Estou sentada em uma das raízes queimadas da árvore que mais cedo era saudável e cheia de folhas há minutos, não parando de ver Renesmee andar de um lado para o outro desde então. Não a culpo pelo choque, mas os pensamentos pessimistas estão começando a invadir minha mente me deixando a beira da loucura, ela descobriu minha natureza sobrenatural, será que vai fugir? Sem contar a questão do beijo...
Mas vendo pelo lado positivo, ninguém veio nos procurar, seria ainda mais difícil ter que explicar o que está acontecendo para os nossos amigos e ainda não estou de bom humor o suficiente para aturar Jacob.
Sei que deveria ser paciente, mas o fato da ruiva não ter falado mais nada está quase me desencadeando uma crise de ansiedade, então, não podendo mais me segurar, grito:
- Pode falar alguma coisa, por favor!?
Ela para de andar e seus olhos arregalados focam em meu rosto.
- Sinceramente, eu não sei o que dizer.
- Está com medo de mim? – Diminuo drasticamente o tom.
A garota franze as sobrancelhas e bufa, vindo se sentar ao meu lado em seguida.
- Eu já te disse isso e vou repetir: Eu nunca vou ter medo de você, Hope Marshall. – A Cullen pega minha mão e aperta forte.
Meu coração se aquece com o ato.
- Mikaelson. Meu sobrenome verdadeiro é Mikaelson, Marshall é o da minha mãe. – Sorrio e ela faz o mesmo, não tinha o porquê de esconder mais nada dela.
- Então é um prazer finalmente te conhecer, Hope Mikaelson. – Brinca, deixando de lado o clima pesado de antes. – Vai me contar sua verdadeira história, ou eu vou ter que implorar?
Suspiro pesadamente.
- Ela é longa.
- Temos tempo. – Afirmou e se aproximou mais me incentivando a prosseguir.
- Vai se arrepender, sou um pouco mais complicada do que pensa.
- Não se preocupe, acho que posso aguentar. – Ela levanta o nariz de maneira confiante.
- Tudo bem. – Ri brevemente da sua expressão. – Tudo começou em Mystic Falls quando uma lobisomem sem matilha se identificou com a alma perturbada de um híbrido original ao ver um quadro que ele pintou...
Na próxima hora que se passou eu a contei absolutamente tudo sobre o lado sobrenatural de minha vida que eu tenho conhecimento, sendo interrompida vez ou outra com as suas perguntas curiosas.
Contei sobre o quase sacrifício quando nasci em Nova Orleans e tudo sobre Dahlia, Ester e um pouco da minha conturbada, porém amorosa, família. Por último, falei sobre o que realmente aconteceu no Instituto Salvatore e, como da primeira vez, recebi um olhar reconfortante.
Apesar de ter falado muito, não foi um terço do que realmente aconteceu, apenas vastas histórias contadas por Freya e Rebekah, já que meus pais se recusam a conversar sobre o meu passado comigo, eles acreditam que elas são irrelevantes e que só vão me deixar mais intrigadas.
- ... Como eu disse, eu venho de uma linhagem poderosa e antiga por isso meus poderes são tão instáveis, ás vezes eu não consigo controlar. – Ela desvia o olhar para o tronco da árvore atrás de mim e concorda com a cabeça.
- Você tem que treinar para poder lidar com a mágica?
- Sim, tenho. O pai das gêmeas ficou de me dar aula de autocontrole uma vez por mês, eu tinha toda semana, mas como intuito de vir para Forks era de não usar mágica eu abdiquei delas... Porém eu geralmente lido bem com isso. É mais difícil quando eu to distraída. – Digo insinuando o beijo e ela cora violentamente.
- Me desculpa... – Sussura e eu coloco seu cabelo atrás da orelha.
- Não estou pedindo para se desculpar, na verdade, eu é que deveria o fazer.
- Não foi culpa sua.
- Mesmo assim, eu poderia ter te machucado e...
- Mas não machucou, eu estou bem. – Ela me corta.
- Eu só quero que saiba... – Reluto com as minhas próximas palavras, mas elas precisam ser ditas. – Que se sentir em perigo e quiser se afastar, eu vou entender.
Renesmee está tão perto que eu posso ver o exato momento em que sua expressão passou de pacífica para estressada.
- Olha aqui, eu não tive medo de você nem por um segundo! – Vocifera estreitando os olhos. – Você sabe que nunca me feriria.
- Não intencionalmente, mas você viu o que eu posso fazer.
- Não comigo, droga! Depois da nossa conversa na campina, eu passei a confiar em você é vou seguir com a minha escolha. – É a primeira vez que eu a ouço xingar.
- Mas você ficou todo esse tempo em silêncio...
– Porque estava surpresa, não por temor. Já que não acredita em mim, vou ter que te mostrar como eu realmente me senti.
- O quê? – Pergunto confusa, mas ela me ignora e coloca a palma da sua mão em meu rosto.
De repente a cena do beijo volta a minha mente, mas por uma outra perspectiva, a dela. O desejo era avassalador em seus pensamentos e ela pedia por mais, queria que eu a tocasse, que a fizesse minha. Mas diferente de mim, ela sentia o meu toque como um choque elétrico que arrepiava todos os fios de seu corpo, um tipo diferente de brasas, mas com o mesmo resultado que teve em mim: o desejo.
A surpresa quando eu nos troquei de posição e a encostei na árvore não durou por muitos segundos, já que logo suas pernas se fecharam em volta de minha cintura automaticamente, a ruiva não conseguia focar ao seu redor, era como se estivéssemos em um quarto escuro e só eu era visível. Seu coração batia fortemente como se quisesse sair do peito, ela sentia as ondas de calor, mas pouco se importava... E então, eu a desgrudo de mim, deixando a sensação de confusão nela e de vazio em ambas.
Renesmee demora para focar os seus olhos desnorteados, mas quando o faz, vê as chamas percorrendo o tronco, transformando-o em cinzas os poucos. Seu primeiro pensamento é voltado a mim com medo de eu estar machucada. Quando percebeu que não, o alívio percorreu seu peito e ela suspirou baixo.
- Shuta incendia! – Grito a assustando e o fogo cessa no mesmo instante.
A sensação de supresa invadiu a mente da Cullen, as peças tinham se encaixado. Ela tentava dizer alguma coisa, mas a única palavra que saiu de sua boca foi: “bruxa”.
O cenário evapora de minha mente como fumaça e meus olhos voltam para o presente. Seu rosto queima em todos os tons de vermelhidão, acredito que a vergonha por ter me mostrado o que sentiu naquele momento íntimo esteja a consumindo, porém eu não poderia estar mais feliz, ela havia gostado tanto quanto eu.
- O-que foi isso? - Gaguejo depois de alguns segundos. - Você também é...?
- Bruxa? - Ela ri. - Não...
- Vai me contar o que foi isso que me mostrou ou eu vou ter que implorar? - Repito a última parte da sua pergunta a fazendo revirar os olhos. - Acho que agora não temos mais escapatória...
- Eu sei. - Suspira pesadamente. - Achei que poderíamos brincar de ser humana por mais algum tempo... Bom, esse é meu dom, sabe? Como vampira, posso projetar meus pensamentos e sentimentos na mente dos outros, mas como nasci quando minha mãe ainda era humana, eu sou uma híbrida. Por isso sou quente e meus olhos são castanhos.
Arregalo os olhos pasma com a sua resposta, com toda certeza não estava esperando isso.
O único som audível são os galhos batendo entre si por causa do vento, não falo nada, espero que ela acrescente algo a mais, uma explicação ou comentário, porém nada veio.
E então, sem poder segurar mais, a risada sobe em minha garganta e eu começo a gargalhar escandalosamente até minha barriga começar a doer e lágrimas botarem em meus olhos. Quando finalmente minha crise de riso para e vejo sua expressão confusa, minha ficha cai, não era uma piada?
- Não era brincadeira? - Pergunto e ela nega com a cabeça. - Mas vampiros não brilham!
- Claro que brilham... Você deveria saber, não disse que sua família também era formada por vampiros?
- Sim, mas os que eu conheço queimam no sol, por isso que nós bruxas temos que fazer anéis mágicos para que eles possam sair de dia.
- Mas a íris dos olhos são dourados ou vermelhos também? - Pergunta abismada e eu nego. - Nem a pele é fria demais?
- Não.
- Eu não consigo entender... – A ruiva me encara analisando meus olhos procurando alguma resposta neles, mas eu também não faço ideia do que é toda essa nova informação.
- Acho que existe mais de uma espécie de vampiros, afinal. – Comento, ela sorri tentando ignorar a loucura de sentimentos que ambos compartilhamos agora e deita sua cabeça em meu ombro, como se quisesse me dizer que está tudo bem. – Nós não podemos falar isso para nossa família, eles podem nos afastar se acharem que somos perigosas uma para a outra.
- Verdade, apesar de que não sei se posso esconder isso do meu pai... – Fala mediculosamente.
- Por que não?
- Como eu projeto meus pensamentos para que os outros possam vê-los, meu pai pode ouvir. Meus tios dizem que eu faço o inverso dele.
- Eu sabia que ele tinha respondido meus pensamentos naquele dia!
- Por isso que eu fiquei tão brava com ele. - Renesmee assente.
- Todos vocês tem um dom? – Pergunto interessada na nova espécie de vampiro que acabei de descobrir.
É loucura demais para a minha cabeça, porém a curiosidade sempre foi o meu ponto fraco.
- Não exatamente... – Afago seus fios rubros a incentivando para continuar. – Além do meu pai e eu, minha tia Alice pode ver o futuro e tio Jasper manipula as emoções dos outros. Já mamãe é um escudo contra todos os poderes relacionados a mente.
- Então Edward não poder ler os pensamentos dela?
- Só quando minha mãe permite e ela nunca quer dar o braço a torcer. – A garota ri me fazendo acompanhá-la. – Papai ainda se estressa ás vezes por conta disso, mas entende. Meu avô tem a teoria que se baseia na suposição de que seu traço mais marcante como humano se intensifica na imortalidade.
- E o restante, o que trouxeram?
- Bom, Carlisle trouxe a compaixão, ele é o líder do nosso clã, aquele que incentiva os filhos a serem bons, mas nunca os julga; Vovó Esme trouxe a capacidade de amar incondicionalmente as pessoas ao seu redor, ela é o coração da família. - Seu tom de voz é doce, demonstrando o carinho pelos avós. - Tia Rosalie trouxe a beleza inigualável e Tio Emmett a força, mas eu suspeito que a capacidade de ser irritante também veio junto.
- Você realmente os ama, não é?
- Com todo meu coração. - Diz e desencosta a bochecha do meu rosto para poder me olhar.
O rosto dela está perto o bastante para eu poder sentir a sua respiração descompassada. Inconscientemente, me aproximo ainda mais e quando nossos lábios iam se tocar, uma voz nos atrapalha:
- Todos os alunos do segundo ano se apresentem no auditório, por favor! - A voz da secretaria do diretor range entre os alto-falantes do estacionamento, fazendo a ruiva pular para longe de mim queimando de vergonha.
É a primeira vez que eu me sinto irritada com uma pessoa que borda o próprio suporte de pescoço para colocar o óculos.
- V-vamos? Não quero levar uma advertência. - A Cullen diz com constrangimento berrando em sua voz, começando a se locomover em direção aos prédios.
Me levanto rapidamente e a puxo, fazendo com que o seu corpo colida com o meu.
- Me prometa que vamos continuar a nossa conversa depois. - Digo.
- Hein? - Ela parece desorientada com a aproximação e eu arqueio as sobrancelhas de maneira maliciosa. - T-tudo bem, depois da escola vamos para a sua casa.
- Ótimo. - Dou um selinho em seus lábios e a solto, começando a andar. - Você não vem? Vamos levar uma advertência.
Já há alguns passos a sua frente, me viro para encarar sua feição tímida e rio quando ela passa por mim brava por conta da provocação.
Talvez eu nunca me acostume com o fato dela ter total poder sobre mim... E estou bem com isso.
***** Dusk Till Dawn *****
Avisto as gêmeas de longe apresentando Sophie para Jacob e Seth em frente a porta do auditório. A Newton joga os longos fios dourados por trás dos ombros e arqueia os seios fartos em direção ao black que ignora a mesma.
Quando Renesmee se aproxima, ele corta o que a loira estava dizendo e caminha em nossa direção perguntando exasperado:
- Aonde você estava, Nessie? Fiquei preocupado.
- E ela precisa te notificar cada passo que dá? - Respondo antes que ela, parando ao lado da ruiva que ainda não consegue me olhar.
- Por algum acaso eu falei com você, Marshall? - Ele me olha irritado.
- E eu pedi permissão para poder comentar algo, Black? - Revido o fazendo bufar.
- Tá, chega vocês dois. - Seth fala sorrindo, ignorando a tensão que paira entre Jacob e eu e se vira para Cullen. - O que aconteceu, Nessie? Seu rosto está vermelho.
- Está? - Tenta disfarçar com um pigarro e eu solto uma risada baixa. - Acho que passei muito blush.
- Claro... E foi a Hope que te emprestou? - Lizzie insinua maliciosa.
- Sim, como adivinhou? - Entro no jogo dela com a minha maior cara de santa.
- Não sabia que era fã de maquiagem, Hope. - Josie comenta arqueando a sobrancelha com um sorriso de lado se formando no rosto.
- Hmm, mas acho que esqueceram de repassar o batom, os que estavam usando saíram. Quer o meu emprestado? - A Saltzman loira continua.
Nesse momento Renesmee está parecendo uma cereja de tão vermelha.
- Jura? - Ironizo. - Acho que saiu quando tomamos água mais cedo. Mas não precisa, obrigada, Liz.
As duas me lançam um olhar debochado e eu pisco para elas.
- Vejo que estão passando bastante tempo juntas. - Sophie comenta para a ruiva e eu reviro os olhos.
- Sim, somos amigas. - A Cullen responde e por alguma razão a última palavra me incomodou.
Nós somos amigas, não é? Tudo bem que nos beijamos mais cedo, porém nada mudou, no máximo uma amizade colorida.
Meu estômago se embrulha, parece tão errado...
- Cadê o Liam? - Josie muda drasticamente de assunto.
- Quem? - Seth olha confuso para ela.
- Você estuda em uma cidade minúscula há tanto tempo e não sabe nem o nome das pessoas do seu ano? - Lizzie o olha abismada.
- Seth não fica na hora do intervalo conosco, ele prefere aproveitar o tempo vago dormindo em algum lugar e não presta muito atenção nas aulas de educação física, então ele só conhece as pessoas que tem a obrigação de interagir. - A ruiva explica, fazendo minha amiga concordar.
- Liam é nosso amigo, Seth. Quando ele chegar vou te apresentar. - Completo o vendo sorrir para mim agradecido.
- Ele teve médico hoje de manhã, só vai chegar na hora do intervalo. - Sophie diz tristemente e olha para as cadeiras do auditório que estão quase todas cheias. - Vamos entrar? Acho que a aula já vai começar.
Todos concordamos e entramos no recinto.
A sala com paredes azuis acizentadas está dividida em carteiras em forma de fileiras na frente do palco preto, aonde uma única cadeira está em cima do mesmo. Me sento junto de Lizzie nas que estavam próximas a porta, vendo isto, Jacob encaminha Renesmee para ficar ao seu lado no canto da parede, me fazendo ficar profundamente irritada.
Assim que todos os adolescentes se sentam e param de conversar entre si, uma mulher sai de atrás da parede falsa no fundo do palco e se senta na cadeira branca. Ela parece ser jovem, por volta dos seus vinte e sete anos, o cabelo ondulado castanho cai pelos ombros destacando os olhos verdes gentis da mesma.
- Olá, eu sou Maia, a nova professora de artes de vocês. - Ela sorri docemente. - Nesse semestre vamos aprender a como expressar sentimentos. Começando pela traição
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