O local onde os chefs iriam ficar era lindo! O chão de terra batida dava vida a um cheio campo esverdeado. O vermelho das flores vívidas dava certeza de que a primavera havia chegado e o cheiro da natureza contrastava com o jeito urbano dos que lá ficavam. A copa das árvores fazia um belo sombreado e acompanhava o topo das barracas azuis preparadas anteriormente pela produção:
- Mas é claro que no poderia ser uma barraquinha pequenininha... isso aqui é MasterChef. - Paola disse irônica ao avistas as imensas tendas.
- Cabem cinco de mi aqui.
- Cinco Jacquins? Putz, que barracão, hein?!? - Fogaça brincou.
- Vai ser MasterChef Indiana Jones isso aqui, parece um filme de acción essa producción. - Jacquin acrescentou.
As tende eram realmente enormes, com um colchão de casal posto ao meio, araras com as roupas necessárias para os dias de gravação e fotos promocionais, um grande sofá — Como eles conseguiram enfiar um sofá em uma tenda? — um frigobar movido a bateria e uma cabeceira improvisada, além de um pequeno espaço onde eles poderiam guardar as roupas que trouxeram:
- Wow, a gente vai pode brincar muito aqui. - Henrique disse aproximando-se da chef, que admirava seu camarim.
- Fogaça, que susto, meu! - Ela pôs a mão no peito e apertou o braço do roqueiro. - No, a gente no vai fazer nada. Aqui é trabalho, lembra? Trabalho. Trabalho. Trabalho.
- E todas as coisa que a gente faz não fazemos no trabalho? - Ele sorriu.
- Sim... mas no. Aqui no. To cansada, quero descansar.
- Ainda tá brava comigo? - Seu semblante era sério.
- No sé.... Não, no é isso, é esse lugar, no me dá vontade. E tá todo mundo do lado de fora, Henrique! Acho que eu tenho o direito de negar sexo por alguns instantes, né? - Ela desviava seu olhar, encarando o nada.
- Claro que tem, Pao. - Ele encostou seus lábios na bochecha dela em um beijo carinhoso. - Curte aí o seu camarim. Vou te deixar sozinha.
Ela pegou nas mãos tatuadas do cozinheiro, reparou nas linhas pretas que contornavam suas veias por alguns instantes, e as beijou. Assim que o tatuado foi embora, Paola arrumou suas coisas no pequeno espaço reservado para isso, foi até o frigobar pegar uma bebida - ficou impressionada quando viu que tudo o que tinha eram garrafas de água mineral, latinhas de refrigerante e garrafas de chá gelado do patrocinador. Até o chá? Como pode chá industrializado nesse poço de natureza?!?
Paola bufou. De repente uma vontade de cozinhar veio à tona. Era uma vontade diferente, não daquelas que ela tinha no restaurante ou até mesmo no programa. Era uma vontade de cozinha mais simples, da natureza, de coisa que vem da terra. Ela estava em um espaço maravilhoso cercada de coisas industrializadas e sem conexão com as raízes... Tá aí, ela iria procurar se conectar com suas raízes. Procuraria algo pra fazer, talvez um chá. Um chá. Um chá para compensar o conteúdo horrível daquela garrafa horrível plastificada. Saiu em busca de alguma planta não muito convencional, haviam jabuticabeiras, pitangueiras, até um pé de manga, mas nada que agradasse a morena. Ela fitou as plantas por alguns instantes quando foi parada por Ana Paula:
- O que tá fazendo, mulher? - Ana Paula ria da chef parada em frente à árvore.
- To pensando, Aninha.
- E precisa olhar pra árvore pra pensar, amiga?
- Me deixa, mulher. - Ela riu, virando-se para a amiga. - Aí, Aninha, aqui é tão gostoso que me dá tanta vontade de cozinhar...
- Cozinhar, Paola? Mas você é chef mesmo, hein! Tá afim de cozinhar o que?
- Um chá.
- De cogumelo? - Ela riu alto. - É por isso que você tá olhando pra planta?
- Não, Ana Paula! É que eu olho essa natureza... Não te dá vontade de se reconectar?
- Reconectar cozinhando? Nah. O máximo que eu faço é admirar a vista, tirar uma foto e escrever um texto.
- Mas isso é muito coisa de jornalista!
- E querer cozinhar no meio da mata é muito coisa de cozinheira. Vai fazer uma fogueira no chão pra aquecer seu chá?
- Não!!! Usaria um dos fogões da produção, óbvio.
- Sabe que Pato te mataria, não sabe?
- Ele não mataria ninguém se você pedisse. - Ela deu uma pequena risada.
- Não sei do que você está falando, Paola Carosella. - Ana ruborizou-se.
- Vai me dizer que você não sabe que o Pato sempre olha pra você?
- Olha, eu não vim aqui interromper sua olhada de árvore pra ficar conversando sobre o diretor. Por falar nisso eu preciso te falar que daqui a pouco a gente vai fazer os shoots pro episódio.
- Tudo bem, eu vou ficar aqui olhando pra minha árvore e depois já vou.
- Porque você não tenta pegar inspiração pra cozinhar seu chá de cogumelos na cachoeira?
- Cachoeira, Ana?
- É, aquele negócio onde a água cai e...
- Eu sei o que é una cachoeira, Ana Paula. - Paola disse brava.
- Desculpa, amiga. Você segue aquela pequena trilha e vai dar direto para uma cachoeira e um laguinho. Nada melhor pra você se reconectar com a natureza. - Ela debochou.
- Você fala como se eu fosse louca, Ana!
- E você é, chef Paola. E por isso nós te amamos. - Ana deu um abraço rápido em Paola e partiu em busca do diretor.
Havia tanta mata no caminho que era difícil acreditar que a poucos kilometros dali havia uma civilização urbana que cercava e sufocava a natureza. O gralhar das aves era a melhor música que Paola poderia ouvir naquele momento, lembrou-lhe o gralhar que escutava na casa de sua vó, que nostalgia! E não havia uma voz humana se quer. Paz. Seria um bom lugar para meditar, à frente das águas, talvez o chá ficasse para outra hora.
Ela fechou os olhos. Respirou. Uma. Duas. Três vezes. Bem fundo. Sentiu o ar limpo carregando boas vibrações e levando todo o cansaço e confusão embora. Mentalizou o cenário ao seu redor, tudo o que vira: as bonitas árvores com seus bonitos frutos, o belo canto dos pássaros, o bater das águas no lago, a trouxa de roupa jogada à seus pés. Espera, o que? Paola abriu os olhos e olhou para baixo. Realmente havia um amontoado de roupa ao lado de Paola. Mas o que que é isso? Uma blusa preta dos Beatles, una bermuda... una cueca? Mas o que?
Paola caminhou da esquerda pra direita mil vezes procurando algum sinal de gente, mas não havia absolutamente uma alma pelos arredores. Ela havia desistido quando um splash de água atingiu sua canela e ela pulou de susto, dando um belo grito:
- MADRE MIA, CAZZO! - Ela ouviu uma risada alta.
- Tem como a mocinha largar as minhas roupas? - O tatuado estava inclinado à beirada, com o tronco inteiro para fora da água, a luz batendo nas gotículas fazendo as tatuagens vibrarem. Paola tinha certeza que ele tinha um olhar sedutor para ela, mas seu sorriso brincalhão lhe dizia o contrário.
- Mas, Fogaça! - Ela protestou. - O que que é isso, meu? - Ela mostrou-lhe as roupas, pegando a roupa íntima dele, jogando-lhe na cara. - Tá nadando desnudo?
- Ah, Paola, para de ser moralista, vai? - Ele jogou as roupas de volta em um canto. - Vai dizer que nunca fez isso? Quando eu era moleque eu e os manos lá da minha cidade sempre fazíamos isso. Não me apedreja por querer nadar, vai?
Ele torceu o nariz enquanto Paola parava na frente dele com os braços cruzados, lábios contraídos e olhos em desaprovação. Puxou-a para si pelo tornozelo, pegando-a pela cintura e minimizando os impactos da água. Os cachos dos cabelos da chef todos molhados e sua roupa encharcada. Paola exclamou um grito:
- Por que você fez isso, Henrique?!?
- Pra você curtir comigo e não ficar com essa cara de bravinha. - Ele mordeu a bochecha dela carinhosamente, envolvendo-a em um abraço.
- Mas é agora que eu estou brava! - Ela disse rindo.
Ele lhe deu um beijo carinhoso e intenso, passou sua mão por debaixo da blusa da chef, retirando-a, seus toques arrepiando os pelos de Carosella. Ela entrelaçou suas pernas na cintura despida do tatuado, ele apertando suavemente seus mamilos, ela arranhando levemente as costas dele:
- Eu adoro quando você faz isso, me arranha.
- Eu adoro você. - Paola disse, acariciando o local antes arranhado.
- Henrique?!? - Uma voz gritou. - Chef Henrique Fogaça? - A voz se aproximava cada vez mais.
Paola rapidamente se afastou do corpo do tatuado, mergulhando o mais rápido possível e ficando atrás do chef. A água era escura e o barulho da cachoeira era um tanto alto, então os movimentos e respiração da argentina não poderiam ser ouvidos:
- Pô, Fogaça, porque não me responde?!? - Caramba, era Ana Paula! -Escuta, eu não sou sua secretária não, viu? E não tenho obrigação de ficar correndo atrás de você. Sua mulher tá te ligando faz meia hora e você não leva a porcaria do celular com você? Anda, toma aqui. - A figura feminina estendeu a mão com o aparelho para o chef.
- Eu agradeço muito você ter vindo até aqui, Ana, de salto inclusive... mas... eeeh... deixa aí em cima das roupas que eu já atendo. - Ele ficou vermelho de vergonha. A carioca franziu o cenho em surpresa.
- Por que você não vem aqui e simplesmente pega o celular? - Ele olhou para a pilha de roupas e depois para o chef. - Não vai me dizer que você... - Ele assentiu, seja lá o que ela estivesse pensando. - Ah, Fogaça, não! - Ela tapou os olhos com a mão e foi abaixando-se lentamente, segurando o celular com os dedos em forma de pinça e deixando-o em cima das roupas e rapidamente virando de costas. - Te vejo depois. Quando você estiver devidamente vestido. Vê se cresce, Henrique Fogaça! Ah, e se você vir a Paola, me avisa, tá todo mundo procurando ela.
Fogaça deu várias risadas com os passos apressados de Ana Paula, ela parecia um chihuahua de Beverly Hills andando no meio de tanto verde e terra. Paola deixou de esconder-se e tratou logo de procurar sua blusa, sentou na margem do lago, olhando para o cozinheiro:
- Tá vendo porque eu não quero que a gente faça nada aqui? Quase fomos pego! E pela Ana!
- Relaxa que eu não vou deixar ninguém ver a gente. - Ele saiu do lago, balançou um pouco o corpo, pôs sua cueca e bermuda e jogou a camiseta para Carosella. - Se seca com isso aí e vai que a Padrão tá puta, cê viu, né?
- E você vai como? Sem camisa? - Paola cruzou os braços. - Não quero que te vejam sem camisa.
- Paola, eu já to tão tatuado que parece que eu visto roupa natural. Fica tranquila, linda, ninguém vai olhar pra mim, não.
Ele pegou seu telefone e ligou para sua esposa:
- Fernanda.... Entendo, mas você ligou pro médico? Não, tudo bem, tudo bem, fica aí... Vou ver se me liberam aqui... Algumas horas, vou tentar ir de carro... Arruma alguém pra ficar com as crianças, pô? Já ligou pra minha mãe? Não, relaxa que eu resolvo isso. Fica bem, cuida aí dos pequenos... Desculpa não ter atendido, tava ocupado aqui... Eu sei que é importante, você sabe como isso é importante pra mim, né? Não fica brava, não faz bem... Também te amo, tchau tchau.
- Tá tudo bem? - Paola percebera o semblante preocupado do amado.
- Sim, é só um negócio que eu preciso resolver... A Fer tá passando mal e a criança... - Seus olhos se encheram de lágrimas, Paola foi logo abraçá-lo, seus braços apertando-o transmitindo carinho. - Coisas que acontecem quando eu estou fora. É por isso que não gosto de ficar longe muito tempo.
- Fala com o Pato, diz que você tem uma emergência médica, as gravações de verdade só começam daqui a dois dias, ele vai entender. Não foi ele que disse que você poderia sair a hora que quisesse?
- Você tem razão, mas... também tem que essa era pra ser a nossa semana, uma semana onde eu não deveria pensar nessas coisas, não vamos conseguir nos ver nunca desse jeito. Eu estava louco pra te ter, Paola Carosella. Pra te ver à luz do dia e não só entre quatro paredes. Era pra ser a nossa aventura, me desculpa.
- Nada! Sua família precisa de você. Meu super paizão.
Paola beijou-o pela última vez naquele dia. Guardou a camiseta que ele lhe dera no camarim, como lembrança do tatuado. Ela esperava que estivesse tudo bem no final do dia. Todos esperavam.
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