Os olhos opalinos e brilhantes como a Lua cheia, estavam carregados de tristeza e um toque de vermelhidão por causa do choro da noite passada. Hinata odiava sentir-se vulnerável, mas toda vez que Sasuke retornava para a vila, as coisas se transformavam em um desastre.
Ela já estava farta da solidão, dos dias silenciosos na casa principal do distrito Uchiha e das noites gélidas que sua enorme cama de casal lhe proporcionava pela ausência de seu marido. Sua filha era o amor de sua vida, mas Aya já era uma adolescente e estava no começo de sua vida ninja. Infelizmente a garota também não tinha muito tempo para a mãe e Hinata não reclamava ou lamentava por isso. Sabia que as responsabilidades para Konoha eram necessárias para o crescimento e desenvolvimento da pequena Uchiha.
Sorriu e sentiu saudades da época em que ela era uma menina que não precisava se preocupar em manter um casamento sólido. Por mais que sofrera na sua infância com os treinos árduos do clã e com a busca do reconhecimento peo pai, a infelicidade que sentia naquele momento doía muito mais do que tudo que passara na vida anterior.
Sentia inveja dos amigos que estiveram em sua casa noite passada. Eles pareciam tão felizes, tão unidos.
Sakura era sortuda por ter Naruto e vice versa.
Sonhou um dia em estar no lugar da amiga de cabelos rosas. Se tivesse confessado seu amor a tempo…
Não, não, não!
Arregalou os olhos e se arrependeu por estar pensando em tamanho absurdo. Não! Ela não era esse tipo de pessoa. Seu amor por Naruto havia ficado no passado, no momento em que ela decidiu dar uma chance para Sasuke.
Quando a guerra ninja findou-se, Hinata estava disposta a confessar todo o seu amor para Naruto, mas ela fora covarde e a cada dia que passava, adiava aquela conversa tentando manter seus sentimentos ocultos. Entretanto, Sakura não hesitou na hora de corresponder ao amor que o Uzumaki sempre nutriu por ela.
Naquele dia Hinata chorou, mas prometeu enterrar a droga daquele sentimento e ficar feliz pela felicidade dos amigos. Era altruísta demais para remoer a uma paixão platônica e sem sentido.
Um amor infantil que fora deixado para trás.
Então o sequestro aconteceu e Sasuke fora seu "príncipe encantado", salvando sua vida e a de sua irmã naquela memorável noite. Ela se surpreendeu dias depois quando o Uchiha a convidou para sair demonstrando um estranho interesse por sua companhia.
Foi bom se sentir como a prioridade de alguém pela primeira vez na vida.
Ela não era a segunda opção naquele momento, e, tanto seu coração quanto seu ego inflaram.
A ex Hyuuga deixou rolar e com o tempo aprendeu a gostar do eremita de olhos bicolores e sorriso encantador. No começo ele era mais presente em sua vida, em sua cama e em seu coração. Mas Hinata descobriu que nem tudo eram flores, e os espinhos estavam cada vez mais afiados. Sasuke sempre deixou claro seus objetivos e sua missão em prol de Konoha. Ele possuía um débito incalculável com Naruto, com as pessoas daquela vila e faria de tudo para compensar os anos que estivera nas trevas.
Era louvável aquela redenção, ela jamais se colocaria nos caminhos do marido.
Mas infelizmente, Sasuke esqueceu que havia firmado um compromisso matrimonial; seus votos foram claros quando prometera sempre amar e honrar sua esposa, cuidar e não deixar nada faltar em sua casa e em sua vida.
Balela.
Seu coração vivia aos frangalhos, sua casa era vazia de amor e sua vida estúpida estava cada vez mais estacionada no fundo de um poço frio e escuro.
— O que eu fiz para merecer isso? — perguntou para si mesma enquanto terminava de se arrumar. Graças às intromissões do marido controlador, ela tinha um horário com o Hokage e não queria que ele notasse que algo estava errado. Sua aparência denunciava a infelicidade, mas Hinata aprenderá a usar uma boa máscara para camuflar a verdade. Ninguém precisava saber que sua vida era um verdadeiro fracasso.
(...)
O cheiro daquele escritório era uma mistura quente de pimenta vermelha com um toque almíscar. Hinata sentia-se animada pela primeira vez desde que aquela ideia absurda surgira. De um lado seria bom sair de casa diariamente, ter uma nova ocupação para a sua solitude. Mas de outro, seria completamente estranho passar tanto tempo ao lado de Naruto. Eles não eram próximos. Sua convivência se limitava a jantares em família por causa da velha amizade do time sete e de seus filhos.
Fora que ela sentia que o Hokage não tinha gostado muito daquela ideia repentina, mas conversaria com ele, claro, não dando a entender que realmente queria aquele emprego.
E falando em Naruto, ele ainda não havia chegado no lugar. Acabou saindo cedo demais de casa, quer dizer, não tão cedo, mas imaginou que o homem já estaria ali. Ainda bem que ela conhecia Shikamaru e ele parecia estar ciente daquela "reunião", visto que deixou ela entrar no recinto tranquilamente.
E lá estava Hinata apreciando cada detalhe do escritório particular do Nanadaime. Ela não sabia dizer ao certo qual fora a última fez que estivera ali, seus olhos percorriam cada canto da enorme sala, analisando o novo layout, enquanto ela chegava a conclusão que realmente fazia bastante tempo que não pisava naquele lugar.
Seus pés foram de encontro à mesa de madeira e ela capturou um porta retrato que estava virado para baixo. Achou estranho, mas imaginou que havia caído sem querer; era uma linda foto de casamento, onde Naruto e Sakura estavam sorrindo enquanto olhavam um para o outro em perfeita sintonia.
Eles eram lindos juntos e ela estava se odiando novamente por desejar aquilo que não podia ter.
— Hinata — a voz rouca misturada com o hálito quente fez todos os pêlos de seu corpo arrepiarem-se. A Uchiha virou-se abruptamente após soltar o porta retrato na mesa, colocando a mão no peito como reflexo do susto que levara — Você chegou cedo — ele acabou vendo a mulher parada analisando aquela maldita foto. Sentiu algo estranho no peito e ao invés de chamá-la ali mesmo da porta, sentiu uma necessidade de se aproximar da perolada — Fico feliz por você ter vindo.
— Naruto — com um movimento espontâneo, o loiro virou novamente o porta retrato na posição que o objeto estava antes da mulher mecher — Desculpe por invadir sua privacidade — Hinata corou ao notar as atitudes do Hokage. Se afastou dele e rumou em direção a enorme janela, tentando diminuir o nervosismo por ter sido pega no flagra — Desculpe também por ter chegado tão cedo.
— Tudo bem — seguindo os passos da Uchiha, Naruto ficou lado a lado contemplando a paisagem urbana de Konoha. De soslaio, ele sem nenhuma intenção estava decorando os traços do rosto arngelical de Hinata. Era incrível como o tempo havia parado para ela; continuava com a mesma aparência de quando tinha vinte anos tirando o fato do cabelo estar curto, mas o corte a deixava ainda mais linda — Em minha defesa, eu sempre chego bem cedo — sorriu amarelo tentando desviar os olhos para o horizonte.
Um silêncio constrangedor surgiu e um tipo de clima estranho havia se instalado entre eles. Não eram muitas conversas proativas que aqueles dois tinham, geralmente, se falavam por conveniência ou por extrema necessidade. Naruto odiava o fato de ter deixado a amizade esfriar ao ponto de morrer, mas o que sentia por Hinata era uma incógnita. Ele lembrava vagamente da época em que era adolescente, da época em que os onze de Konoha viviam em união. A ex Hyuuga sempre esteve ao lado dele, dando apoio e ouvindo seus desabafos quando ninguém mais tinha paciência para ele.
Suspirou sentindo uma saudade estranha perfurar seu peito. Pigarreou iniciando uma nova conversa:
— Sobre o emprego, Hinata…
— Naruto-Kun, quero pedir desculpas em nome do Sasuke — ela cortou a fala do Hokage se precipitando, porém o que ele se surpreendeu foi o falta do sufixo carinhoso na hora de se referir ao marido — Ele é meio precipitado e acaba dando ideias meio erradas com o intuito de ajudar as pessoas, quer dizer… me ajudar. E eu não quero que se sinta na obrigação de fazer nada por mim…
— Hinata! — seus dígitos foram em direção à boca miúda de forma carinhosa. Queria calá-la, mas não deveria ter tomado tal atitude inesperada. Os lábios da mulher eram macios e ele sentiu vontade de contornar devagar por toda sua extensão. Contudo, notou o que havia feito e puxou sua própria mão ligeiramente escondendo sua própria timidez — Você quer esse emprego? Topa trabalhar comigo?
Hinata ficou aturdida pelo gesto de Naruto. Sentiu uma necessidade de passar a mão no lugar em que ele havia tocado, mas se conteve. Ela teve a impressão que aquele toque havia marcado a sua boca, como brasas semi acesas. Desejou mais e se amaldiçoou por estar tão carente de contato.
— Você tem certeza? — deixando a loucura de lado, ela se recompôs, voltando o foco para o assunto pendente. Queria muito aquele emprego. Noite passada parecia uma loucura, mas naquele instante era a solução acabar um pouco com a sua solidão. Durante muito tempo Hinata pensou em pedir ao pai permissão para voltar a tratar assuntos do clã Hyuuga, mas ela sabia que o patriarca jamais aceitaria visto que ela agora era uma Uchiha. Uma mulher casada que saiu de casa no dia do matrimônio por livre e espontânea vontade. Não tinha como voltar atrás — Não quero que faça nada que não queira só para agradar meu marido. Ou por estar com receio de me dispensar.
— Não seja boba, Hinata. Como eu havia dito na sua casa noite passada, eu realmente preciso de alguém e porquê não você? Você é uma excelente ninja, tem a minha total confiança para versar documentos confidenciais — naquele momento ele já havia adotado uma postura séria e Hinata percebeu que Naruto não estava de brincadeira — Não é tão difícil, mas você terá que passar a maior parte do dia ao meu lado. Claro, terá sua própria sala nos momentos em que eu precisar conversar em particular com outros ninjas ou conselheiros, mas geralmente as ocasiões que isso ocorre são poucas.
A ideia de passar a tarde ao lado do Hokage era incrível, meio intimidante, mas seria uma ótima oportunidade de provar seus conhecimentos, suas habilidades, mesmo que para um trabalho deveras cansativo. Sabia que a parte burocrática não era fácil, mas sentia-se animada com aquela eventualidade.
— Eu aceito, Naruto-Kun! — pela primeira vez no dia, ambos expressaram uma felicidade genuína com sorrisos sinceros estampados no rosto.
— Ótimo, Hina — estranhamente gostou de chamá-la assim — Você pode começar no início da próxima semana. Irei organizar tudo para que você possa começar logo — ele estava animado e não conseguia esconder o entusiasmo. Seria ótimo tê-la ali por perto, mesmo que fosse repentino.
— Obrigada, Nanadaime. Nos vemos na segunda? — com a mão estendida para ele, Hinata sorriu quando Naruto apertou de volta enquanto seus olhos estavam fixos um no outro.
— Sim. Segunda nos vemos de novo e mal posso esperar para isso — com o polegar, fez círculos pelas costas da pequena mão de Hinata que ainda estava entrelaçada à sua. Era a segunda ação impensada que ele fazia naquela manhã, o que não passou despercebido para a Uchiha.
— Errr, então tá bom — sem graça, recolheu a mão passando a palma pela roupa — Tenho que ir.
— Mande lembranças para aquele Teme de merda — fez um joinha para ela, arrancando uma risada gostosa da mulher.
Na verdade ele que era um merda por estar agindo daquela forma com a mulher alheia. A carência é um porre mesmo, contudo, agora teria uma companhia feminina, gostava de conversar banalidades com sua antiga secretária que atualmente estava na missão de trocar fraldas e fazer vigílias noturnas com o seu bebê.
Mulheres tinham mais paciência que os homens. Prova disso era seu amigo Shikamaru que não aguentava ouvir meia dúzia de palavras que já estava resmungando um "que saco" para ele.
Aquela nova contratação mesmo que temporária seria bom. Ele estava precisando de novos ares em seu escritório e ter Hinata ao seu lado não tinha como dar errado.
A Hyuuga sempre fora uma excelente ninja, muito dedicada e carinhosa. A convivência entre os dois poderia dar certo, e aqueles sentimentos conflitantes que ele sentia por ela, poderia acabar dando início ao recomeço daquela antiga amizade.
Tinha tudo para dar certo e nada sairia dos eixos, certo?
Bem, ele esperava que não.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.