História Donos do Ringue - Round 11: De nada, babaca.

Na sexta-feira, todos acordaram de ressaca. Até Sasuke um pouquinho, com dor de cabeça. 

Eles levantaram todos arrastados das camas, depois de virarem a noite na festa que Kakashi deu, e além de terem que cuidar das atividades da fazenda, ainda tinham que limpar toda a área depois da gandaia da noite anterior. 

Por conta disso, logo depois do café da manhã, todo mundo voltou pra cama. 

Sasuke foi o único que se levantou por volta do meio dia, com a dor de cabeça ainda lhe incomodando, porém ele odiava a sensação de passar o dia inteiro na cama. 

Talvez tivesse a ver com o fato de sua criação terrível. Ficar na cama até depois das dez sempre causava o caos em sua antiga casa. Seu pai costumava ir no quarto dele, pra lhe dar uma surra por considerá-lo um “vermezinho inútil e preguiçoso”, nas palavras dele, sempre que o pegava dormindo até tarde.

Por conta disso, o relógio biológico dele parecia ter se traumatizado tanto quanto o próprio Sasuke. Porque todo dia, depois de certo horário, ele sempre acordava assustado, alerta, achando que iria tomar uma surra. 

Obviamente que isso não aconteceria ali na fazenda de Kakashi, já que todo mundo estava igualmente capotado de sono.

Ainda assim, velhos hábitos — e traumas — são difíceis de superar.

Por conta disso, ele se levantou e suspirou. Como não tinha nada a ser feito, decidiu lavar suas roupas. Deixar pelo menos sua roupa da luta pronta para o dia seguinte. 

Ele ficou surpreso ao encontrar Sakura nas pias da lavanderia, mas aí depois lembrou que ela sempre lavava roupas na sexta. 

— Oi. — ela sorriu pra ele assim que ele se postou na pia ao lado de onde ela estava lavando uns shorts jeans. 

— Oi. — ele murmurou de volta, meio tímido. 

Ah, droga. Estava começando a se lembrar da noite anterior, quando eles ficaram bebendo sozinhos no quarto dela e ele começou a falar um monte de merda. 

Ele disse que estava “gostando” de Naruto. Pra ela. A “namorada” dele. 

Merda. Merda. Merda. 

— E aí? Como tá a ressaca? — Sakura perguntou tranquilamente enquanto esfregava um short vermelho. — Eu vomitei hoje umas duas vezes. 

— Só dor de cabeça. — Sasuke respondeu, ainda baixinho, evitando olhar pra ela enquanto abria a torneira e começava a molhar as roupas que iria lavar. 

Nossa, ele queria se enterrar de tanta vergonha pelas coisas que disse a ela. 

Agora Sakura sabia que ele é um veadinho esquisito que gostava de caras — ou seja lá o que fosse, já que também tinha uma leve quedinha por ela. 

Merda. Ele queria que tivesse um botão para apertar e morrer na mesma hora.

No entanto, ficou surpreso quando Sakura começou a puxar assunto sobre outras coisas completamente aleatórias, e nada a ver com as coisas que eles conversaram no quarto delas na noite anterior. Tipo sobre o sabão em pó, ou até sobre o clima. 

— Queria que desse uma chuvinha amanhã. — ela comentou. — Pra ficar mais friozinho de noite, sabe? Assim a gente talvez não suasse muito durante as lutas. Você tá nervoso para amanhã?

Será que a bebida tinha feito Sakura esquecer do que conversaram antes? Sasuke não sabia ao certo, mas tentou torcer para que sim. 

— Na real, tô. — ele suspirou enquanto já começava a esfregar suas roupas com uma escova e o sabão em pó de Sakura, que ela tinha acabado de lhe empurrar. — Espero que o Naruto se levante pra gente ter um último treino hoje, pelo menos. Eu preciso urgente aprender alguma coisa que preste. 

Sakura só sorriu de canto pra ele. 

— Relaxa, vai se sair bem. — ela disse com tranquilidade enquanto enxaguava um vestido. — Espero conseguir ver a sua luta. 

Sasuke estava torcendo muito pra que não. Porque não queria que ela o visse levar uma surra. 

#

Os garotos passaram o resto da tarde dormindo. Sasuke estava tão entediado que até pensou em sair e ir chamar Sakura para andarem de bicicleta ou qualquer outra porcaria. Mas aí depois achou melhor ficar quieto, porque sinceramente? Com que cara conseguiria chamar uma mina pra sair com ele? Podia até não ser um encontro de verdade, mas ainda seria bem esquisito. 

E além disso, ele não queria problemas. Nem com Kakashi, e muito menos com Naruto. 

Foi só no fim da tarde que os rapazes se levantaram. Eles foram fazer hambúrgueres, encheram a barriga, e logo depois vestiram as luvas e foram treinar no ringue do celeiro. 

Sasuke se juntou a eles, esperando por sua vez de treinar um pouco. 

Aí ele percebeu que Naruto continuava lá em cima. Que não iria descer para ajudá-lo no treino. 

Ele subiu e foi até o beliche que os dois dividiam agora. Puxou a cortina pro lado, e avistou Naruto deitado na cama de baixo, como sempre, ouvindo música com seu walkman. 

— Qual foi? — ele perguntou despreocupado para Sasuke ao notá-lo ali. 

Qual foi? Qual foi?

— Qual foi? — Sasuke indagou com uma careta de irritação. — Como assim “qual foi”? Cara, eu preciso treinar. 

— Não precisa, não. — Naruto respondeu, ainda bem tranquilo. — Já treinamos a semana inteira. Tira o dia de folga e descansa, porque amanhã vai precisar de toda a sua energia. 

— Não, Naruto. A gente não treinou! — Sasuke se estressou de vez, ainda mais por conta da aflição que estava sentindo por dentro. — A única coisa que você fez foi me fazer cortar árvores e carregar melancias. Não me ensinou um único golpe sequer. 

— Sasuke, você já sabe os golpes. — o Uzumaki ficou sério, o que indicava que estava começando a se irritar também. — Shikamaru e os outros já te ensinaram.

— É, mas você era um lutador profissional. — o Uchiha argumentou. — Aprender golpes com você seria totalmente diferente. 

— Ah, qual é? — Naruto riu com escárnio. — Cara, eu entendo que você esteja nervoso, mas não precisa ficar desse jeito. Você já tá pronto, porra. 

— Não, eu não estou! — Sasuke chiou de forma quase deprimente. Parecia uma criança choramingando. 

Ele estava desesperado, essa era a verdade. 

— Eu fiquei tão feliz quando Kakashi pediu que você me treinasse. Achei que isso me faria pelo menos durar duas ou três lutas. — ele dizia de forma aflita, porém acusatória. — Mas a única coisa que você fez foi me fazer perder tempo. Não me ensinou porcaria nenhuma. 

— Sasuke… — Naruto tinha se sentado na beira da cama e agora o encarava sério, porém o moreno continuou. 

— Porra, eu realmente achava que você iria me ajudar. Custava ao menos ter me ensinado os golpes que você usou pra derrubar a Sakura quando vocês…

Ele nem chegou a terminar a frase, porque Naruto tinha avançado em sua direção com uma velocidade e uma força tão impressionantes que Sasuke quase nem assimilou o que tinha acontecido. 

Quando deu por si, já tinha sido jogado contra a parede e agora Naruto estava lhe segurando pelo colarinho da camisa enquanto lhe esmagava ali. O rosto dele estava configurado numa expressão de ódio fervente, a centímetros de distância do rosto do Uchiha. E pela forma como ele apertava sua camisa, parecia disposto a fazê-lo em pedacinhos agora que tinha acabado de tocar no calo dele. 

— O que foi que você disse, porra? — Naruto perguntou tão baixinho, porém de forma tão ameaçadora que a única coisa que Sasuke conseguiu fazer foi arregalar os olhos e se manter paralisado. — Repete, vai. 

Sasuke não seria louco de fazer isso. 

— Desculpa. — ele disse num fio de voz, agora bem mais desesperado do que antes, com medo de tomar uma surra daquelas. — Desculpa. Eu não quis…

— Me dá uma boa razão pra eu não arrebentar a sua cara agora, Sasuke. — Naruto sibilou ainda o olhando com ódio mortal, sem desgrudar um centímetro sequer dele.

Sasuke prendeu a respiração, paralisado de medo. 

Ah, droga. Droga. Era por isso que ele tinha aprendido — nesses anos todos — e tentar demonstrar o mínimo possível de seus sentimentos. Porque geralmente sempre se ferrava quando os mostrava. 

Agora, por exemplo, tinha deixado seu medo de perder as classificatórias lhe dominar e fazê-lo brigar com Naruto. E como consequência, provavelmente iria ser nocauteado agora. 

Ele até fechou os olhos, esperando que Naruto começasse mesmo a arrebentar sua cara. 

No entanto, um minuto se passou. E embora o Uzumaki não tenha se afastado e continuado com o rosto praticamente colado nele, sua expressão se suavizou um pouco — talvez depois que ele percebeu que não valia a pena perder tempo machucando a mão pra quebrar o nariz do Uchiha.

Foi quando ele se aproximou ainda mais de Sasuke, que arregalou os olhos de novo ao perceber o que provavelmente ia acontecer. 

O rosto de Naruto chegou perto o suficiente ao ponto de sentir a respiração dele contra seu nariz. A boca dele ficou a milímetros da de Sasuke, e o Uchiha paralisou mais uma vez. 

E quando achava que iria desmaiar de tanto nervosismo, Naruto disse apenas:

— Você é um babaca, Sasuke. — ele soprou baixinho, o hálito quente batendo suave contra a boca do Uchiha. 

E aí se afastou. Largando-o totalmente e saindo dali, indo descer para sair do celeiro e ficar de longe todo mundo com seu walkman. 

Sasuke continuou parado contra a parede, ainda se sentindo em choque e com o coração quase saindo pela boca de tão rápido que estava batendo. 

#

A noite inteira foi estranha. Naruto não dormiu no celeiro, junto com os outros garotos. Sasuke não fazia a menor ideia de onde ele dormiu, na verdade.

E na manhã seguinte, ele não apareceu para as atividades da fazenda. Tinha simplesmente sumido. 

Os garotos todos passaram o dia inteiro descansando, bebendo bastante água e se aquecendo. 

Quando a noite chegou, todo mundo entrou na picape de Kakashi, até Sakura, já que ela tinha que ir para a fazenda dos Suna, onde seriam as lutas classificatórias daquele fim de semana. Todos foram na caçamba, enquanto só ela e Kakashi iam na cabine.

É, tinha chegado a hora. Finalmente. 

De saber se tinha uma chance ou não. Mas Sasuke sabia que não tinha. 

Estava totalmente fadado ao fracasso. Se já tinha apanhado só na luta de abertura, onde ainda não estava valendo nada, seria destroçado ali, nas classificatórias, onde só vinte deles iriam se classificar para lutar o resto do verão. 

Metade dali iria embora. E a outra metade continuaria lutando e ganhando dinheiro. 

Ele com certeza seria um dos que seria chutado logo naquele dia. 

Quando chegaram à fazenda dos Suna, Sasuke deu uma boa olhada em volta, observando a última das fazendas que hospedavam a temporada de boxe. 

A fazenda dos Suna era bem grande, na verdade. Era mais pomar do que fazenda, na verdade. Tinha muitas árvores com muitas frutas diferentes. E já estava repleta de carros estacionados por toda parte, da galera que tinha vindo assistir as classificatórias. 

O lugar em questão onde iria acontecer as lutas era o enorme depósito na parte bem de trás da fazenda. Na frente dele, estava cheio de caixas com frutas, que com certeza costumavam ficar lá dentro nos dias normais, mas como era noite de luta, deviam ter tirado tudo para abrir espaço para acomodar toda a multidão. 

Todos eles entraram pela parte de trás, onde assim como na fazenda dos Kiri, tinha várias salas para acomodar o pessoal de cada liga, com caixas de isopor com garrafas de água e cerveja.

No corredor, tinha colado quatro cartazes com tabelas feitas à mão com pincel preto, para mostrar como tinham sido organizadas as lutas da noite. 

Todos foram prontamente até lá, pra ver com quem iria lutar, até Sasuke, que estava mais nervoso do que qualquer um. 

Ele encontrou seu nome na 12º luta, junto de um cara chamado Chojuro, da fazenda dos Kiri. 

— Ah, mano! — Kiba começou a gritar e choramingar. — Vocês me odeiam, é?

— O que foi? — Neji perguntou. 

O nome de Kiba estava colocado na 3º luta da noite, ao lado do nome de Sakura. A garota começou a rir. 

— Ih, se fodeu. — Lee e os outros começaram todos a gargalhar da cara dele e cantar “We Are The Champions” enquanto Sakura mandava eles calarem a boca. 

— Deixem de ser crianças. — ela ralhou antes de se virar para Kiba. — Boa sorte. 

— Valeu. — ele choramingou já olhando pra Kakashi, que estava com uma cara nada boa na sua direção. 

Sakura começou a se despedir deles, já que tinha que ir para a sala da liga de Tobi. Todos continuavam rindo de Kiba enquanto se despediam e desejavam sorte pra ela. 

Quando ela ficou na frente de Sasuke, respirou fundo. 

— Chojuro, hein? — comentou com um pequeno sorriso. — Boa sorte. 

— Alguma dica pra tentar me ajudar? — ele perguntou meio nervoso. 

Ela pensou um pouco antes de responder. 

— Se cair, dê um jeito de se levantar, não importa o quanto esteja doendo. — ela sorriu uma última vez antes de se afastar e sumir pelo corredor. 

Logo em seguida, Kakashi levou todos eles para dentro da sala deles, para aguardarem o começo da luta. Ele foi dando as instruções daquele dia. 

— Bom, já conhecem o esquema. Três rounds, no máximo. Ganhem dois pra se classificar. Eu aconselho a ganharem logo os dois primeiros pra evitar de irem pro terceiro e apanharem ainda mais. — ele disse isso olhando diretamente para Sasuke. — Vou ficar checando como andam as apostas de cada um de vocês. 

Mesmo dali, já dava pra ouvir a multidão gritando lá na frente, ao redor do ringue. Parecia que era Tobi quem estava narrando as lutas naquela noite, porque era a voz dele que Sasuke estava ouvindo ecoar pelo microfone. Ele estava dizendo algumas coisas que estavam deixando a multidão ainda mais animada, pela barulheira. 

Sasuke estava tentando se lembrar quem era o tal Chojuro. Sabia que ele era da fazenda dos Kiri, e queria se lembrar se ele era muito alto ou muito forte. Devia tê-lo visto em alguma das festas, mas não conseguia se lembrar se foram apresentados.

A multidão explodiu lá na frente. A primeira luta tinha aparentemente começado, entre um integrante da liga de Tobi, e alguém da fazenda dos Suna. 

Sasuke respirou fundo, tentando acalmar a ansiedade inquietante que estava fazendo seu estômago se revirar.

Ele queria vomitar de tanto nervosismo. Era uma noite de tudo ou nada. Ou ganhava hoje, ou estava fora oficialmente.

Mas como ganhar sem treinamento nenhum?

Nossa, como ele odiava Naruto. Queria que um raio caísse na cabeça dele, seja lá onde estivesse. 

Ele ficou tão entretido pensando nisso que mal notou quando Kakashi apareceu na porta para chamar Chouji, já que era a vez dele. 

Segunda luta, contra alguém dos Kiri. Sasuke continuou sentado no canto, respirando fundo e tentando ficar calmo enquanto esperava o tempo passar. 

A noite estava quente, ele estava suando. Abriu uma garrafinha de água gelada e tomou tudo de uma vez. 

Aí veio a terceira luta. Quando vieram chamar Kiba, todo mundo ali dentro ficou se segurando pra não rir, tentando manter silêncio em respeito ao sofrimento antecipado dele. 

Quando a porta se fechou, Sasuke ficou pensando que talvez estivesse com sorte. 

Pelo menos ele não caiu com Sakura logo de primeira. Não estava a fim de ser massacrado por ela. Nem por ninguém, na verdade, mas ainda menos por ela. 

Os minutos foram passando, as outras lutas foram rolando, e cada vez mais ele ficava nervoso. 

Quando Kiba voltou para a sala deles, já estava na sétima luta. Ele tinha colocado uma tala no nariz, porque aparentemente, Sakura lhe nocauteou com um gancho de direita poderoso no segundo round, que o fez ir pro chão igual uma árvore — segundo o que Kakashi disse pra eles depois. 

Ela ganhou. É claro. Nada fora do inesperado. E Kiba estava fora. 

Quando a décima luta foi anunciada, Sasuke continuava tremendo de nervosismo. 

Sua hora estava chegando. Cada vez mais, a cada minuto. 

E exatamente meia hora depois, Kakashi entrou na sala de novo. 

— Vamos lá, Sasuke. Sua vez. — ele murmurou. 

— Vai fundo, Sasuke. — os garotos todos lhe desejaram sorte, alguns lhe dando tapinhas nas costas e apertos no ombro, desejando força.

Isso só serviu para lhe deixar ainda mais aflito. De repente, tudo parecia estar ficando dormente. 

— A maioria das apostas tá no Chojuro. — Kakashi ia lhe contando no caminho pra lá. — Já acumulou 500 pratas apostadas nele. O bom é que se você ganhar, a gente fatura tudo isso. 

Sasuke só ficou ainda mais nervoso com isso. Porque significava que a multidão já sabia que ele iria apanhar, e estavam apostando contra ele. 

É, só tinha que aceitar mesmo. Tudo o que lhe restava era tentar apanhar com o máximo de dignidade possível, e tentar não cair igual um imbecil pelo ringue. 

Eles chegaram lá. A multidão inteira gritou ao ver que iria começar mais uma luta ao redor deles. Sasuke e Kakashi andaram até o ringue, onde o garoto subiu, enquanto Kakashi ficava em pé no seu corner. Tobi já estava de pé lá dentro também, e sorriu debochado para Sasuke. 

— E para nossa 12º luta desta noite, teremos Sasuke Uchiha, da liga de Konoha, pessoal! — ele gritou ao microfone, e a multidão gritou em resposta. — E o adversário dele esta noite é Chojuro Miyata, da liga de Kiri. 

Enquanto a multidão gritava ainda mais alto — provavelmente por já terem visto Chojuro lutar na temporada passada e já o conheceram —, Sasuke olhou pro lado, percebendo o outro rapaz chegando. 

É, de fato não o conhecia. Devia ter estado nas festas, mas nunca foram apresentados. 

Ele tinha um cabelo loiro bem claro e olhos escuros. Não era muito alto nem parecia ser muito forte, porém Sasuke percebeu que só pela forma ágil com que ele entrou no ringue, parecia ser muito rápido e flexível.

Ou seja, fodeu mesmo. Seria quase como lutar contra Lee, igual fizera nos treinos — e de onde Sasuke apanhou bastante quando treinou com os garotos. [

— Concentra, Sasuke. — Kakashi bateu no ombro dele, já que ainda estava encostado contra a corda enquanto Chojuro subiu no ringue e olhava pra ele também.

— Tá bom, vou tentar. — Sasuke gritou de volta pra ele, já que era difícil ouvir e falar com o estardalhaço que a multidão estava fazendo. 

Chojuro olhou pra ele do outro lado do ringue. Deu um pequeno e rápido sorriso, apenas de cumprimento. Sasuke retribuiu o gesto, ainda nervoso. 

Porém percebeu que parecia ter algo estranho na forma como Chojuro lhe olhou.

De qualquer forma, nem deu tempo dele tentar pensar no que seria. Porque o gongo soou logo em seguida, indicando que o tempo de apostas tinha acabado e que a luta ia começar.

— Lutem! — Tobi gritou animado no microfone antes de pular por cima da corda e sair do ringue, anunciando que de fato, tinha começado.

Kakashi empurrou as costas de Sasuke, pra tirá-lo de perto da corda e jogá-lo no meio do ringue, fazendo o garoto nervoso tropeçar pra lá, na direção de Chojuro, que não perdeu tempo e já foi pra cima dele.

Sasuke mal tinha conseguido se equilibrar do empurrão que Kakashi lhe dera quando levantou a cabeça e tomou um soco no peito, fazendo-o ofegar e ser novamente jogado pra trás, contra a corda. 

— Sasuke! — Kakashi ralhava do corner enquanto a multidão vibrava enlouquecida com aquele golpe belíssimo logo nos primeiros dez segundos de luta. — Se concentra, porra!

Com falta de ar, Sasuke tentou se erguer de novo, principalmente ao ver que Chojuro tinha vindo pra cima mesmo. Parecia não querer tempo e ganhar logo os dois primeiros rounds para se classificar logo. 

Sasuke conseguiu levantar os punhos a tempo, protegendo o próprio rosto antes que ele lhe acertasse uma série de jabs com as duas mãos. Porém continuava contra a corda, sem conseguir sair dali.

Tinha que sair dali. Tinha que dar um jeito de sair da mira de Chojuro.

O Uchiha se abaixou e pulou pro lado, de forma rápida, pra sair da corda. E Chojuro veio logo atrás dele, não querendo mesmo perder tempo. 

Quando Sasuke deu por si, já estava de novo contra a corda — dessa vez a da lateral —, e com os punhos erguidos na frente do rosto para se proteger de ser nocauteado. 

Aí Chojuro mudou a estratégia. Em vez de mirar em seu rosto, ele foi na barriga de Sasuke, acertando um soco com tanta força que fez o Uchiha se inclinar para a frente, arfando de dor, e logo em seguida, tomou um uppercut de direita bem no meio da cara, que o fez cair. 

— E temos um lutador no chão! — Tobi gritou no microfone enquanto a multidão berrava e começava a contar de 10 pra baixo. 

Sasuke tossiu no chão, ouvindo todo mundo gritando com ele e sentindo a cabeça girando. 

Chojuro tinha se afastado, esperando pra ver se ele ia se levantar ou ia lhe dar vitória automática por nocaute logo no primeiro round. 

Sasuke tinha 10 segundos pra se levantar, mas sua vontade era apenas de se encolher e chorar no chão. 

— Nove! Oito! — a multidão continuava cantando. 

Nossa, era como voltar à infância. Quando apanhava do pai e não conseguia reagir de forma alguma. 

Era como aquela tarde, quando tinha sete anos. 

Fim de semana, seu pai estava muito bêbado, e falou pra ele ir pegar uma cerveja gelada na geladeira. Sasuke foi até lá, mas não pegou uma garrafa que estava gelada. 

— Sete. 

Quando ele voltou pra sala, Fugaku pegou a garrafa da mão dele, e ao perceber que não estava gelada, ele a quebrou no ombro de Sasuke. 

— Seis. 

E logo em seguida, lhe acertou um soco muito forte no pescoço. Sasuke ofegou e caiu pra trás, no chão, estatelado, sem conseguir respirar, em estado de choque por apanhar dessa forma, sendo tão novo e tão indefeso. 

Ele não conseguiu reagir. Só ficou arfando e sangrando, deitado de costas no chão, no meio da sala, até sua mãe vir lhe ajudar. 

— Cinco. 

Nossa, como doeu apanhar daquela vez. E todas as outras vezes. 

Fugaku passou a vida inteira batendo nele. E chegou um momento em que Sasuke já tinha se acostumado tanto que nem doía mais tanto quanto deveria. Ele passou a apanhar e revidar da melhor forma que podia, tentando defender a mãe. 

— Quatro!

Sua mãe. Mikoto. 

Ele pensou nela naquele momento, e em quanto ela precisava muito de sua ajuda. 

Espera aí. Desde quando apanhar num ringue tinha se tornado pior do que as surras grotescas que Sasuke já levara do pai?

Caramba, o cara já tinha até usado um martelo nele. 

Que diabos ele estava fazendo agora, sofrendo por causa de um simples soco?

— Três!

Sasuke levantou a cabeça, enchendo os pulmões de ar e recuperando o fôlego antes de apoiar as mãos no chão. 

— Dois!

Ele deu um solavanco pra cima, se apoiando nos joelhos e ficando de pé faltando dois segundos, a tempo de anular a vitória por nocaute de Chojuro. O garoto o olhou e ficou de prontidão de novo, mas nem adiantava mais. 

Não demorou mais cinco segundos e o gongo soou, anunciando o fim do primeiro round, que obviamente tinha sido ganho por Chojuro. 

Sasuke voltou para seu corner, onde Kakashi o esperava. 

— Sasuke, será que dá pra parar de apanhar e começar a bater? — o homem ralhou com ele enquanto inspecionava seu rosto, vendo se ele estava sangrando ou não. 

Ok. Certo. Tinha que bater. Só assim pra ganhar o segundo e o terceiro round.

Era o que ele tinha que fazer.

Um minuto de descanso, que ele usou para olhar melhor para Chojuro do outro lado do ringue, falando com seus amigos e companheiro de liga no corner.

— Nocauteia ele, Sasuke. — Kakashi o instruiu, gritando por cima da barulheira que a multidão fazia. — Nocauteia ele, e não precisa lutar o terceiro round. 

É, essa era a sua melhor estratégia. Mas como fazer isso?

— E que comece o segundo round! — Tobi gritou no microfone de novo assim que o gongo soou mais uma vez. 

Chojuro se virou na direção de Sasuke de novo, erguendo os punhos e não perdendo tempo pra vir pra cima dele mais uma vez. 

Foi quando Sasuke percebeu o que tinha de errado com a forma como Chojuro o olhava. 

Ele não vinha andando em linha reta. Seus pés andavam de forma cautelosa pelo ringue. 

Ele era cego. 

Quer dizer, não exatamente cego, mas com certeza precisava de óculos no dia a dia. Óculos que ele tinha tirado ali por motivos mais do que óbvios. 

Puta merda, ele não enxergava direito!

— Sasuke! — Kakashi o trouxe de volta à realidade bem a tempo de desviar de um gancho de esquerda. 

Ele começou a rodar pelo ringue com Chojuro, que continuou vindo pra cima. 

Beleza, tinha acabado de descobrir uma vantagem que tinha sobre Chojuro. Agora só precisava chegar perto o suficiente para acertá-lo. 

O problema é que o cara ainda era muito rápido. Se movia igual um leão pelo ringue, vindo na direção dele e sempre tentando lhe acertar com golpes fortes. Sasuke estava praticamente brincando de cirandinha, dando voltas pelo tablado igual uma barata tonta, tentando fugir daqueles socos.

A multidão continuava gritando, já ficando estressada. Ninguém gosta de assistir uma luta onde nenhum dos caras se acerta. Eles torciam por Chojuro, isso era visível. Pra que ele derrubasse logo Sasuke. 

Os dois começaram a rodar de novo. Sasuke fugindo, e Chojuro tentando a todo custo acertar algum golpe nele. 

Em determinado momento, Sasuke percebeu que a velocidade de Chojuro estava diminuindo, e que ele estava fazendo pausas cada vez maiores para recuperar o fôlego, porque já estava ofegando muito. 

Ele estava cansado, o que deixou Sasuke surpreso, porque ele mesmo não se sentia nada cansado. 

Dolorido, sim. Apavorado, com certeza. Mas cansado não. 

Foi nesse momento, numa das pausas que Chojuro fez do outro lado do ringue, tentando recuperar o fôlego, que Sasuke olhou em volta, vendo como a multidão estava reagindo. 

E foi quando ele viu. Naruto. Muito além da multidão, encostado na parede de depósito, atrás de todo mundo, com os braços cruzados e o rosto contorcido numa expressão bem séria e concentrada. Os olhos azuis bem duros e fixos em Sasuke lá em cima do ringue. 

Caraca, Naruto veio ver a luta! Isso sim era chocante. 

E foi nesse momento, encarando-o de volta por cima daquela loucura toda… que Sasuke percebeu o motivo de não estar cansado. 

O treino. Com a árvore. As melancias. As bicicletas. As caminhadas longas debaixo do sol quente. 

“Você não precisa ser o melhor para vencer, Sasuke.” As palavras de Sakura soaram de novo na cabeça dele. “Só precisa ser o mais resistente.”

Naruto tinha lhe dado resistência durante aquela semana. Fez o corpo dele ir até o limite do cansaço para acostumá-lo com a correria. 

Agora, ali, de pé naquele ringue, Sasuke tinha mais resistência que Chojuro. E era por isso que não estava cansado. 

Os olhos azuis de Naruto o fitavam com bastante sarcasmo naquele momento. Sasuke se sentiu meio mal por ter sido um idiota com ele no dia anterior. 

Foi nesse momento que ele voltou a si, quando escutou a gritaria da multidão aumentar novamente. Porque Chojuro estava vindo pra cima dele com tudo de novo.

Tudo aconteceu muito rápido. 

Sasuke só teve tempo de virar a cabeça e ver que Chojuro estava vindo. E como tomou um susto, a única coisa que ele fez foi deixar o corpo agir por instinto — como costumava acontecer quando era seu pai que vinha pra cima, bater nele. 

Por isso, o braço de Sasuke se projetou sozinho pra frente. E antes que qualquer um pudesse perceber, ele tinha acertado um soco muito certeiro no queixo de Chojuro, com muita força por conta da adrenalina e do susto. Deu até pra sentir o maxilar dele trincando por cima da luva. 

Ele caiu no chão. A multidão berrou enlouquecida, todos surpresos. Mas logo começaram a contar. 

— Dez! Nove!

O próprio Sasuke estava sem reação ao ver Chojuro no chão do ringue. Tinha acontecido tão rápido que ele mesmo estava com dificuldade de entender. 

— Oito! Sete! — Kakashi gritava todo sorridente no corner, acompanhando a multidão. — Seis! Cinco!

Sasuke olhou de novo além da multidão, seu olhar encontrando o de Naruto de novo. 

A expressão no rosto do Uzumaki era bem clara. Era como se ele dissesse:

“De nada, babaca.”

E aí se desencostou da parede e começou a andar pela multidão, desaparecendo no meio daquele mar de gente enquanto ia para a saída do depósito. 

— Quatro! Três!

Chojuro continuava gemendo de dor no chão, sem forças para se levantar e com a boca sangrando. 

— Dois! Um!

— Sasuke Uchiha acaba de ganhar nossa 12º luta da noite por nocaute, pessoal! — Tobi anunciou ao microfone, parecendo muito entusiasmado e surpreso, assim como todo mundo. 

Os outros garotos de Kiri entraram no ringue para pegar Chojuro enquanto Sasuke se virava de novo para seu corner. 

Caraca, ele realmente tinha ganhado aquela porra? Tinha se classificado?

Aparentemente, sim. Era real. 

Porque tanto Kakashi quanto Sakura estavam pendurados no seu corner, gritando e comemorando com muita animação.