Epílogo.
Narrador.
Dois dias depois.
— Você acha que foi justo? — Akane perguntou, enquanto sentava-se ao lado do noivo no escritório, assistindo o encerramento do julgamento de Dain na TV — Sentenciarem a pena de morte?
— Estava esperando outra resolução?
— Não sei...talvez eu quisesse que ele apodrecesse na cadeia. — ela deu de ombros, chegando a poltrona mais próxima da dele. — Foram muitas dores para tantas famílias...talvez eu ainda...sabe? Não sinto que minha raiva foi aplacada.
A careta de desaprovação de Akane retirou uma risada abafada de Lawliet, enquanto ele direcionava sua total atenção à ela. O filete de corte ainda despontava no canto esquerdo do lábio, maculado por pintinhas arroxeadas de sangue que manchavam a carne marsala. Pequenas contusões ainda pintavam o pescoço de cisne e traziam o lembrete fúnebre de que Lawliet estivera a um triz de perder tudo o que tinha de mais valor.
Casos? Dinheiro? Ações? Nada era comparado a importância que Clark ocupava. O pavor de Lawliet de sua noiva sucumbir às atrocidades de Dain diminuíra no segundo em que a segurara contra o peito. Porque sabia, com todo seu coração, que enquanto Akane Clark permanecesse em seus braços, ele não permitira, jamais, que quaisquer atribulações tocasse-lhe um fio de cabelo. Nunca havia amado tanto alguém e não imaginara que Clark se tornaria tão rapidamente uma condição essencial para sua felicidade. Faria tudo por ela. Sempre faria.
— O que foi? — a voz que ele conhecia melhor que a própria o tirou dos devaneios, dando-se conta que a fitava assiduamente — Algo no meu rosto? — ela riu.
— A possibilidade de perder você me deixou apavorado. — despejou, cortando a linha de raciocínio dela. Estava tudo ali, em uma frase simplificada. Tudo o que fora capaz de desestabilizar um mundo sutilmente equilibrado por 22 anos. — Por um segundo...
Por um segundo eu soube que tinha perdido você.
Mas as palavras não saíram. Ficaram estagnadas em algum lugar entre seu cérebro e os lábios. Como se sua pronúncia fosse uma maldição. Uma profecia que quando invocada tem o poder de devastar todo o mundo dele. Mais uma vez Lawliet se surpreendeu com a força de seus sentimentos por Clark, seu desejo ilimitado de tê-la ao seu lado.
Era maravilhoso e assustador, ele concluiu. Maravilhoso como uma única pessoa consegue ser a peça primordial para fazê-lo funcionar, e assustador como a mera possibilidade de perdê-la conseguia transformar a sua vida em um lugar taciturno e infértil à felicidade. Ele a amava. Incondicionalmente. E talvez fosse mais egoísta do que pensara que era.
— Hey, hey — Clark acolhera a mão fria e esguia dele com a sua, fazendo carinho nos nós dos dedos e puxando a poltrona para perto até ficarem coladas lado à lado —, já passou, não pense nisso.
Como se para reteirar suas palavras e o começo de uma nova vida, ela selou seus destinos com um beijo, fazendo com que os suplícios de Lawliet abandonassem o ofício de lhe roubar a paz.
— Cheguei a conclusão de que a vida é curta demais...— as palavras dele eram um sussurro do vento contra os lábios dela, ainda tão próximos que seus narizes se tocavam —... para desperdiçar um só dia dela.
As mãos de Clark serpentearam à nuca dele, acariciando os fios negros como a noite destilada com os dedos. O coração dela batia forte, acelerado, apaixonado e imprudente. O tipo de compasso que admite que pularia de um precipício por aquele homem. Que o acompanharia até o inferno. Mas, como Clark sabia, Lawliet nunca a levaria lá.
— Eu quero me casar com você — continuou. —, não mais tarde. Não amanhã. Agora.
O mundo começou a pulsar freneticamente. Ou talvez fosse o coração e a alma dela.
— o-o que? — a voz saíra trêmula, grogue e cautelosa. Como estivesse com medo dele estar brincando e partir o seu coração.
— Depois de tudo pelo que passei, achando que você poderia se for para sempre, nada mais importa.
Um pequeno soluço de Clark interrompeu a última palavra. Enquanto seus olhos se abriam e um sorriso resplandecente despontava em seus lábios. Ela queria dizer que topava. Que topava qualquer coisa por ele. Que iria até a Lua e voltava com uma estrela se ele pedisse. Mas antes que pudesse verbalizar qualquer pensamento, Lawliet inclinou-se para o lado e pescou um chumaço de folhas.
— Tenho alguns contatos nos cartórios e governos, e ontem decidi cobrar um favor que me deviam. — ele entregou os documentos para Akane. — Então pedi que fizessem e que me enviassem isso.
As palavras “Certidão de Casamento.” foram o suficiente para fazer o hemisférico dela estremecer. Seria correto dizer o mundo explodia em fogos de artifício, mas a verdade era que sua vida viva nessa constância sempre que colocava os olhos em Lawliet. Em momentos assim, quando a felicidade atingia seu auge, Akane sempre pensava que era impossível sentir-se mais feliz, mais completa. Mas a cada novo momento ela dava-se conta que estava errada.
— SIM! — o grito viera alto, eufórico e cheio de paixão. Os braços frenéticos enrolaram-se no pescoço dele e selara seus lábios no mais profundo beijo. — Sim! Sim! Sim!
Clark mal conseguia dizer outra coisa. Mal conseguiu ficar de pé, mal conseguiu assinar seu nome sem tremer e, mal conseguiu conter um pulo no colo de Lawliet quando ele terminou de assinar. Na verdade, ela não se conteve.
Lawliet rira alto, segurando-a pelas coxas enquanto sustava ambos em pé. Seu coração ribombava, forte e cheio de vida.
— Estamos casados! — a confirmação do óbvio veio com igual fervor, e Clark mal o dera chance dele proferir algo antes de o beijar novamente. — Realmente estamos!
— Sim, meu amor. — tentou expressar todas as emoções que reverberavam pelo seu corpo em um beijo. Torcendo que, se não conseguisse expressar o que sentia, aquele beijo mostrasse o quanto a amava.
— Eu não acredito! — Akane alternava entre o abraçar, beijar, rir e soluçar. — Eu te amo, eu te amo, eu te amo.
E então os beijos ficaram mais frenéticos, múltiplos e eufóricos. Lawliet ria com a empolgação e tentava equilibrar aquela coisinha agitada no colo.
A coisinha agitada que agora era a sua esposa.
— Esse é o nosso “E viveram felizes para sempre?” — Clark perguntou.
Dando-lhe um beijo mais calmo, que continha toda a doçura e amor do mundo, Lawliet respondera: — Sim. Esse é o nosso Felizes para Sempre.
E, quando eles se beijaram de novo, no escritório onde o primeiro toque aconteceu, Lawliet simplesmente compreendeu a verdade inegável que agora regia a sua vida: Sim. Aquele era o seu Felizes para Sempre.
Fim.
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