História Doce melodia - Doce melodia

Uenoyama praticava uma de suas canções no estúdio alugado de sempre. Porém aquele seria um ensaio diferente. Em seu colo, a velha guitarra e no coração, certa inquietude enquanto esperava por Mafuyu. Aquele seria seu primeiro encontro oficial desde que eles resolveram começar a namorar. Uenoyama sentia-se eufórico, algo que não era normal para ele, sendo sempre tão calmo e controlado. Porém, era algo inevitável, já que iria encontrar aquele que havia se tornado sua nova fonte de inspiração. Ele mal podia acreditar que aquilo era verdade. Claro, ele sabia que Mafuyu se recuperava de um grande trauma, de um coração dolorosamente partido. Entretanto, Uenoyama não pretendia deixar Mafuyu escapar entre seus dedos.

A desculpa foi bem simples: um treino rotineiro. Uenoyama sabia o quanto Mafuyu havia melhorado no dedilhar das cordas, entretanto ele meio que estava acostumado a ser aquele que o guiava no mundo da música e não queria que aquilo se perdesse por capricho. Para ele, Mafuyu era como uma suave canção: doce, envolvente e encantadora. Ele não sabia explicar se foi seu jeito reservado ou a forma com que ele mostrava sua dedicação nos treinos com a guitarra. Quando percebeu, seu coração havia sido arrebatado pelo quieto e reservado garoto ruivo. Apesar do aspecto frágil, Mafuyu era tão independente, tão determinado e até divertido.

Porém, ao mesmo tempo, Uenoyama era inseguro e receoso em relação ao seus sentimentos. Ele tinha que confessar que não era fácil para ele reconhecer seus sentimentos, sentir-se encaixado com o que ele acreditava que era o amor.  No entanto, ele sabia que não valeria à pena forçar alguma coisa sem ter a certeza que Mafuyu também estava no mesmo compasso que ele. Seria um péssimo arranjo, uma batida fora do ritmo, uma melodia sem emoção. Implicar em algo antes do momento certo colocaria tudo a perder e ele não estava disposto a deixá-lo partir.

Tentando conter a ansiedade, Uenoyama começou a dedilhar as cordas de sua guitarra. Ele fechou os olhos e na sua mente veio a imagem do rosto dele. Seus olhos em tom salmão, com um brilho que lembrava as estrelas no céu, seu rosto harmonioso como uma tela de um pintor famoso, seu sorriso tão brilhante e cativante, chamativo como as luzes que iluminavam os palcos em que ele se apresentava. Mafuyu era realmente único para ele.

Em meio à canção, ele ouviu a voz dele chamá-lo. Quando ele abriu os olhos, Mafuyu estava bem à sua frente, com aquele seu belo e único sorriso. Ele se aproximou e sentou ao lado dele, solicitando que ele continuasse a tocar, pois a música dele conseguia deixar seu coração tranquilo. Uenoyama continuou a dedilhar, enquanto admirava o rosto de Mafuyu que se iluminava a cada nota tocada.

Após tocar aquela canção, Uenoyama colocou a guitarra de lado e eles se aproximaram um pouco mais. Mafuyu continuava a mostrar aquele sorriso que ele amava e eles começaram a conversar sobre muitas coisas. A conversa fluía com leveza e calma, assim como as notas que  Uenoyama tocava em sua amada guitarra. Quase que não notaram o ponteiro do relógio se mover, determinando que o sol começaria logo a se pôr.

Eles saíram do estúdio e se depararam com os últimos raios de sol. A bela vista se perdia em meio às construções e Mafuyu sugeriu que eles subissem um pouco mais a rua, para que alcançassem o ponto mais alto. De onde estavam, podiam observar como o céu estava tingido por um belo colorido, uma mistura de cores quentes, um vermelho e um laranja intentos. Era uma coisa linda de se ver, um laranja tão vivo quanto os olhos de Mafuyu. Um pôr do sol perfeito.

Enfeitiçados pelo show da natureza, os dois mantiveram-se em silêncio, enquanto apenas admiravam o sol despedir-se. Por um momento, Uenoyama olhou para o rosto de Mafuyu e notou que algumas lágrimas desciam por suas bochechas. Ele ficou preocupado, levou as mãos até o rosto do ruivo e começou a secar suas lágrimas com seus polegares. De repente, os olhares se encontraram e Uenoyama sentiu seu coração acelerar. Mafuyu apenas fechou os olhos, como se o desse permissão para se aproximar. Mesmo receoso pela presença das íris curiosas, Uenoyama levou seus  lábios de encontro aos dele, em um beijo rápido, porém amoroso.

O  grande desejo de Uenoyama se concretizou e ele se sentiu eufórico. Ele abraçou o namorado com força e Mafuyu retribuiu, acolhendo-o com carinho. Os corações unidos e acelerados, como se juntos entoassem a doce melodia de sentimentos que acabara de florescer naquele momento. Daquele em dia em diante, os dois escreveriam sua própria canção de amor.