“Nessa valsa
entre a vida e a morte
meu único parceiro
é o próprio diabo”
(Monica Maria)
Havia acabado de assinar minha sentença de morte.
Quando subimos ao nosso aposento, Yoongi não demorou em manifestar seu aborrecimento diante da minha decisão precoce e em como fui imprudente em propor algo de tamanha proporção, ainda mais pelo fato de nunca ter, sequer, entrado em combate alguma vez na vida, quem dirá com um possível gladiador romano – o que provavelmente o bispo faria questão de trazer.
Por um lado, senti-me frustrado pela falta de confiança em minhas habilidades por parte de meu marido, mas não podia tirar-lhe a razão sobre tudo.
O moreno percorria o quarto de um lado para outro, como se cada passo o ajudasse a aliviar toda tensão que sentia. Sua coroa permanecia na cabeça, o que fazia sua expressão rigorosa emitir uma aura ainda mais intimidante. As mãos se apoiavam na cintura como quem carrega um enorme peso nas costas no momento.
— Perdão, Yoongi. – ergui-me da cama, indo em direção ao mesmo, segurando seus ombros e o fazendo ficar parado a minha frente. Seus orbes escurecidos em preocupação fizeram meu peito de apertar. Encará-lo naquela situação era mais difícil do que parecia. – Mas estou fazendo isso por nosso povo. Podemos ganhar tempo com esse duelo e teremos um contrato com Roma, isso deve valer alguma coisa. – não suportava vê-lo me fitando daquela forma. Parecia ver a minha morte antes de acontecer.
O vi morder os lábios, contendo-se. Seu olhar pesava sobre mim com tamanha intensidade ao qual me encarava, parecendo enfrentar uma batalha interna, o que eu fiquei intrigado sobre do que poderia se tratar, afinal, apenas supunha que estava irritado comigo e preocupado, mas havia algo além em seus olhos, algo que eu não soube identificar.
— Yoongi, fale comigo, por favor. – pedi sentindo o desespero a dominar-me enquanto o silêncio alheio se prolongava numa tortura.
Suas mãos pálidas foram em direção as minhas em seus ombros, entrelaçando nossos dedos com ternura e levando minhas palmas até seu peito, próximo das batidas aceleradas de seu coração. Senti um calor emanando pelos meus braços enquanto meu peito se espremia em seu interior.
— Você sente isso, Taehyung? – sua voz estava embargada, tornando-a ainda mais rouca do que o comum. Permanecia a me encarar profundamente, senti-me afogar nos seus mares castanhos escuros.
— Sinto. – minha voz saiu entrecortada.
O moreno assentiu e eu soube o que aquilo significava. Era um ato simples aos olhos alheios, mas ali, naquele instante, possuía uma importância demasiada. Meus olhos arderam pelo desejo iminente das lágrimas saírem, mas as impedi. Tinha feito minha decisão e teria que lidar com ela como um verdadeiro monarca faria; de cabeça erguida.
↫ ✤ ↬
Os preparativos para o duelo foram mais rápidos do que o imaginado, o bispo não fazia questão de mascarar sua enorme satisfação e pretensão toda vez que passava por mim ou Yoongi. Precisava engolir meu intenso desejo de lhe arrancar aquele sorriso peçonhento de sua face venenosa em todos os nossos encontros, os quais, tornaram-se menos frequentes conforme o grande dia se aproximava.
Nas últimas noites, meu marido pediu que zelasse seu sono com um abraço, apenas isso. Infelizmente, poucas foram as carícias que trocamos em nossos momentos de intimidade, o que me fazia uma enorme falta, ainda mais perto de um momento tão crucial. Nem mesmo um selar de lábios chegamos a compartilhar, confesso que tive receio de tentar uma aproximação, então permaneci aproveitando cada minuto dos abraços noturnos. Doía-me mais do que um golpe a ideia do mesmo estar aborrecido comigo, porém, estava inseguro demais para trazer o assunto a tona.
Embora estivéssemos fisicamente distantes, Yoongi, em nenhum momento, me destratou ou fora rude comigo, entretanto, éramos mais como amigos do que casados.
Meus desabafos eram ouvidos por Hyejin – como Hoseok estava muito atarefado em vigiar a cidade atrás do misterioso assassino – minha treinadora se dispunha a me aconselhar sobre casamento.
— Ele não está irritado com você. – dizia a morena durante uma de nossas breves pausas – Tem raiva da situação no qual você se colocou. – tomou um gole da água em sua jarra – Ele está com medo de te perder.
— Então por que me afastar? – puxei um pouco do gramado abaixo de minhas pernas distraidamente.
— Para não se machucar. – franzi o cenho sem entendê-la – Tudo que ele consegue pensar quando está perto de você é no quão devastado ficaria se o perdesse, me entende?
Poderia ser o que afastava o moreno? Seria eu alguém que lhe faria tamanha falta e causasse uma perda relevante? Mas não somos casados a tanto tempo, embora, em meu coração, o sentimento é tão intenso quanto milhares de anos. Apesar de meu marido demonstrar afeição por mim, ainda não tenho certeza da profundidade de seus sentimentos. E, caso fosse isso, ele deveria tentar aproveitar o que temos agora, certo? É o que eu estou fazendo, ou tentando.
Tentar compreender os sentimentos e ações de outra pessoa era uma complexidade da qual não poderia solucionar por agora.
↫ ✤ ↬
Tinha sido impossível pregar os olhos naquela noite, o que fez meu corpo todo reclamar quando vi as primeiras luzes do amanhecer perpassarem pelas cortinas de veludo avermelhado. Observei uma fresta permitindo que uma linha de luz solar viesse até meu braço, que agora, estava a envolver o corpo quente e encolhido de Yoongi. Minha palma pousava sobre o peito do moreno enquanto era coberta pela semelhante do mesmo. Era tão deleitosa a sensação ardente que sua pele emitia sempre que tocava a minha, eu ansiava por tal a todo momento, especialmente hoje. Afundei meu nariz em seus cabelos negros, inalando seu aroma adocicado, deixando-me inebriado.
Aconcheguei meu corpo ao dele, fazendo com que me peito se colasse as suas costas, o que, quase imediatamente, fez com que o moreno se retesasse um pouco. Porém, antes que eu conseguisse uma abertura para investir em um contato mais intenso com meu marido, ouvi batidas frenéticas na porta, as quais ecoaram pelo quarto todo, despertando-me por completo.
— Tudo bem, eu irei. – Yoongi levantou-se preguiçosamente e o observei dar passos surdos até a porta.
Pela voz do outro lado, reconheci ser Jimin. Seu tom suave e mais fino era inconfundível as outras vozes rudes e secas que soavam pelo castelo. Tão logo, a conversa se encerrou e vi meu marido retornando com um pergaminho em suas mãos, o mesmo encarava-o com curiosidade, mas não o abrira. Assim que sentou-se sobre a cama, estendeu-me o papel. Rapidamente, ergui meu tronco até que ficasse sentado de frente ao moreno.
— Quem mandou? – indaguei apanhando o pergaminho e o abrindo.
— Jimin disse que é um recado de Jeongguk. – respondeu ainda com o olhar sobre o papel.
Reconheci a caligrafia de meu amigo de infância com alguns borrões que o mesmo tinha mania de cometer por escrever com pressa.
“Taehyung,
Volte vivo de seu duelo custe o que custar. Entende o que estou dizendo? Apenas assim poderei concluir a missão que me confiou. Está tudo pronto, mas preciso que retorne intacto.
Boa sorte, meu melhor amigo.
Jeon.”
Apertei o papel amarelado em minhas mãos enquanto sentia meu coração ser tomado pelo desespero do que estava por vir em poucas horas. Hoje poderia ser meu último café da manhã e isso começava a me apavorar a ponto de eu duvidar que fosse capaz de fazer alguma refeição antes do duelo. Aquela sensação agourenta rondava meu estômago a cada minuto que se aproximava do meio dia, quando seria realizado o desafio.
Havia treinado arduamente dia e noite para aquele momento, mas não tornava tudo mais fácil. Embora eu tivesse me esforçado muito por isso, ainda não conseguia ter uma postura magistral como Yoongi e Hoseok diante da situação. Eles conseguiam esconder sua vulnerabilidade com facilidade, coisa que eu ainda teria que batalhar muito para aprender.
Sentia as lágrimas brotarem em meus olhos, mas logo as contive, não era o momento para isso.
Inesperadamente, senti a mão quente de Yoongi envolver a minha com brandura. Ergui meu olhar em direção ao seu rosto, uma expressão tão dolorida quanto eu, quase como se o moreno fosse para o campo de batalha. Isso me lembrou do que Hyejin havia me dito, e era tolo como eu passei mais tempo preocupado com a minha relação matrimonial do que com uma possível morte. Creio que por conta do duelo ter sido ideia minha e por eu fazer isso em nome da proteção do meu povo, minha família e todos que amo e prezo. Não me arrependia em nenhum instante de oferecer minha vida para que pudéssemos ter alguma chance de evitar um banho de sangue pelo país.
— O contrato com Roma recebeu a assinatura do Papa. – informou Yoongi aproximando seu corpo do meu – Isso nos dará proteção se sairmos vitoriosos. – frisou as últimas palavras – Eu acredito em você, Taehyung, me desculpe por não ter dito antes.
— Deveria ter dito antes. – admiti vendo a culpa estampando seus olhos. Pensei que afastaria sua mão da minha, mas a mesma permaneceu ali – O que eu fiz foi em nome de centenas de vidas, Yoongi. – uma faísca de raiva se acendia dentro de mim – Estou tentando ajudar, entende? Qual é a sua desculpa? Por que me afastou dessa forma quando mais precisei? – eu não sabia da onde tinha tirado audácia de verbalizar toda minha frustração, mas agora que havia começado, iria até o fim. Eu amava meu marido, mas isso não significa que acatarei suas atitudes de cabeça baixa.
O moreno ficou inerte por alguns segundos, parecendo processar tudo que acabou de ouvir. O vi comprimir os lábios antes de desviar o olhar para baixo.
— Perdoe-me por ser egoísta. – ergueu o olhar novamente para mim – Não consigo suportar a mínima possibilidade de te perder. – confessou com a voz baixa.
— Por que não disse isso antes? – pousei o pergaminho ao meu lado da cama, deixando minha mão livre, que logo levei em direção ao tecido da roupa do moreno, agarrando-o.
— Eu não sei, Taehyung. – seus olhos estavam melancólicos – Eu nunca… – fez uma breve pausa, como se fosse revelar um segredo do qual não deveria – É a primeira vez que me envolvo dessa forma com alguém… – conteve-se – Estou fazendo um péssimo trabalho, não estou? – riu amargo ao desviar o olhar.
Me pus de joelhos sobre a cama, ficando mais alto que o moreno, agarrando sua camisa com as duas mãos firmemente, o puxando até que nossos rostos ficassem a milímetros de distância.
Refreei meu instinto de beijá-lo ali. Toda tensão entre nós estava me deixando com um desejo descomunal de brigar com o moreno, e ao mesmo tempo, de descontar tal raiva em seus lábios.
— Só seja sincero com o que sente agora. – pedi franzindo o cenho enquanto sentia minha respiração acelerar a cada inalada daquele perfume adocicado que emanava dele.
Seus dedos percorreram meu rosto, contornando cada traço existente ali e depois parando por sobre minhas bochechas, que sentia queimar.
— A verdade é que eu sei que você vai vencer. – aquilo aqueceu meu peito e não pude evitar de sentir a confiança subir – Porque você é extraordinário e nada, nem mesmo uma nação, pode mudar isso.
Não nego que fiquei esperançoso de que a resposta fosse diferente, mas por aquele momento bastava. Afinal, não poderia exigir dele algo que nem eu mesmo tinha dito ainda. Não queria ir ao duelo com tal frustração, então optei por aceitar suas desculpas e dar-lhe outra chance. Suas palavras tinham sido carregadas de sinceridade, isso era palpável em cada sílaba que pronunciou enquanto encarava fixamente meus olhos. Foi egoismo por parte dele se afastar antes, mas também não queria crucificá-lo por isso. Seokjin havia me dito que um casamento é feito de constantes provações, acho que essa foi uma de nossas primeiras.
Antes que pudéssemos prolongar aquele momento, batidas incessantes na porta anunciavam que nosso tempo havia acabado. Era hora de se preparar para o duelo.
↫ ✤ ↬
Ouvia uma chuva de murmúrios preenchendo cada vez mais a arena. Como os desafios em Elyndor eram apenas esportivos, a arena não havia sido construída em uma grande magnitude como as lendárias que existem no Império Romano. Nossa estrutura era composta apenas por uma pequena arquibancada que circulava um espaço mediano com chão de pedra acinzentada.
Aguardava em uma tenda do lado de fora enquanto Hyejin e Hoseok me ajudavam a finalizar os últimos preparos na armadura, esta, cobrindo apenas a região do peito e das costas. De acordo com o bispo, os romanos apenas protegiam essas partes do corpo numa luta, então exigiu que a minha não fosse diferente. Bom, ao menos as áreas vitais teriam uma proteção.
Não conseguia esconder meu nervosismo evidente no suor que escorria pela minha testa e meu rosto pálido pela falta de alimento desde o dia anterior. Mas sentia meu sangue fervendo nas veias, me energizando. Repassava todos os ensinamentos de Hyejin incessantemente. Sabia tudo na ponta da língua, mas não custaria nada relembrar um pouco mais para fixar de vez na mente.
Senti aquele aroma adocicado invadir o ar e olhei para trás, confirmando a presença de meu marido na tenda conosco. Tinha um sorriso amável em seu rosto, o que fez meu coração pulsar em minha caixa torácica.
— Podem nos dar um momento, por favor? – pediu o moreno e vi Hyejin me lançar uma piscadela marota antes de sair do local com Hoseok.
Yoongi se aproximou e notei que carregava uma espada, ainda na bainha, em suas mãos pálidas. Pude ver pelo cabo que se tratava de uma peça caríssima, já que era feito de um dourado intenso encrustado com pedras vermelhas que refletiam a luz do dia.
— Pedi que fizessem especialmente para você. – estendeu a arma em minha direção, a qual logo apanhei, surpreso por ser mais leve do que aparentava – É a espada de um verdadeiro guerreiro.
Desembainhei a espada num puxão firme, vendo sua lâmina prateada reluzir como uma estrela solitária no céu noturno. Era belíssima, embora sua função fosse tirar vidas.
— Obrigado. – sorri largamente antes de guardar a espada na bainha e encaixar a mesma nas amarras de cinto em minha roupa.
— Você está lindo, devo dizer. Sempre está. – se aproximou mais um pouco – Tenho mais uma coisa a lhe entregar. – o fitei curioso buscando outro presente em suas mãos, mas as mesmas estavam vazias.
Antes que eu pudesse lhe indagar o que seria, senti meus lábios serem silenciados pelos dele, fazendo todo meu raciocínio desaparecer. Seu beijo era calmo, mas eu estava deveras necessitado de seu gosto, então deixei que meus instintos tomassem conta, agarrando sua cintura com vigor, pressionando meus dedos contra seu corpo enquanto aprofundava nosso beijo, tornando-o lascivo.
Saboreava de forma sedenta os lábios de meu marido, sentindo nossas línguas buscarem uma a outra avidamente, como se fosse nosso primeiro beijo, o que não era, mas fora o primeiro que ignoramos qualquer tipo de timidez ou pudor.
Senti-me cambalear alguns momentos devido à intensidade do beijo, mas isso não nos impediu de continuar. Yoongi agarrava alguns fios de meus cabelos, bagunçando minha trança. E, somente quando o fôlego nos fora tomado, que nos afastamos, ofegantes e ruborizados.
— Faça o que for preciso. – foi tudo que disse antes de termos que nos despedir e eu trilhar meu caminho em direção a uma possível morte ou uma possível vitória.
↫ ✤ ↬
Assim que coloquei os pés dentro da arena acinzentada, recebi uma chuva de aplausos vindos de todos os cidadãos que estavam ali. Podia escutar alguns “Vida longa ao rei!” aqui e ali de alguns mais entusiasmados. Rapidamente, busquei Yoongi com o olhar, encontrando-o na arquibancada inferior, ao lado do bispo e dos outros nobres. Mais acima, avistei o rosto acolhedor de meu irmão, o que fez um sorriso reconfortante surgir em meus lábios. O quanto eu sentia falta dele e de Namjoon, embora goste da minha nova vida, ainda não dá pra evitar de sentir saudade da família.
Pensei no quanto meu irmão deve ter surtado quando soube do que eu fizera. Provavelmente quis vir até o castelo e me impedir, mas creio que Namjoon não tenha permitido, ele sempre conseguia colocar razão na cabeça de Jin.
Ouvi passos pesados contra o chão e avistei uma silhueta robusta adentrando a arena. Não precisei de muito tempo para identificar meu oponente. Como eu suspeitava, era consideravelmente mais alto do que eu e possuía o dobro da minha massa muscular.
Subitamente, uma empolgação pela luta se apoderou de mim, fazendo a adrenalina em meu corpo pulsar por minhas veias. Estranhamente, em meu coração, sentia como se tivesse passado por esse tipo de situação uma dezena de vezes, o que me intrigou em demasiado.
Meu adversário parecia salivar por sentir o gosto do meu sangue em sua boca, era possível sentir sua sede por morte apenas no modo hostil como me fitava.
Felizmente – ou não – antes que eu pudesse refletir sobre algo, vi Yoongi se erguer na arquibancada em seu traje vermelho-escuro. Creio que em breve o chão da arena também será coberto por aqueles tons. O mesmo ergueu seu braço no ar.
— Que comece a luta. – abaixou o braço num movimento rápido.
Logo, tudo que ouvia eram as batidas de meu coração retumbando em meus ouvidos. Todo meu corpo entrou em estado de alerta, aguçando meus sentidos. Sentia o ar entrando e saindo de meu peito, cada respiração tão lenta quanto a brisa da tarde que batia suavemente em meu rosto.
Desembainhei a espada assim que vi meu oponente soltar um riso sádico ao puxar seu machado para cima, erguendo sua lâmina afiada como uma navalha, parecendo cortar até mesmo um fio no ar. Não pude evitar de sentir um arrepio percorrendo minha espinha. Embora sua arma fosse intimidadora, ainda era mais pesada e lenta do que a minha, então não deveria ser tão difícil desviar de seus golpes bruscos.
Como imaginei, ele fora o primeiro a atacar. Avançou sobre mim com os olhos azuis arregalados ansiosos para abrir-me com seu machado.
Desviei o corpo para o lado, o que fez com que seu machado fincasse com um estrondo no chão, rachando um pouco o concreto. Engoli em seco vendo o tamanho de sua força. Se aquilo me acertasse eu não teria a miníma chance.
Novamente, o homem avançou sobre mim, dessa vez, com mais afinco. Seu machado veio em direção a minha cabeça, mas bloqueei o golpe com a minha espada, que, por incrível que pareça, não sofreu nenhum dano quando chocou-se com a lâmina de meu oponente, o que surpreendeu até mesmo ele.
Ligeiramente, aproveitei um instante de distração do outro para desviar-me para o lado, fazendo seu machado ceder para o chão novamente, o que aproveitei para desferir um golpe em seu braço, abrindo um corte rente de seu ombro até o cotovelo. Ouvi um urro de dor vindo do mesmo, que pareceu elevar sua fúria ao máximo. Observei o sangue pingando lentamente pelo chão, manchando-o do mesmo tom das roupas de Yoongi, como imaginei.
Dei alguns passos para trás, mantendo uma distância segura do meu adversário, agora, tomado pelo mais profundo ódio.
Seu avanço agora fora mais rápido do os anteriores, fazendo com que eu tivesse que recuar as pressas, mas, logo, via novamente seu machado quase acertando meu rosto, que consegui impedir com a espada. O mesmo utilizava o dobro da força anterior, tornando difícil segurá-lo por muito tempo, mas consegui desviar de mais alguns golpes, sempre com a espada.
As coisas tinham se complicado demais para mim e creio que as pessoas ao redor notaram isso também, pois a arena estava em profundo silêncio.
Os golpes com o machado ficaram cada vez mais incessantes e ágeis, chegando em certos momentos que quase senti a morte me levar. Por um momento, acabei por tropeçar diante da imensa força que o outro tinha, caindo no chão e ouvindo algumas exclamações vindas do público. Felizmente, consegui rolar, desviando de um golpe, mas logo vindo outro em seguida, e mais um.
Precisava me levantar ou seria uma presa morta em alguns instantes.
Quando o vi erguendo os braços para me acertar, chutei com força a sua perna, o que não o afetou muito, mas o desequilibrou por um breve segundo precioso do qual usei para desferir um corte na mão ao qual ele segurava o machado. Senti o sangue espirrando em meu rosto, então tratei logo de me afastar dali o mais rápido possível.
Ouvi o som do machado caindo sobre o chão e o homem segurando a mão ensanguentada. Logo, notei que o corte tinha atingido seu pulso, por isso causara tanto sangramento. Aquilo era um golpe fatal, ele não duraria muito tempo com aquele machucado. Ao menos consegui enfraquecê-lo, ou assim pensei.
Subitamente, avançou sobre mim sem arma nenhuma, desviou de meus golpes com a espada e, em seguida, segurou meu pulso com força, arrancando a espada de minha mão e atirando para longe na arena. Senti-me um completo tolo por ter sido desarmado daquela forma tão banal.
Meu adversário usou de sua mão boa para agarrar meu pescoço, erguendo um pouco meu corpo do chão e dificultando minha respiração. Estapeei debilmente seu braço sentindo o ar sumindo de meus pulmões conforme seu aperto se intensificava.
“Taehyung.”
Uma voz estranhamente familiar soava em minha mente e eu pensei que a morte havia me alcançado.
“Taehyung. Lembre-se.”
Senti uma corrente elétrica perpassando meu corpo após ter ouvido a última frase. Não conseguia entender o que significava, era como se meu corpo se lembrasse de algo que minha mente não compreendia.
Fui atirado contra o chão como um graveto, sentindo o baque em minhas costas causar uma dor quase que insuportável, fazendo-me ter a sensação de ter quebrado alguns ossos. Tossi algumas vezes tentando, desesperadamente, buscar o ar de volta.
Algo pinicava em meu interior, querendo sair em liberdade, mas não tive tempo de entender aquilo, pois meu oponente projetava sua sombra alta sobre meu corpo caído, o machado de volta em suas mãos cobertas de sangue que pingava em meu rosto. Acompanhei o golpe vir lentamente sobre mim, contando os segundos até a morte iminente.
Subitamente, senti como se uma faísca fosse acesa dentro do meu âmago.
Antes que o machado pudesse desferir seu golpe fatal, ergui meus braços, segurando a lâmina entre as palmas de minhas mãos.
Aquela corrente elétrica se intensificou enquanto sentia a dor descomunal dos cortes que tinha recebido nas mãos, mas, embora isso doesse como mil infernos, consegui segurar o machado. Pude ver um assombro passar pelos olhos azuis de meu adversário, que colocou toda sua força contra mim, mas não cedi em nenhum instante. Agora, era meu próprio sangue que escorria de minhas mãos e caía sobre meus lábios.
Retirando forças de algum lugar desconhecido dentro de mim, dei um impulso no machado, que acabou atingindo o nariz do meu oponente, causando mais um sangramento. O mesmo cambaleou para trás, me dando tempo suficiente de levantar do chão e puxar o machado de si, o empunhando de forma ligeira e, enfim, lhe desferindo um golpe diretamente em sua garganta, abrindo um corte rente em seu pescoço e tingindo toda minha roupa e o chão de vermelho.
Seu corpo morto caiu sobre o concreto, os olhos arregalados e sem vida me deixando uma estranha sensação de satisfação e medo.
Tão rápido quanto apareceu, a tal faísca se apagou e minha mente pareceu voltar ao normal. Comecei a sentir as dores espalhadas por meu corpo e atirei o machado longe, espantado com a forma que havia assassinado aquele homem.
Não houve aplausos, nem mesmo sons verbais, apenas o mais profundo silêncio que fora quebrado pela voz de Yoongi anunciando o vencedor. Em Elyndor é proibido festejar ou celebrar a morte de alguém, mesmo que de seus inimigos, por isso todos permaneciam quietos.
Mirei minhas mãos ensaguentadas, tanto com o meu sangue, quanto de meu inimigo. Os cortes jorravam seu líquido quente enquanto eu entrava em um estado de estupor.
Apenas uma questão rondava minha mente naquele momento: O que estava acontecendo comigo?
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.