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História Dolce Cuore - A Ruiva de Cabelos Negros - História escrita por BzZando - Spirit Fanfics e Histórias
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História Dolce Cuore - A Ruiva de Cabelos Negros


Escrita por: BzZando

Notas do Autor


Não me matem, por favor!
Não chorem também, galera.

E vim avisar que depois desse capítulo, eu irei parar de postar aqui por duas semanas... Pra preservar a passagem de tempo, os capítulos já estão escritos mas essa pausa é necessária espero que entendam.

Boa leitura 🌞💙

Capítulo 30 - A Ruiva de Cabelos Negros


Fanfic / Fanfiction Dolce Cuore - A Ruiva de Cabelos Negros

Chiara's POV

Foi difícil ver Ana deitada naquela cama desacordada por tanto tempo. Já ficara antes, mas agora eu sinto culpa; Ela estava tão animada com seu namoro com Eva, tinha preparado uma surpresa tão bela e olha como estamos agora? Eu não sei se ainda namoraria com Ana. Mas estávamos nos dando bem como amigas! Parece que o destino não quer que fiquemos juntas, pois toda hora algo dá errado.

Ela estava me contando de como sua mãe estava começando a aceitar o namoro dela, eu fiquei feliz por ela. Afinal, seguimos em frente; Somos maduras o suficiente para isso, eu acho.

- Ei Ana, estou indo embora. - Digo segurando sua mão, ela continua imóvel. - Acho que agora acabou mesmo, é a última vez que irei olhar para você assim... Tão quietinha, vou te guardar para sempre na memória desse jeitinho. Eu te amo, Aninha. - Eu a abraço.

- Pra onde vai agora, Chiara? - Cida assistiu a cena, tinha seu sorriso tímido escondido por trás da preocupação. 

- Roma. 

- Enrico está junto de Eva nessa? 

- Sim! Parece que ele não queria que eu e Ana ficássemos juntas mesmo, olha a que ponto chegamos. Mas vai dar certo.  Espero que você fique bem. - Me despeço dela e passo por Eva no corredor.

- Vai na sombra, hein Civello! - Ela e sua mãe riem, não há mais ninguém a minha frente. Eu volto a Roma tão perturbada como nunca imaginei antes.

O beijo de Ana e Eva não me sai da cabeça. 
Ela está mesmo apaixonada, se nem o que ela fez comigo foi capaz de impedir; Ana não foi capaz de suportar, ela sempre seguiu o coração antes da cabeça e graças a Deus por isso. 

Sempre apreciei essa sua necessidade de seguir aquilo que acredita, seja errado ou não... Agora na minha pele, tenho certeza que Ana não temeria Eva tanto quanto eu temo. Ela que me passa essa calma que sempre fora indescritível, que sempre teve necessidade de ser cuidadosa; Sem dúvidas, Ana é meu paraíso. Mas talvez, só talvez, eu seja o inferno dela; Sou sempre eu a causa de seus problemas!

- See you, Brasa. - Disse olhando para a janela. E então a praia ficou menor, o azul era infinito e as nuvens de algodão estavam abaixo de meus pés, tão delicadas e fáceis de serem desfeitas ou bagunçadas assim como os pensamentos agora. 

Daqui a dez minutos talvez eu enlouqueça. - Escrevi no meu computador. E reescrevi. E reescrevi. E reescrevi. Por diversas vezes, até encontrar palavras que sucederiam... Quase não teria percebido as (intermináveis) 12 horas de vôo. 

Ninguém foi me buscar, e nem sei se alguém saberia que eu chegaria. Acho que, devido as circunstâncias, já está na hora de voltar a falar com Enrico. Paguei o táxi e fiquei parada diante do imenso jardim dos Civello.

Como seria bom extravasar e queimar esse lugar, junto com as memórias ruins que trago dele, junto com Eva, junto Ana, junto com Enrico, junto com tudo que tem me feito chorar nos últimos meses... Junto com tudo que me faz mal.

Suspiro diante da porta. 

Puxo o ar.

 Solto o ar.

 Hesito. 

Assinto.

E nem precisei de coragem para abrir a porta, Enrico saia junto com outro homem. Cabelos castanhos claros, charmosamente bagunçados, usava vermelho e o sol valorizava seus traços;

- Chiara? - O desconhecido parou no tempo, me olhava fixamente sobre mim. Deixei minha bolsa cair, parei no tempo junto dele. Aquela voz, aquele sotaque, os olhos verdes, e o mesmo sinal de família! Minha cabeça dói, coloco a mão sobre ela. Um filme roda minha cabeça, eu arquejo e fecho os olhos. Solto minha mala e me sento na grama.

Um filme roda minha cabeça. 

- Quem é você? - Eu digo tentando permanecer calma, ele está em tanto choque quanto eu. - QUEM É VOCÊ? - Eu grito e ele ainda não me responde. 

Um filme roda minha cabeça. 

- Chiarinha, se acalme. - Eu estava prestes a cair quando Enrico me segurou.

- Quem é ele? - Pressiono os olhos, tento controlar a raiva que sinto.

- Eu sou Heitor, Heitor Bono Civello. - Ele estende sua mão e faz menção para que eu a aperte, eu respiro fundo. - Sou seu pai. - Ok, pai. Eu tenho um pai. Não, não tenho. Tenho? Não. Sim!?

Pego minhas malas e passo por eles,  subo as escadas correndo e jogo tudo dentro do quarto. 

Vou até o bar da casa e pego cerveja, vinho, vodca... Tudo que possa me colocar em risco.

Não dou explicações a ninguém. 

Tranco a porta e me jogo na cama.

Bebo desenfreadamente, como nunca havia feito. Eu sinto o álcool queimar meu estomago, meu olhos reviram, minha cabeça arde. Lateja.   

Um filme roda minha cabeça. Pressiono meus olhos. Tampo meus ouvidos. 

- VAI EMBORA, ANA! - Eu grito. - EU NÃO QUERO MAIS AMAR VOCÊ. 

Então eu me levanto. 

Surda pelos gritos de Ana, ela grita meu nome.

Cega pelas imagens que vejo. 

*Flashback On*

É minha mãe, Alice. 

Ela tem uma arma nas mãos, ela caminha até mim.

- Querida, saiba que estou fazendo isso por você. - Ela coloca a arma na minha testa, eu fecho os olhos e respiro profundamente; Espero ela puxar o gatilho. Em um estrondo rápido, eu ouço o seu corpo bater no chão. 

- Mamãe? - Abro os olhos e seu sangue escorre até debaixo de meus pés. - Vovô! - Grito por socorro inevitavelmente. Ouço batidas na porta, não consigo abri-la. - Papai, tá trancada... Não sei onde está a chave, me ajuda! Por favor. - Eu abraço o corpo imóvel e gélido de minha mãe no chão. Meu avô me puxa de cima dela. 

Então eu fecho os olhos, e não abro-os mais.

*Flashback Off*

Eu jogo meu celular pela janela, lanço-o com toda minha força à deriva dos ventos.

Jogo o velho porta-retratos na parede, jogo tudo que está sobre a cômoda no chão.

-EU ODEIO TUDO ISSO! - Abro meu armário e rasgo as roupas.

O ódio me ocorre, como um carro que corre a 200km/h. O sangue ferve. Me olho no espelho, meu rosto está vermelho. Eu dei um soco nele e sorri ao ver minhas juntas sangrarem, cada gota que pingava era mais da minha raiva que pulsava.

Como os soldados na guerra, como quem joga uma granada, como quem mata, como quem morre,

Eu jogo meu sapatos no vidro da janela, vejo os cacos se arrastarem pelo chão. Então soco as paredes, e cada gota de sangue que escorre, cada mancha que fica no papel de parede me faz bater mais e mais. É um caos, me sinto em uma guerra de sentimentos e frustrações, eu grito.  O meu sangue marca a parede, é libertador.

- EU NÃO QUERO MAIS VER NINGUÉM. - E Ana me vinha na cabeça. Eu arquejei e prendi a respiração, tão sufocada pelo desespero. Lágrimas vermelhas me escapavam dos olhos, meu nariz também sangra. Mas Ana está aqui, diante de mim. De pé, de braços abertos. - SAI DAQUI, ANA! - Eu corro pra cima dela, não passa de uma ilusão. Logo ela está do outro lado do quarto, e do meu lado, e atrás de mim, e na frente... Ela está em todos os lugares. 

"Eu te amo" - Ela diz, sorridente. Maldito sorriso, belíssimo. Cativante. 

As solas de meus pés estão ardendo agora. Piso descalça nos cacos, vou até ela. E sinto seus braços me envolverem, e logo ela some. Então abro a ultima gaveta do criado mudo. Há fósforos.

Eu sempre tive mania de queimar papel. Com palavras escritas. Coisas como: Sociedade. Enrico.

Mas agora faço diferente. Rasgo os travesseiros, jogo-o no canto do quarto. Então pego os sapatos, e as roupas, o computador, o violão. Tudo. E jogo vodca em cima. Jogo cerveja. Jogo perfumes. Tudo que posso me matar, está ali agora; É libertador! 

Quase paro de respirar com o cheiro sufocante. Doce demais para uma Chiara amarga e sem vida. Doce demais para a Chiara enganada. Doce demais para alguém que não sabe da verdade. Doce demais para quem não tem esse amor.

Então acendo uma bola de papel e jogo na pilha. É instantâneo. 

Acabou. - Eu sorrio quando sou lançada de volta ao chão, com o corpo gritando por ajuda. Ouço alguém bater na porta. Sou incapaz de abri-la. Incapaz de me levantar.

Vejo o laranja e amarelo do fogo me rodearem, o inferno é aqui. 

- Veio me buscar, amigo? Lá embaixo não vai ser nada, o inferno é aqui. - Falo sozinha, e a vejo mais uma vez... Dentre as chamas. Ana arde em chamas. Corro até ela. Não consigo chegar até ela. 

-ANAAAAAAAA. - Grito antes de não conseguir ver seu rosto. Não vejo mais o fogo. Não vejo mais o filme. Não ouço mais sua voz. Não sou mais Chiara.

 

-.-

 

- CHIARA! - Então eu abro os olhos e eles encontram os olhos de meu avô agora. - Você está bem? - Eu olho para os lados, assustada, e o abraço; como nunca havia feito antes! Precisava me sentir segura nos braços de alguém, e o pai que me criou caiu-me muito bem agora. - Me diga o que aconteceu, querida! - E então eu faço um esforço para me lembrar, e minha cabeça dói.

- E-eu não... - Me viera o medo quando recordei. Eu via a ruiva; que não era ruiva, ela incendeia tudo à minha volta, ela diz que me ama enquanto me vê sucumbir dentre as chamas; estou em ruínas agora. E continuo por persistir em chama-lá de ruiva, mesmo com seus cabelos negros. - Foi uma ruiva. Ela estava lá quando tudo aconteceu, Eu a-acho que foi... Foi ela, vovô.

- Enrico, acho melhor me deixar conversar com ela. - Meu pai entrou pela porta e sorriu para mim. Ele usava um jaleco branco, não lembrava que ele era médico. Meu avô saiu pouco depois. - Chiara, do que se lembra?

- Lembro de estar em Roma, com meu avô. Estávamos tocando piano na sala e eu voltei ao meu quarto... - Seu rosto está paralisado, seus lábios; perfeitamente rosados perderam a cor! Me contesto, devo contar sobre a mulher que vi?

- E? O que aconteceu em seguida? - Seus olhos verdes, como as folhas das árvores; eu diria, me pediam respostas, queriam algo que eu não sei se posso lhe dar. Seus olhos clamam por verdade. 

- E a mulher estava lá, a porta estava trancada, e eu ouvi um barulho estrondoso e logo era fogo. A mulher incendiou meu quarto. - Eu dizia, hesitantemente, enquanto encarava a janela.

- Está me dizendo que tinha alguém com você? No seu quarto quando voc... - Eu volto a olhar pra ele. - Quando tudo aconteceu?

- Fui eu quem colocou fogo no quarto? - Ele suspira. - Mentira. Você sabe que foi ela, sabe que foi aquela mulher... Mas por que não me ajuda? Está do lado dela?! 

- Claro que não, minha filha, estou do seu lado! E vou ficar, acredite.

- Não estou ficando maluca, estou? - Ele chega mais perto de mim e retribui meu olhar carente quando me abraça. Primeiro, eu resisto ao gesto afetivo; Mas nesse lugar, não há muito o que fazer agora.

- Não está! 

- Então me diz... Quem é a mulher que vejo? A mulher que tem cabelos negros, mas que insisto em dizer que é ruiva.
Ele me solta, raivoso, e se levanta; Me dá as costas e vai até a porta.

- É alguém que você deve esquecer, ou então... - Ele sorri de lado. - Eu faço você esquecê-la. - Então ele bate a porta. E eu olho as janelas, as grades atrás dos vidros; Vê-se as marcas de unhas nelas, vê se o medo além dessas paredes, vê-se a angústia por trás do ar. 

- Quem és tu, ruiva? - Pergunto vendo Roma além desta janela.

E foi só o que fiz, me perguntar quem era a mulher que me assombrava por tanto tempo. Não ter minha avó faz falta agora. Ela e vovô brigaram, parece que ela resolveu ir pro Brasil e ele não aceitou muito bem. Ela apoia essa tal causa de gays o que, pessoalmente, acho um absurdo. Enrico me disse que é contra o que a igreja diz, disse que os Civello devem seguir as tradições e quem sou eu pra ir contra isso? Desde que minha mãe morreu, é ele quem tem me dado tudo que tenho. Tudo bem que ele me largou aqui sozinha, faz dias que não o vejo... 

Faço riscos nas paredes para contar os dias que permaneci aqui.

 Ajoelho todo dia e peço a Deus que me tire do meio dessas paredes brancas. Não tenho contato com muitas pessoas, alem das enfermeiras que vem me fazer tomar uma penca de pilulas todos os dias. Meu pai também vem, me pergunta sobre a ruiva que aos poucos vou esquecendo.

Eu não falo, só escrevo. Tem sido dificil. Tenho medo que me machuquem, são capazes de atrocidades aqui e cada vez que me permitem ter contato com outros pacientes... Mais desejo morrer dentro deste quarto. 

Os pacientes fazem barulho, Eu odeio barulho.

 É pacientes... Vovô disse que é bom que eu fique aqui, para me proteger da mulher ruiva. 

Mas não adianta, ela aparece todos os dias. Ela se senta no canto da sala com um instrumento (que já não sei mais o nome) e canta pra mim. Sua voz me acalma tanto, mas sempre que ela acaba de cantar; ela faz barulho. Eu odeio barulho. Ela grita comigo.

Então eu grito com ela, e por esses dias eu caí no tapa com uma mulher que veio com ela. Ela veio jogar na minha cara que não precisa mais de mim. E eu não consegui suportar isso, eu nem a conheço; Mas me deixou um pouco pra baixo. 

Eu odeio a mulher ruiva! Eu estou aqui por causa dela, ela me prendeu aqui e vem ver o estrago que fez todos os dias... É muito ruim quando as pessoas olham pra você com pena, e é graças a mulher ruiva que me sinto assim. Se um dia eu a encontrar, vou perguntar o porquê dela ter feito isso comigo;

Eu briguei com ela, eu gritei, ela chorou. 

E passou muito tempo sem aparecer.
Passou dias sem aparecer.
Passou meses sem aparecer.
A ruiva demorou infinitos riscos e não apareceu mais.

Então eu já não existia, eu não comia, eu não conseguia sair da janela... 

Minha avó apareceu uma vez aqui e gritou comigo também. Meu avô gritou com ela por ela gritar comigo.

E eu me encolhia no canto do quarto, cada vez que ela gritava comigo... Vinha tentar me convencer de que amo alguém que não conheço, mas é essa história de gay de novo! Já disse que não sou gay. Isso é errado. Eu sou uma pessoa de bem. 

Hoje eu parei para contar os riscos nas paredes, são mais de 100 riscos... Fiquei com preguiça de terminar. 

Estou com raiva do meu pai, Heitor, ele não vem mais falar comigo. Só o vovô entra aqui; Ele me trouxe um instrumento, aquele que a mulher ruiva tocava. Disse que se chama violão e eu tenho passado muito tempo tentando tocar igual a mulher ruiva, é claro que não consegui.

Eu acho que aprendi a tocar, mas parece que meu avô ficou um pouco triste com isso. Toda vez que ele me vê tocar, ele chora. Parece que toco mal, eu rio.

Hoje é dia 15 de junho. É meu aniversário e bom, ainda estou aqui. O que me deixa bem triste, lembro-me de comemorar sempre e agora tudo que tenho é mais uma pilha de remédios para tomar. Ninguém veio me parabenizar ainda, nem sei se deveriam. E eu já não toco violão faz alguns dias, eu voltei a só encarar a janela e tive uma surpresa; bem no dia do meu aniversário. A mulher ruiva passou pelos portões, ela está aqui, mas será que veio me ver? 

Eu ouvi um falatório do lado de fora do meu quarto e logo ouvi a porta se abrir, ouvi passos calmos e podia jurar que o silêncio do quarto me permitiu ouvir lágrimas batendo pelo chão. 

- Chiara? - Eu reconheci a voz de imediato e olhei pra trás, ela estava mesmo lá. 

Eu tenho raiva dela, muita raiva. Mas não quero gritar, quero que ela toque violão.

Ela chegou bem perto de mim, ameaçou me abraçar; me acolhi um pouco mais entre meus braços. Ela entendeu que eu não queria contato.

- Você gosta da vista daqui? - Olhei para ela, seus olhos indicavam as lágrimas e cansaço. Gritavam cansaço. Ela não me olhava com pena, eu podia ver o remorso; Tive vontade de abraçá-la logo depois... Deu pra ver que estava sendo tão difícil para ela estar ali comigo quanto era pra mim estar aqui sozinha dia após dia, sem ninguém que se importe de verdade. Eu acho que ela se sente culpada. E é culpa dela mesmo, por que ela tinha que colocar fogo no meu quarto? 

Mas eu a abracei, ela chorou ainda mais. Eu tentava fazê-la não chorar, acariciava seu cabelo; Apertei-a mais forte em meus braços. Ela é muito cheirosa. 

Estávamos a algum tempo abraçadas, comecei a me sentir incomodada então a soltei e passei por ela, ouvi seu suspiro, e peguei o violão sobre minha cama; Entreguei na mão dela. E a ruiva, com os cabelos tão negros quanto eu lembrava, olhou para ele e pareceu não entender.

- Toca. - Eu me esforcei pra dizer e sentei-me exatamente onde ela se sentava. - Toca o que você tocava sempre que vinha. - Ela me olhou confusa, olhou pra porta e ia caminhando até ela. - Não vai embora não. Eu quero ouvir a música, você ficou muito tempo sem vir. - Eu atropelei as palavras, mesmo com toda raiva que sentia dela... Queria ouvir a música.

Então ela voltou até onde eu estava e se sentou comigo, hesitou em tocar de primeira. Mas logo ela tocava a melodia que me fez não odiar-la tanto quanto gostaria!

Ela tocava insistentemente e calmamente, mas não cantava; Me deixou prestar atenção na maneira como ela brincava com as cordas.

Meu avô entrou e ameaçou falar algo, a ruiva ficou muito assustada quando o viu.

- Enrico, eu... me dê só mais um pouco de tempo. - Seu olhar era tão pesado negativamente. - Por favor.

- Chiara, ela pode ficar? - Ela me olhou, e eu a olhei. Os olhos dela me suplicavam, e era agradável ouvir suas notas! Foi a coisa mais feliz que me aconteceu em todo esse tempo. 
O meu maior pesadelo, era também meu porto seguro.

- Ela está tocando violão. Sente aqui, você vai gostar de ouvi-la. - Então ele se sentou comigo. A ruiva demorou a voltar a tocar, ela me pediu licença e saiu do quarto. - Por que ela saiu?

- Ela te faz muito mal, Chiara. Mas eu deixei que ela falasse com você hoje, porque é seu aniversario! E ela te trouxe um presente. - Então a ruiva voltou, escondida atrás de um buquê de rosas tão vermelhas quanto às tardes que caiam além da minha janela. 

- Parabéns, Chiara. - Ela sorriu, envergonhada e entregou as rosas em minhas mãos. Eu fiquei olhando as rosas e fiz o que não era de costume a muito tempo, eu sorri! 

- Muito obrigada, são lindas, eu amo flores. - Eu disse enquanto as apoiava sobre minha cama, ela voltou a ficar só me olhando. - Qual era aquela música que você tocava quando vinha aqui? - Ela olhou para o meu avô e ele fez um gesto que não entendi.

- Ah sim. Eu escrevi com um amigo meu, Totonho, se chama "Pra Rua Me Levar". - Ela disse ainda muito acanhada, diferente do que era nas outras vezes. Ela parecia mais real agora; Sua voz era mais clara! - Você gosta?

- Sim sim. - Então eu me sentei no mesmo cantinho. - Toca de novo, por favor. - Então ela sorriu-me e pegou o violão mais uma vez, e voltou a tocar a música; "Pra Rua Me Levar" não vou me esquecer. Acho que não. 

- Você não quer tocar? - Antes que eu pudesse responder aquela mulher com quem briguei outro dia, entrou pela porta. 

- Ana, vamos embora! Não quero ser a próxima maluquinha a estar presa aqui. 

- Olha bem o que está falando, Eva! Respeite-a, por favor. 

- Ana, vamos embora. 

- Vovô, pede pra ela sair, por favor. 

- Eva, nos dê licença. - Meu avô pediu, mas essa tal de Eva era persistente; queria por quê queria me tirar a ruiva.

- Eu só saio se Ana vier comigo. - Ela sorriu cinicamente e a ruiva pareceu não resistir, levantou com cara de "poucos amigos" e me puxou pela mão para que eu ficasse a sua altura, ou um pouco mais baixa, e anunciou sua despedida.

- Eu prometo mandar flores pra você, sempre!

- Mas você volta? Eu gosto de te ouvir tocar violão. 

- Eu... - Ela mira meu avô nos olhos e logo depois fita o chão, ela parecia indefesa. - Não posso, Chiara.

- Por que não pode? Você não gosta de tocar violão para mim? Mas você vinha todos os dias, você tocava todos os dias... Foi por quê eu gritei com você? Eu não queria ter gritado, mas ela me tirou do sério! - Eu havia me jogado nos braços da ruiva, eu pressionei meus olhos pra me sentir em outro mundo; algo me dizia que dentro daquela sala só ela poderia me tirar daqui. - Não vai embora. 

- Eu tenho que ir, ainda vou levar Eva pra sair. Ela quer conhecer Roma! 

- Exatamente, amor. Já pode soltar ela, tá maluquinha? - A tal de Eva me puxou dos braços de Ana e me empurrou para os braços de Enrico agora. - Cuida dela! Ou eu cuido, Enrico. - Ela beijou a ruiva logo em seguida e ia puxando a ruiva para fora do quarto.

Será que teu beijo é doce? Será que suas mãos são tão quentes quanto eu imaginava? 

- Não acredito! - Eu disse antes que elas alcançassem a porta. A ruiva permanecia calada, cabisbaixa e indefesa; Ela não parecia nem um pouco satisfeita. - Vocês são namoradas? 

- Sim... Quer dizer, não.... Nós... - A ruiva se enrolava nas suas palavras, hesitava em dizer.

- Nós estamos noivas, tá maluquinha?

- Vovô! E você me deixou conversar com ela? É culpa dela, a gente sabe. Então por que está fazendo isso comigo? - Eu disse o atacando. Isso é um absurdo, duas mulheres juntas! 

- Peraí peraí peraí. Qual o problema dela ser minha noiva? Logo você, Chiara? E o que eu tenho a ver com isso? - A ruiva parou diante de mim, ela tinha raiva; ela realmente ama essa mulher.

- Isso é errado, ruiva. - Sua expressão balançou, ela sorriu com o canto dos lábios e voltou a me encarar. - Dois iguais não reproduzem! Você está errada perante Deus, vai contra as leis da natureza.

- ME POUPE! EU OUÇO ISSO DO SEU AVÔ CADA VEZ QUE EU TENTO FALAR COM VOCÊ. SABE O QUANTO EU ABDIQUEI PRA VIR TE VER, SÓ PRA MATAR AS SAUDADES! - Ela dizia acabada, ela gritava sem forças; ela chorava nos suplicando. A Eva não tinha nenhuma reação, o meu avô estava horrorizado! E eu não temi a ruiva, também gritei com ela. - E EU APOSTO QUE FOI ELE QUEM COLOCOU ISSO NA TUA CABEÇA.

- PARA ME VER? VOCÊ ME COLOCOU AQUI! VOCÊ ESTRAGOU MINHA VIDA. VOCÊ É UMA ABERRAÇÃO E SÓ ESTÁ AQUI PRA ME TIRAR DO SERIO, MAS EU NÃO VOU DEIXAR! EU NÃO SOU LOUCA, EU ESTOU AQUI PORQUE VOCÊ FEZ ISSO COMIGO... SE EU ESTOU EM RUÍNAS HOJE, É CULPA SUA! - Eu a empurrei contra a parede. E voltei, diante da janela, a me encolher e olhar a vista. O ar ficou pesado dentro da sala e logo todos saíram, fiquei me sentindo tão frágil! Minha vida sendo controlada por outros, como que queria ser livre.

Mas quando ela foi embora, eu me senti sozinha de novo. E sei que ela se sentiu do mesmo jeito! Os olhares que trocamos, segundos antes daquelas portas se fecharem... Eu queria gritar seu nome, queria teu abraço de volta, mas não tive coragem.

Eu vi a ruiva gritar com Eva no jardim, ela a empurrou e se descabelava enquanto discutiam. A ruiva se sentou num banco e chorou, Eva a deixou chorar e foi embora! Ela olhou pra minha janela e me viu, olhou pros lados e correu de novo pra dentro do prédio. 

Ela abriu a porta do meu quarto.

- O que você está fazendo aqui? - Ainda havia remorso na minha voz.

- Eu preciso falar com você! - Havia medo na dela.

- Então fala, antes que te tirem daqui.

- Sabe a Eva? - Concordei com a cabeça. - Eu gosto muito dela, mas ela está me chantageando! Quer que eu a ame a troco da segurança de alguém... Que eu daria minha vida pra te-la segura e alegre, mas eu sou incapaz de fazê-la feliz e mesmo tentando... Olha o que eu fiz com a vida dela. - Ela sorriu-me e me puxou pra sentar em minha cama. - É tudo pra você, Chiara! Eu não vou poder voltar aqui, mas vou te mandar rosas vermelhas em todos os seus aniversários e diversas flores todo mês pra você, eu prometo, eu prometo, eu prometo. Se não chegar, cobre-os! Eu vou mandar, Chiara.

- Do que você está falando, ruiva?

- Ana Carolina, é meu nome.

- Do que você está falando, Ana Carolina? - Seus olhos não escorreram lágrimas, eles sorriram. Ela tirava um peso de suas costas. 

- A sua vida não era isso aqui, Chiara! Você é uma cantora incrível, escreveu musicas comigo, nós fomos felizes juntas... Eu te amei mais que a mim mesma enquanto você estava no Brasil! E em Veneza! E em Nova York, amor. 
Minha italiana. 

- Tá louca, Ana? Eu nunca fui ao Brasil, lancei meu primeiro CD aqui na Itália. Só toco piano. Nunca fiz música com você e muito menos fui "seu amor"! Eu não sou gay. - Ela me estranhava a cada palavra que eu dizia. - Eu não te conhecia até você queimar meu quarto e aparecer aqui todos os dias. 

- Eu nunca vim aqui antes, isso é o que eles querem que você acredite. Mas você é maior que tudo isso, não se deixe levar.

- Mas eu te vi, todos os dias. Não sabia seu nome, nem o nome da tua música...  Mas eu te via. - Eu estava esperançosa, e como eu queria ir com ela! Mas ela está contra o que acredito, não posso. E quando disse que a via, ela sorriu tão lindamente. Ela sorriu tão majestosamente. Ela sorriu tão "Anamente". - Eu senti falta da tua música, mas eu tenho raiva de você! Eu estou aqui por tua causa.

- Eu sei, eu sei. - Ela concordava e eu estava tão animada por ter ouço sua música, tão alucinada... - Mas você quer sair daqui? 

- Eu sonho com a minha liberdade cada vez que marco os dias nessas paredes. - Eu interrompi o contato com seus olhos castanhos cor de chocolate, eu poderia encara-los até o fim dos meus dias.  

- Então eu abdico de tudo, vamos embora comigo? Vem viver pra mim tanto quanto eu quero viver para você! Porque eu te amei cada dia, e te amarei todos os dias. E posso não saber amar alguém, mas eu aprendo! - Não sei se sentia algo por ela agora, ou se era pura vontade de sair daqui! Me aproveitar de Ana não é certo.

- Ana. Eu... - Recusaria, faria o certo e esperaria cada dia até meu avô me tirar daqui. Mas Ana me puxou pra bem mais perto; - O que você tá fazendo?

- Eu posso estragar tudo, eu sei! Estou partindo pro tudo ou nada, mas você sempre foi meu conto de fadas, e eu já não tenho nada a perder. - A ruiva tocou meus lábios e permaneceu com eles grudados aos meus. Eu resisti ao seu toque, mas é inevitável quanto se está a tanto tempo sozinho. Eu a puxei um pouco mais pra perto e segurei a pelas golas de seu terno, ela puxava minha cintura e me encostou na parede pouco depois. Eu gostei da maneira como seus lábios eram macios e tão convidativos aos meus, nos encaixávamos como quebra-cabeças; Deixei-me percorrer e descobrir cada canto de sua boca, nossas línguas se acariciavam e se enroscavam a cada segundo e não demorou muito para eu mesma deitar sobre o corpo de Ana repousado na cama. 
O meu quarto cheirava a loucura e química.
Eu diria que química era o que existia entre nós agora, não sei se algum tipo de combinação dessas que são perfeitas na natureza. 
Eu diria que loucura era o transpirava de meus poros, era a proporção de liberdade que eu precisava e ela me deixa te-la toda. 

Minhas mãos percorriam por dentro do tecido que cobria sua pele, arrepiava-a toda vez que meus dedos a tocavam.
Ela tocava meu corpo com tanta delicadeza e suavidade quanto tocava as cordas de seus violão. 

Por um segundo, tão ofegante, achei que a conhecia de outras vidas, que já havia deitado em sua cama diversas vezes, que já havia tocado cada canto de seu corpo, que já havia tocado seus lábios tantas vezes que já nem sabia, que já havia dito que a amava tanto quanto minha vida.

No segundo seguinte, senti repudio, senti nojo de mim mesma por estar me atracando com alguém do mesmo sexo... Mas não conseguia resistir, seus toques só me faziam querer mais. E cada minuto que passava era interminável, insaciáveis. Peguei fôlego por mais alguns segundos enquanto intercalava meus olhares entre seus olhos penetrantes e seus lábios ainda mais rosados.

- Eu tenho raiva de você, Carolina. - E eu vi seu sorriso, não sei exatamente com o porquê. Quando me levantei, a encarei... Parecia tão feliz. Eu me sentia mais feliz. - Por que você fez isso?

- Porque eu sou um alguém repleto de nadas e você, Chiara, me faz querer te dar tudo. Eu te amo. 

- Desculpa, Ana! Eu não posso corresponder isso, se você quer ser uma aberração... Seja sozinha. Eu não tenho nada com a sua vida! - Eu estava perplexa em mais uma de minhas crises frequentes, sentei-me no canto do quarto e tampei os ouvidos para ela. 

- Chiara, não é assim que as coisas são! Eles estão te contaminando, nós éramos felizes. - Ela voltou a chegar perto de mim e puxou minhas mãos calmamente, segurou-as e colocou sobre ela uma foto; bem amassadinha. Éramos nós, sorridentes no que parecia ser Veneza. - Vai me dizer que não se lembra que eu te dei isso? - Ela tirou um cordão do bolso, "C".

- Não invente provas falsas, Ana. Sabemos que você só me faz mal!

- Concordo que te fiz muito mal! Mas eu ainda posso tentar consertar, eu posso te ensinar a tocar violão e te levar pra conhecer os lugares que você vê além desta janela, eu posso te mostrar uma vida longe disso. 

- Como você vai consertar isso, Ana? Não é você que toma pelo menos 6 comprimidos diários e recebe olhares de pena de pessoas que acham que você é incapaz de ser você mesma. Você não sabe o que é isso! 

- Então resiste, Chiara. - Ela voltou a misturar seu ar ao meu, seu perfume se misturou com o ar que eu respirava e adocicou minhas narinas. Revirei os olhos quando ela voltou a falar. - Então diz que você não sente nada quando eu te toco. - Ela voltou a segurar minha cintura e, confesso, arrepiou-me cada pelo do corpo. - Então resiste e diga que meu beijo não vale de nada pra você. - Ela disse e me beijou mais uma vez. Queria morrer em seus braços, não nego, mas ela nunca poderia saber disso. Eu tentava a empurrar, resistia e logo então me entregava mais um pouco... Eu queria seus nadas, mas eu sempre fui mais sensata do que gostaria e agora; resisto sim. Porque tenho conceitos e ideias a seguir, resisto porque amo meu avô.

Enquanto brincava de gato e rato com Ana, beijando-a e soltando-a em questão de milésimos de segundos; Bateram à porta e logo abriram-na, era meu avô diante de mim mais uma vez.

- Eu devia saber que era um erro permitir que você viesse até aqui, não sabe respeitar nem uma moça de família. - Ele aumentou seu tom. - E ainda mais estando hospitalizada. Se retire, por favor. 

- Eu só vou sair daqui de ela me pedir, porque eu sei o que vocês fizeram com ela! - Ela voltou a me olhar, parecia arrependida, mas mesmo assim cativava-me cada vez mais. - Eu sei que eu não sou ninguém na tua vida agora e se você me deixar ir nunca vai saber quem foi. E eles vão fazer você se esquecer de tudo isso como fizeram você esquecer toda nossas histórias! Você está sendo manipulada, Chiara enxerga isso. - Ela dizia, já lutando contra as mãos dos seguranças que tentavam tirá-la a força. Ela era mais forte do que parecia é não se deu por vencida até eu me pronunciar. - Você pode ter outra vida. Então me deixa te mostrar. - Eu precisei de mais frieza do que imaginava que teria para dizer:

- Se eu estou aqui, a culpa é sua. Você já estragou demais minha vida! Então se for pra sair daqui com você, eu prefiro morrer aqui contanto o resto dos meus dias. - Então suas forças se foram. Sua expressão mudou, ela parou de resistir.

- Mas... Você pode ser livre comigo, Chiara! - Ela disse, tão baixo que eu quase não ouvi tua voz. 

- NÃO!


Notas Finais


Até dia 22 de novembro, queridos. Ou antes.

Beijos 🌚


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