No dia seguinte, acordei bem cedinho. Por que? Por que no meio da noite uma coisa horrível, catastrófica, aterrorizadora ia acontecendo.
Eu estava dormindo tranquilamente, sonhando coisas boas (só que não.), e me sentindo confortável na cama quentinha. Quando em um momento, me virei de lado na cama, e senti uma coisa áspera encostando em meu rosto. Abri os olhos lentamente, e adivinha quem estava dormindo junto comigo, olhando para mim? Sim, a Máscara. Do jeito que ela estava, se eu me virasse mais um pouquinho para o lado... Bum! “Alguém me segure!” Compreenderam?
Eu recuei, assustado, e a joguei no chão. Só não gritei por que o grito não saiu. Fiquei com o coração acelerado com o susto. Aquela coisa começava a me dar medo. Eu a peguei e coloquei embaixo da cama. Demorou alguns minutos para eu pegar no sono novamente (50 minutos), mas enfim consegui adormecer.
Quando acordei de verdade, já era umas seis e pouco da manhã. A luz do sol ainda estava fraca. Pensei que essa seria uma boa hora para enterrar a Máscara sem que ninguém visse.
Levantei-me da cama, e perguntei a Percy e a Igor se eles queriam participar do triste enterro da coisa de madeira.
— Huumm... a essa hora? — murmurou Igor.
— É bom que ninguém vai ver. — disse eu. — Ninguem deve saber disso. Só se quiser ir. Se não, pode ficar, mas eu vou dar o fim nessa coisa.
— Vamos acordar só para isso? — resmungou Percy.
— Não estou lhe obrigando a ir. Pode ficar. Vou fazer isso sozinho.
Eles se remexeram na cama, resmungando, e se levantaram sonolentos. Os cabelos assanhados.
— Está bem. — disseram.
***
Quando já estávamos prontos, com a cara lavada, roupas trocadas e boca escovada (ainda não havíamos comido. Mas... sabe como é... cheiro desagradável.), tentamos chamar o resto do pessoal, ou seja, Annabeth e Kayro. Mas entrar no chalé dos outros a seis e meia da manhã podia ser muito ruim. Alguns campistas já estavam acordados. Reconheci alguns do chalé de Hefesto que estavam na quadra de vôlei. Pedi para Percy ir perguntar se Kayro já estava acordado.
Igor me cutucou e disse:
— Ei. Aquela garota não é do chalé de Atena?
— Quem? — perguntei.
Ele apontou para uma menina que andava em direção ao pavilhão refeitório. Ela tinha cabelos meio loiros. Não igual os de Annabeth nem dos de seus irmãos, mas diferente.
— Hã... pensei que todos os filhos de Atena fossem loiros. — comentei.
— E daí? — replicou Igor. — Nem todos os filhos de Poseidon tem olhos verdes. Nem todos os filhos de Ares amam bater nos outros e provocar guerras. Nem todos os filhos de Apolo são...
— Certo, tudo bem. — interrompi. — Vou perguntar a ela se Annabeth já acordou.
Não gostava de conversar com gente desconhecida. Ficava morrendo de vergonha. Mas decidi fazê-lo.
— Oi. — acenei, timidamente. — É... posso fazer uma pergunta a você? Bem rápido.
Ela estranhou, mas assentiu.
— Claro.
— Hã... Annabeth já acordou? Quer dizer... ela já está...
— Faz tempo. — disse ela. — Acordou bem cedo. Não sei o motivo, mas ela se aprontou e foi até o bosque com uma pá na mão.
— Com uma pá na...? — no mesmo instante entendi. — Ah, obrigado! Muito obrigado... hã...
— Duda. — disse ela. — Meu nome.
Apertei sua mão.
— Valeu Duda. A gente se vê.
Saí correndo até Igor e disse:
— Annabeth já está no bosque. Talvez esteja cavando um buraco para enterrar a Máscara.
— Maravilha! — sorriu ele.
Fomos em direção ao bosque, quando Percy se aproximou da gente correndo.
— Kayro já está no bosque. — ofegou ele. — Os irmão dele disseram que Annabeth veio chama-lo bem cedo para pedir a ajuda dele com alguma coisa relacionada a cavar.
— Valeu, filha de Atena. — murmurei, dando um sorriso. — Vão. Podem ir na frente. Vou só pegar a Máscara.
Eles assentiram e foram em direção ao bosque. Na verdade, eu não fui pegar a Máscara. Ao contrário, fui tentar pôr em pratica uma ideia que tive em minha mente. Então, fui em direção ao chalé de Hades.
***
— Toque, toque. — sussurrei, na frente da porta.
O chalé era grande e sombrio. De cada lado da porta havia duas tochas que queimavam fogo grego vinte e quatro horas sem parar. No alto do chalé havia o símbolo de Hades. O elmo das trevas. As paredes pareciam ser feitas de ossos humanos, o que me deu um baita calafrio.
— Hã... olá? — falei um pouquinho mais alto. — Alguém ai?
— Sim! — falou alguém as minhas costas.
Dei um grito e virei-me.
Uma garota, com uma aparência punk e gótica, olhava para mim.
— O que você estava fazendo bisbilhotando o meu chalé?
— Não! Desculpe. Eu... só estava procurando outra garota que vive aqui. Bruna, eu acho.
— Aham, sei.
— É sério. Queria somente fazer uma pergunta a ela.
Ela contraiu os olhos.
— Ela deu uma saída. Está lá nos bosques.
Arquejei.
— Nos... bosques?
A garota assentiu.
— Algum problema?
— Não.
Um silêncio constrangedor.
— Okay. Já que ela não está aqui, pode me tirar uma duvida?
— Pergunte. — pediu ela. — E a propósito, meu nome é Marilia Gabrielli.
Que bom. Mas não perguntei. Era o que eu queria dizer, mas não disse.
— Ah, certo. — eu estava me sentindo bastante desconfortável. Ficava me balançando de um pé para o outro. — Só queria perguntar: Esse tal fogo negro, ele queima ou consome qualquer coisa?
A garota, Marilia, franziu a testa.
— Por que quer saber disso?
— Por que quero destruir uma coisa.
Ela deu um sorriso frio.
— Destruir? Quem?
— Não “Quem” e sim uma “Coisa”.
Eu estava ansioso para ver se o fogo negro fazia aquela Máscara virar cinzas, quando todo o meu plano foi arruinado quando vi Annabeth andando em minha direção parecendo zangada.
— O que você está fazendo? — perguntou ela, irritada. Sua cara estava suja de terra, inclusive suas roupas. — Por que não está lá nos bosques?
— Eu só estava querendo saber de uma coisa. — falei. — Mas já estou indo.
— É. Para quem queria que ninguém soubesse de nada sobre a...
— Ahh, certo! — eu a abracei e tapei sua boca. — Vamos para os bosques. — acenei para Marilia. — Obrigado.
***
Chegamos dentro do bosque e ficamos ao redor do grande buraco que Kayro e Annabeth escavaram. Ali, olhando para o buraco e para os meus amigos, parecia mesmo que teríamos um enterro real. Pensei em Ashley. Sempre iria carregar aquela dor comigo. Nunca esqueceria.
As arvores grossas, com folhagens densas e cheias, faziam o ambiente ficar escuro e úmido. Eu estava com a Máscara nas mãos. Ela parecia olhar para mim, apesar de não ter olhos. Estava me sentindo feliz por finalmente estar me livrando daquela coisa. Mas ao mesmo tempo sentia algo oposto a isso.
Kayro olhou para mim e disse:
— Faça as honras, cara.
Desejei atirar aquela coisa para dentro do buraco e jogar areia em cima. Sim, era isso que devia fazer. Mas então por que estava pensando o contrário? Por que estava hesitando?
Igor estalou os dedos perto do meu rosto.
— Ei!
— Hã?
— O que está esperando? Jogue essa maldita Máscara em sua cova.
— Ah, sim. Claro.
Estendi a mão para solta-la, mas algo me impedia.
Não! Não faça isso. Falou a Máscara em minha mente. Por favor, não faça isso. Não quero ficar embaixo da terra novamente. É tão frio e escuro. Prometo que vou me comportar a partir de agora. Podemos ser amigos, o que acha?
Fechei os olhos com força.
— Não. — sussurrei.
Meus amigos olhavam para mim, provavelmente achando que eu estava louco.
Qual é? Nos divertimos muito, não se lembra? Certo que fiz coisas erradas, mas prometo que não farei mais.
Kayro me sacudiu e disse:
— O que está acontecendo com você? Não está ouvindo coisas, está?
Posso te livrar de qualquer monstro ou deus. Dizia ela. Estou com uma vontade grande de por você. Não ligue para o que esses bastardos dizem.
— Raphael — disse Annabeth. — Se você não jogar logo essa Máscara...
— Ah! Chega! — gritei. Olhei para a Máscara. — Me desculpe, mas não quero mais lhe usar. E antes de você ficar no buraco escuro e frio, quero lhe dizer que não preciso de você! Obrigado pelos divertimentos psicóticos e por outras coisas. Então... — eu a joguei no buraco. — Tenha bons sonhos.
Então é assim? Perguntou ela. Essa não vai ser a ultima vez que você me verá. Eu ainda vou ser usada por outras pessoas...
— Joguem areia nessa porcaria! — exclamei.
Annabeth e Kayro pegaram as pás e começaram a jogar areia no buraco.
— Que peninha. — murmurou Igor. — Adeus, Máscara.
— Feche a boca para não engolir terra. — riu Percy. — Adeus, Máskara.
— Cuidado com os olhos. — falei, acenando.
— Tape os ouvidos. — sorriu Kayro.
Depois de alguns minutos, o buraco se fechou. Annabeth e Kayro ofegavam, cansados e sujos de terra.
— Está feito. — disse Annabeth, enxugando o suor.
Quando de repente as sombras se espessaram, ficando mais pretas. E no segundo seguinte uma menina saiu delas, rolando no chão.
— Ai! — resmungou. — Eu sempre saio rolando.
Era Bruna. A garota amigável. Ela olhou para cima e sorriu.
— Oi! O que estão fazendo?
— Ah, nada. — falei. — Estávamos só olhando para as arvores.
— É. Só olhando. — disse Kayro, soltando a pá.
— Acho que vou tomar banho. — Annabeth saiu correndo.
— Vish! Esqueci de tomar café! — exclamou Percy, saindo correndo.
— Somos dois. — corri junto.
— Três. — Igor me seguiu.
— Quatro. — Kayro seguiu Igor.
Bruna franziu a testa, achando estranho, e olhou para o buraco que a gente acabara de fechar. Deu de ombros e saiu correndo atrás da gente, o que nos fez correr ainda mais depressa.
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