CAPÍTULO 26
“Eu não gosto de você, mas quando eu te vejo meu coração acelera. Eu não gosto de você, mas fico nervoso quando nossos olhares se cruzam. Eu não gosto de você, mas não consigo evitar essa vontade de te abraçar toda vez que você aparece. Eu não gosto de você, só que meu coração não entendeu ainda. Eu não gosto de você, e nem sei onde eu estava com a cabeça quando eu desejei te beijar hoje. Eu não gosto de você, e tento fingir pra todo mundo que isso é verdade, por que se alguém acreditar nessa frase idiota, talvez eu também acredite. Mas falando sério, eu to tentando não gostar de você.”
— Cala a merda da boca, Zoe! E se ela ouvir? — balbucio assustado.
Levanto-me com a ajuda da parede, um pouco atrapalhado por que ainda estava em choque. Não foram exatamente essas palavras que eu disse quando tinha começado a explicar a Hanji. Eu não disse que estava apaixonado por ela…
Hanji ter afirmado que eu estava apaixonado por Mikasa fez todas as fibras do meu corpo estremecer.
— Foi mal — se afastou da porta. — eu não consigo parar de pensar nisso. Você está mesmo apaixonado pela Mikasa? — questiona pensativa e com a voz calma. Ela não queria me deixar na defensiva.
— Eu nunca disse isso — retruco.
— De tudo o que você me contou, esses seus sentimentos esquisitos ai, deu a entender que você sente algo forte pra ela — eu paralisei. Suas palavras me afetando de um jeito ruim. — então o melhor seria dizer que você está apaixonado por ela.
Limpei minha garganta e fingi uma tosse. Meu coração estava em agonia dentro do meu peito. Não quero ouvir isso.
— Sobre ela ser uma Ackerman… — mudo de assunto, indo em direção á minha xícara de chá. — o sobrenome dela é tudo o que importa pra mim.
— Você sabe que eu nunca entendi direito por que isso significava tanto pra você, Levi — ela aponta se aproximando de mim.
Bebo um gole do chá e fecho os olhos. Na minha mente, lembranças de onde tudo começou me faziam entender ainda mais de como tudo aconteceu e do por que eu preciso fazer isso.
— Essa coisa de você querer ir dormir com ela, não me desce a garganta. Isso por que eu não entendo o que você ta fazendo. Você esconde coisas importantes de mim e ainda quer meu apoio! — continua irritada. Eu não queria deixar ela transtornada comigo, apenas queria ter uma conversa calma para conseguir contar tudo a ela.
— Eu vou te contar o que eu penso Zoe — encarei o chá. — apenas preciso que você cale a boca e se acalme.
Ela abriu a boca, mas fechou e ficou quieta. Sem tirar os olhos dos meus, ela se sentou à mesa e apontou com a cabeça pra cadeira na sua frente. Caminhei até lá e me ajustei de maneira confortável na cadeira. Essa conversa pode durar uma boa hora do meu tempo.
— Isso tem a ver com aquele sua crise existencial há dois meses? — questionou.
— Eu disse pra você calar a boca, Zoe. Eu falo e depois você pergunta. Me escuta com toda atenção do mundo — pedi e vi que sua boca se fechou totalmente dessa vez. Inspirei alto e me afundei na cadeira. Mexi na base da mesa, evitando olhar pra ela. — realmente, aquela crise existencial de dois meses tem a ver. Você lembra-se da primeira vez que soubemos que a Mikasa existia?... Quando a governanta contou pela primeira vez que uma garota, estranhamente chamada “Mikasa Ackerman” foi indicada pra trabalhar para mim?
A Zoe mordeu o lábio e assentiu. Ela lembrava, por que também ficou tão em choque quanto eu.
A primeira vez que ouvimos falar sobre Mikasa Ackerman, ficamos totalmente com os cérebros anestesiados.
ALGUNS MESES ATRÁS
Mindisey parecia nervosa e andava de um lado para o outro, torcendo aqueles dedos enrugados.
— Eu to perdendo meu tempo. Quer fazer o favor de falar logo? — pedi impaciente. Minutos atrás, a governanta me chamou e chamou Hanji até sua sala querendo conversar. Ela parecia confusa e aflita, por isso, Hanji e eu comparecemos por lá em dois tempos. Só que agora, estamos sentados nas cadeiras em frente á sua mesa, agoniados com a falta de coragem da governanta em dizer o que sei-lá-o-que tinha pra dizer.
— Eu nem sei como começar! — parou de andar e mordeu o lábio. Enfim, se sentou e juntou uns papeis que pareciam importantes.
— Só vai direto ao ponto, bonita — Hanji guardou o celular no bolso quando percebeu que a conversa começaria.
— O ponto é que é o mais complicado — ela suspirou e limpou a garganta sob meu olhar um tanto irritado. — eu não to enrolando os dois, eu juro. Só que… dizer isso não é nada profissional.
Cruzei os braços.
— Ah, você tá, sim. Tá bancando a irritante. Para de ficar com esse cu doce — bufei olhando pra parede. — minha paciência já foi pra puta que pariu vendo você sapatear sem parar.
— O assunto é um tanto delicado — me olhou com os olhos com algum segredo profundo nos olhos, com seriedade também. — principalmente pra você, senhor Levi. Estou tentando não ficar nervosa em ser eu a dar essa noticia.
Arqueei minhas duas sobrancelhas, sem ficar realmente surpreso. Apenas por que eu não queria ficar com cara de bunda com o olhar super sério dela em cima de mim. Vendo que eu não falei nada, ela buscou inspiração olhando pra parede, evitando olhar pra mim.
— Semana passada — começou com a voz baixa. — o senhor demitiu uma empregada por ela ter derrubado o suco do seu café da manhã no senhor, não é? — a vi entrelaçar os dedos na frente do peito. Eu sabia que ela fazia isso quando tava insegura de falar comigo.
Hanji se virou pra me encarar, com a sobrancelha franzida. Tão confusa sobre o assunto quanto eu.
— Hm… — fiz barulho de concordância e esperei ela continuar.
— Tenho uma amiga de longa data, a Wanda, e ela está hospedando na casa dela a sobrinha e a amiga da sobrinha. A garota que é amiga da sobrinha está à procura de um emprego. Wanda tem um restaurante na cidade, e essa garota tentou um emprego como garçonete, mas, hã... — Mindisey parou pra pensar um pouco e ficou mordendo a própria boca sem parar.
— O que isso tem a ver comigo? — questiono nada interessado. Ao meu lado, Hanji riu baixo e murmurou um “caralho, como você é idiota”, mas eu ignorei completamente.
Mindisey tossiu e arrumou a gravata azul no pescoço.
— Como essa garota não conseguiu o emprego por que a Wanda não está dando conta de pagar todos, a Wanda me enviou o currículo da garota. Disse que ela tem potencial. Wanda esta a par de que o senhor precisa de uma nova empregada pra substituir a que o senhor demitiu — ta bom. Entendi o que ela queria. Fui falar algo quando ela pareceu ter terminado, mas quando notei a feição sombria na cara da governanta de repente, eu calei minha boca.
— Parece que não é só essa a noticia — Hanji comentou quando também percebeu a cara que a governanta fazia. — qual é o problema?
— O problema... — ela balançou a cabeça e endireitou a postura.
— É…? — instiguei. — Mindisey, se isso for trazer problemas pra mim e dor de cabeça, me conta tudo de uma vez. Não me esconda nada.
Ela encarou as próprias mãos entrelaçadas. Hanji e eu trocamos olhares pela reação dela.
— O senhor… — tossiu algumas vezes. — a garota… — parou. E ficou em silêncio.
— Mindisey! — falei alto. Ela se assustou e imediatamente despertou.
Sem mais hesitar, ela pegou uma pasta, abriu e disse em alto e bom som:
—… O currículo dela chegou as minhas mãos ontem — e mirou os olhos no papel. Por algum motivo, comecei a ficar nervoso. Minha barriga embrulhou. — Ela se chama Mikasa Ackerman. Nasceu no dia 29 de Setembro de 2001. No momento, mora no Japão, numa cidade do interior chamada...
Minha visão escureceu. Meu corpo inteiro paralisou. Eu não ouvi mais nada por alguns segundos.
Hanji, ao meu lado, espalmou as mãos no braço da cadeira.
— O que você falou? Como ela se chama?! — a voz dela tremeu com o choque. Senti uma corrente elétrica queimar meu corpo por inteiro. Apertei o braço da cadeira e meus pés no chão.
Isso fodidamente é real?
— Ela… — encarou-nos dois e suspirou alto, afundando na cadeira preta dela.
— Me dê esse currículo — Hanji pediu, estendendo a mão. A governanta entregou a ela a pasta e imediatamente Hanji começou a ler o papel com certa aflição. — isso não é possível… Isso… Isso ta errado.
Quando olhei pra ela, vi o horror em seus olhos. Era verdade. Ela esta vendo isso.
E eu preciso ver com meus próprios olhos.
Puxei a pasta da sua mão com força. A primeira coisa que fiz foi procurar o nome. E quando eu o achei, quando li, deixei a pasta cair das minhas mãos… igual como meu mundo caiu.
— Isso não pode estar acontecendo — eu disse em completo choque e pavor.
Mikasa… Ackerman.
Uma Ackerman.
Igual á mim.
Inspirei fundo quando percebi que não estava respirando.
— Preciso ficar sozinho. Preciso pensar — falei enquanto pegava a pasta do chão. As duas me olharam em silencio. — é só isso que tinha pra me falar, governanta Mindisey?
— Sim, senhor. Era o que eu queria falar. Sobre ela ser uma Ackerman igual a você.
Balancei a cabeça e me levantei. Com a pasta na mão, andei com pressa e sai daquela sala, depois correndo para o meu quarto.
TEMPO ATUAL
— Como me esquecer? — ela riu mesmos sem achar graça alguma. — aquilo vai ficar na minha mente pra sempre. E pensar em como você odeia o seu sobrenome...
— Eu pensava que era o único — suspirei, sentindo um frio esquisito nas entranhas. — achei que era o único vivo.
— To apavorada de pensar que podem existir mais pessoas. Mais gente como você... Mais gente dentro da maldição — falou baixinho.
Eu quis vomitar. Não sei se foi por causa da bebida, mas imediatamente quando ela me fez pensar na maldição que me acompanhava desde que eu nasci por ser um Ackerman, alguma coisa que deveria estar no meu estomago há tempos, ficou presa na garganta. Algo terrível e asqueroso. Precisei me servir com mais chá pra fazer essa droga ir embora.
Depois de termos ficados em silêncio por uns trintas segundos que pareceram uma eternidade, cada um em seus próprios pensamentos, Hanji começou a perguntar:
— Sobre você estar apaixonado por… — deixou a frase morrer antes de terminar.
— Já disse que não to apaixonado por ela — rebati, irritado. Não gostava de pensar desse jeito, muito menos gostaria de aceitar esses sentimentos como paixão.
— E o que é então? — com as duas sobrancelhas arqueadas, ela me olhou nos olhos. E, ah, eu odeio essa cara dela, parece que diz “você é um idiota” com um toque de sarcasmo. Aquele tom sarcástico sempre estava ali com ela. E eu entendi isso como se ela já se convencesse de que eu to apaixonado pela Mikasa.
— Nem vem com essa cara — reclamei, mas ela nem moveu um músculo do rosto e continuou esperando a resposta. — você quer mesmo que eu fale? — enrolei.
— Não, to esperando você virar um Power Ranger — e me olhou como se eu fosse idiota. — para de cu doce, meu querido. Não temos a noite inteira!
Prendi a respiração quando ela se virou na direção da porta do banheiro. Não que isso fosse me dar coragem pra me fazer desabafar com a Hanji. Na verdade, o pensamento de que a Mikasa ta bem ali atrás da porta fez minha barriga se agoniar de um jeito esquisito e nada bom.
— Tá legal — murmurei nada feliz. Ela ficou atenta. — vou te contar sua curiosa.
— Desembucha — cruzou os braços morenos.
Nem respirei antes de começar a falar. Não reconheci minha voz. — Eu queria… Eu quero — me corrigi depressa. — que Mikasa se apaixone por mim pra eu me sentir no controle tudo. Não posso deixar a situação ficar fora do controle. Quando ela sempre está por perto, eu me sinto em pânico e desesperado pra poder tocá-la e falar com ela. Eu tenho desejado poder conhecê-la pessoalmente desde o momento que coloquei meus olhos em uma foto dela, tenho desejado ouvir sua voz desde que soube que ela existia e… esse desejo vem aumentando mais e mais, cada noite, cada hora, tudo isso por que meus pensamentos sempre voam nela. Por que eu não paro de pensar nela.
Hanji ficou em silencio o tempo todo, atenta em mim, mas os olhos, na verdade, viajaram pelo universo profundo dentro dela, universo que eu não conhecia. Eu não sabia o que ela estava pensando no momento. Até mesmo pra mim, ouvir isso que eu dizia era estranho pra cacete.
—… Sei que você ta brava comigo quando soube das minhas intenções, e até eu sei que é longe de serem as melhores. Longe de serem boas — cruzei os dedos e me perdi na pele pasma da minha mão. — isso não é bom pra ela. Eu sei. Só que eu vou ficar enfermo de tanto pensar nela… Obcecado. Tudo por causa do sobrenome dela. Tudo por que ela se chama Ackerman. Na frente dela eu tento parecer que eu não me importo com os efeitos dela sobre mim, sobre a vontade gigante sobre ela e seu corpo. Aqueles olhos do caralho e aquela boca. E tantas vezes eu já quase perdi a porra do controle e tentei a beijar. É por que eu hesitei por saber que eu a estava usando apenas pra acalmar minha mente, em saber que era pra preencher a minha solidão ou por que eu queria logo acabar com essas coisas dentro de mim.
Ela balançou a cabeça, confirmando. As palavras invadiam minha cabeça e eu simplesmente não conseguia controlar a vontade de falar sobre Mikasa. Certeza que nem metade do que eu disse fizera o menor sentido, mas Hanji parecia absorver cada coisa, cada palavra.
— Eu não estou apaixonado por ela — afirmei. — só… preciso saciar meu desejo egoísta. Preciso tê-la pra mim e depois esquecê-la. Preciso que ela fique na minha mão, por que não quero ficar na del…
Hanji chutou minha perna com força por baixo da mesa. Senti uma dor imensa me atingir, mas apenas fiquei em silencio quando entendi que tinha falado demais. Levei minha mão até onde ela chutou. Parece que vai ficar roxo aqui depois.
— Você não gosta nenhum pouco que as pessoas controlem as outras, como bonecos! E agora, olha você, seu babaca, querendo puxar as cordas da Mikasa e controlá-la como uma marionete.
— Enquanto estivermos perto um do outro, alguém sempre se sentira muito submetido ao outro. Sempre que estou com ela eu me sinto fraco, submetido demais, quase sem palavras na boca. Eu estou totalmente na mão dela — trinquei os dentes. Eu não consigo parar de falar. — e quando ela perceber...
Hanji bateu as mãos na mesa, me assustando. Calei minha boca na hora.
— E então, você quer o controle? Você quer que ela se submeta?
— Ao menos uma vez — concordei. Dizer isso em voz alta me fez sentir um tremendo imbecil, mas eu sabia que Mikasa se submetera varias vezes á mim, como naquele dia, na faculdade. Eu me senti ótimo em poder deixá-la daquele jeito e senti o efeito que tive sobre ela. Eu queria todo aquele controle por inteiro. Eu sei que Mikasa pode me dar isso.
— Apenas por que não consegue admitir que esteja apaixonado? Você quer quebrar o coração da Mikasa, apenas por que sente algo muito forte em relação á ela? — Zoe falou a mesma coisa que eu repeti a mim mesmo noites atrás.
— Não estou apaixonado… Só aflito. Fraco, débil e solitário — no final, eu sempre deixava esses pensamentos falarem mais alto. — Como a droga de um boneco oco por dentro. Vazio… Com rosto, corpo, tudo. Mas sem nada por dentro.
— Que frustrado — Hanji suspirou. — Mikasa é só uma adolescente um pouco boba e imatura. Acabou de conquistar a independência.
— Sei disso — passei a mão no rosto.
— Ela não tem ideia da vida real e das consequências. Você, por outro lado, sabe muito bem disso. Você deve saber que isso tem uma consequência. Você é débil, por isso busca ânimo em festas e bebidas. Você sai por aí transando com várias e as deixando aproveitar de você por que acha que pode voltar a sentir a coisa boa que um dia sentiu com alguém — as verdades esfaquearam meu peito. Me encolhi e abaixei minha cabeça.
Eu sei que ela tem razão. Saber disso é o que faz o aperto no meu peito.
Só que…
— Com a Mikasa é diferente. Eu me sinto submetido ao mesmo tempo em que sinto que estou no controle — como quando estávamos na limusine e Mikasa disse que poderia se aproveitar de mim naquele momento. Eu até disse que faria o que ela quisesse. — e também… tudo fora de controle.
E então me lembrei da ligação: eu não vou te abandonar, falei á ela. Mikasa pediu para que eu não a abandonasse. Não a deixasse. E isso mexeu tanto comigo.
Ou quando nossos lábios roçaram pela primeira vez eu me senti maluco. Quis logo puxar sua nuca e começar a me agarrar nela e tomá-la para mim. Se não tivesse hesitado tanto em como ela se sentiria com aquilo.
As coisas fugiram do controle no exato momento que eu me vi maluco por tocá-la. Saber que outros caras também estavam de olho nela fazia minha garganta ficar seca. Eu a mandei pra sala pra ela se mandar da minha vista antes que eu perdesse o controle. Mikasa não acabou percebendo minha ansiedade, e sem conseguir mais me controlar, eu comecei a puxar pra longe, mais como uma desculpa pra tocar nela.
Eu simplesmente perdi o juízo aquela vez. Como na academia eu não a beijei, eu tentei beijá-la na faculdade, porém, foi completamente sem sucesso. Eu ainda estava esperando pela coragem de conseguir beijá-la. Pensar em tocá-la e arranhar aquela pele, me deixava em um ponto tão baixo, que eu salivava toda vez que a via.
Eu quero Mikasa pra mim. Que se foda se Levi ou Rivaille é melhor. O meu corpo quer o dela.
— Eu não quero que você a magoe. Mikasa é impulsiva e… — não deixei que terminasse de falar.
— Eu sou tão impulsivo quanto ela. Quando estou perto da Mikasa eu fico diferente, eu te disse isso.
Ela abaixou a cabeça.
— Não quero ver vocês dois passando por isso. Você, principalmente, de novo — e eu também não quero.
— É por isso que quero acabar com essa coisa sentimental crescendo dentro de mim antes do pior.
DOIS MESES ATRÁS
Meu coração palpitava que nem louco e minha respiração estava dificultando as coisas para o meu cérebro conseguir pensar.
Com a cabeça quente, consegui ao menos desenvolver alguns pensamentos racionais sem que eu pirasse.
Tudo bem. Acho que isso já era esperado. Eu ao menos já deveria ter parado pra pensar melhor se existia mais gente com o sangue Ackerman nas veias além de mim e da minha mãe. Nunca, em toda a minha vida desde que tive consciência de que eu estava vivendo amaldiçoado, achei ao menos que pudesse haver outras pessoas Ackermans. Soube pela minha mãe que muitos Ackermans se suicidaram antes de se apaixonarem. Foi um sacrifício que fizeram para que o Ackermans deixasse de existir. A maldição é cruel demais, e se ela é ativada, é onde começa o verdadeiro terror.
Eu sempre acreditei que eu seria o ultimo. A maldição Ackerman morreria um dia, comigo.
Mas agora, descobri que tem mais assim como eu. Mais Ackermans de sangues amaldiçoados.
Mikasa Ackerman. O nome já me dá arrepios.
De onde ela vem? Quem é a família dela? Qual é a historia deles?
Quem é ela?
— Para de surtar — disse Mike quando o chamei pra desabafar. Estávamos em uma sala qualquer jogando pôquer, isso por que eu deveria me acalmar. Foi ideia do Mike. Eu to praticamente pirando de tanto pensar sobre a garota — talvez o sobrenome deve ter pegado por ai. Não significa que ela seja do sangue Ackerman, talvez apenas alguém deva ter achado esse sobrenome legal e decidiu colocar no filho.
— Tch. Nome de uma família qualquer? — cuspi bravo. — não brinca, porra.
Ele cruzou os braços.
— É uma grande possibilidade — rebateu.
— Nem fodendo — e eu nem queria acreditar que alguém dê o nome da família de Ackerman por livre e espontânea vontade. — eu mudei o meu nome Ackerman pra me livrar da minha maldição ativa. Eu não quis me chamar Ackerman. Como alguém iria querer ter um sobrenome de sangues amaldiçoados?
Ele afundou na cadeira, fazendo aquela careta de desgosto que eu odeio.
— Você é chato pra caralho.
— Vai á merda.
— Já to aqui na sua casa — retrucou.
Joguei as cartas na mesa e fui até o Minibar pegar uma lata de cerveja. Acho que já é a terceira que bebo.
— Essa coisa de você ter conseguido parar sua maldição apenas mudando seu sobrenome é… Sei lá, suspeito. Como é que alguém para uma maldição perigosa como a sua? Como alguém evita todas aquelas merdas, que fazem parte da maldição, apenas não se considerando mais da família Ackerman? A maldição ta no sangue, e não no nome — enquanto parecia pensativo, ele deu um longo gole na cerveja. — A minha acabou, manda outra.
Peguei uma lata e joguei pra ele antes de fechar a porta do Minibar. Abri a minha e voltei pra cadeira. Antes que eu pudesse me sentar e beber um gole, a porta é aberta bruscamente, me dando um susto fodido. Eu não tava esperando ninguém e nenhum dos empregados entraria assim, ainda mais, sem minha permissão.
— Que porra… — olhei quem entrava. Era Hanji, acompanhada da minha governanta e do meu mordomo. Suspirei fundo. —… Ah, é você...
Ela me encarou, seriamente. O mordomo e a governanta se retiraram assim que eu acenei pra eles, em um “podem se mandar, agora”.
— Você ta bem, Levi? — ela parecia também deveras preocupada.
— Minha cabeça parece que vai explodir de tanto pensar e de tanto ouvir sua voz. Por que você ta aqui quase sempre?
— To preocupada pra caralho! — ela se aproximou e puxou uma cadeira pra se sentar. — com você, com a maldição de merda que corre nas suas veias. Com essa garota e com “que porra? tem mais deles vivos!”.
Eu a entendo muito bem. Mas não era com ela que eu precisava conversar. Porém, parece que Hanji realmente quer conversar sobre isso comigo, eu podia ver o quanto quer estampado na cara dela.
Desviei o olhar.
— Qual é, Zoe… A última coisa que eu quero é você tendo uma crise agora bem nesse momento — balancei a lata, olhando o liquido lá dentro. — eu não to bem...
Hanji encolheu os ombros. Mike apenas suspirou impaciente.
— Mas a gente tem que conversar sobre essa parada.
— Mas não pira, falou? Ta me deixando ainda mais aflito — falei baixo. Os pelos da minha nuca estavam arrepiados e minha barriga tava revirada. Quanto mais eu afundava meus pensamentos naquela Mikasa, mais eu me sentia tonto e fraco. Estou tão fodidamente enjoado que poderia vomitar e por tudo pra fora a qualquer segundo.
— Tá legal, então. Vamos conversar com calma — balança a cabeça pra mim enquanto fala.
Eu apenas balancei de volta.
— Você não acha que alguém da sua família, antigamente, não deva ter pulado a cerca e ter outros filhos escondido? — ela perguntou.
— Mas então, eles não se chamariam Ackerman — Mike comentou.
— Como assim? — questionei.
— E se, de maneira proibida e bem escondida, algum ancestral teve outra família? Com certeza sim, os filhos teriam o nome do pai ou da mãe. Assim, teríamos a família original, que a do Levi, e a família da suposta traição de um dos Ackermans, uma família bastarda,
— Não faz o menor sentido — Mike contrariou.
— Faz sim — replicou a quatro olhos.
— Faz — concordei. — faz sim. Uma família bastarda de sangue Ackerman.
— Não — objetou Mike. — eles seriam puros também. Como você disse uma vez: os Ackermans nunca se casaram com outros Ackermans, então apenas precisam que a mãe ou o pai sejam Ackermans.
— Isso faria nenhum Ackerman ser puro — Hanji contrariou. — seu burro.
Os dois se entreolharam e reviraram os olhos.
— Vocês não estão me ajudando — reclamei. Dei mais um gole na cerveja.
— Mas fica no ar — Hanji disse. — talvez possa ter mais famílias Ackermans além de os “Ackermans originais” — achei melhor chamar assim também. — você mesmo disse que muitos Ackermans sempre se apaixonam duas vezes antes de serem eternamente presos á uma.
— Nenhum Ackerman ao menos consegue trair — suspirei. — se a maldição já estiver ativa, é impossível ao menos segurar a pessoa que ama. Imagina duas.
— Segurar? — Mike ergueu as sobrancelhas ao mesmo tempo em que Hanji ergueu.
— É — dei de ombros. — tê-la apenas para si, conseguir ficar perto sem que a outra enlouqueça. Ficar feliz, ficar em paz. É difícil ter isso. Um Ackerman não consegue ter uma pessoa para si. Sabe? São essas coisas — desviei o olhar. Era estranho falar disso pra eles, normalmente eu não falo sobre paixão com os dois, mesmo sendo meus melhores amigos.
— Queria entender melhor como a sua maldição atua no meio dos sentimentos e da vida da outra pessoa — Mike pareceu pensativo. — É como, por exemplo, uma pessoa normal começa a ficar muito perto de você, começando a ter uma suposta atração. Daí, então, do dia pro outro, a pessoa começa a simplesmente ter um monte de dias azarados, muda, fica agressivo e se afasta de todos.
— Depressão é um inicio — comentei. — a primeira coisa que muda é a visão que a pessoa tem sobre a realidade. Só depois de passar por muita coisa, a pessoa, como normalmente acontece, não suporta e fica louca.
— Basicamente — Hanji disse. — os sentimentos sobre um Ackerman perturbam a porcaria da consciência?
Balancei a cabeça.
— E vamos adicionar que… Hmm. Algo sempre tenta tirar desesperadamente a vitima da jogada de um descendente Ackerman. É quase como por a vida em risco. Passando a ameaças constantes de gente do além, muitas coincidências homicidas, como pessoas te perseguindo e querendo te matar, você estar na mira de um assassino sempre que sai de casa. Hmm… acidentes estranhos de focos de incêndios ou como um objeto na frente da escada que não estavam ali antes.
Os dois abaixaram a cabeça. O que eu disse também me afetou bastante, porém, fiquei de cabeça erguida e tentando ignorar as fisgadas doloridas no peito.
— Já peguei a mensagem — Mike disse baixinho, arremessando a lata em um canto da sala. Se eu não estivesse me sentindo tão desgastado e tonto, eu teria dado uma surra nele, mas deixei passar.
Duas horas depois, a governanta me chamou na sua sala. Parece que ela tinha investigado um pouco mais sobre Mikasa e queria falar um pouco mais comigo. Sem vontade alguma, fui até lá na sua sala a fim de conversar. Entrei sem bater na porta e vi que ela esperava por mim.
— Senhor Levi — apontou pra cadeira.
— Não, valeu. Vou ficar aqui — fechei a porta e me escorei na parede. Ela balançou a cabeça. — pode começar.
— Eu recolhi algumas informações sobre a menina. Não são o suficiente nem muito aprofundado, mas podemos ter uma ideia de quem ela é.
Fiquei em silencio, esperando pelo que tinha por vir.
— Ela enviou uma carta de admissão na mesma faculdade que a sua aqui em Nova York e ainda está em processo de avaliação. Ela é uma aluna de qualidade e suas notas são de média nove á dez.
Batuquei a parede.
— Hm.
Esperei.
Ela começou a mexer no notebook e ler algumas coisas. Suas sobrancelhas arquearam como se estivesse com desprezo, igual a um vilão de filme infantil.
— Parece que ela não é pouca coisa. Ganhou um concurso de espanhol quando tinha oito anos. Em todos os anos foi à melhor da escola, ganhando muitos prêmios esportivos como de basquete e queimada. Fez ginástica olímpica e balé desde a infância e tocou guitarra até seus dezessete... Meu deus. Ela era guitarrista substituta de uma banda chamada Rock Only For Bitches. Desculpe-me o palavreado, Senhor — falou sem desgrudar os olhos da tela do notebook.
Minha boca estava seca. Percebi que estava boquiaberto.
— Não… Tudo bem — fechei a boca.
— Ela tinha uma banda.
— Caralho — soltei uma risada abafada, meio bufada meio suspirada. Eu to totalmente incrédulo. — ela é humana?
— Aparentemente sim. Consegui permissão do hospital mais próximo de sua casa pra ver seu histórico. Parece que ela frequentou bastantes vezes o hospital.
— Te deram permissão para ver o histórico de uma paciente sem a permissão dela? — me aproximei depressa. — me deixa ver!
Ela se afastou um pouco para o lado quando me aproximei e fiquei ao seu lado. Me inclinei sobre a mesa e peguei o mouse. Rolei para baixo com a imagem do e-mail. Ampliei para conseguir ler. Uma imagem dela em péssima qualidade estava no canto do e-mail. Informações pessoais sobre seus acidentes, tais como as vezes que ela quebrou o braço quando tinha treze anos, sobre uma cicatriz no rosto grave, algumas brigas que ela se metia e acabou ficando machucada, até a vez que ela ficou de coma alcoólico na sua formatura.
Puta merda! Que tipo de garota perfeita ela é?
Li todo seu histórico completamente focado. Mindisey ficou quieta do meu lado e depois de vários segundos se levantou pra pegar um café. Puxei a cadeira da Mindisey e me sentei.
Na maioria das brigas que ela se envolvia estava relacionado á sua mãe. Parece que as duas não se dão bem. A mãe dela tentava agredi-la, mas Mikasa sempre acabava revidando e as duas paravam no hospital. Essa garota é maluca.
— Ela é uma garota, aparentemente normal. Tem vários problemas com a mãe que são bastante graves, mas nada tão fora do controle como prisão ou psiquiatra.
— Tem alguma foto dela melhor que essa? — perguntei, ainda tentando ver melhor a foto de má qualidade.
— Ela não tem redes sociais, mas eu consegui uma.
A governanta veio ao meu lado dando um longo gole no café. Deixei que ela mexesse no notebook, e logo a vi abrindo uma pasta com algumas fotos e imagens. Mindisey escolheu uma imagem em especifico e a clicou duas vezes para abrir. Instantaneamente, uma foto de uma garota de cabelos compridos e negros preencheu toda a tela.
E eu sei que é a Mikasa.
Olhos frios e perturbadores, tão vazios como de uma boneca de porcelana. Uma cicatriz na bochecha a deixava com ar selvagem e perigoso. Engoli em seco.
Ela é imensamente linda pra caralho! As fibras do meu corpo tremeram e minha barriga embrulhou. A saliva na minha boca secou e meu coração bateu lento e forte.
— Ela me lembra o senhor, só que de cabelo comprido e cicatriz na cara — Mindisey suspirou e endireitou a postura, ainda analisando a imagem.
— Ela é linda — falei sem pensar. Mindisey me olhou de sobrancelhas franzidas e cruzou os braços. — Mas não faz o meu tipo — ri nervoso, enquanto me levantava. Fui para frente da mesa e arrumei meus cabelos, me sentindo estranho e incomodado. Um sentimento estranho preencheu meu corpo e me deixa quente.
Porra, e só vi uma única foto dela e já to assim. O que ta acontecendo comigo?
— Se for possível Mindisey... — tossi, e quando a ideia invadiu minha mente, um sorriso surgiu na minha cara e foi difícil de desfazê-lo. — mande a proposta de emprego para a garota. Vamos fazer uma entrevista só pra investigar mais ela — cobri o sorriso com a mão. — eu quero essa garota por perto.
Me olhando estranho, a governanta suspirou.
— Sim, senhor. Mandarei a proposta de emprego para Mikasa Ackerman.
Sorri mais uma vez.
— Obrigado… de verdade. Obrigado.
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