– Olha lá ele – Hanna aponta discretamente para o garoto de fone nos ouvidos, caminhando desajeitadamente, de uma forma extremamente sexy, e eu o olho rapidamente.
– E daí? – Meus olhos se voltam para minha amiga novamente, minha cara de tédio é mais que evidente, e um pouco forçada. A ruiva revira os olhos e bufa infantilmente.
– Como "e daí", Dyra? – Pergunta incrédula, como se eu tivesse acabado de xingar o presidente da república. – É o Yoongi! O bad boy mais gato da escola! E ele dá mole pra você!
Min Yoongi é um cara de roupas rasgadas e cabelos extremamente pretos. É calado, e anda sempre com cara inchada de sono e se arrastando pela escola. Ele é do terceiro ano e deve ser por isso que anda parecendo um zumbi. Alunos do terceiro já estão cansados demais, na minha opinião. Todas as meninas são afim dele, e eu admito que até eu tenha uma queda por seu jeito charmoso e preguiçoso de ser. Mas, ele não parece se interessar muito por nenhuma delas. Na verdade, ele parece ser do tipo que não se interessa por muitas coisas. Ou talvez seja só alguém que sabe esconder muito bem seus interesses. Yoongi não tem muitos amigos, pelo menos ao que parece. Nunca o vi em grupinhos rindo ou fazendo coisas que garotos do terceiro ano geralmente fazem. Ele parece ser diferente, sempre na dele, quieto. Ao mesmo tempo, parece ser do tipo que tem a resposta de tudo na ponta da língua. As pessoas o chamam de bad boy exatamente por isso. Só que eu nunca o vi fazer algo que se encaixasse nessa denominação. Resumindo, ele é uma incógnita.
– Ele não é afim de mim. – Eu reviro os olhos com a insistência de Hanna. – Ele não é afim de ninguém além dos fones dele.
– Exatamente! Ele te emprestou o fone aquela vez, Dyra. Quer demonstração melhor?
Certa vez, eu estava na biblioteca fazendo um trabalho de biologia. Yoongi e eu éramos os únicos lá aquela tarde. Ele parecia empolgado com alguma coisa, um sorriso mínimo queria surgir em seus lábios, e os dedos se mexiam mais rápidos na tela do celular. Não tinha como não notar sua empolgação, principalmente de alguém tão quieto como ele.
Eu nem me dei conta que o observava, até ele levantar os olhos para mim e me encarar. Pega no flagra, e totalmente envergonhada, abaixei minha cabeça novamente para meus livros. Era tamanho o silêncio naquela pequena sala. Pude ouvir Yoongi se levantando, e o barulho de seus passos se direcionando até mim. Ele puxou uma cadeira e sentou-se, soltando um suspiro. Nos olhamos, mas ninguém disse nada. Yoongi retirou um lado do fone de seu ouvido, e estendeu a mim.
– Me diga o que acha dessa batida. – Ele murmurou ainda com o fone estendido em minha direção. Eu me surpreendi, mas não tardei em pousar o lápis sobre o livro, e encaixar o objeto em meu ouvido.
Não era uma música. Apenas uma melodia mansa, gostosa de se ouvir. Parecia-se com música clássica. Yoongi me olhava esperando uma resposta, enquanto eu ainda mergulhava naquela batida calma, mas firme e marcante. Eu não entendia muito de música, mas aquela em exceção... era só o começo e eu já estava adorando.
– Você quem fez? – Perguntei.
– Me diga o que achou primeiro – Eu quase ri da maneira arrastada que ele falava. Parecia ter preguiça até para isso.
– Bem... – Comecei, me encostando na cadeira. – Está ótimo. Gosto do tom leve, mas firme. Gosto da rapidez que os tons mudam do baixo para o alto, ou vice-versa, sem deixar que o ouvinte perceba. Não é algo pesado. É lindo.
Ele soltou uma risadinha nasal. Parecia feliz com o que ouviu.
– Sendo assim – Ele disse, finalmente. – Sim, fui eu que fiz.
Observei Yoongi por alguns segundos, mas desviei os olhos ao perceber a intensidade dos dele. Suspirei e fechei os livros.
– Parabéns – Falei – Você é muito bom.
– Não o bastante. – Yoongi brincava com os dedos, que descansavam em cima de sua perna. – Quero mais. Não sou bom o bastante para chegar onde quero. – Ele levantou-se. – Mas estou trabalhando para isso.
– Boa sorte.– Eu sorrio, admirada com sua determinação. Yoongi assentiu e deu as costas. Comecei a arrumar meus livros, jogando tudo na mochila.
– Obrigado por dar sua opinião. – Levantei os olhos e vi Yoongi parado, ainda de costas.
– Por nada – Respondi, então ele saiu de vez.
– Não seja tonta, Hanna! – Volto a realidade, encarando a ruiva. – Yoongi só me mostrou uma música. Só. Ele não está morrendo de amores por mim, para com isso. – Ela dá de ombros. – Ele é só um garoto com fama de bad boy.
Hanna balança a cabeça sorrindo, e se separa de mim, entrando no banheiro. Talvez vá retocar a maquiagem. Eu sinceramente não tenho paciência para ver isso, então sigo caminhando no corredor. Estamos de horário vago agora e a escola está silenciosa demais. Sigo lentamente pelo corredor vazio, o barulho dos meus pés ecoava de uma forma um pouco fantasmagórica. Yoongi seguiu nesse mesmo corredor. Não que isso seja tão relevante, ou o motivo de eu estar vindo pra cá também, longe disso. É que essa é a área isolada da escola. Esse corredor leva a o antigo ginásio de basquete que parou de funcionar há um tempo. Os alunos geralmente vêm aqui para fazer coisas proibidas de serem feitas em público, uma lista enorme que envolve cigarro, sexo e álcool. Mas, o quê o Yoongi veio fazer aqui? Será que ele está com alguma garota?
Franzo o cenho com meus questionamentos involuntários. O que eu estava fazendo, afinal? O que ele veio fazer aqui não me importa. Giro os calcanhares, decidida a voltar para o pátio, mas paro ao ouvir um barulho. Um eco baixo e repetitivo, parecia algo batendo contra o chão. Minha curiosidade foi atiçada. Irritada com isso, volto a caminhar em direção ao ginásio velho. O barulho aumenta, me fazendo ofegar. Encaro a porta em minha frente, e num impulso de coragem, empurro o objeto, que faz um som de filme de terror ao ser aberta.
Meu estômago revira, me causando uma terrível sensação de nervosismo. Era ele. Está sentando do seu tão comum jeito desajeitado. As pernas meio abertas, esticadas sobre o chão liso do ginásio. O som era causado por uma bola de basquete que ele quicava no chão. Soprei de uma vez só o ar preso em meus pulmões.
– O que faz aqui? – Indaguei, me aproximando. Yoongi não me olhou, só continuou quicando a bola devagar, olhando pro nada.
– O mesmo que você. – Os lábios dele quase não se mexiam, o que fazia com que eu me questionasse como ele falava. Devia ser por isso que a voz saia embargada vez ou outra.
– Não devíamos estar aqui. – Eu disse, como a maior bobona de todos os tempos. Ele não tinha me chamado até aqui, afinal. – Se formos pegos...
– Não seremos. – Ele diz, me interrompendo – Se você não fizer barulho.
– Quem está fazendo barulho é você. – Rebato, e ele finalmente me olha – Eu só cheguei aqui pelo som da bola.
Yoongi arqueia as sobrancelhas, as bochechas inflaram-se levemente numa expressão de raiva. Então ele arremessa a bola com força. Observei a esfera quicar várias vezes no chão, até parar do outro lado da quadra.
– Satisfeita? – Eu o olho com incredulidade. Então ele era mesmo o menino mal que todos falavam?
– O que deu em você? – Pergunto, como se o conhecesse o bastante para estranhar seu comportamento.
Mas, a verdade é que eu não imaginava Yoongi como a pessoa desprezível que pintavam ele. Ele ri, desviando olhos de mim.
– Só estou sendo o que acham que eu sou. Estou fazendo jus ao meu nome.
Yoongi leva a mão aos cabelos negros e os bagunça. Parece frustrado. Eu observo calada cada movimento seu. Ele põe a mão no bolso e tira de lá um cigarro, coloca-o entre os lábios e acende. Vejo a fumaça sendo soprada pelos lábios pálidos de Yoongi, espalhando-se no ar.
– Sabe – Ele diz – Não gosto que invadam meu espaço. Não me sinto confortável em ter pessoas na minha zona, não gosto quando elas ultrapassam os limites que eu imponho.
– Estou invadindo seu espaço?
Ele ri.
– Está, sim. Mas não me incomodo tanto. Posso aguentar você. – Arregalo os olhos com a sinceridade do moreno. – Mas é só você. Não traga mais ninguém. Muito menos aquela sua amiga escandalosa. — Yoongi dá uma última tragada no cigarro, e o arremessa para longe.
Sinto uma pontada de felicidade ao ouvir que ele não se incomoda com minha presença. Eu sabia que pessoas como ele apreciam pouco a presença de humanos. Pensar que eu era uma das únicas me faz sentir especial, de alguma forma. Era o Yoongi, afinal.
– Vem cá – Ele me chama, apontando com a cabeça para eu sentar ao seu lado, e eu vou prontamente. Yoongi tira o celular do bolso, liga o aparelho e me dá um dos lados do fone.
– Terminou sua música? - Pergunto.
– Ouça. – Ele pede, dando play na música. Havia algo de diferente, a batida forte estava mais evidente, mais destacada. Mais alta.
E foi então que algo muito mais além preencheu meus ouvidos. Uma voz rouca. Sexy. Rápida. Era a voz de Yoongi. Fechei os olhos e me deixei sentir. Ele cantava rápido, mas a preguiça em sua voz ainda era percebida, o que não era algo ruim. Eu podia até imaginar seus lábios esbranquiçados se movendo quase que imperceptível, soltando aquela voz firme e embolada.
– Dyra – Yoongi me chama. – O que achou? - Eu abro os olhos e encaro ele. Estava com a mesma expressão do dia da biblioteca, esperando ansiosamente por minha resposta.
– Sua voz é linda. É sexy. Envolvente. Eu gostei, muito. Acho que tudo o que você faz me encanta agora. E suas músicas são o melhor. – Eu digo, com toda a sinceridade que consigo. Yoongi sorri. Vejo orgulho e satisfação por detrás daqueles dentes alinhados e gengivas rosadas. Seus olhos parecem brilhar, cheios de esperança.
– Acha que vou conseguir alcançar meu sonho?
– Você vai conseguir tudo o que quiser, porque é de você que estamos falando. Seu talento é incrível! Eu acredito de verdade nisso.
– Obrigado, Dyra. Obrigado por acreditar em mim.– Sua voz parece falhar por um instante. Viro o rosto totalmente para ele e fico o olhando.
— Você não é o bad boy que dizem ser.
— Talvez um pouco – Ri fraquinho, dando de ombros – Tenho meu lado do mal.
— Não deixe que as mentiras que dizem de você se tornem sua verdade.
O garoto correu os olhos por meu rosto, um sorriso de canto ainda brincava em seus lábios. Yoongi era tão sexy. Me pergunto como apenas seu olhar consegue me deixar quente. Quente por dentro, os olhos de Yoongi deixam meu coração quente.
Ele não disse nada. Parecia perdido em pensamentos. Ficamos em silêncio por uns minutos, até que eu resolvo quebra-lo.
— Quero ouvir mais músi-
Os lábios de Yoongi tocam os meus, me pegando de surpresa. Seus lábios gélidos e macios me calam. Agora eu quem estou perdida, completamente no gosto de Yoongi. Ele movimentava a boca devagar contra a minha com intensidade, me arrancando suspiros. Yoongi tinha gosto de cigarro e bala de hortelã. Sinto sua língua tocar meu lábio inferior, pedindo passagem, tal que logo dou. Sua mão envolve meus cabelos, mas ele não puxa ou faz qualquer movimento brusco. Ele acaricia com as pontas dos dedos. Deixo que meu corpo aproveite cada uma das mil sensações que senti-lo estava me causando. Yoongi nos separa, mas não afasta o rosto do meu.
— Eu nunca te mostraria meu lado mal. Não gosto dele. Não posso muda-lo, mas posso esconde-lo. — Sua mão agora descansa na minha nuca.
Eu quis beijar o seu rosto. Quis abraça-lo. Quis ficar mais quente junto ao seu corpo. Mas me contive.
— Yoongi – Digo baixinho — Você não é o bad boy que dizem ser. — Afinal, ele era só alguém com sono, mas acordado o bastante para fazer sua presença ser intensa e marcante como suas músicas.
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