EDEN
Parte V - Sex
“Now we're sinking but I can't find it in myself to want to lie to keep this thing from going down”
— Yerin, me chame para ir na sua casa hoje. — Você diz contra o telefone.
— Uh, okay…? — não é necessário muito esforça para imaginá-la fazendo uma careta confusa. — Você quer vir à minha casa hoje, unnie?
— Claro. — sorri, satisfeita. — Pode abrir o portão, então? — completa, estalando a língua no céu da boca.
— Espera. O quê? — você escuta alguns barulhos antes de poder observar a Na na janela, encarando-a com surpresa. — Unnie! — ela ri, finalizando a ligação. — O que faz aqui?
— Preciso conversar. — admite, afastando o telefone do ouvido. — Me deixe entrar, por favor.
— Estou indo. — E some da janela, deixando-a arreganhada.
Passos pesados são ouvidos, indicando que a garota está descendo as escadas, e logo ela abre a porta, ajeitando o kimono cinza e com as chaves em mãos.
— Boa tarde. — Você cantarola, sorrindo amarelo enquanto puxa as mangas de sua camisa xadrez.
— O que aconteceu? — ela a questiona, analisando sua aparência cansada.
— Muita coisa. — sorri para si mesma, desviando o olhar. — Preciso conversar.
Na Yerin vive em uma bela casa, juntamente a sua mãe. Ela também possui um irmão mais novo, Suho, que está em Taiwan com o pai deles, um renomado investidor nos Novos Tigres Asiáticos.
— Omma!— você exclama, abraçando a Na mais velha por trás.
— Oh, meu bem. — ela se vira com as mãozinhas sobre o peito. — Não me assuste desse jeito.
— Me desculpe. — afasta-se suficientemente para se curvar perante a ela — Senti sua falta, omma. — sorri ao voltar à posição anterior.
— Também senti sua falta, garotinha. — ela afaga seus cabelos com delicadeza. A mulher emana ternura por cada uma de suas células. — Não fique tanto tempo assim sem nos visitar. — adverte, ainda que o tom amigável domine suas palavras.
Você concorda. Sabe que foram apenas algumas semanas, mas sente falta da mais velha. Desde que sua mãe a deixara, Na tem cuidado de você. Yerin e sua família a acolheram de braços abertos.
— Ei, ela é minha melhor amiga. Solta ela. — Yerin a puxa pela cintura, afastando-a da mãe dela.
— Acho que dividimos esse cargo, meu bem. — ela pisca em direção às duas. Vocês riem baixinho.
Yerin e você sobem para o quarto após se despedirem da mãe dela. A falta de organização de sua melhor amiga a incomoda um pouco, mas você não se sente no direito de constatar. Como e onde ela vive não são assuntos que a convém, desde que a mais nova se sinta bem sobre isso. E, oras, ela gosta de manter o quarto meio bagunçado e com as paredes cheias de pôsteres.
— O que quer me falar? — ela indaga, assistindo-a se jogar na cama.
— Eu saí com um cara. — Você diz enquanto fita o teto e descansa as mãos sobre a barriga.
— Um cara?! — ela exclama, animada.
Você não a julga quando ela se joga na cama e busca seu olhar, esperando ansiosamente para ouvir mais sobre o assunto. Se sua vida fosse um livro, ele com certeza passaria no Teste de Bechdel. Várias vezes. Homens não costumam estar presentes em suas conversas a não ser que sejam algum filósofo famoso ou um político duvidoso.
— É, um cara. — volve o rosto para a garota ao seu lado. — Mais de uma vez.
Então você conta a história: desde o primeiro dia na cafeteria à noite de ontem, quando os lábios dele tocaram os seus. E fazê-lo é como reviver as memórias; aquela sensação que Yoongi a passa também se aflora quando você está apenas falando dele. Na a escuta atenta do começo ao fim, girando na cama e soltando gritinhos de vez em quando.
— É isso. — Você termina, sorrindo de lado.
Neste momento, Yerin a encara com os pezinhos para cima, balançando, e o rosto sorridente apoiado nas mãos.
— É como um livro de romance. — ela diz, com os olhinhos brilhando. Você revira os seus.
— Não é, não. Isso é besteira. — nega, ainda que sinta uma pontada na boca do estômago ao fazê-lo.
— Você sabe que não é, unnie. — começa, pendendo a cabeça levemente para o lado. — Você diz que sente algo nele, quando está perto dele, desde o primeiro momento, certo?
— É… — sopra, esforçando-se para ignorar a inquietude que a domina.
— Isso não acontece, unnie. Eu sei, parece besteira, mas encontrar alguém que nos faça sentir borboletas é tão raro quanto ganhar na loteria e, sendo franca, mais valioso do que isso. — deixa o peso do corpo virá-lo completamente, deitando na mesma posição que você, mas na direção contrária. — Eu namoro com o Jimin-oppa. E eu o amo. Mas mesmo nosso relacionamento não começou assim. — faz uma pausa — Eu não sei se algumas pessoas foram feitas uma pra outra, não sei temos uma alma gêmea ou se somos apenas animais um pouquinho mais evoluídos cujos sentimentos ou existência são pura casualidade do universo. Eu não sei. Mas eu sei que se você tem a sorte de encontrar alguém que a faça sentir como se tudo tivesse um propósito, você deve agarrá-lo — conclui, esticando o pescoço para a poder fitar.
— O que isso quer dizer? — Você faz careta ao indagar.
— Faz muito tempo que você não sai com alguém, não é? — ela ri perante sua reação.
— É… — suspira. — Você sabe, Taehyung foi o último.
— E vocês terminaram antes de entrar pra faculdade. — aponta, pensativa. O olhar dela vaga um pouco até voltar a brilhar com o quê de quem teve uma ideia ou encontrou uma resposta. — Eu vou ser clara, unnie. Sei que é muito mais fácil para você entender economia do que os próprios sentimentos, mas você sabe o que tem que fazer: se precisa de algo, vá atrás. Se sente-se bem perto dele, fique perto dele. Fale com ele, beije-o. Você não precisa calcular as consequências de todas as coisas, às vezes você só precisa fazer.
— É assim que as pessoas engravidam ou perdem um braço. — retruca, recusando-se a enxergar a verdade exposta nítida e claramente; quase palpável.
— Também é assim que as pessoas são felizes. E você nunca vai aceitar esse lado se continuar se prendendo ao outro. — entorta os lábios em um sorriso sem dentes, do tipo que expressa conformidade e verdade imutável.
E você não é tão teimosa a ponto de não aceitar uma verdade imutável, sabe que é tolice.
— Tudo bem. — sorri, fechando os olhos e cobrindo o rosto com as mãos. Sente-se uma adolescente que acaba de aceitar uma paixonite. — O que eu faço agora?
— Liga pra ele.
— Nah. — suspira, abaixando as mãos, ainda que suas bochechas estejam enrubescidas. — Ele deve estar dormindo. E eu nem tenho o número dele, afinal. — diz, desanimando ao constatar o fato.
— Como assim não tem o número dele? — Yerin senta na cama, chocada com a informação. — Vocês se encontraram tantas vezes, como nunca trocaram telefones?
— Eu não sei. — admite, frustrada. Você alcança o celular no bolso e ele parece inútil sem o número do loiro o qual você gostaria de falar. — Acho que eu nunca me lembrei de pedir. — torce os lábios em um biquinho frustrado.
— E ele? — questiona, ainda descrente.
— Ele também nunca tocou no assunto. Não que eu me lembre.
— E tem alguma possibilidade de você não se lembrar? — levanta outra questão, recusando-se a perder as esperanças.
Você está prestes a negar, até se lembrar da segunda-feira em que bebeu demais. Você sabe que conversou com o loiro até tarde da noite e que ele a deixou em casa, mas não é capaz de dizer exatamente como tudo isso aconteceu. Existe a possibilidade de…
Então seu telefone começa a tocar e, quando você o apanha e lê o nome no visor, percebe que sim, essa possibilidade existe.
— Min Yoongi? — você questiona, descrente, ao atender a chamada. Sente seu coração bater mais forte e o corpo se inquietar em ansiedade.
— Que frieza — ele sopra, rindo baixinho —. Achei que já estivéssemos sujeitos a honoríficos.
— Como você tem o meu número? — ignora a fala dele, sentindo-se grata por ele não poder ver o quanto ela a afetou.
— Você me passou quando estava bêbada.
Você ri irônica. Não só existia a possibilidade como não se tratava de uma possibilidade, mas de algo fatídico.
— Oh… — o acanhamento a domina e você não é capaz de disfarçá-lo. A linha permanece em silêncio. Sua inquietação aumenta e, quando você olha para o lado e encontra o rosto de Yerin extremamente próximo ao seu e com um sorriso alegremente psicótico, você quase cai da cama.
— Bae? — Min a chama, preocupado com o grito que você soltou. Possivelmente, afetado com alguma dor de ouvido, também.
— Desculpe. Achei ter visto algo. — replica, recebendo um revirar de olhos da Na e alguns gestos com a mão para que você diga mais alguma coisa. Mas você não sabe o quê. Escutar a respiração de Yoongi a remete aos lábios entreabertos do rapaz, prestes a se juntarem aos seus. E isso a afeta mais do que você seria capaz de admitir.
— Entendi… — interrompe o silêncio e então faz uma pausa, para sua alegria ou infelicidade — Bae, você quer ir à um lugar legal? — convida, por fim.
E você sequer consegue recusar qualquer pedido dele a essa altura.
— Quero.
O vento gélido é forte e impiedoso. Ele bagunça seus cabelos e faz com que você se encolha no grande casaco marrom. E, mesmo precisando levar os dedos aos fios emaranhados e tirá-los da frente de seu olho a cada dois segundos, não é preciso muito esforço para reconhecer a figura de touca e botas pesadas que caminha em sua direção. Os passos do rapaz amassam as folhas secas e o som que tal atrito causa a remete aos vacilos de seu próprio coração no momento.
Você não se lembra de estar tão tensa nas outras vezes em que o vira. Beijá-lo despertou um sentimento que você não é capaz de nomear com convicção, entretanto, há uma certeza: Yoongi não é mais o único a possuir algo. Ele plantou a semente que o torna tão singular em você; ela está crescendo e controlar as sensações que traz junto a si é uma tarefa complicada.
Talvez esteja na hora de deixar de ser teimosa — ou medrosa —. Talvez apenas não deva controlar coisa alguma.
— Tudo bem? — ele a questiona, já perto o suficiente para ser ouvido.
— Tudo. — você retorque, sentindo o nervosismo a dominar outra vez.
Yoongi vai tocar no assunto do beijo ou fingir que ele nem aconteceu? E por que as duas opções parecem difíceis para você?
— Eu também estou bem. Obrigado por perguntar. — ironiza. Está tão frio que um rastro esbranquiçado de vapor segue suas palavras.
— Não há de quê. — ri, revirando os olhos. Ele a acompanha, mas o silêncio não demora a chegar, fazendo com que os dois se percam nas orbes escuras um do outro.
— Então… — Yoongi começa, desviando o olhar. — Você tem algum piercing? — pergunta, surpreendendo-a.
— Que tipo de pergunta é essa?
— Uma de sim ou não. São as mais fáceis de responder, aliás. — pende a cabeça para o lado, desafiando-a com o olhar.
— Eu… — suas mãos suam, ainda que esteja congelando. — Não.
— Quer ter um? — sorri, animado.
Você não sabe o que responder. Nunca havia nem mesmo tocado no assunto. E a simples presença do Min não a deixa certa de seus pensamentos.
— Eu acho que…
— Sim ou não, Bae — cantarola, com a língua espreitando por entre os lábios.
— Sim. — concluiu, quase automaticamente.
Não há necessidade em martirizar-se pela decisão mal — ou sequer — pensada. Você sabe, é o efeito Yoongi.
— Então vamos. — alarga o sorriso, estendendo-a a mão.
— Tudo bem. — sorri, aceitando o gesto e a sensação que ele a provoca. Mas você ainda é você. E você mata as dúvidas quando possui alguma, é por isso que indaga, enfrentando o receio e o nervosismo: — Você lembra do que aconteceu ontem, certo? — enche as bochechas de ar e comprime os olhos, em uma feição que quase a denuncia.
Vocês iniciam uma caminhada lenta, quase automática.
— Lembro. — ele não hesita em afirmar, fazendo uma espécie de misto de alívio se mesclar a mais nervosismo.
— Você não tem nada a dizer? — continua.
— Aonde você vai colocar o piercing? — questiona, provocando-a.
— Yoongi! — revira os olhos. Você recolhe sua mão e cessa os passos, volvendo o corpo ao loiro. — Estou falando sério.
— E você não está em algum momento? — imita seus atos. O semblante dele permanece inexpressivo até o momento em que ele sorri, acintoso, e se inclina sobre você, apoiando o antebraço direito em sua cabeça e abaixando a dele até que ambas estejam à mesma altura. Você engole a seco, corando e sentindo seu coração acelerar até voltar a escutar a voz dele — Mas, se quer realmente saber, eu planejo repetir o que aconteceu ontem.
Então você sorri, contente por, de alguma forma, ser retribuída.
— Eu também.
Ele abaixa o olhar, sorrindo para si mesmo. E, quando você se convence de que ele dirá mais alguma coisa sobre o assunto, Yoongi quebra suas expectativas, comentando:
— Eu acho que a cartilagem interna da orelha e os mamilos são lugares interessantes pra se colocar um piercing.
— Vai se ferrar — lança, voltando a andar na direção que ele a estava guiando anteriormente.
— São só sugestões. — acompanha seus passos.
— Eu não sei nem se realmente quero fazer isso. Deve doer. — faz careta, começando a repensar sua decisão.
— Nah, nem dá pra sentir direito. E é de graça, não se deixa uma oportunidade assim passar. — dá de ombros.
— De graça? — mira-o de soslaio. Você segura os cabelos, criando uma frecha entre os fios emaranhados para poder enxergá-lo direito.
— É. O tatuador foi ao show ontem. Ele entrou em contato e ofereceu algumas tatuagens e piercings em troca de divulgação. — explicou, arrumando a touca na cabeça.
— Divulgação? — ri irônica — Benefícios de gente famosa.
— Não sou famoso. — nega, ainda que um sorrisinho espreite seus lábios.
— Como vai divulgar o tatuador?
— Instagram.
— E quantos seguidores você tem lá?
— Não sei. Uns duzentos mil, por aí. — espalma uma das mãos no rosto. — Podemos mudar de assunto?
Você concorda. E, enquanto saem do parque rumo aonde quer que Yoongi esteja a levando, não é difícil deixar o assunto pra lá; a risada do rapaz é tão acolhedora quanto o barulho do vento batendo na copa das árvores.
É preciso virar algumas esquinas e adentrar um ou dois becos até que vocês alcancem o estúdio citado. E, antes de contemplar o lugar por dentro, você não seria capaz de dizer que aquela porta cinza e pesada daria nele. Quer dizer, como algo tão sem graça pode abrigar outro algo tão incrível?
As paredes vermelho-vinho são a tela que abriga a paisagem regada a móveis em madeira bruta e decorações medievais — e levemente macabras, você diria. Ao canto, um homem ergue a cabeça assim que ouve o sino tocar, abandonando as folhas e os lápis que usava no balcão para vir de encontro a você e a Yoongi.
— Vocês chegaram. — sorri. — Entrem, por favor.
Você o analisa — e o julga — minuciosamente; não consegue dizer o que acha da figura tatuada e estrábica, mas gosta das roupas que ela usa.
— Achei que Jungkook já estaria aqui. — O Min lança, adentrando mais o local.
— Ainda estou terminando a arte que Jeon pediu. — aponta para os esboços soltos no ábaco.
Yoongi se aproxima para olhar e você não resiste a imitar o ato.
É um leão. Os traços com um quê impressionista dissipam-se em um degradê agradável e, ao fim do desenho, há uma frase escrita no que você julga ser latim, mas não sabe traduzir.
— Hic sunt leones — o platinado diz, como se lesse os seus pensamentos. — “Aqui jazem os leões”. Tsc, ele é tão previsível. — solta um risinho nem um pouco surpreso.
— Marco Polo — Você cicia, captando a referência. Yoongi sorri ao escutar sua fala.
— É. Devia saber que você reconheceria. Nerd. — sussurra a última palavra em uma provocação a você, fazendo-a rir baixinho.
— A sua já está pronta. — O homem continua, abaixando-se para pegar algo embaixo do balcão.
O Min sorri ao ser posto de frente com o esboço; os olhos brilham em animação e admiração.
— Ficou incrível. Obrigado, Mickey. — ele agredece. E você supõe que Mickey seja o apelido do tatuador, já que vocês nem mesmo foram apresentados.
— É um Auryn — você não precisa de ajuda para reconhecer a figura desta vez. — Yoongi, você vai tatuar um Auryn! — controlar a animação na sua voz torna-se impossível. E um gritinho feliz quase escapa pela sua garganta quando você lê a frase junta ao desenho: — Tu, was du wilst.
— “Faça o que você deseja” — ele traduz novamente, sorrindo. — Caso algum dia eu me esqueça.
Seu sorriso quase rasga as bochechas. O Auryn é composto pela figura de duas serpentes, uma clara e uma escura, entrelaçadas como o símbolo da perpetuidade. Trata-se de um talismã e está presente em diversas culturas. Todavia, neste caso, você só consegue pensar no significado que atribuiu a ele quando criança: o animal branco é Fantasia e o negro, Realidade. É sobre a necessidade dos dois de forma balanceada para que haja equilíbrio — e que esse o guie em sua jornada.
Yoongi a apresenta ao Mickey depois disso, e logo vocês são levados para onde a magia acontece.
— Eu quero desistir, Yoongi. — Você solta, sentada no banco estofado, quando Mickey coloca as luvas e prepara o aplicador do piercing.
— Você escolheu a joia mais cara e o lugar mais óbvio, não tem essa opção. — ele diz, buscando seu olhar.
— Mas vai doer. Não faz sentido me submeter a dor por fins estéticos e imprudentes. — continua, apertando os braços do assento com força ao sentir Mickey desinfetar a área onde o piercing seria aplicado.
— Chega de palavras difíceis. Só fecha os olhos. — O Min pede, entrelaçando as mãos dele às suas.
Você aceita o toque e obedece à ordem. Respira algumas vezes e tenta pensar em qualquer outra coisa.
— Guns n’ Roses. — Yoongi diz de forma aleatória.
— O quê? — você sopra, ainda de olhos fechados.
— Guns n’ Roses. Sweet child o’ mine. — ele completa. — Não está ouvindo? Você vai ter a honra de marcar seu corpo ao som de um solo do Slash. — conclui, brincalhão. — É uma honra pra poucos.
Você franze o cenho. Seus ouvidos se atentam à melodia que enche o cômodo. Você tenta absorver a letra, já que não a conhece, e gosta do que capta:
Her hair reminds me of a warm safe place
Where as a child I'd hide
And pray for the thunder
And the rain to quietly pass me by
Oh, oh, oh
Sweet child o' mine
Você sorri com a letra. O garoto ao seu lado a canta animadamente e não é difícil perceber que ele não é muito afinado. Mas, é preciso repetir? Tem algo nele. E esse algo não é seguro, como a música enaltece. Yoongi é tudo o que você não deveria gostar de estar próxima.
Mas, veja só, com algo da música você concorda: você poderia usá-lo como abrigo para as mais vorazes e longas tempestades.
É uma pena que de doce ele não tenha nada.
O seu tronco se contrai no momento em que você sente a textura fria do aplicador. Yoongi aperta sua mão mais forte e tudo parece mais suportável e rápido. E quando você abre os olhos, ele ainda está lá: atado a você, batendo os pés no ritmo do solo de guitarra que a música havia alcançado.
Saber ouvir atentamente é uma dádiva que você tem e aprecia; escuta os alertas e as restrições que Mickey a faz para com a joia do começo ao fim. E não demora muito à vez de Yoongi chegar: você o acompanha até a cadeira maior e cercada por aparelhinhos que não tem ideia de como funcionam.
Você fica preocupada quando percebe que a tatuagem parece doer mais em você do que no loiro; ele está com o antebraço esquerdo estendido para o tatuador e o direito sob a cabeça, como apoio. Ele canta as músicas que o toca-discos ao canto reproduz com uma calma admirável. Em um momento, até pede para que você acenda um cigarro para ele, mas você recusa, imaginando o quão incômodo a fumaça tornaria o ambiente, então ele se contenta com um copo do whisky barato o qual Mickey oferece.
— Então é assim que os artistas se sentem quando recebem coisas de graça. — você comenta, tocando o objeto metálico preso à sua orelha direita.
— Foi uma troca. — ele corrige, com os olhos presos na foto que publicava. — E não fique tocando. Pode inflamar. — pede, mirando-a de soslaio, mas logo voltando a atenção ao celular.
— É estranho. — admite, abaixando as mãos. — Parece que tem um objeto alienígena implantado no meu corpo.
— É ruim? — indaga, guardando o telefone no bolso e analisando a tatuagem em seu antebraço outra vez.
— O meu piercing ou sua tatuagem?
— O piercing. — ri soprado.
— É diferente. — sustenta o olhar quando ele volta a mirá-la; o simples ato a causa arrepios — Diferente é bom. — conclui, sorrindo.
Yoongi a retribui. Vocês acabaram de sair do estúdio; ainda estão no beco que o abriga. E, só para constar, o platinado havia trazido a garrafa de whisky barato consigo.
— Bae — ele a chama; a voz rouca faz cosquinha em seus tímpanos e a faz se encolher contra si mesma.
— Yoongi — Você devolve, esperando que ele continue. Ele a estende a garrafa e você a aceita depois de alguns segundos, tendo o olhar do garoto fixo em si enquanto ingere um único gole do líquido destilado.
Seus olhos se espremem e sua garganta arde, mas o olhar incendiário do baixista sobre si é ainda mais tonteador.
— Você se lembra do que eu te disse mais cedo? — questiona. Você apenas meneia a cabeça em concordância — Então… — puxa-a pelos braços para mais perto, então enlaça sua cintura — Eu quero repetir agora. — segreda contra os seus lábios inchados e trêmulos de frio.
Você arfa. Seus olhos se fecham outra vez e você é levada de volta à noite no terraço, quando ele a beijou até que seus lábios ficassem dormentes e, mesmo assim, você ansiasse por mais.
— Você vai conseguir tocar com o braço assim? — questiona, relutante em ceder e tentando desviar o assunto.
Ele ri antes de responder — Vou. — firma as mãos em seu corpo.
Está tão frio, por que você se sente tão quente?
Min Yoongi está tão perto. E os lábios dele são tão macios. O que você tem a perder?
Tudo — algo dentro de você grita. Ele está em turnê e vai embora a qualquer momento. Ele vai embora e levará sua sanidade consigo.
Mas, oras, ele acaba de tatuar um Auryn, em um claro lembrete de “faça o que você deseja”.
E você deseja Yoongi.
Quem precisa de sanidade, afinal? Você já a perdeu e, sinceramente, não deseja a recobrar tão cedo.
Você sorri acintosa antes de colar seus lábios aos dele. Não estão no telhado desta vez, mas Yoongi não precisa de muito para levá-la às alturas.
E são as maiores altitudes que provocam as mais dolorosas quedas.
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