Naruto olhava para o relógio sobre a mesa pela vigésima vez no dia. Já haviam se passado mais de doze horas desde que Sasuke lhe confrontara e, para o seu desespero, não conseguiu ir atrás de Hinata depois disso.
Pela primeira vez, ele parecia assustado com a situação e incapaz de agir, pois o seu dever como líder estava deixando sua mente nublada naquele instante, sem saber o que fazer ou qual atitude deveria tomar em relação ao que poderia acontecer caso Sasuke ousasse fazer algum mal contra Hinata.
Sua mesa estava abarrotada de documentos importantes que precisavam ser assinados com uma certa urgência, porém a sua mente estava presa na mulher de olhos de Lua. O Nanadaime que sempre fora focado em seu trabalho como líder de Konohagakure, estava demasiadamente distraído e para piorar, o olho ainda continha uma coloração arroxeada, marcado como um carimbo pela quantidade de socos que havia levado do Uchiha.
E aquela infeliz lembrança fez com que o homem de olhos oceânicos despertasse daqueles pensamentos conflituantes.
Não!
Naruto não iria conseguir trabalhar estando preocupado com Hinata ou criando várias possibilidades em sua mente concernentes àquela nova situação. Ele nem precisava pensar que seu dia seria uma merda caso não fosse atrás da mulher o quanto antes. Por isso, levantou-se da cadeira de maneira abrupta, ignorando a quantidade de trabalho que deveria estar fazendo no momento, indo em direção a porta de saída de seu escritório.
Todavia, antes mesmo de virar a maçaneta, a figura espontânea e comunicativa que possuía os mesmos olhos claros que a sua amada, abriu a porta do lugar, dando de cara com ele, portando uma expressão que fazia todos os pelos do corpo de Naruto se arrepiarem de um jeito bem ruim.
— Hanabi?
— Naruto… Minha nee-san está com você?
Não!
Ela não estava!
E ele começou a se odiar internamente por não ter ido atrás de Hinata logo após a visita de Sasuke.
— Eu me despedi dela logo após jantarmos, ainda era cedo. Ela não voltou para casa?
— Não, Naruto. Tínhamos combinado de fazer compras juntas logo no início da manhã e sabe como Hinata é metódica e responsável em relação aos seus compromissos — respirou fundo — Eu esperei, mas ela não apareceu e quando fui perguntar sobre ela para os guardas que protegem a entrada do clã, eles me disseram que ela saiu cedo de casa na noite anterior e não retornou.
— Droga! — o loiro praguejou.
— Pode parecer bobeira, mas estou com um sentimento ruim. Ontem durante a madrugada uma sensação estranha me dominou, mas eu tentei ignorar. Não sei, posso estar sendo paranoica, mas eu senti algo perturbadoramente familiar e ao mesmo tempo divergente.
— Sasuke retornou à vila e ele sabe sobre nós.
Hanabi suspirou alto, fazendo questão de transparecer o medo que evidentemente estava sentindo. Ela gostaria tanto, mas tanto que Sasuke não fosse capaz de fazer nenhum tipo de mal contra sua irmã. Mas aquele frio na espinha que insistia em persistir desde a noite anterior, deixava qualquer que fosse a suspeita cada vez mais clara.
— E o que você está fazendo que não está ao lado da minha irmã?
Perguntou ríspida, sem conseguir pensar direito, porque o foco era Hinata, no seu ‘’sumiço’’, nas reações exageradas e palavras cruéis que com certeza Sasuke jogaria para cima dela.
— Desculpe! — Naruto estava se sentindo culpado — Com as provas chuunin se aproximando, eu estou tendo mais trabalho que o normal e eu não pensei que Sasuke fosse capaz de ir atrás de Hinata. Eu conheço o Uchiha, ele foge de qualquer intriga que envolve sentimentos — disse, fazendo uma careta ao se lembrar do ex amigo.
— Conhece? Tenho quase certeza que um homem ou qualquer pessoa que descubra uma ‘’traição’’ é capaz de fazer coisas descomunais.
— Eu sei Hanabi, mas como um ex nukkenin, Sasuke sabe que qualquer erro leva ele direto para a prisão, ou até mesmo para a morte.
A Hyuuga piscou, tentando processar aquilo, mas não era ingênua a ponto de acreditar naquele homem que foi seu cunhado durante tantos anos.
Qual é?
Todo mundo sabe como funcionam os sentimentos de um Uchiha. Por bem ou por mal, eles são pessoas intensas demais que tendem a sentir tanto o ódio quanto o amor de forma terrivelmente exagerada.
— Vamos atrás de Hinata!
Não era um pedido, ela sabia que estava sendo muito deseducada com o Hokage de Konohagakure, mas era sua irmã e todos os cenários cruéis que sua mente criava a cada segundo longe de Hinata, estavam deixando-a aflita. E Naruto também sentia esse temor correr em suas veias. Lampejos da madrugada invadiam sua mente: o olhar de Sasuke sobre si quando teve certeza de que ele estava com Hinata, a fúria desenfreada que sentiu através dos socos do moreno e a profunda tristeza ao sair do seu apartamento. Quer dizer, Naruto achava que Sasuke estava decepcionado ao ponto de transparecer alguma coisa que chegava perto de ser tristeza.
— Vamos, Hanabi!
A cabeça dele se esvaziou por um momento antes de voltar lentamente a ser preenchida com pensamentos intrusivos. Não era hora de ser um covarde que ficaria assustado com o próprio medo. Aquele aperto no peito ficaria de lado, pois a sua prioridade no momento era ir atrás de Hinata e achá-la em segurança.
…
O cheiro de temperos incomuns saturavam o ar no interior daquele recinto. Ela sentia o estômago revirar cada vez que fitava o albino em sua frente, que comia o jantar de forma despreocupada, enquanto ela tentava não transparecer o terror que refletia através de cada célula do seu corpo.
A garganta de Hinata estava seca, os olhos marejados com lágrimas que ela evitava com muita força serem derramadas, e o coração batia fortemente, tão forte que poderia ser ouvido a quilômetros de distância. Nunca em toda a sua vida ela poderia imaginar que voltaria a vivenciar o mesmo pesadelo duas vezes seguidas. Odiava Toneri, odiava o quão fácil foi ser capturada por ele e odiava ainda mais a sensação de fraqueza e vulnerabilidade que estava sentindo.
— Coma sua comida, Hinata, e pare de chorar — a voz profunda e fria interrompeu seus pensamentos, fazendo-a engolir seco e limpar as lágrimas que ela lutou tanto para não derramar.
— Não estou com fome — ela respirava mais depressa, tentando não ser rude com ele. Realmente não estava com fome e mesmo que estivesse, se negaria a comer qualquer coisa que viesse dele.
— Você age como uma pirralha chorona — com um olhar cínico, o homem insultou a morena, sem sequer alterar a voz — Não vou te obrigar a comer, Hinata, mas se estiver tentando fazer mal ao seu próprio corpo, saiba que não hesitarei em tomar medidas necessárias sobre isso!
— Fazer mal ao meu próprio corpo? — perguntou confusa.
— Não se faça de idiota, Hinata! Sei que não concorda com a sua sina, mas não pense que deixarei você fazer mal ao templo que irá gerar os meus bebês.
O estômago dela revirou tão forte, que ela seria capaz de colocar suas próprias entranhas para fora.
Como Toneri era louco!
Como poderia ter pensamentos tão insanos?
Por Kami!
Hinata tinha que sair daquele lugar o mais rápido possível, pois sabia que dessa vez ele não iria hesitar em lhe fazer mal. Ele era um lunático sem senso de empatia.
— Tente reconsiderar, Toneri-Kun — tentou soar o mais calma e gentil possível — Não estou mais na flor da idade. Não poderei gerar os muitos filhos que você deseja. Entretanto, acredito que muitas moças jovens do meu clã poderiam lhe dar aquilo que deseja. Tenho certeza que meu pai poderia fazer um acordo com você para ter seus filhos com as nossas Hyuugas.
É claro que aquilo era mentira. Hinata jamais permitiria que qualquer mulher fosse dada para aquele crápula, ainda mais uma de seu clã. Todavia, precisava ganhar tempo para que alguém notasse sua ausência e pudesse encontrá-la o mais rápido possível.
— Você acha que eu sou idiota, Hinata? Acha que vou cair nesse papinho? — ele levantou-se da cadeira e caminhou até ficar atrás dela — Eu quero você, porra! — gritou, batendo fortemente na mesa, fazendo-a dar um pulo pelo susto — Você vai me dar um filho, nem que eu te amarre e te possua até você engravidar — ele chegou pertinho da perolada, sussurrando o restante em seu ouvido — Mas garanto que se você for permissiva e me deixar te comer sem lutar, poderei te dar muito prazer no processo.
A repulsa estava presente em cada centímetro do corpo de Hinata. Ela permaneceu imóvel; mas a raiva e o medo lhe dominavam a cada segundo que encontrava-se na presença de Toneri.
Embora não pudesse controlar aqueles sentimentos que permeavam seu âmago, a perolada não iria fraquejar, nem que lutasse até o fim por sua liberdade, ela não deixaria que o Otsutsuki lhe fizesse mal.
Ainda assim, não conseguiu controlar o mal estar que escureceu seus sentidos abruptamente, fazendo-a apagar completamente antes que pudesse entender o que estava acontecendo.
…
No antro vazio e escuro, haviam pouco mais de cinco pessoas presentes. Naquela hora do dia, apenas desocupados e amargurados frequentaram o local.
De todos os lugares que Naruto imaginou encontrar Sasuke, aquele seria o último. Entretanto, foi onde o loiro sentiu a presença do chakra do Uchiha.
O chão daquele lugar era pegajoso e o cheiro de álcool e suor impregnava as narinas de qualquer um que entrasse ali sóbrio. Contudo, mesmo estando tomada por repulsa, a preocupação falava mais alto, fazendo o Nanadaime ignorar qualquer coisa que não fosse notícias de Hinata.
— Sétimo Hokage — um bêbado qualquer gritou embolando as palavras, chamando a atenção dos outros homens que estavam presentes naquele bar de quinta.
Naruto nunca frequentou um lugar como aquele. De vez em quando ele saía com Shikamaru ou com outros amigos para beber, mas nada chegava aos pés daquele lugar.
Era como se estivesse entrado ao fundo do poço.
— Sasuke! — o homem de olhos azuis bradou ao avistar o moreno logo à frente, ignorando o burburinho que sua presença causou.
O corpo do Uchiha se contraiu de um jeito que não era natural. Ele virou para trás, olhando para Naruto de uma forma vacilante, mas seus olhos continuavam frios, ainda mais frios que o normal e de repente, seus ombros estavam relaxados novamente, sinalizando a embriaguez. Isso incomodou Naruto em demasia.
— Onde está Hinata? — a pequena Hyuuga que até então estava calada, foi para cima do homem, exigindo uma resposta de imediato.
— Hinata? — com a voz carregada pela bebedice, Sasuke perguntou confuso — Não vejo Hinata desde a última vez que estive em Konoha.
— Mentiroso! O que você fez com a minha nee-sama?! — gritou, indo para cima do moreno novamente, ativando seu Byakugan em seguida.
— Calma, Hanabi. Do jeito que esse idiota está, não iremos conseguir chegar a lugar nenhum — Nem ele conseguia permanecer calmo naquele momento, mas alguma coisa lhe dizia que Sasuke estava falando a verdade — Sasuke, seu dobe, onde a Hinata está? Ela sumiu, idiota! E se você tiver alguma coisa a ver com isso, eu não vou hesitar em te matar!
— Talvez aquela mentirosa traidora encontrou o castigo que merece — riu cheio de sarcasmo, sentindo seu corpo ser erguido do banco velho que estava sentado e arremessado na parede dura com violência.
— Cala a sua boca, seu inútil. Não fale merda da Hina, porque eu juro que te mato! Eu juro que acabo com a sua vida, Sasuke, se alguma coisa acontecer com ela.
Como ele se atrevia a desejar qualquer coisa ruim para alguém como Hinata? Naruto sabia que ambos não começaram sua relação da maneira mais correta possível, entretanto, ele não ficaria calado ao ouvir aquelas merdas vindas da boca do Uchiha.
— Tsc! Eu não sei nada sobre a Hinata, porra! — Sasuke levantou do chão, tentando se recompor de forma desengonçada. Se não fosse trágica a situação, seria até engraçado ver o Uchiha tão bêbado — Você comeu a minha mulher, Naruto! Você roubou a minha mulher! Eu é quem deveria estar puto e não você.
— Isso não importa agora, Sasuke.
— É claro que importa! A Hina era a única coisa importante que eu tinha na minha vida. Ela me escolheu em uma época onde ninguém via valor em mim — sorriu sem graça nenhuma — E mesmo assim você conseguiu roubar até mesmo essa pequena felicidade que eu tinha.
— Não é hora para discutirmos isso, Sasuke! A Hina sumiu e ao invés de nos dar alguma resposta, você está aí bebendo de forma desprezível.
Ele poderia falar o que pensava a respeito daquela lamentação vinda do moreno. O Uchiha nunca mereceu o amor de Hinata e mesmo se não amasse a mulher como ele amava, ele ainda concordaria com aquele pensamento.
Sasuke não soube dar valor à esposa e Naruto acreditava fielmente que não tinha roubado nada de ninguém. Apenas o destino fez seu papel ao finalmente unir os dois como deveria ter sido desde o princípio.
— Tem certeza que ela fugiu, Naruto? Às vezes se cansou de você — lançou um olhar bem debochado.
— Eu contatei a equipe de reconhecimento e ninguém consegue sentir o chakra dela. A Hina definitivamente não está em Konoha — passou a mão no rosto de forma cansada, suspirando sem paciência nenhuma — Por favor, Sasuke, se você fez alguma coisa, está na hora de falar a verdade. Eu exijo de você uma explicação!
— Já disse que não vi a Hinata desde que cheguei, mas…
De repente, a embriaguez ficou em segundo plano quando Sasuke lembrou-se dos detalhes de sua missão. Lampejos do real motivo de ter ido correndo para Konoha iluminaram a sua mente, deixando-o levemente preocupado pela primeira vez desde que Naruto apareceu naquele lugar.
— Mas?
— Droga! Acho que sei o que pode ter acontecido com a Hinata.
— Então fala logo seu idiota! — Hanabi gritou, ignorando qualquer bom modo que poderia ter naquele momento.
— Sei que você me odeia nesse momento mais do qualquer pessoa, Sasuke. Mas se você sabe de alguma coisa em relação a Hinata, fale logo!
A expressão vazia que o rosto de Sasuke assumiu fez Naruto estremecer internamente. Com certeza coisa boa não iria sair daquela boca de merda.
Mesmo sentindo calafrios por todo o seu corpo, o Uzumaki não estava preparado para ouvir o que o Uchiha falou em seguida:
— Toneri Otsutsuki sequestrou Hinata.
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