Hoseok tossiu e tentou se recompor com aquela última frase. O que diabos Hyungwon queria dizer com aquilo tudo? Continuar tentando o quê e por quê? Não fazia a mínima ideia do que o médico estava falando naquele momento. Ele não estava tentando fazer nada! Okay, talvez ele tivesse essa não-tão-saudável fixação em Chae Hyungwon, mas ele não tentava nada além de saber mais sobre o mais novo! Porém, o jogador não disse nada relacionado a isso, somente questionou:
— Então você voltará a ser o meu fisioterapeuta novamente?
A voz de Wonho quase que transbordava esperança que parecia inválida para aquele momento. Hyungwon fez uma careta e ponderou. Nem a pau que Minhyuk iria concordar com aquilo de novo. O outro já deveria estar puto por ter que aceitar antes, agora então, iria jogar uma pedra em Hyungwon provavelmente.
— Será mesmo? Não estou muito convencido de tal. Minhyuk provavelmente irá querer me matar por fazê-lo trocar tantas vezes de pacientes... Mas se você insiste, contanto que não reclame como um bebê chorão depois — Chae respondeu com a voz séria. Wonho sorriu de canto de forma brincalhona.
— E se for eu quem pedir a ele? O doutor Lee parece ser um cara bem legal e que aceita bem as coisas — Hyungwon riu assim que escutou aquilo. Minhyuk era mesmo legal, porém também era o lobo em pele de cordeiro quando queria. Ao mesmo tempo que poderia ser um anjinho, no outro virava um verdadeiro demônio.
— O Minhyuk tende a ser bem temperamental às vezes, — Hyungwon pensou — mas pode tentar se quiser. Quem sabe não funcione, não é mesmo? — checou o relógio em seu pulso direito e franziu a testa — Eu tenho que ir agora. Preciso muito de um bom sono já que passei a noite toda acordado em um plantão. Estou quase dormindo em pé se deixarem.
— Posso fazer uma pergunta antes que vá, doutor? — o jogador pareceu estar com vergonha. Hyungwon assentiu, levemente hesitante — Posso estar sendo curioso e até rude, então quero que pedir desculpas antes, mas por que seu filho está internado aqui? Ele parece estar tão bem.
Hyungwon engoliu em seco e fitou o chão.
— Ele está com pneumonia no momento. Já está melhorando, porém ainda não está perfeitamente bem, então ficará no hospital por mais uns dias até se recuperar completamente — disse depois de algum tempo, com a voz afetada.
Wonho assentiu.
— Espero que ele fique bem logo. Desejo do fundo do meu coração que ele melhore, apesar de não o conhecer — Hoseok não sabia muito de onde aquilo tinha vindo, mas ele simplesmente disse de forma impulsiva. Sentia-se engraçado, porque tudo saía de sua boca sem ao menos ele notar antes, o filtro mental não estava funcionando.
Hyungwon assentiu e respirou fundo.
— Muito obrigado por isso, é muito gentil de sua parte — disse com um sorriso no rosto — Bem, eu tenho que ir agora. Se houver qualquer alteração em relação aos seus horários, ou até se eu virar seu médico, peça aos enfermeiros para que me avisem com urgência.
— Claro, não foi nada. E sim, eu irei pedir — ele acenou timidamente — Até qualquer dia, doutor Chae.
Hyungwon sorriu de canto e se afastou indo para o seu carro. Hoseok fez o mesmo, e assim que estava dentro do automóvel, com cinto de segurança e tudo, foi que ele teve uma grande ideia. Pelo menos era perfeita em sua cabecinha teimosa. Ligou o carro e dirigiu rápido até a primeira lojinha de brinquedos ali perto.
Saiu rapidamente do carro e tentou disfarçar-se para que ninguém o reconhecesse. Precisava de paz naquele momento, e teria que fazê-lo rápido. Escolheu um balão de gás hélio em forma de cachorrinho, um jogo de tabuleiro, um carrinho e um helicóptero de controle remoto, e também um ursinho de pelúcia. Não se preocupou muito com os preços, afinal de contas tinha dinheiro para bancar aquilo tudo e muito mais. Seu salário era tão grande que ele mal sabia quanto exatamente ganhava. Normalmente usava apenas o cartão de crédito Black Diamond para tudo e pronto.
No caixa, a mulher que trabalhava na loja de brinquedos o olhava de forma desconfiada. Sorte que ele usava óculos escuros e que também tinha um boné guardado no porta-luvas do carro. Assim que recebeu a nota fiscal e a sacola com os brinquedos devidamente empacotados para presente, Hoseok saiu dali de forma apressada. Nem ao menos sentia fome ou qualquer pontada de dor em seu tornozelo, apenas dirigia rápido o suficiente para conseguir chegar ao hospital logo.
Estacionou na primeira vaga livre que viu e logo estava no saguão de entrada do hospital com a sacola de brinquedos e com o balão amarrado em seu braço. Foi até o elevador com ajuda das muletas como apoio e apertou o botão do andar pediátrico. Lembrava-se exatamente do quarto onde vira Chae Hyungwon abraçado com aquela criança que surpreendentemente acabou por ser o filho do fisioterapeuta. Agradeceu aos céus por não haver paparazzi na entrada do prédio, assim como mais cedo.
Caminhou com um pouco dificuldade até o quarto e tentou se esquivar dos outros enfermeiros — inclusive Jooheon — que estavam no andar. Seu tornozelo começava a incomodar e sabia que Hyungwon iria reclamar por isso depois, mas que se foda. Ele iria fazer aquilo logo e não ligava. Sua pressa para voltar aos campos pareceu evaporar assim que entrou no quarto e viu o menininho ali sentado na cama, pintando um livro de colorir. Hoseok fechou imediatamente as persianas de uma das paredes de vidro para que pudessem conversar sem que Kihyun ou até mesmo qualquer outro enfermeiro ou pediatra os interrompesse.
— Olá — ele acenou de forma desconcertada. O menino pareceu confuso e até a ponto de chorar, mas logo Hoseok retirou seus óculos escuros, o boné e deixou as muletas de lado, sentando-se à beira da cama da criança. Os gizes de cera espalhados pela colcha de cama branca com pequenos ursinhos amarelos rodeados de blocos de montar, o livro aberto em uma página onde havia um caminhão de bombeiro pintado de forma um pouco desleixada e infantil, às vezes saindo da linha. Aquilo fez Hoseok sorrir quase que imediatamente. Viu o nome no prontuário ao lado da cabeceira da cama de hospital e constatou que o garoto se chama Chae Jinsoo — Não sei se você me conhece, Jinsoo, mas eu me chamo Shin Wonho e jogo no...
— Red Fighters Football Club — o menininho disse com um sorrisinho pequeno que brotou em seus lábios, agora ele parecia aos poucos reconhecer Hoseok como o jogador mais famoso do time. Deixou os gizes de cera e o livro de colorir de lado e se pôs de pernas cruzadas ao lado de Hoseok — Você é o capitão do time! O que faz gols legais.
Wonho assentiu e estendeu sua mão com o balão de cachorrinho.
— Isso aqui é pra você, Jinsoo — ele sorriu ternamente quando o menininho alcançou a fita do balão e o puxou algumas vezes, logo depois sorrindo de forma brincalhona.
— Obrigado, senhor Shin.
Wonho riu levemente.
— Pode me chamar de Hoseok, mesmo. Ou como preferir.
Jinsoo piscou várias vezes.
— Seokie? — questionou indeciso.
— Também pode ser esse nome. Agora, eu quero que me ajude com esse saco cheinho de brinquedos, Jinsoo — ele assumiu um semblante pensativo e levou o dedo indicador ao queixo, como se estivesse ponderando — Preciso dar eles a uma criança obediente e educada, mas não sei a quem dar.
Os olhinhos assumiram um tom brilhante de castanho e pareciam enormes. Quase como um cachorrinho que caiu da mudança. Aquilo fez as entranhas de Wonho se mexeram e se aquecerem, quase como se estivessem reagindo à fofura da criança à sua frente.
— Pode dar para mim — o menininho finalmente disse com a voz cheia de timidez. Hoseok gargalhou e puxou o saco de brinquedos para cima da cama, abrindo-a em seguida.
— Eram pra você desde o começo, campeão — ele fez carinho nos cabelos pretos e espessos do garotinho, que eram cortados em tijelinha, mas que caíam em ondas grossas sobre sua testa — Aproveite. Espero que goste.
O sorriso que cresceu tanto no rosto de Jinsoo foi o suficiente para que Wonho o puxasse para perto, para que pudesse o abraçar com força. Era quase como ele estivesse derretendo de tanta fofura! Colocou o menino em seu colo, apesar de seu tornozelo já estar bastante dolorido novamente, e começou a entregar os presentes para a criança.
— É um carrinho de controle remoto! — Jinsoo exclamou feliz. Ele estava tão animado assim que rasgou o papel de embrulho, que começou a tentar abrir a caixa com o dito brinquedo. Wonho ficou extremamente feliz quando viu que Jinsoo havia gostado dos presentes, inclusive do ursinho de pelúcia — Muito obrigado pelos brinquedos, Seokie!
Assim que o menino passou os bracinhos em volta do pescoço de Hoseok e o abraçou de forma apertada e aconchegante, o jogador soube o porquê de Hyungwon ser tão apaixonado por aquela criança. Afinal de contas, era o filho do médico, sim, mas dava para notar que Chae era apegado a Jinsoo ao extremo. E agora aquela era a resposta da questão. Jinsoo era um poço de fofura, gentileza, inocência e educação. Depois de longas horas — e sim, horas — Jinsoo finalmente parou de brincar com tudo. Ele havia feito Hoseok colocar pilhas em tudo que necessitava e também havia pulado na cama de forma energética. Somente parou de brincar quando Jooheon apareceu com uma bandeja de almoço para a o menino.
O enfermeiro ficou extremamente confuso ao ver o jogador de futebol ali.
— Você não é um médico e muito menos parente do Jinsoo — Lee disse colocando a bandeja sobre o apoio ao lado da cama para que o paciente comesse — O que está fazendo aqui? Alguém liberou sua entrada? Se Changkyun o ver aqui é capaz dele lhe expulsar a pontapés.
— Eu hm, acabei gostando de como as coisas eram aqui e trouxe algumas coisas para o Jinsoo — Wonho deu a desculpa esfarrapada que ele sabia que qualquer um descobriria ser mentira. Jooheon franziu a testa.
— Vou fingir que acredito nisso, senhor Shin. Tome cuidado com os médicos, principalmente com Im Changkyun, que é o pediatra encarregado. Provavelmente Hyungwon virá ver Jinsoo mais tarde, então peço que vá embora logo — ele sorriu de canto e virou-se para o menino, estendendo a mão para ajudá-lo a sentar-se corretamente — Então fofinho, vamos almoçar? Hoje tem batata cozida com queijo diet, bife, milho, arroz e uma sobremesa deliciosa de morangos.
Jinsoo ficou animado e logo se ajeitou de frente à pequena mesinha e começou a comer enquanto assista algum desenho na televisão que Jooheon havia ligado. O enfermeiro chamou por Wonho, pedindo que o jogador o acompanhasse até o lado de fora e foi isso que o homem fez.
— Eu não sei o que está pretendendo ao vir aqui, mas sabe os riscos de tal ato, não sabe? — Lee disse de forma séria assim que se encontravam do lado de fora — Hyungwon não gosta que pessoas fiquem se intrometendo em sua vida pessoal, e ele provavelmente irá te socar por estar aqui interagindo com o Jinsoo, mas eu vi o quão feliz o menino está, então deixarei por ora, mas quero que tome muito cuidado.
Wonho assentiu e logo depois sorriu para Jooheon.
— Muito obrigado, cara — de repente abraçou o enfermeiro, que ficou da cor de um pimentão, por estar abraçando seu maior ídolo do futebol — Pode deixar que não vou ficar por mais tempo. Daqui a pouco estou indo embora porque tenho que fazer uma avaliação física na sede do meu clube de futebol.
Jooheon assentiu e Wonho entrou rápido no quarto novamente, deparando-se com a imagem de Jinsoo terminando o seu almoço. O garoto também assistia um desenho de super-heróis que passava num canal qualquer de crianças. O jogador ficava apenas o observando enquanto sentia seu coração esquentar quase como um bule de água fervendo em fogo alto. Ele queria tanto cuidar daquela criança como sua própria, mas se Chae Hyungwon o visse naquele momento, iria chutá-lo até sair voando pela janela do quarto.
— Vamos brincar na brinquedoteca depois, Seokie? — Jinsoo questionou enquanto chamava a atenção de Hoseok para si. O jogador saiu de seu transe e assentiu, vendo que a criança já havia terminado de comer.
— Mas só depois, ok? — o atacante disse — Tem que ficar um pouco tranquilo depois de comer.
Jinsoo assentiu e empurrou a bandeja para longe da cama. Ajeitou-se sobre a mesma e sorriu enquanto assistia ao seu programa infantil. Durante aquele tempo todo, Hoseok ficou observando a criança e a forma com a qual ela se portava. Jinsoo era um menino incrível, mas havia só uma coisa diferente que o jogador havia notado. O menino não tinha nenhuma característica física de Hyungwon. Nadinha, nem os olhos ou até mesmo o nariz. Aquilo deixou o jogador intrigado o suficiente para ponderar o tempo todo, até seus pensamentos serem interrompidos pelo pedido do garoto.
— Agora já podemos ir para a brinquedoteca?
Wonho olhou para o relógio em seu pulso e ficou chocado com o horário. Havia ficado quase duas horas apenas observando a criança depois do almoço do mesmo.
— Vamos sim. Calce as suas meias e seus sapatos que nós iremos. Desculpe não poder te levar no colo, campeão, mas meu tornozelo tá machucado e tenho medo de te derrubar.
Jinsoo pegou as meias na mesinha de cabeceira ao lado da cama de hospital e começou a calçá-las.
— Você também tá machucado? — indagou enquanto se concentrava em sua tarefa — Meu pai disse que logo vou ficar bem, e que não preciso me preocupar muito... Então você também ficará bem logo!
Wonho engoliu em seco.
— Seu pai? — questionou.
— É! Ele é médico aqui.
— Entendo. Então vamos, Jinsoo?
O menininho desceu da cama e sorriu, estendendo sua mão para que Hoseok a segurasse. Os dois andaram até a brinquedoteca, onde havia poucas crianças naquele momento. Jinsoo correu para um escorregador colorido e começou a subir e descer, como um looping infinito. Hoseok apenas sentou-se perto de uma mesinha onde havia blocos de montar, livros de pintar e lápis de cor, e observou Jinsoo brincar.
Wonho não sabia quanto tempo havia passado, mas ele somente se assustou assim que ouviu aquela voz grave soar pelo local, junto com o barulho da porta abrindo com força. Chae Hyungwon parecia um bicho raivoso, querendo morder Hoseok a todo custo. Seus punhos estavam cerrados, os olhos arregalados de raiva e as narinas bufantes. O tórax subia e descia de acordo com que Hyungwon respirava fundo. Estava vestido com roupas limpas e diferentes, com o costumeiro jaleco por cima e com um crachá atarraxado ao bolso da vestimenta.
— O que diabos você pensa que está fazendo aqui, hein? — o fisioterapeuta grunhiu entredentes — Eu disse que não aceitava ninguém se intrometendo na minha vida. Eu odeio quando fazem esse tipo de coisa, e o que você faz? Se aproxima do meu filho! Eu não quero mais vê-lo aqui! Eu não quero mais tratá-lo, Shin Hoseok. Você rompeu todas as barreiras do aceitável.
— Mas pai, ele só estava... — Jinsoo tentou falar, defender Wonho, mas Hyungwon levantou a mão, para que a criança não dissesse nada.
— Não, Jinsoo. Não fale nada, por favor, querido. Este homem não tem direito de ter invadido a minha vida pessoal — Hyungwon passou as mãos pelo rosto — E eu também não posso discutir um assunto somente de adultos aqui na brinquedoteca do hospital. Fiquei aqui, Jinsoo... — o médico virou-se para Hoseok, portando seu físico severo e disse: — Você, venha comigo até a minha sala para que possamos conversar sobre isso agora mesmo.
Os passos pesados de Hyungwon pareciam os de um ceifador que levava sua vítima para a guilhotina. Sentiu-se apreensivo. Por que diabos Hoseok não havia ido embora mais cedo? Ah é, ver Jinsoo brincando, interagir com a criança, aquilo tudo parecia ter virado o maior vício do jogador. Era fofo brincar com a criança, era animador! Ele sentia seu coração se aquecer aos pouquinhos, quase como um forno assando um bolo de chocolate.
Quando ambos passaram pela porta do consultório de Hyungwon, o médico a fechou e virou-se com raiva para Hoseok, dando passos na direção do homem.
— Você não tinha direito, ouviu bem?! — bradou o médico, apontando o dedo para o outro homem ali dentro — Não tinha o menor direito de fazer o que fez! Por que estava com o meu filho? Por que você fez isso?
— Eu só queria fazê-lo feliz! Eu somente quis deixá-lo alegre enquanto ficava no hospital! Trouxe apenas brinquedos para ele e também brinquei com Jinsoo! Ele gostou de ficar comigo e até me reconheceu! Ele gosta de mim, ele gosta do que eu faço! Ele se divertiu comigo! — Wonho rebateu.
— Meu filho não é uma forma de caridade pra você conseguir se sentir bem ou contar para a mídia depois! — Hyungwon berrou, sentindo sua garganta arder como se estivesse pegando fogo — Ele não precisa dos seus brinquedos. Ele não precisa da sua atenção. Só deixe nós dois em paz!
Wonho sentiu o seu âmago doer. Queria gritar tanto com Hyungwon. Aquilo tudo havia o deixado completamente irritado! Como o fisioterapeuta ousava dizer que tinha usado Jinsoo somente para se sentir bem com a sua própria consciência?
— Primeiramente, por que você iria achar isso sobre mim, hein? Não é sobre caridade ou qualquer tipo de benfeitoria, pelo amor de Deus, Hyungwon! Não é sobre eu querer isso para dizer por aí o quão caridoso eu sou! — gritou, sua voz subindo de volume a cada palavra — Eu só quis conhece-lo, ter uma conversa legal com a criança e poder fazê-lo feliz mesmo que esteja doente dentro de uma droga de um hospital! E o que você pensa? Que eu sou aproveitador, que quero que a mídia saiba que eu visito criancinhas doentes no hospital trazendo brinquedos e balões de presente — ele respirou fundo e massageou as têmporas — Olhe para mim, Doutor Chae. Sou uma pessoa tão ruim assim a ponto de pensar que eu me aproveitaria desta forma de uma criança tão legal quanto o Jinsoo? Usá-lo para “melhorar” a minha aparência em frente às câmeras? Ah, por favor! Eu não sou um monstro.
— Mas mesmo assim você não tinha direito algum — o médico revidou, suas mãos se enroscando com força em torno da gola do casaco de Hoseok com força e de forma abrupta. O mais velho estava encostado a parede (tentava se apoiar a algo, por conta do tornozelo dolorido, evitando que caísse), enquanto o médico estava à sua frente, segurando-o por sua vestimenta — Não podia ter se metido assim na minha vida e na das pessoas que eu amo.
O outro estava tão próximo que Wonho sentiu o hálito de hortelã do médico. O atacante sorriu de canto, de forma irônica, quase que pingando veneno de sua boca, como uma cobra. Suas mãos foram parar na gola do jaleco imaculadamente branco de Chae Hyungwon, trazendo-o para mais perto ainda.
Olho a olho.
— Por que se sente tão ferido assim quando as pessoas tentam te conhecer melhor, Hyungwon? Você tem que deixar que as pessoas quebrem esses muros que estão erguidos à sua volta — murmurou calmamente, os narizes próximos o suficiente para que as respirações se misturassem — Por que não me conta tudo o que quer aos poucos? Não vou pressioná-lo a nada.
O médico engoliu em seco e seus olhos finalmente pousaram nos castanhos de Hoseok. Pareciam sinceros o suficiente, assim como a boca do outro, que estava entreaberta e brilhando com saliva. Aquela boca que normalmente só reclamava de tudo e falava um montão de baboseiras sem sentido, aquela mesma boca que fazia todas as mulheres e os homens terem tesão por Shin Hoseok.
E ali estava o jogador em carne, osso e músculos fortes. Respiração meio ofegante, pupilas dilatas, bochechas levemente coradas e possivelmente com pulsação rápida. Hyungwon sabia que ele estava daquela mesma forma também. As suas orelhas queimavam, mas tudo o que chamava sua atenção era como Hoseok afrouxava o aperto em torno do jaleco e seus dedos se posicionavam contra sua nuca. Aos poucos ele foi fazendo o mesmo, e quando deram por si, as bocas já estavam coladas.
O beijo fora calmo inicialmente, mas logo se tornou violento e brutal. As línguas tocavam uma na outra quase que como um vício. O frenesi era tamanho que os dois queriam somente diminuir cada vez mais o espaço entre seus corpos, mesmo que já fosse inexistente. Mordidas nos lábios inferiores um do outro, selares demorados, beijos no canto da boca. Aquilo tudo estava ficando demorado, e somente pararam quando Hoseok acabou sentindo uma pontada no tornozelo e grunhiu de dor entre os beijos.
Hyungwon parou de beijá-lo e logo notou a careta de dor que o jogador fazia ao tentar se equilibrar encostado a parede. Em algum momento as muletas haviam caído no chão, mas nenhum dos dois havia notado.
— Mas que merda — xingou o fisioterapeuta enquanto abaixava para pegar as muletas — Você dirigiu o tempo todo sem bota, forçou o pé, e com certeza fez coisas que não deveria ter feito. Ao menos tomou os remédios corretamente, não é? — Hoseok assentiu — Ah, ainda bem. Venha, sente-se aqui na minha cadeira.
Quando o jogador se sentou na cadeira estofada, Hyungwon imediatamente abaixou-se para olhar o tornozelo do outro. Tirou o sapato do pé alheio, começou a tocar o tornozelo de Hoseok, e assim que apertou levemente aquela área, o jogador soltou um sibilar de dor.
— O seu tornozelo inchou um pouco. Fez esforço demais hoje — ele suspirou e tirou a franja dos olhos — Seja mais atento ao que faz. Se quer voltar logo aos campos, então sugiro que seja mais cuidadoso com a sua lesão.
— Tudo bem, tudo bem. Me desculpe. Eu fui mesmo descuidado enquanto brincava com o Jinsoo — disse, enquanto sentia aqueles dedos leves dançando sobre a sua pele novamente, apesar da dor — Mas achei que não tinha nenhum problema nisso.
Hyungwon revirou os olhos.
— É quase como atirar no próprio pé — rebateu franzindo o nariz — E sobre o Minhyuk ser o seu médico, pode deixar que eu irei trocá-lo novamente para mim. Não posso aguentar alguém fazendo tantas coisas erradas e só piorando tudo. Depois vão falar que sou um péssimo fisioterapeuta por sua culpa.
— Quando diz “piorando tudo”, sobre o que está falando exatamente? — Wonho questionou confuso — Está querendo dizer que piorei o meu tornozelo ou a relação entre nós dois?
— Quero dizer que piorou o tornozelo. Quanto a “nós dois” ... Isso não existe.
— O beijo...
— Foi sexual. Pura tensão sexual. Sem sentimentos envolvidos.
— Então não há problema se acontecer mais vezes? Ou de outras formas? Tudo casual.
Hyungwon riu e levantou-se à altura do rosto do outro, apoiando suas mãos nos braços da cadeira.
— Talvez — sussurrou antes de encostar seus lábios aos de Hoseok, que apenas passou os braços em volta do pescoço do mais novo, trazendo a boca do outro para ainda mais perto da sua.
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— Então não tem problema ele ficar com o Jinsoo? — Jooheon questionou se aproximando de um Hyungwon totalmente perdido naquela visão da brinquedoteca. Hoseok estava sentado no chão acolchoado do lugar, enquanto ele e Jinsoo montavam um quebra-cabeças infantil. O fisioterapeuta piscou várias vezes, voltando ao mundo real e saindo de seus devaneios. Ele balançou a cabeça em negação, ganhando um olhar surpreso vindo de Lee — Há pouco você parecia que iria jogá-lo pela janela do quinto andar só porque trouxe presentes pro menino... E agora está deixando-o brincar com o Jinsoo sem reclamar. Algo aconteceu lá dentro do consultório?
— Não sei, Jooheon. Não faço a mínima ideia de mais nada, mas ele conseguiu me convencer de algum jeito — Chae respondeu rapidamente.
Jooheon assentiu e fitou Hyungwon de forma terna e completamente sincera.
— Se quer uma opinião amiga e sincera, Hyungwon, eu acho que o Wonho faz muito bem ao garoto. Ele o trata extremamente bem — Jooheon afirmou — Jinsoo gosta de futebol assim como eu, e além de estar presente na frente do ídolo do esporte, ele também está na frente de um amigo. Fiquei observando os dois o dia inteiro, e acredite ou não, Hoseok foi tão carinhoso e doce que achei quase que ele fosse um pai. Aliás, acredito que nunca vi alguém desconhecido tratar uma criança tão bem assim. Apenas dê um tempo. As coisas não vão se repetir.
— O que eu mais tenho medo é de que ocorra novamente — Hyungwon confirmou — Você sabe muito bem disso, assim como Minhyuk, Kihyun, Changkyun e Hyunwoo também sabem.
— Apenas arrisque para ver. Quem sabe as coisas não vão bem?
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