Jasmine
Me sentia cansada, dolorida e com fome. Desde o momento que o assassino gatinho me acordara, eu apenas tinha ingerido meia garrafa com água; na verdade, Ryan me ofereceu um prato de comida porém eu não aceitei. O meu medo de algum veneno era muito superior ao estômago vazio.
Os meus braços estavam bem presos atrás de minhas costas e as omoplatas já doíam, no entanto resolvi não pedir para trocar de posição. Precisava esconder o meu anel e assim, de costas, ele não estaria tão visível quanto isso; ainda mais depois de ter gritado durante a gravação de Smith para Volker rastrear o anel. De certeza ele não perceberia mas se perguntasse a qualquer pessoa da minha família ou até mesmo a James, o moreno saberia como fazer para me encontrar.
Flashback On:
-- Louis e Jaz, mamãe e papai fizeram esses pequenos acessórios para vocês utilizarem sempre. Para além de ser um presente da nossa geração Allen-Evans para a vossa geração Allen, isso é um dispositivo de segurança muito eficaz. -- mamãe disse.
-- Mas o que isso faz, mamãe?
-- Isso, minha querida, é um sensor de movimento, localizador GPS e comunicador para a polícia e para o nosso sistema de segurança particular. -- papai tomou o lugar da resposta de Marisa, apontando para a caixa aveludada onde estavam dois anéis. -- Qualquer momento que vocês tiverem em perigo, basta utilizar esse anel.
John retirou um dos anéis e deu a Louis. Era de um tom de bege, não muito grosso e bem baço. Quase que se confundia com o tom de pele claro do meu irmão.
-- E esse é o seu. -- deu para mim. -- Quando precisarem de ligar o localizador, basta conectar à internet em algum celular, tablet ou computador e depois apertar três vezes o anel como se estivesse apertando uma tampinha de garrafa. Assim... -- ele demonstrou e depois eu e o meu irmão imitamos, em questão de segundos, as coordenadas exatas de onde estávamos apareceu no computador de Jonh.
-- Que da hora! -- exclamei pulando.
-- Ei, mocinha. Se acalme. -- mamãe chamou a minha atenção. -- Isso não é um brinquedo.
-- Marisa tem razão. Só é para usar em caso de vida ou morte, meninos. Agora prestem atenção que eu vou ensinar como ativar o sensor de movimento e o comunicador para a polícia e para o sistema de segurança.
Flashback Off.
Eu tinha apenas 10 anos quando papai me deu a pequena jóia de segurança. Só que há dois anos, eu jurei que só colocaria aquele anel no dedo quando me sentisse atraída sentimentalmente por alguém; a minha raiva era tamanha por Kurt, o meu ex, ter me dado um colar com a mesma função do anel, me perseguindo e sabendo onde eu estava a cada segundo, que até o de papai eu retirei do meu dedo, guardando no cofre do meu apartamento.
Prometi a Louis que só o colocaria outra vez quando confiasse verdadeiramente em alguém que me pudesse proteger, porém, estranhamente eu senti a necessidade de colocar a jóia no meu dedo mindinho direito assim que pude, ao chegar ontem no meu apartamento. E quem diria que eu precisasse tanto assim disso...!
A porta abriu-se e o raptor entrou. Ryan me analisou inteira e fechou a mesma, me mostrando uma bandeja com algumas coisas; eu agradecia mentalmente mas até quando o homem continuaria a se preocupar assim?
-- Como eu não confio em você é melhor eu te dar a comidinha à boca.
Respondi feio mas tudo o que disse foi imperceptível por causa do maldito pano sujo e nojento que me impedia de falar.
-- Não entendi muito bem, mas espero não entender por agora.
Ele se aproximou de mim, tocando o meu rosto com uma calma fingida. Me desvencilhei, recebendo um tapa rígido do canalha.
-- Só porque estou simpático não quer dizer que não vá te estrupar quando eu quiser.
Estremeci. Ele me assustava de uma maneira muito escarnecedora; sentia como se fosse a qualquer momento virar um pedaço de bife para esses mal amados. No entanto, fingir que estava tudo bem era uma ilusão. Eu sabia o mínimo que se precisava saber sobre Smith, ele era como Aaron, ambos farinha do mesmo saco exceto que um permanecia com escrúpulos, o outro nem por isso.
-- Acredita que só sai daqui morta, ou então que será minha para sempre. Mas para sempre é muito tempo então acho que prefiro te matar antes que isso aconteça.
Ordinário.
Muito prepotentemente ele toca com uma mão na pele exposta da minha coxa e a sobe, me remexo, então o mesmo agarra o meu cabelo, mantendo-o puxado para trás. Sem poder falar, mover os braços ou mesmo mandá-lo para a puta que o tinha parido, tentei acertá-lo com um chute, falhando drasticamente. As suas mãos contornaram a minha coxa, prendendo no meio delas; comprimi as pernas na intenção de não deixar Ryan subir mais, e me remexi ainda mais, sentindo o meu cabelo sendo puxado mais para trás ao mesmo tempo que as minhas ordens dele me soltar eram abafadas pela mordaça.
-- Você está tão nervosa, princesinha... Nem parece aquela mulher que sorria para mim no Canadá, ou que me defendia dos ataques de ciúmes de Aaron. -- levou os lábios ao meu ouvido. -- Nem parece a valentona que me respondeu no próprio quarto de hotel... Nem parece você, presa e amarrada.
Me sacudi mais e o homem forçou a sua mão entre as minhas coxas, alcançando a minha roupa interior.
-- Que ótima ideia te raptar com esse pijaminha minúsculo...
O meu curto shorts de algodão e a blusa da mesma forma cobriam o essencial do meu corpo. A mão masculina invadiu um pouco mais encontrando a minha pele.
-- Não! Tira a mão de mim! -- gritei mais nítido, apesar de o pano na minha boca não permitir.
-- Se acalme, bebê. Vou fazer um miminho... Nem vai doer muito. -- a sua voz mergulhava em sarcasmo. -- Estou só preocupado com o seu bem-estar, porque te vou preparar para algo bem maior do que o meu simples indicador.
Olhei no fundo da íris verde brilhante, implorando para que Ryan não fizesse nada porque eu sabia que ao começar, ele não iria parar tão cedo. O que os seus olhos transbordavam era apenas vingança crua e desmedida. Não havia como fugir, muito menos impedir o inevitável.
Se ao menos Aaron estivesse aqui...
E, ao pensar no moreno, os cantos dos meus olhos umideceram de tal maneira que poucas gotículas escorreram pela minha face. A ponta do indicador roçava sobre a minha calcinha, me arrepiando maldosamente com arrepios de terror; mesmo que a aparência dele me fizesse parar para apreciar, a violência masculina se exercia vorazmente em mim. A obrigação de Volker era estar ao meu lado, mas porque nada tinha acontecido ainda? Eu já tinha dado a pista do anel... O que impedia dele vir salvar-me?!
-- Relaxa, gata, que está na hora da diversão.
As mãos de Ryan alcançaram os meus seios. Voltei a mexer-me mas a única coisa que consegui foi um aperto mais forte. Ele sorria debochado enquanto puxava a parte de cima do meu pijama, deixando-me indecente; a minha pulsação estava a mil, as mãos suando enquanto eu apertava vezes contínuas o anel que recebera.
-- Eu prometo que vou fazer isso ser inesquecível. -- ironizou.
Eu tinha uma espécie de nojo não só por ele, mas por todos, inclusive Aaron que tinha me colocado naquele pesadelo. As lágrimas caíam no meu colo, fazendo traçados de umidade, as suas mãos me tateavam maliciosamente e sem vergonha. Balbuciei um xingamento mas foi imperceptível; eu tinha sede, tinha medo, tremia e me sentia um ser miserável. Então gritei.
Gritos atrás de gritos, agudos e finos. Lá fora os outros até poderiam ouvir e pensar que o chefe deles me machucava, mas cá dentro, Smith me tinha largado e se afastado poucos centímetros.
A minha garganta começou doer e então fui parando de fazer tanto barulho; com os meus olhos vermelhos e psicológico ferido, me calei.
-- Acabou o showzinho? Quer gritar, não é? Então vou te dar alguma coisa para gritar mesmo. -- arregalei os olhos, pensando no pior, mas isso não passou despercebido ao bandido, que se aproximou de mim novamente. -- Ah, não se preocupe, delícia. Não vou te dar sexo porque isso não vai ser ruim. Vou dar outra coisinha mais dolorosa.
Saiu do quarto e a seguir regressou com dois caras, caras não, moleques porque aqueles dois deviam ter no máximo 18 anos. O mais alto dos dois sorria enquanto os outros me encaravam igual um pedaço de carne.
-- Eu estava pensando em algo original, mas não tenho ideias... E então pensei, porque não copiar um presente que recebi? -- oh não, o vídeo da namorada dele. -- Como eu acho que está cedo para te matar ainda, e se fizéssemos só a primeira parte? -- abanei a cabeça negativamente, o de olhos verdes tocou o meu rosto. -- É uma pena que você não me deixou ser o primeiro a fazer isso... Eu teria sido mais simpático. -- Ryan analisou a minha face e, puxando o braço para trás, estralou a sua mão ali, me batendo com tanta força que eu ouvi o eco do tapa na divisão. Os mais novos olharam para ele com alguma admiração e eu com ódio.
O mais velho retirou o pano da minha boca, sendo que a primeira coisa que fiz fora molhar os lábios secos.
-- Você vai pagar caro por isso. -- murmurei.
-- Aham, mas quem vai pagar primeiro será você. E vocês, -- falou para os dois. -- Atenção ao que conversamos, e aproveitem a gostosinha aí.
O homem saiu e um dos rapazes ligou a câmera, conversando entre si num murmúrio que me assustava.
-- Esses meninos são quase 10 anos mais novos que eu e são menores de idade! Isso é pedofilia! -- gritei, talvez Ryan ainda ouviria do outro lado da porta.
O mais alto deles, parecendo o mais velho, sorriu safado e me respondeu.
-- Não é você que vai fazer alguma coisa contra nós. Ou será que existe pedofilia inversa?
O outro sorriu e se aproximou, apertando o meu pescoço, quase que o puxando para cima. O ar custava entrar por mim, então o chutei nas pernas; ele pareceu não se importar mas então apertou onde Ryan tinha apertado anteriormente.
-- Me solta, imbecil! Me respeita!
-- Não estaria tão certo disso, belezinha. -- o mais alto se aproximou também, indo para atrás da cadeira de onde eu estava amarrada. -- Parece que vai receber algum castigo...
-- Ryan nunca deixaria vocês me tocarem. Eu sei que ele me quer, e não iria deixar um bando de moleques provar o bolo primeiro. -- falei, torcendo para que isso fosse verdade.
Afinal o chefão deveria ter as suas regalias, certo? Talvez eu poderia virar o jogo, já que ninguém faz um esforcinho para me tirar daqui, teria de jogar com as minhas armas, e, apesar de me sentir inteligente, o meu corpo poderia me ajudar. Foi assim que eu atraí Aaron; porque não tentar atrair outro criminoso?
-- Se Ryan se importasse com você, não nos teria te dado para brincar.
Fulminei-o com o olhar, então tive uma ideia.
-- É mesmo? Então vem! Quer me estrupar, criança? Então pode começar.
O rapaz me encarou atônito e então fitou o segundo. De seguida, puxou o meu cabelo para trás e sussurrou ao meu ouvido.
-- Pode ser que você tenha conseguido se escapar dessa vez, mas garanto que não vai ser fácil passar a perna no chefe. -- a ameaça sobre o perigo de Ryan era visível mas ainda assim o loiro não tinha conseguido me pôr medo de verdade. Inclinei a sombrancelha e virei o rosto no sentido contrário. -- Ele vai te assustar e depois te matar, belezinha. Você não é a primeira nem a segunda garota morta por ele. E por certo não será a última.
Me arrepiei e fingi não ter dado importância, apesar de os meus batimentos cardíacos estarem tão acelerados quanto isso. O que poderia fazer com que eu realmente me arrepiasse na presença de Smith?
-- E você é só mais um pau mandado, querido. Onde está a sua mãe mesmo, para eu falar com ela que você está na rua até tarde?
Ele deu um cheiro no meu pescoço e o mordeu levemente, ao mesmo tempo que o amigo distribuía beijos pela minha pele exposta nos braços; a seguir murmurou junto ao meu ouvido.
-- Eu matei a minha mãe.
Uma corrente de medo percorreu o meu corpo; nunca imaginaria que fosse dada de mão beijada a verdadeiros assassinos; tampouco achava que algum dia iria ficar tão próxima de gente assim. Os rapazes viram que eu me mantive mais quieta então aproveitaram para tocar no meu corpo.
-- Eu falei para não me tocarem.
-- Como se nós fôssemos te obedecer.
As mãos e bocas tonaram conta da minha pele. Pelo facto de que Smith tinha retirado a minha blusa, o meu sutiã não era o suficiente para me manter segura de dois idiotas com os hormônios em alta.
Me debatia mas cada vez que o fazia, eles tentavam ir mais adiante. O mais velho saiu de trás da cadeira, vindo parar ao meu lado esquerdo enquanto o outro estava no direito. Uma mescla de peles me enojava, a vontade escrota com que eles me tocavam apressados me enojava. E o meu nojo aumentou ainda mais quando senti o meu sutiã sendo puxado para baixo.
-- Mas que merda, me soltem! -- ordenei mais uma vez, no entanto isso só contribuiu para que eles continuassem.
-- Você não manda, docinho...
Uma das quatro mãos se posicionou entre as minhas coxas, me obrigando a pressioná-las para que não avançasse. Outro par de mãos atacavam os meus seios já descobertos, e a última mantia o meu cabelo puxado para trás, fazendo com que o meu rosto ficasse mirando o teto branco descascado.
Então nesse momento, a porta do quarto foi aberta. Automaticamente as mãos se afastaram de mim e os mais novos se retraíram.
Era o chefe.
-- Acho que já temos material suficiente. Podem ir.
Os dois me lançam um sorriso grotesco e abandonam o quarto, pressionando os seus paus. Revirei os olhos.
-- Posso perguntar para quê é esse material?
-- Um presente para o seu namoradinho. Só mandei o início porque eu confio cegamente na imaginação do seu querido salvador e sei que ele vai imaginar o pior que você pode imaginar.
Os olhos verdes se depararam com o meu sutiã jogado no chão. Ele suspirou.
-- Esse meninos nem arrumam o que desarrumaram... -- Ryan pegou a peça do chão e se aproximou de mim. Contornou a cadeira e me desamarrou, colocando-me de pé a seguir. O homem retirou as amarras do meu pulso e me ofereceu o sutiã.
Puxei o mesmo e me virei de costas, vestindo-o. Quando acabei, dei uma boa sacada na porta, atraindo o olhar dele.
-- Eu disse que você só sairia daqui a morta.
-- É só uma questão de tempo até virem me encontrar. A uma hora dessa até a polícia deve estar me procurando. -- respondi despreocupada. -- E eles virão finalmente levar você para o lugar onde deveria.
Ele gargalhou.
-- Para onde? Cadeia?
-- Inferno.
O sorriso do homem foi se esvaindo e a sua expressão se tornando séria de mais. Não me intimidei pela sua atitude, pelo contrário, fitei-o usando um pouco da minha dominância. Senti Ryan ficar desconfortável, mas por pouco tempo porque o mesmo encaixou a mão no meu pescoço e me empurrou na parede.
-- Ai! O que foi agora?
-- O que foi agora? -- a sua voz estava notavelmente alterada. -- Você ainda não tem medo de mim, pois não? Então vamos resolver isso agora.
Ele tirou o celular do bolso de trás, discando um número e então o levou ao ouvido.
-- Trás o próximo... No quarto que ela está... Sim... Eu tenho comigo. -- desligou e voltou a sua atenção para mim. -- Espero que você goste um pouco de sangue.
Me arrepiei. Ryan não hesitou, conduziu-me novamente até a cadeira e voltou a prender-me lá, poucos minutos depois alguém adentrou o quarto, carregando uma pessoa. Demorei alguns segundos até perceber quem era e me arrependi profundamente.
A mulher estava num estado lastimável. As roupas que a cobriam estavam rasgadas e sujas, o seu cabelo estava despenteado e hematomas arroxeados coloriam a pele pálida. Ela parecia sentir dor, parecia ter sido vítima de alguma coisa bem grave. Vendo a minha reação, Smith se pronunciou.
-- Eu não podia deixar as minhas pequenas aquisições com fome, portanto eles tiveram de acalmar os ânimos com alguém.
Os meus olhos voaram nela novamente. Os seus olhos vermelhos, a testa com gotas de suor e o olhar sem vida.
-- Você permitiu que ela fosse violentada!
-- Eu ia permitir que você fosse violentada.
-- Você é um ordinário, deixa-a!
Ryan gargalhava e a outra me encarava, pedindo ajuda com o olhar, no entanto ela via que eu não pudia fazer nada enquanto estivesse ali.
Ele a puxou pelo braço e a jogou contra a parede. O baque das costas na mesma me fez estremecer, Smith se aproximou dela e não teve cuidado a empurrá-la pela segunda vez para sufocá-la.
-- Ela está ficando roxa! -- disse alto.
Ele não se moveu um milímetro até a mulher dar sinais de que estaria prestes a desmaiar. Eu estava em agonia por vê-la sendo tratada assim tão mal, mas desconfiava que iria ver muito mais.
-- Está tão preocupada assim, Jasmine! Mas não foi nada... A dor dela só vai começar agora. Olha bem para esse pedaço de lixo ambulante... Eu faço um bem para a sociedade de apagar a existência dessa cachorra. -- ele falou e deu um tapa não tão forte no rosto pálido. -- Estava esperando a oportunidade de a matar e olha só... Vou ter audiência! Você!
A minha cabeça pesou e os meus pelinhos se arrepiaram. Eu não queria ver, não, por favor não!
-- Sabe porque ela está aqui? -- ele continua o monólogo. -- Porque foi correndo contar para Aaron que eu estava indo resgatar a minha namorada. Traidora. Isso tudo porquê? Porque tinha ciúmes dela e queria que o seu namoradinho a matasse. Afinal foi isso mesmo que aconteceu e era para essa puta estar feliz, certo? -- ele olhou para ela. -- Certo?! Abre essa boca e fala, cadela!
Numa fração de segundos, o homem levou a mão no bolso de trás e puxou uma pequena faca, enfiando mais de metade na barriga dela com força.
O grito dela e o meu foram em uníssono. O resto do tecido da blusa dela se avermelhou em segundos, o líquido escorria pelos farrapos da calça até atingir o chão, numa poça cor de vinho.
-- Você ainda não me respondeu. -- ele falou tranquilo, retirando a faca sem cerimônia dela para voltar a fazer outro buraco.
Ela gritava aflita e eu me remexia na cadeira, na tentativa de me soltar e alcançar o objeto cortante. Mas um pequeno som me tirou a atenção. Um murmúrio vindo da mulher muito baixinho ecoou, fazendo o assassino sorrir.
-- Te odeio. -- ela disse.
Ele pegou na mão da mesma, observando os dedos finos e sem cor, elevou o que estava em sua mão direita, e forçou a lâmina no indicador feminino. Ela gritava e gemia em alta voz, qualquer pessoa da casa ouviria os seus suplícios mas Ryan não deteve. Exerceu mais força e arrancou o dedo, jogando-o em mim; a carne quente e sangrenta parou no meu colo mas eu quase saltei da cadeira, jogando no chão.
-- Eu também te odeio, querida. -- ele respondeu com um sorriso tenebroso nos lábios.
O meu estômago vazio revirava o que podia e a vontade de vomitar e esquecer o que estava vendo era insana. Os seus gritos agudos eram agulhas nos meus tímpanos, ele iria mesmo matá-la à minha frente.
As manchas do sangue no chão atormentavam o meu cérebro e o meu equilíbrio mental. Estava a ponto de ficar louca; a sala passou a ser banhada pelos sons dela a rogar pela vida, mas Smith tinha um olhar sádico, maligno e quase canibal, apreciando o buraco onde o seu dedo deveria ter estado.
-- Estou cansado. Você me deixa cansado, coisa inútil. -- ele reclama; a seguir a segura por trás, puxando o seu cabelo para trás de maneira que a sua garganta está totalmente exposta e a cabeça apoiada no peito dele. O homem olha nos meus olhos e mais uma vez eleva a faca, passando rapidamente no pescoço da mulher, matando-a de vez.
Ele a solta e o corpo cai inerte e imóvel no chão.
-- V-você a m-matt-tou...
Não tinha reparado no tremor contínuo que o meu corpo estava, a minha visão estava fixada no cadáver na minha frente e na poça de sangue abaixo da sua cabeça.
Ryan passou por mim, inclinando para deixar um beijo na minha bochecha.
-- Matei e não terei problemas em fazer o mesmo com você.
O meu sequestrador saiu, me deixou sozinha e com a porta fechada, de frente para a mulher agora sem vida.
Eu. Não. Merecia. Ter. Visto. Isso.
Esse mantra repetia na minha mente, os gritos, os gemidos, os clamores, tudo! Eu não merecia ter visto nada disso...
A essa altura o meu choro era uma cascata fluente; não aguentava ver mais nada, por mais insignificante que fosse, então fechei os olhos esperando bloquear qualquer lembrança do que vira.
Mas de uma coisa eu tinha a plena certeza, Aaron iria pagar por ter me colocado numa situação pior a qual sequer imaginei que realmente estaria.
Eu pretendia vingar-me, não por Ryan Smith, mas por mim própria.
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