Jasmine
Eu tinha chegado ao limite. Eu estava esgotada emocionalmente e cansada por permanecer essas últimas semanas com medo e cercada de segurança. Por conta dele, eu já havia sido mantida em cárcere, quase matei uma Caroline, quase perdi o meu irmão, duas pessoas que participaram do meu salvamento na Polônia morreram, o meu pai estava sendo alvo de mensagens anônimas e ameçadoras e, por último, mamãe havia sido levada por ele.
Isso era o máximo que eu poderia aguentar.
Me levantei da cadeira, onde um enfermeiro me havia ajudado a sentar e passei a mão pelo rosto, totalmente decidida. Caminhei para a porta e saí do pequeno consultório, andando pelos corredores daquele andar até encontrar Taylor sentado numas cadeiras.
-- Taylor, você viu Aaron?
-- Jasmine! – ele se assustou, levantando imediatamente ao ver-me. – Você nos assustou. O que aconteceu, menina? Vic disse que você caiu do nada.
-- É, recebi uma notícia de Louis que me deixou em choque e preciso resolver esse assunto. Então, viu Aaron?
-- Sim, ele está por aí grudado no celular.
Concordei, talvez a uma hora dessas ele já sabia. Afinal tinham-se passado dez minutos enquanto eu estava sentada naquele consultório com um copo de água com açucar para me acalmar.
-- Vou dizer para a Victoria que eu estou melhor. Se ele aparecer, diz para me esperar aqui.
O meu amigo acenou positivamente e eu caminhei para o quarto da loira. Logo ao entrar fui repreendida pela enfermeira por ter saído sem autorização, mas pouco me importei. Eu estava decidida a salvar a minha mãe e ficar sentada numa cadeira não me ajudaria nada.
Fiquei alguns poucos minutos a tranquilizar a minha melhor amiga para que o meu estado de choque não interferisse no parto; felizmente ela já estava bem desprecocupada comigo e focada no seu bebê que estava quase nascendo, pelo que me despedi e saí de lá.
Tal como pedira, Taylor tinha segurado Volker. Demos um grande abraço no futuro pai e praticamente corremos corredores abaixo até a entrada do hospital.
-- Você tem alguma ideia? – quis saber. Não precisaria dizer sobre o que estava falando, pois o moreno logo entendeu.
-- Na verdade, até tenho. Mas temos que atrair a polícia para que a situação não se complique para mim. Ele andaram na minha cola por eu ter te salvado junto com o pessoal.
Era verdade. Como não haviam testemunhas, Aaron Volker foi convidado a prestar depoimento imensas vezes, até que aceitaram sua inocência e pararam de o incomodar.
Já dentro do carro, peguei no celular e liguei para o meu pai.
-- Filha...
-- Pai, Louis já me disse. Estou com Aaron e ele também já sabe. Como estão as coisas por aí?
Ouvi sua respiração aflita do outro lado da linha e o meu coração se apertou, exigindo a que algumas lágrimas teimassem em escapar. Que droga!
-- Honestamente... – ele disse depois de uma pausa. – Estou no chão. A polícia e os inspetores estão acampados em minha casa, uma equipe de resgaste está em investigando e estamos espalhando o sumiço dela na mídia. – outra pausa. – Eles estão pedindo mais de 5 milhões de euros mas eu não tenho todo esse dinheiro antes do amanhecer!
-- Antes do amanhecer?! – esbravejei, ganhando a atenção de Aaron.
-- Sim. Ou o dinheiro juntamente com um helicóptero, ou sua mãe...
Jonh não foi capaz de finalizar a frase e eu percebi muito bem o que ele quis dizer. Respirei fundo e pedi que papai tivesse calma, inclusive estaria com as minhas reservas bancárias livres para que ele podesse pegar, caso fosse preciso. Então, desliguei a chamada.
Guardei o celular e olhei para o homem ao meu lado que conduzia freneticamente em direção a algum lugar importante. Os seguranças seguiam-nos noutros carros e Nicholas havia mandado uma mensagem dizendo que todos eles estariam armados.
-- Ele exigiu 5 milhões de euros e um helicóptero antes de amanhecer. – falei. – Papai não tem toda essa quantia antes do amanhecer. Além do mais, todo dinheiro só chega após 24 horas. – o executivo ouviu tudo em silêncio, continuando o seu trajeto. – Não vai falar nada?
Seu olhar de rabo de olho me encontrou por segundos.
-- Vou te deixar com Louis.
-- Não! Eu vou junto!
Aaron fez uma curva muito apertada, quase me fazendo bater com a cabeça na janela, entretanto continuou ignorando as minhas exigências até que estacionou à porta do prédio onde Louis estaria.
-- Saia. – disse frio.
-- Eu não vou sair! Já disse que quero ir junto com você e você não pode me privar disso! Caralho, é a minha mãe, Aaron!
-- Saia.
-- Eu. Não. Vou. Sair!
Então ele olhou para mim de tal maneira que eu podia me sentir afundando no banco. De seguida retirou o cinto e saiu do carro, circulando o mesmo para abrir a minha porta, arrancar o meu cinto e me puxar de lá para fora.
-- Pára! Me solta!
Ele fez um aceno para James que pulou do carro atrás de nós e se aproximou.
-- Ligue para Louis.
-- Estou aqui, Volker.
Imediatamente parei de lutar e virei na direção da voz do meu irmão me encarava com alguma tristeza e mesmo assim punição. Louis caminhou e pegou meu pulso ao mesmo tempo que o CEO me soltava.
-- São mais de meia-noite, Jas. Você não quer fazer um escândalo logo agora, pois não?
-- Mas ele...
O meu irmão me interrompeu.
-- Vem comigo. Ele vai tirar mamãe de lá, tal como tirou você.
Meia que intorpecida, segui-o para dentro do edifício, vendo Nicholas, James e mais quatro homens entrando conosco enquanto Aaron desaparecia em alta velocidade no seu veículo escurecido.
Subimos todos para o nono andar, onde estava o apartamento do filho mais velho de Jonh. Ele estava bem mais calmo, apesar de ter se sentado na frente do computador e ficar vidrado, olhando para uma série de códigos e palavras desconhecidas; seu celular também estava a postos caso recebesse alguma ligação importante. O café ao lado do computador denunciava o quão concentrado o meu irmão queria ficar.
Já tinha se passado vinte minutos e nada do filho de Leonard me ligar. Eu apertava o celular em minhas mãos com força ao mesmo tempo que meus olhos percorriam a vista da janela da sala. Onde aquele cretino teria levado mamãe e o que ela estaria sofrendo nas mãos dele?
Ryan era esperto demais e isso realmente me assustava, pois ele sabia que se me matasse iria apenas machucar Aaron, mas se matasse minha mãe... Não só Aaron mas principalmente eu ficaria destroçada. A vingança dele seria completa e depois disso, Smith desaparecia do mapa e seria o desconhecido como sempre foi.
Eu precisava fazer alguma coisa. Eu havia prometido salvá-la. E eu iria salvá-la.
Olhei discretamente para trás, onde três dos meus homens estavam juntos do computador. James olhava atento para uma sequência de dígitos no pequeno aparelho GPS, calibrando as possíveis coordenadas de esconderijos na cidade; e Nicholas me observava. Seria difícil passar por todos esses homens.
Porém nesse mesmo momento recebi uma mensagem de um número em anonimato. Esperando qualquer coisa, abri a mensagem me deparando com um endereço em coordenadas para GPS; mais em baixo tinha algo direcionado diretamente para mim e eu sabia muito bem de quem era.
Já que o papai está com dificuldade de salvar a amada esposa, porque a senhorita não tenta salvar a mamãe que tem apenas pouco mais de 5 horas de vida, ex-namorada?
Ryan Smith me ameaçara sem rodeios e ainda se referiu ao nosso «namoro». Ele havia me guiado para minha mãe, e essa era a única oportunidade de me vingar. Abri os contatos no meu celular e liguei para Vince.
-- Jasmine?
-- Vince, eu preciso de um grande favor seu.
Com o aparelho no ouvido, caminhei para o quarto de hóspedes do meu irmão e fechei a porta.
-- O que você está aprontando?
-- Eu juro que é por uma boa causa. Estou com Louis, seis seguranças e preciso sair do nono andar de um prédio.
-- Qual é a sua ideia?
Rapidamente contei tudo aos mínimos detalhes. O meu amigo não quis me ajudar, mas a minha qualidade de boa persuasão venceu, pelo que, mesmo sem saber para o que era, Vince concordou em me ajudar a sair dali.
-- Tudo bem. Mas terá de ser rápido. Kurt avisou que iria passar a noite fora e não posso deixar minha mãe por muito tempo sozinha.
-- Ótimo! Daqui a quinze minutos eu te espero.
-- Combinado.
Desliguei o celular e sorri de lado.
-- Daqui a pouco uma estranha explosão falsa irá se sentir na sala de arrumação do nono andar desse prédio... O que poderá acontecer quando todos estiverem tentando entender o que aconteceu?
Respirei fundo confiante e voltei para sala, me mantendo de frente para a janela e, ainda assim, tendo o olhar zeloso de Nicholas nas minhas costas.
Aaron
Entrei com tudo no estacionamento do armazém, sendo recebido com um gigantesco sorriso de Ren que rodeava suas duas armas nos dedos, imitando um cowboy. Semicerrei os olhos para ele, fazendo seu sorriso aumentar ainda mais.
-- Espero que não esteja tentando me chatear.
-- Não, chefinho. Temos boas notícias. – ele subiu as escadas até o escritório e eu o acompanhei. Realmente algo de agradável deveria ter acontecido, porque todos estavam notavelmente confiantes de si.
-- Que demora! – Bill se queixou.
-- Já estou aqui.
-- Bom, -- Rafael tomou a palavra. – Mandamos um infiltrado para o bando de Ryan. – abri a boca para falar mas ele me interrompeu. – Sim, nós sabemos que você não mandou nem o caralho a quatro, mas todos aqui decidiram fazer isso sem sua autorização. O seu estado psicológico ainda estava muito afetado depois de Mike ter falecido.
-- Que merda, Rafael! Vão me tratar como um inválido agora por eu chorar a morte do meu amigo?
Os outros se entreolharam, mas foi o próprio Rafael que andou até muito perto de mim. Eu poderia muito bem explodir e mostrar quem mandava naquela porra, mas por hora eu ficaria na minha. Haviam coisas muito mais importantes que uma briga com o meu melhor amigo.
-- Ninguém aqui é inválido, Aaron. Nós somos uma família e cuidamos bem um dos outros, e essa foi a vez que retribuimos para você tudo o que tem feito por nós. – ele parou a meio metro de mim e tocou com a mão no meu ombro. – O nosso infiltrado concordou com todas as nossas políticas e assumiu as suas responsabilidades. Pagamos uma boa quantia e a boa notícia é que ele não faz ideia que você é o nosso mentor.
Respirei fundo e concordei com a cabeça para que ele prosseguisse. O homem sorriu e se afastou um pouco, chegando perto do restante pessoal que estava fixado na nossa conversa.
-- Então... Você não precisa mais de se preocupar com o sumiço da sogra.
Não falei nada, apenas observei Caroline circular os olhos e apoiar o cotovelo em Bill que se esquivou de servir de encosto para a morena. Vendo o meu silêncio, Rafael continuou.
-- Nós sabemos onde a madame Allen-Evans está. – seu sorriso de lado me deixou intrigado e logo dei dois passos até a estante pegando duas chaves das motos. Joguei uma chave nele e fiquei com uma.
-- Caroline, faz uma denúncia anônima e manda esse endereço para a polícia. Você, -- falei para quem tinha a chave. – Pega na moto e vamos. Adam e Bill, preparem a mala dos controles dos explosivos e tragam.
Todos estavam fazendo o que eu ordenara quando Ren parou tudo.
-- Como você sabe que eles estão naquela casa que nós armadilhamos?
Sorri tranquilo.
-- Vocês não mandariam um infiltrado inexperiente conduzir Ryan para qualquer outro lugar se não fosse para aquela casa velha, acertei?
Ren concordou, notavelmente surpreendido pelo meu raciocínio rápido. Descemos as escadas até a garagem para pegar os capacetes, armas, as malas e o computador dos controle dos explosivos. Coloquei o capacete na cabeça e liguei a moto precisamente quando Caroline desceu das escadas gritando que a polícia já tinha conhecimento do endereço e entrando no carro junto com Adam.
Rafael acelerou para o local e nós seguimos até um pouco perto da casa. Carros de polícias cercavam o local, vigiando o perímetro. Estacionamos afastado da movimentação e eu me escondi nas sombras, apenas observando o inspetor falando no altifalante alguma coisa que negociasse a liberdade da mulher de Jonh.
O senhor Allen-Evans também estava, olhando com aflição para o interior da casa, até que algo me chamou a atenção. Um carro tipo jipe se aproximou em alta velocidade, estacionando bem atrás do carro de Jonh. A porta se abriu e eu fiquei estático observando Jasmine sair, correndo até o pai e o inspetor.
Na mesma hora deixei as sombras, caminhando na direção deles e sendo barrado por alguns policiais que, só quando o inspetor autorizou, permitiram minha aproximação até os Allen.
-- O que você está fazendo aqui?! – esbravejei para a morena.
-- Eu posso servir de negociação! Eu posso salvar a mamãe! – ele gritava para o pai e para o inspetor. A dor da empresária era tão urgente que me senti mal por vê-la tão desesperada. – Eu faço isso, ele não vai me fazer nada! Ele me mandou o endereço no celular, ele me quer!
Jonh abanava a cabeça negativamente e o inspetor também.
-- Não posso te colocar em perigo, senhorita Jasmine.
-- Ele tem razão filha. Eu não posso permitir isso.
Ela passava a mão pelos cabelos, prendendo atrás do ouvido e forçando por parecer ter a razão.
-- Eu já falei. Eles não vão me fazer mal, mas vão fazer mal à mamãe. Ela não serve para nada para eles! Eu sim!
O inspetor pareceu estranhamente pensativo, mas eu logo falei de novo.
-- Não era para você estar aqui, Jasmine. Eu te deixei com Louis. Por favor, deixe isso com as autoridades. O mais importante já sabemos é que ela está ali dentro!
Mesmo assim ela me ignorou. Arrancou o megafone do inspetor e gritou nele.
-- Eu me ofereço no lugar da vítima! Eu sei que sou eu que quer, então troque!
-- Jasmine, pára! – tomei o objeto de suas mãos trêmulas, porém, na porta da casa abandonada, duas silhuetas surgiram.
Um homem e uma mulher, claramente sendo Ryan mascarado com um pano preto apenas exibindo os olhos e uma das mulheres mais poderosas da Holanda. Eu o observei com ódio quando ele ergueu um celular ao ouvido e Jasmine também, atendendo.
-- Eu estou sendo honesta. – ela pôs em alta-voz.
-- Então se isso é verdade, caminhe até metade do caminho, sozinha. Então eu irei e deixarei sua mãe.
Ela deu o aparelho ao pai paralisado de horrores. O inspetor deu alguma ordem de tiro mas foi interrompido pela morena.
-- Não o mate. Ele não deve estar sozinho e mamãe poderá estar sendo alvo de alguma arma escondida.
Apesar do homem não lhe obedecer, eu a segurei pelo ombro, mas Jasmine continuou, caminhando, levando-me atrás dela.
-- Não me siga, Aaron! Ele vai matá-la!
Isabel Allen tinha uma arma apontada em sua cabeça. Então voltei para trás, tirando meu celular do bolso e ligando para Caroline. Me afastei cinco metros dos homens e observei cada passo da minha mulher rumo à morte.
-- Aaron, o que está havendo?
-- Prepara tudo. Vamos explodir essa casa.
-- Ok.
Jasmine chegava nesse exato momento onde Ryan ordenou, sozinha e desprotegida. Assim que parou, o homem caminhava lentamente com a vítima em direção à morena. Ela tremia debaixo de suas roupas e eu podia sentir o medo e adrenalina que transbordava em seu corpo, apesar disso estava tranquilo pois só esperava que aqueles dois estivessem numa distância considerável para ordenar a explosão.
-- Tudo pronto, Caroline?
-- Sim, chefe. De onde estou eu consigo ver o que está acontecendo. Quando for o momento certo, avisa que eu terei todo o prazer de apertar esse botão vermelho.
-- Ótimo. – Ryan estava à frente da morena e sua mãe chorava piedosamente. Ela deu um enorme abraço em Jasmine que logo foi segurada pelo pulso por Smith. Isabel se prendeu na filha mas esta logo foi ameaçada com o cano da arma na cabeça.
Com medo pela morte da mais nova, a mãe se afastou, correndo para seu marido.
-- Agora, Caroline.
Nada aconteceu.
-- Caroline, aperta a porra do botão, se Jasmine chegar mais perto ela vai acabar por ser atingida!
Nada ainda.
Olhei para trás na direção dela mas vi apenas a sombra feminina.
-- Caroline! – vociferei baixo o suficiente para não chamar atenção.
Então ouvi a voz dela ao mesmo tempo que Jasmine olhava pela última vez para trás, limpando uma lágrima e entrava na casa.
-- Agora sim. – a voz na linha do celular respondeu. – Se eu apertasse antes, ele não morrerria. E eu não quero mais perder nenhum amigo. Esse ordinário vai pagar por Mike e Christian!
-- Não faça iss...
O ruído me fez deixar cair o aparelho no chão. O clarão pegou a todos desprevenidos e logo as chamas ergueram no casebre velho. Eu corri, o mais rápido que pude. Meia dúzia de policiais me impediram de me aproximar da construção, sendo todos expelidos da minha frente por chutes e socos raivosos.
Eu estava próximo a entrar pela porta mas outro explosivo, dessa vez mais forte, jogou a porta para a minha direção. A madeira pesada embateu fortemente na minha perna, me fazendo dequilibrar e cair duramente no solo, enquanto o fogo se tornava uma parede laranjada lá dentro.
Apesar da dor de ter quebrado algo abaixo do joelho, da quentura infernal e da fumaça irrespirável, eu só queria que ela estivesse viva.
-- JASMINE!
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