A corrida matinal de Sasuke foi maior do que o esperado na manhã seguinte.
Assim que acordou e trocou de roupa, ele foi correr pela estrada, como sempre fazia.
Mas diferente dos outros dias, em vez de dar a volta depois de chegar em determinado ponto da estrada, ele continuou correndo. Até a cidade.
Chegando lá, correu pelas ruas e becos até chegar no quarteirão da casa dos pais.
Ficou escondido atrás da cerca de um dos vizinhos, que sabia já ter saído de casa porque ele precisava sair cedo para trabalhar.
A vontade que Sasuke tinha era de pular a cerca, correr pela rua, acertar um murro na cara dele, e depois disparar de volta pelos becos pra longe.
Mas não fez isso. Se segurou ao máximo até ver o velho miserável desaparecer na esquina, indo para o trabalho.
O garoto ainda esperou uns minutos antes de sair de seu esconderijo e atravessar a rua.
Ele parou na frente da porta de casa e bateu o mais suave que podia, tentando fazer o mínimo possível de barulho enquanto olhava pros lados, verificando se não tinha nenhum vizinho espiando pelas janelas.
Não queria que ninguém falasse depois pra Fugaku que o filho dele veio visitar a mãe quando ele estava fora. Porque iria descontar em Mikoto, isso era óbvio.
A mulher abriu a porta de maneira alvoraçada. Porque lá no fundo, já sabia que era seu caçula ali.
— Entra, rápido. — ela já o agarrou pela camisa e o puxou pra dentro, botando a cabeça pra fora e espiando em volta também antes de fechar a porta.
Lá dentro, Mikoto o puxou para um abraço bem apertado, parecendo muito aliviada e feliz em vê-lo.
Sasuke abraçou sua mãe de volta, de repente sentindo uma vontade intensa de chorar. Seus olhos se encheram d’água, porém ele segurou firme as pontas enquanto apertava a pequena figura dela nos braços.
Quando se separaram, ainda assim, Mikoto ficou segurando as mãos dele. Porém seu sorriso foi desaparecendo aos poucos quando levantou a cabeça e notou os hematomas no rosto do feliz.
— Ah, meu Deus! — ela exclamou em choque. — Então é verdade mesmo. Você está lutando naquele negócio clandestino de boxe.
— Mãe. — Sasuke começou a tentar se desvencilhar, já que ela começou a tentar segurar seu rosto para checar melhor como estava o estado dos machucados. — Mãe, calma. Eu tô legal.
— Não, não está. — agora ela voltara a ficar aflita. — Sente-se, eu vou devo ter remédio e pomada em algum lugar.
Ah, ela tinha. Com certeza. Porque usava direto para disfarçar os próprios hematomas.
— Não precisa, já estou bem. Isso aqui foi há duas semanas. — Sasuke se justificou, falando baixo e calmo, como sempre falava para mantê-la tranquila. — Esses machucados já estão sarando.
— Quem fez isso com você? Os outros lutadores? — Mikoto estava muito agoniada em saber. — Ainda dói? Isso aconteceu durante uma daquelas lutas do fim de semana?
— Não exatamente. — Sasuke suspirou, um pouco cansado. — Foi culpa minha, na verdade.
— Como assim?
No fim das contas, Sasuke não conseguiu explicar direito. Não queria falar de Naruto, na verdade.
Se sentia meio magoado. Não por ter apanhado dele mas… por outro motivo.
Em vez disso, ele decidiu contar tudo de maneira mais geral para a mãe. Enquanto ela ia passando uma de suas pomadas cicatrizantes pelos hematomas no rosto e nos braços dele, Sasuke ficou sentado numa das cadeiras velhas da cozinha enquanto ia contando pra ela tudo o que viera fazendo desde que saíra de casa.
Mikoto pareceu bem mais aliviada ao perceber que ele parecia bem instalado na fazenda de Kakashi. Que tinha uma cama, um teto pra dormir, roupas lavadas e tudo mais.
Como uma boa mãe, ela se preocupava com essas coisas. Mas ainda parecia meio nervosa com a ideia dele estar por aí, apanhando num negócio ilegal, correndo o risco de ser preso, só para juntar dinheiro.
Ela contou pra ele também que já estavam rolando boatos pela cidade. Que todos já sabiam que estava de novo na temporada do boxe clandestino, e que Minato e os outros policiais já estavam se preparando para novas batidas nas fazendas da região nos fins de semana.
— Sabemos disso. E estamos tomando cuidado para ficarmos alguns passos à frente deles. — Sasuke a informou. Mas nem ele mesmo estava se sentindo seguro.
— Mas você ainda não me contou como esses hematomas surgiram. — ela comentou no final, curiosa. — Pelo que seu pai ouviu pelo pessoal nos bares, você é um dos melhores lutadores dessa temporada. Quase nunca apanha.
Claro que Fugaku já estava sabendo desses detalhes. Ele bebia junto daquela galera que ia assistir às lutas no fim de semana. Que ficavam jogando cerveja pra cima quando a pancadaria rolava solta no ringue e tal.
Sasuke torceu para que seu pai nunca fosse assistir nenhuma luta sua. Seria extremamente desconcertante saber que um dia ele poderia estar lá, no meio da multidão.
— Já disse, não foi nada de mais, mamãe. — Sasuke falou naquele tom gentil e apaziguador de sempre. — Foi só um dos meus treinos com o cara que está me ajudando.
Mikoto finalmente terminou de passar a pomada no rosto dele. E quando colocou o pote sobre a mesa, ali ao lado, seus olhos escuros encontraram os do filho. Os dois se encararam, e ela estava bem séria.
— Você gosta dele? — ela perguntou, muito gentilmente. — Esse seu “treinador”?
Sasuke arregalou os olhos, sentindo o coração acelerar e as bochechas queimarem.
— O quê? — ela rapidamente rechaçou a ideia, sentindo-se extremamente envergonhado. — Claro que não, mãe! Por que a senhora está pensando isso de mim?
— Querido, está tudo bem se gostar dele. — Mikoto abriu um pequeno sorriso.
— De onde a senhora tirou isso? — Sasuke não conseguia entender. Estava quase desesperado, na real.
— Sasuke. — Mikoto pronunciou com firmeza. — Sou sua mãe. Eu sei das coisas.
A vontade de chorar voltou, mas dessa vez, Sasuke não segurou nada.
Sentado no meio da cozinha da casa onde cresceu, ele começou a chorar. E sua mãe o abraçou.
— Está tudo bem, amor. — ela murmurou em seu ouvido enquanto o acolhia em seus braços. — Só quero que me prometa uma coisa.
— O quê? — ele perguntou com a voz embargada enquanto chorava com o rosto escondido no ombro dela.
— Não se apaixone por um garoto que machuque você. — ela suspirou, parecendo exausta. — Não faça igual a mim.
Isso doeu muito mais do que qualquer outra coisa que Sasuke ouvira nos últimos dias.
#
A ideia toda daquilo era muito confusa.
Num dia, Sasuke era comparado ao pai. Violento, explosivo. Ruim.
No outro, ele era comparado com a mãe. Indefeso, ingênuo. Apaixonado por alguém capaz de machucá-lo.
Era muito confuso. Ele não sabia mais o que pensar sobre si mesmo.
Com quem se parecia mais? Seu pai? Ou sua mãe?
Qual deles era pior? Com quem deveria se parecer?
Ele não sabia. E ficou o resto da manhã inteira pensando nisso.
Em vez de voltar para a fazenda de Kakashi, ele parou no meio do caminho.
Se deitou embaixo de uma árvore na beira da estrada, e ficou refletindo sobre a sombra, aproveitando a brisa quente de verão e pensando em tudo que conversou com a mãe mais cedo.
Nossa, como ele amava sua mãe. Ela valia a pena cada segundo de tudo aquilo.
Ele não via a hora da temporada acabar e eles irem embora.
Ao mesmo tempo, se sentia meio estranho em relação à Kakashi e a casa dele.
Gostava daquela fazenda. E gostava dos garotos que moravam lá também — os quais ele já considerava seus amigos.
Mas sabia que não podia ficar. Não pra sempre.
E tinha Naruto e Sakura no meio daquilo tudo.
Pelo que ele ficou sabendo, Sakura dormiu fora — provavelmente com Sasori. Kakashi ficou resmungando durante o trato de animais inteiro, puto com isso.
Naruto dormiu na fazenda mesmo. Quando acordou naquela manhã, Sasuke viu que ele estava dormindo e roncando no beliche abaixo do seu.
Não que isso significasse alguma coisa, né? Ele podia muito bem ter feito uma transa rápida com Suigetsu — ou qualquer outro — e depois ido dormir, como qualquer ser humano normal.
Ainda assim, isso fez Sasuke se sentir mal.
Era como levar outra surra. Dessa vez interna. Seu coração parecia ter tomado vários golpes.
Por isso ele demorou a voltar para a fazenda. Queria ter certeza de que, quando chegasse, todo mundo estivesse dormindo. Depois de um almoço daqueles e tal.
Quando já era por volta de duas da tarde, ele foi caminhando devagar pelo resto da estrada.
Ao chegar na fazenda, no entanto, não estavam todos dormindo.
O Uchiha foi direto pro celeiro, percebendo o silêncio que lá estava. Ele subiu para o mezanino onde ficavam as camas e pertences dos garotos. Todos estavam deitados em seus beliches, roncando pesadamente sobre os colchões.
Sasuke passou por todos, como sempre, para o beliche mais perto da janela, onde ele ficava com Naruto.
Assim que arrastou a cortina pro lado, encontrou Naruto deitado no colchão de baixo, mas ele não estava dormindo. Estava deitado com seus walkmans ligados.
Quando viu que Sasuke tinha chegado, ele tirou os fones e sorriu.
— E aí? Onde você tava? — perguntou, simpático como de costume.
Sasuke estremeceu sobre as próprias pernas.
Era meio chocante ver Naruto depois da conversa com sua mãe mais cedo.
Ele não estava preparado para encarar Naruto depois de admitir que gostava dele para outra pessoa.
— Eu fui… Ver a minha mãe. — Sasuke tentou responder sem gaguejar mas não deu muito certo.
— Ah. — o loiro assentiu com a cabeça, ficando meio sério. Ele continuou fitando Sasuke por uns segundos antes de mudar o assunto. — Você tá com fome? Eu guardei uns sanduíches do almoço pra você.
Só nesse momento que Sasuke sentiu o estômago roncar, percebendo que não comera nada o dia inteiro.
Naruto se moveu e tirou uma sacola de papel que estava embaixo de seu travesseiro. Ele jogou para Sasuke, que a agarrou no ar, por sorte. Normalmente ele era péssimo pegando coisas assim, mas seus reflexos estavam muito melhores desde que entrou para a liga de boxe.
Ao abrir a sacola, ele viu que tinha três sanduíches com um cheiro extremamente bom de bacon e presunto ali. Sua boca até encheu d’água.
— Bora lá fora. Acho que eu descolo um refrigerante pra você. — Naruto o chamou, já passando por ele para descerem de novo.
Sasuke pensou por uns segundos em ficar, mas queria o refrigerante. E por isso desceu atrás dele.
Os dois saíram do celeiro, e Naruto foi até a residência de Kakashi. Ele entrou em silêncio pela porta dos fundos, tomando cuidado de não fazer barulho. Sasuke ficou esperando na varanda de trás.
Quando Naruto voltou, estava com uma latinha de refrigerante de cola nas mãos. Ele entregou pro Uchiha, que percebeu que ela estava tão gelada que estava trincada.
Os dois se sentaram ali atrás. E enquanto Sasuke pegava o primeiro sanduíche pra comer, depois de dar um longo gole de refrigerante bem gelado, para matar sua sede, Naruto o questionou:
— Por que você tá cheirando a menta?
Sasuke tomou um susto. Menta?
— Ah, deve ser a pomada que a minha mãe passou na minha cara. — ele apontou pro próprio rosto.
— Hm. — Naruto ergueu as sobrancelhas, mas não disse mais nada. Ele se jogou relaxadamente sobre a varanda e ficou encarando a plantação dos fundos da fazenda, ali diante deles.
Sasuke foi comendo devagar, quieto.
— Valeu por guardar pra mim. — ele murmurou entre uma mordida e outra.
— Sem problema. — Naruto deu de ombros. — Foi nada demais.
— A Sakura já voltou?
— Que nada. — isso pareceu deixar Naruto de mau humor. Ele revirou os olhos. — Ainda deve estar com aquele panaca.
Sasuke percebeu que Naruto tinha ciúme do Sasori.
Bom, não que fosse surpresa, certo?
Ele ainda gostava de Sakura, isso era evidente pra qualquer um. E ela ainda parecia gostar dele também.
Sasuke só não entendia porque os dois não estavam juntos.
Provavelmente por causa do próprio Naruto, que tinha dito que não queria mais namorar com ela por causa da culpa.
Agora, ele estava de mau humor porque tinha que aguentar ver Sakura saindo com outros caras. Isso incluía Sasori.
Enquanto Sasuke terminava de comer o primeiro sanduíche, Naruto virou o rosto em sua direção e o encarou por alguns instantes antes de indagar:
— Você gosta dela? Da Sakura?
A pergunta pegou Sasuke tão de surpresa que ele até engasgou, e começou a tossir meio agoniado.
Naruto não disse nada, só ficou esperando pela resposta.
Depois de tossir bastante e se desentalar. Sasuke o olhou de maneira arregalada, sem saber o que dizer. Estava até com medo, na verdade.
Entretanto, Naruto abriu um sorriso de canto pra ele. A resposta estava evidente no rosto do Uchiha, afinal.
— Relaxa. Eu te entendo perfeitamente. — ele voltou a deitar relaxado na varanda. — Aquela mulher mexe com a cabeça de qualquer um. — ele riu um pouco antes de acrescentar. — As duas cabeças, na verdade.
Sasuke achou melhor continuar quieto, não querendo pisar em nenhum outro calo de Naruto. Já tinha aprendido a lição.
Mas a própria pergunta soava meio estranha. Ainda mais depois do papo com Mikoto naquela manhã.
O próprio Sasuke não sabia o que responder. Se gostava de Sakura. Ou de Naruto.
Ou dos dois ao mesmo tempo. Até porque isso não fazia sentido.
Como podia gostar de duas pessoas ao mesmo tempo? Um homem e uma mulher?
Isso tudo soava ridículo. Ele se achava ridículo.
Sempre se considerou uma pessoa confusa. Mas agora já era até demais.
Ele continuou comendo. Quando já estava terminando o terceiro e último sanduíche, Naruto pediu um pedaço. Ele tirou e deu. Naruto mastigou devagar.
Quando Sasuke terminou de tomar o refrigerante, os dois se levantaram da varanda.
— Bora dar uma volta? — disse Naruto. — É bom você andar um pouco pra digerir antes de se jogar na cama depois de comer tanto.
Sasuke concordou, e os dois foram caminhar pela fazenda.
Eles saíram andando em meio à plantação até chegarem nas beiras da floresta, nos fins da propriedade de Kakashi. O caminho todo foi silencioso. Pelo menos até Naruto perguntar em voz alta:
— Ei, me tira uma dúvida. Ontem eu bebi pra caralho e não lembro direito se te epdi desculpas ou não.
— Desculpas? — Sasuke ficou confuso.
— É, pelos… socos. — Naruto apontou o rosto dele.
— Ah. Pediu sim. — Sasuke respondeu de cabeça baixa enquanto caminhavam perto da cerca entre a propriedade e as árvores da floresta. Ele estava mais perto da cerca que Naruto.
— Pedi, né? — Naruto pensou, confirmando e parecendo aliviado. — Ah, bom. Eu nem lembro de muita coisa do que fiz ontem, pra falar a verdade. — confessou com uma curta risada.
— Você me pediu desculpas. Depois foi beijar um cara. — Sasuke murmurou baixinho, ainda de cabeça baixa, chutando uma pedrinha pelo chão de terra. — E não sei o que ficou fazendo o resto da noite. Fui dormir cedo.
— O quê? — o Uzumaki pareceu surpreso. — Quem eu…? — ele próprio pareceu se lembrar naquele instante. — Ah, sim. — riu mais um pouco.
Sasuke só continuou andando, mudo. A lembrança o deixava meio angustiado.
— Como é que você consegue fazer isso? — ele decidiu perguntar depois de um tempo, quando chegaram no limite máximo da propriedade. Ele se encostou na cerca para descansar um pouco.
Naruto parou ali perto para encará-lo, com as mãos nos bolsos.
— Fazer o quê?
— Gostar de duas pessoas ao mesmo tempo?
Naruto franziu o cenho, confuso.
— Você gosta da Sakura, certo? — Sasuke tentou esclarecer a pergunta. — E também gosta do Suigetsu, certo?
— É diferente. — Naruto respondeu com tranquilidade. — Suigetsu e eu gostamos de dar um amassos de vez em quando. Só isso. A Sakura é diferente porque eu a amo.
— Mas como… — Sasuke pareceu meio aflito. — Como você consegue? Gostar de garotos e garotas ao mesmo tempo?
A pergunta pareceu deixar Naruto confuso de novo. Ele parou e encarou as árvores de maneira pensativa.
No fim, olhou de novo para Sasuke e apenas deu de ombros.
— Não sei. Eu só gosto. — disse, ainda bem tranquilo. — Sempre gostei. E acho que sempre vou gostar.
— E como consegue ficar tranquilo com isso? — Sasuke ainda não conseguia entender nada. — Quer dizer, o seu pai…
— Meu pai é um merda. — Naruto o cortou, não querendo falar no seu velho. — Assim como todo mundo da geração dele. Nós não somos iguais. Eu não pretendo ser um babaca quando envelhecer, igual a ele.
Sasuke se calou, pensando a respeito.
O que Fugaku diria se soubesse que ele estava apaixonado por um garoto?
O xingaria de bicha pra baixo, e lhe daria uma surra, é claro.
Ele não queria nem saber o que o pai de Naruto — um policial renomado e conhecido por ser extremamente violento na cidade — deveria fazer com ele se um dia soubesse.
— Ei, Sasuke. — Naruto o chamou com seriedade, atraindo sua atenção novamente. — Quer a real? O pior preconceito não é o que passamos com os outros. É aquele que temos por nós mesmos.
Isso pegou Sasuke desprevenido. Mas o que aconteceu depois foi ainda mais surpreendente.
Lentamente, Naruto tirou as mãos dos bolsos e começou a andar devagar pra perto de Sasuke.
Como o moreno já estava encostado na cerca, não foi difícil para Naruto encurralá-lo ali, contra os pedaços de madeira.
Não foi exatamente um encurralamento. Até porque Naruto não fez nada demais a não ser se aproximar e parar a centímetros de distância dele.
Ainda assim, Sasuke paralisou ao se ver tão perto dele daquele jeito.
Naruto ergueu as sobrancelhas enquanto observava bem de perto o rosto meio assustado de Sasuke. Os dois tinham quase a mesma altura, e seus rostos estavam quase colados um no outro agora.
Sasuke engoliu em seco, seus olhos esbugalhados encarando os atentos e azuis de Naruto.
O loiro não fez nada por um longo tempo. Só ficou parado bem perto dele.
Em determinado momento, ele ergueu os braços pra frente, e suas mãos seguraram na cerca atrás de Sasuke. Ele agarrou a madeira que estava logo atrás dele, na altura da cintura do Uchiha.
Sasuke não conseguia pensar direito. Não conseguia erguer os braços pra frente e empurrá-lo pra longe. Não conseguia falar.
Não conseguia fazer nada além de encará-lo com um certo medo.
Naruto apenas o encarava de volta, sem dizer nada.
A brisa suave de verão bateu entre eles. Escondidos sobre as sombras das árvore, encostados sobre a cerca, Naruto perguntou baixinho:
— Você já beijou um garoto antes, Sasuke? — ele cochichou a pergunta bem baixinho. E se Sasuke não estivesse praticamente colado nele, nem teria ouvido.
O rapaz demorou alguns segundos até conseguir negar — de maneira quase imperceptível com a cabeça.
— E já teve vontade de beijar um garoto? — Naruto fez uma segunda pergunta.
E Sasuke se arrepiou ao tomar consciência de que ele estava perto o suficiente para sentir a respiração de Naruto sobre os próprios lábios.
Quando ele cochichou, seu fôlego quente deslizou suavemente sobre a pele do nariz de Sasuke.
O Uchiha se arrepiou, mordendo os próprios lábios.
Os olhos azuis compenetrados o encaravam atentamente, avaliando suas possíveis reações.
Ele estava aguardando Sasuke dar alguma resposta, ou até mesmo um aceno, sobre a pergunta que acabara de fazer.
Mas Sasuke não responderia. Porque nem processou direito a pergunta, já que estava mais concentrado na ideia de Naruto estar com o rosto a milímetros de distância do seu.
Os olhos escuros fitavam os dele de maneira nervosa. Sasuke até achava que infartaria em breve, porque seu coração estava muito acelerado.
Foi quando Naruto se aproximou ainda mais, e seus lábios roçaram nos de Sasuke.
Foi extremamente suave, quase insensível. Mas para Sasuke, foi como tomar um choque.
Ele sentiu a boca de Naruto encostar suavemente sobre seus lábios, e automaticamente fechou os olhos, prendendo a respiração.
Estava tremendo muito, mas não conseguia fazer nada a respeito.
Naruto pareceu pensar um instante antes de se aproximar mais uma vez.
Ele moveu sua boca até de Sasuke. Porém, ao invés de beijá-lo, deslizou seus lábios pelo queixo do Uchiha, fazendo uma pequena trilha ali na região.
Nossa… a boca de Naruto era extremamente macia. Sasuke percebeu isso pela maneira como ele ia praticamente flutuando sobre sua pele. Era como ter um pedaço de algodão lhe acariciando.
Os lábios dele pairavam sobre seu queixo, fazendo-o levantar a cabeça sem nem perceber, só para dar mais espaço para Naruto fazer o que queria ali.
Ele depositou um beijo no queixo dele antes de subir devagar para seus lábios entreabertos de novo. E dessa vez, sua boca capturou o lábio inferior de Sasuke, onde ele puxou e chupou de maneira extremamente deliciosa.
Se não estivesse agarrado na cerca, Sasuke provavelmente teria caído naquela hora. Igual no dia do chuveiro. E Naruto poderia ter lhe agarrado de novo.
Mas isso não aconteceu.
Ao invés disso, Sasuke apenas gemeu baixo sentindo seu lábio ser sugado.
Mas não aconteceu muito mais além disso.
Embora tenha permanecido de olhos fechados, Sasuke sentiu quando Naruto se afastou. Apenas o suficiente para, quando voltou para perto dele, suas mãos seguraram no rosto do Uchiha e ele encostar suas testas.
De maneira automática, as mãos de Sasuke se projetaram para a frente. E quando ele deu por si, estava com os braços ao redor da cintura de Naruto, só para mantê-lo perto. Não deixá-lo se afastar.
Ainda de olhos fechados, Sasuke sentia a respiração de Naruto contra seu rosto. Ele permaneceu com a testa grudada na sua, sem dizer nada.
Mas a maneira como ele lhe segurava, tão delicado e suave, foi o que fez Sasuke perceber que sua mãe estava errada.
Ele não era como ela. E Naruto não era como Fugaku.
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