Yoongi a ver alguma série comigo, eu decidi que ia me dar um dia de mimos, quer dizer, um final de dia de mimos, já que estava de noite.
Então eu preparei um lanche gostoso, no caso eu pedi pelo aplicativo, mas eu coloquei em um prato, então vou fingir que eu que fiz. Decidi assistir pela terceira vez grey’s anatomy porque eu gosto de me maltratar vendo cenas que eu sei que são tristes e me fazem chorar, mas ainda é divertido.
Até que eu tive a brilhante ideia de fazer um spa day. O detalhe: não tenho nada apropriado para isso, então coisa boa não vai sair.
Pesquisei na internet e descobri que cola branca pode ajudar a tirar os cravos do nariz e servir como máscara, e eu ainda quis acrescentar corante azul para ficar bem chique e poder tirar umas fotos para mostrar para Abigail que eu também podia relaxar sem gastar dinheiro com massagista, que é como ela faz.
Fiz toda a mistura, crente que estava abalando e passei no meu rosto. Logo o cheiro da cola começou a me incomodar, mas segui firme assistindo minha série até dar o tempo de a “máscara” secar.
Meu rosto ficou duro. Eu não conseguia rir. Agora eu tinha uma só expressão, e era de pânico.
Corri para o espelho e encarei meu rosto todo azul e preocupado comigo mesmo.
— Burro. — Me xinguei, mas até meu xingamento saiu esquisito, já que eu mal conseguia abrir a boca.
Tentei puxar a cola seca pela lateral do meu rosto, mas minha pela vinha junto e doía muito, tanto que eu comecei a lacrimejar. Então pensei que seria bom lavar tudo aqui, respirei fundo e admiti para mim mesmo que na verdade eu sou um gênio incompreendido.
Tirei a roupa e entrei no chuveiro, comecei a esfregar meu rosto, e quando mais eu esfregava, mas a água caía azul. Certo, não posso surtar. Eu ainda sentia minha pele pegajosa, e parecia ainda pior do que quando eu resolvi que era uma boa ideia fazer um spa day. Talvez se eu esfregasse bastante sabonete ela ficasse mais macia, e de quebra eu ia ficar super cheiroso.
Peguei o frasco de sabonete líquido e despejei uma quantidade generosa na mão e depois coloquei no rosto. Quer dizer, a princípio era para ser no rosto, mas eu não sei que porra deu na minha cabeça, que o sabão foi parar no olho. Começou a arder que nem o inferno. Não que eu soubesse como arde no inferno, nem quero descobrir, o fato é que eu nem mesmo conseguia abrir meus olhos.
No desespero, ao invés de tentar enxaguar tudo na água do chuveiro que já estava ligado, em comecei a tentar alcançar a chuveirinho menor, porque o jato iria como mais precisão no meu olho, mas eu acabei agarrando a cortina, e puxando ela. Com tanta força que ela caiu no chão. E eu também.
— Puta merda! — Gritei, ainda sem nem conseguir abrir os olhos. — Vou morrer pelado e cego. — Conclui, tentando levantar.
Respirei fundo umas três vezes, tentando relaxar e esquecer a dor que eu sentia na bunda depois da queda. E de que eu não tinha mais uma cortina e certamente deveria comprar um box de vidro. E eu não faço ideia de quanto algo assim custa, mas não deve ser barato. Sem contar a bagunça que esse banheiro deve estar, água para todo lado.
Finalmente consegui enxergar de novo, mas preferia ter continuado sem ver.
Desliguei o chuveiro, e procurei pela minha toalha. E ela estava no chão, encharcada. Ótimo, que dia ótimo.
Passei por cima da cortina, toda esparramada no chão, junto com a varetinha que eu não faço ideia de como se chama, mas que serve para deixar ela pendurada na parede e fui até a pia, para poder me olhar no espelho e pensar.
Novamente, preferia ter continuado sem enxergar.
Minha cara estava toda azul.
Que legal, cosplay de smurfete.
Mas não pode piorar, não dá para piorar. Foi isso que eu mentalizei. Às vezes eu só queria gritar em alto e bom som “CALA BOCA” para minha própria mente, vai que assim eu encontre o caminho para paz e sossego.
Eu só preciso sair daqui, pegar uma toalha na minha gaveta e depois procurar no YouTube como tirar corante da cara.
— Jimin? — Ah, pronto. Que maravilha. — Tudo bem aí? A gente ouviu uns barulhos. — “A gente”? E não está um pouco tarde para vir se preocupar comigo e minha bunda roxa?
— Tô bem. — Respondi, tentando me esconder, como se Yoongi pudesse me ver através da porta.
— Tem certeza? — Questionou.
— Absoluta. — Mesmo que ele não pudesse ver, em concordei com a cabeça, para dar mais veracidade a minha mentira. — Mas já que você tá aí, tem como pegar minha toalha na gaveta? — Já tô na merda mesmo, o que custa me melar mais um pouquinho.
— Qual gaveta? — Com a voz mais distante, Yoongi perguntou.
— Na última.
E depois um silêncio se instalou de ambos os lados.
Eu já falei que eu estava tremendo igual vara verde? Porque eu estava. Odeio tomar banho gelado, mas o chuveiro elétrico quebrou e eu prefiro gastar com comida do que com isso, bom que a água gelada faz bem para o cabelo, né?
— Jimin... por que você tem uma calcinha? — O quê? Calcinha?
MEU DEUS, A CALCINHA!
Tá, vou explicar esse rolê antes de surtar. Eu ganhei uma calcinha da minha vó, mas só porque ela pensou que estava enviando para minha prima, que ia casar. Eu não sabia como contar para ela que a calcinha estava comigo, então eu só joguei ela na última gaveta e deixei mofando.
— NÃO É MINHA! — Tentei me defender, Yoongi nesse momento deve estar pensando que eu sou louco, mas ele me conhece, então tem certeza. E vai me zoar muito por isso. Já Jeongguk, que eu suponho que esteja com ele quando ele disse “a gente ouviu um barulho”, deve pensar que eu sou um depravado.
Apenas escutei a risada de Yoongi. Quis sair do banheiro só para poder dar um soco na cara dele, para ele ficar esperto e parar de mexer comigo.
— Abre a porta, tá aqui a toalha. — Foi o que ele disse, ainda rindo.
Abri uma brechinha da porta, me escondendo atrás dela o máximo que pude e pedindo aos céus para que ele não pudesse ver a bagunça que estava o meu banheiro. Antes de pegar a toalha, estirei meu dedo do meio para ele e depois puxei o tecido felpudo e me cobri.
— Obrigado. — Agradeci, mas com raiva.
— Seu dedo da azul por quê? — Não tenho um minuto de paz.
— Vai embora do meu quarto! — Gritei.
— Jeongguk você precisa transar com ele de novo, vai que o humor dele melhora. — Filho da puta!
— T-talvez um suco de maracujá. Acalma. — Foi o que Jeongguk respondeu antes dos dois saírem do meu quarto.
Que alívio.
Abri a porta do banheiro e corri para a porta do quarto, trancando-a, para que eles não pudessem entrar e me ver daquele jeito. Um que eu estava com a cara azul, dois que eu estava totalmente exposto.
[...]
Não sei o que fazer para tirar esse azul do meu rosto, então eu pensei que ligar para Taehyung seria uma boa opção.
Isso que é legal de ter mais de um amigo, você pode pedir ajuda de um, quando o outro não tiver disponível. Eu ainda não sei muito sobre como funcionando amizades, mas essa parte eu gosto.
Outra péssima ideia que eu tive foi ligar para Tae por chamada de vídeo. Assim que atendeu, ele passou pelo menos uns cinco minutos rindo da minha cara.
— Ai, você quase me matou. — Disse, tentando se recompor. Queria mandar ele a merda, mas não sei se ele ia ficar sentido, por isso preferi evitar e só fiquei esperando ele terminar de secar as lágrimas do canto do olho. — O que rolou?
— Tive um surto de burrice. — Resumi. — Você sabe alguma coisa que tira isso da cara?
— Pasta de dente. — Respondeu, como se estivesse na ponta da língua. Fiz minha maior cara de bunda. — Qual problema?
— Passar pasta de dente no rosto? Eu sou burro, mas não maluco. — Então ele pareceu pensar um pouco, até gritar do nada o nome de Hoseok e chamar ele para ver.
E de novo estavam rindo de mim.
— Tenta bicarbonato de sódio com detergente. — Depois de algum tempo rindo, e mais um tempinho pesquisando soluções na internet, Hoseok falou.
— Vou tent- merda.
— O que foi? — Taehyung perguntou, curioso com minha mudança repentina de expressão.
— Jeongguk tá aqui. — Expliquei, e ele sorriu. Hoseok ficou olhando para ele sem entender muita coisa, devo admitir que nem eu entendia sua expressão. Tae tem uma mania de querer se comunicar usando gestos que são confusos.
— O que ele foi fazer aí, hein? — Com tom de voz sugestivo, ele perguntou.
— Aula de violão com o Yoongi.
— Nossa! Eu queria muito tocar violão, faz quatro anos que eu tento. — Hoseok comentou.
— Quatro anos? E não aprendeu? — Minha vez de questionar.
— Ele só senta com o violão na frente dele e fica encarando, como se fosse aprender alguma coisa. — Tae quem esclareceu.
— Eu aprendi! Ele não fica em pé sem apoio.
E então os dois começaram e discutir, Taehyung queria vender o violão e Hoseok queria trocar ele por uma flauta, e Tae brigava com ele dizendo que é uma troca nada justa.
— Obrigado pela ajuda. — Falei, interrompendo a briga dos dois.
— De nada, amigo! — Sorridente, Taehyung respondeu, encerrando a ligação logo em seguida.
Joguei meu celular na cama e levantei, determinado a correr na cozinha, pegar tudo que eu preciso e voltar para o quarto sem ser visto.
Mas minha missão falhou assim que botei o pé para fora.
A porta do estúdio de Yoongi se abriu, e ela é quase que de frente a porta do meu quarto, o primeiro a sair de lá foi Jeongguk, que me encarou e ficou estatístico na porta, por pouco ele não derrubou o violão.
Yoongi quase sumia atrás do corpo grande de Jeongguk, mas tentou empurrar ele para o lado, até enfim poder ver meu rosto azul e cheio de constrangimento. O silêncio quebrou quando Yoongi começou a gargalhar alto.
— Eu amo morar com você. — Foi tudo que ele disse.
— E eu odeio você. — Respondi, praticamente marchando em direção a cozinha, sendo seguido pelos dois.
— O que rolou com tua cara? Tá parecendo um avatar, só que pequeno. — Enquanto eu procurava os itens que eu precisava, Yoongi e Jeongguk me observavam do outro lado da bancada. Com o comentário de Yoongi, Jeon soltou uma risadinha fraca, mas tentou abafar com a mão e disfarçar quando olhei para ele.
— Estava com tédio. — Não me dei o trabalho de prestar atenção neles, estava concentrado em mistura o detergente e o bicarbonato. Mas percebi que Yoongi havia se sentado no banquinho.
— Se isso não funcionar, usa óleo de amêndoas. — Jeongguk sugeriu.
Olhei para ele, detalhe que eu estava com o rosto toda azul, então não sei como ele conseguiu sustentar o olhar sem cair na risada.
— Obrigado.
— De nada. — Sorriu.
Yoongi intercalava o olhar entre nós dois.
— Vou te ensinar a tocar uma serenata na próxima aula. — Deu um tapinha nas costas de Jeongguk, sorrindo. Depois se levantou e foi embora.
Então ficamos eu e Jeongguk ali em silêncio.
— Jimin, eu queria te perguntar uma coisa. — Depois de um bom tempo só me observando mexer aquela mistura esquisita, ele falou.
— Pode perguntar. — Disse, tentando fingir tranquilidade, mas estava com medo dele me questionar sobre eu ser um híbrido, ou pior, perguntar se eu estava pronto para mofar na prisão porque ele ia me denunciar.
— V-você quer sair comigo amanhã? — Falou rápido, tão rápido que eu quase não entendi.
Pisquei um par de vezes, confuso se realmente tinha ouvido certo.
— Você... você me viu com a cara azul e ainda quer sair comigo? — Perguntei, apontando para o meu próprio rosto, ele assentiu, sem nem hesitar. Mas era fofo como ele espremia os lábios, claramente nervoso. — Tudo bem. — Ele arregalou os olhos e impulsionou um pouco o corpo para frente, sorrindo logo depois.
— Mesmo?! — Não fez questão de esconder sua empolgação.
— É. — Respondi, tentando disfarçar ao máximo o sorriso bobo que eu queria devolver para o sorriso bobo dele.
— Amanhã mesmo? Fica boom para você? — Perguntou, confirmei. — Certo, então eu te mando mensagem. Tchau, boa noite! — E saiu, estava tão agitado que até deu de cara no cabideiro e quase derrubou todos os casacos no chão. — Opa. Desculpa. — Pediu, nervosamente. E eu ri, baixinho. — Tchau... de novo. — E então foi.
Eu acho que eu tenho um encontro.
Amanhã.
Meu deus!
Amanhã e eu ainda tô com a cara azul! E o mais chocante de tudo é que o ponto alto do meu dia hoje foi ver Jeongguk sorrir quando eu confirmei que sairia com ele.
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