E novamente o caçula joga a bola para fora da trave, fazendo a torcida Barcelona ficar tensa. Xavier só faltava arrancar seus próprios cabelos vendo o mais novo Golden Boy chutar errado pela terceira vez, deixando Paris Saint-Germain liderando o placar 2x0 e com apenas 4 minutos para o intervalo.
O treinador havia deixado os até então mais experientes na reserva, incluindo Pedri que andava de um lado para o outro apreensivo vendo os jogadores do time rival fechar Ansu e Gavi.
O estádio estava lotado, dividido entre os torcedores do time da casa e torcedores do PSG. Os rivais já comemoravam, enquanto os culés gritavam indignados com os jogadores em campo.
2 segundos.
1 segundo.
O apito soa encerrando o primeiro tempo. Os que jogavam representando o time da casa se aproximam de Xavi que começa a disparar várias coisas sobre eles que apenas ficam em silêncio escutando a bronca do seu técnico.
— o que está acontecendo? Até o último treino estavam ótimos o bastante para eu tomar a decisão de ter colocado vocês para jogarem. — diz olhando no rosto de todos do time, esperava algo ser dito, mas todos ficam calados. — Gavi e Ansu, vocês estão fora. Pedri e Torre vão entrar. — diz e Ansu tenta protestar, mas recebe um olhar severo do treinador. — quero que virem esse jogo. Isso não é um pedido, é uma ordem.
O técnico se retira dali enquanto os jogadores começam a se espalhar pela sede do Barça. Gavira se direciona até o vestiário sendo seguido por Pedri. Ao entrar, o caçula se senta sob o banco passando as mãos sobre o rosto com a expressão aflita.
— Quer me dizer o que está pegando? — o mesmo encosta no batente da porta encarando o mais novo. — Perdi as contas de quantas faltas você fez só hoje — diz, o que faz o menor bufar e baixar a cabeça olhando para um ponto fixo no chão.
— Só estou com algumas coisas em mente. Não é nada de mais.
— Está nitidamente na cara que não é apenas isso. — o moreno cruza os braços, fuzilando o amigo com os olhos. Sabia que ele estava incomodado com algo. — Eu não entro em campo até você me dizer o que está rolando.
— Então o Xavi vem até aqui, e mata nós dois. — ri soprado enquanto Pedri ainda o encarava sério.
— Então somos dois mortos. Qual é Gavira, desde quando esconde as coisas de mim? — o mais velho falava enquanto se senta ao lado do camisa 30. Assim instalando um silêncio incomodante.
O menor ainda tinha os olhos no chão, então apenas inclina a cabeça em direção ao outro. Seus olhos vão de encontro com o do mesmo, o que o faz sair do transe e sentir as bochechas esquentarem. O número 08 do time catalão tinha olhos hipnotizantes, na opinião de Pablo. Fazia um tempo que se sentia estranho em relação ao González, mas não era isso que incomodava.
— Só estou à beira de pegar aquele prêmio e entregar ao Bellingham para me deixarem em paz. Estou exausto de 24 horas por dia falarem que o troféu deveria ser dele, e que está atuando melhor em campo, o que depois de hoje não parece ser mentira. — ri forçado por Xavi o ter tirado do jogo. Não julgava o técnico, pois, se estivesse fazendo um bom trabalho, isso não teria acontecido. — Se fazem tanta questão, e só assim para me deixarem em paz, eu entrego. — falava com desgosto, ainda encarando o amigo que o escutava atento. — não aguento mais opinarem em tudo que eu faço ou deixo de fazer.
Por outro lado, Pedri sabia como Pablo se sentia. No ano anterior, que ganhou o Golden Boy, teve que ler e ouvir coisas desagradáveis ao seu respeito, e não teve amparo, teve que buscar isso em sua família. Só que esse ano, com Gavi, as pessoas pareciam ter perdido o controle, esqueceram que ele tinha apenas 18 anos.
O mais novo franze o cenho ao ver a ação do amigo que se ajoelha em sua frente.
— Quem ganhou o prêmio foi você ou o Bellingham? — pergunta encarando as íris castanhas esverdeadas do mais novo que pareciam mais dilatadas que o normal. — quem soa todos os dias treinando desde que tinha 14 anos e foi a pessoa que o Barcelona viu futuro e colocou diretamente como titular no time só com 17 anos? — o encarava sugestivo. — Quem é que mais tem posse de bola em todos os jogos e foi parabenizado após ganhar esse troféu pelos dois maiores jogadores que o futebol já teve? — fez uma pausa. — Quem é que sempre está batendo de frente com os adversários para defender seus colegas de time? — o mais velho o olhava como se pedisse uma resposta, mas o camisa 30 estava atônito o bastante para nenhuma palavra sequer sair de seus lábios entreabertos. — A resposta para tudo isso é você, Gavira.
O que estava ajoelhado fazia um carinho singelo sobre as mãos do outro que ficou sem jeito com as palavras de Pedri.
— Podem até lhe subestimar, mas eu não permito você fazer isso contra si mesmo. — diz severo, deixando o outro ainda mais tímido. Gavi era conhecido por ser marrento, e bater de frente com pessoas do dobro do seu tamanho. No entanto, ao lado de Pedri, acaba vacilando, o que o deixava meio constrangido pelo amigo o deixar de saia justa apenas com palavras, mas que para ele significava muito.
Tinha sido como se um peso tivesse saído das suas costas, e ele pudesse finalmente voltar a respirar.
— Como sempre sabendo o que falar. — sorri vendo o maior se levantar e fazer uma rápida mobilidade nos joelhos, os aquecendo para o segundo tempo da partida contra PSG que seria em 3 minutos.
— Minha boca como sempre fazendo coisas maravilhosas pelo próximo. — dispara com malícia e acaba rindo anasalado por fazer o caçula corar fortemente. Adorava deixá-lo nesse estado.
— Você é tão babaca. — diz revirando os olhos ao se levantar e ir em direção a saída do vestiário.
— Você que entende em duplo sentido e o babaca sou eu? Não entendi, amor. — falava com sarcasmo, logo atrás do mais novo o acompanhando.
O menor nada mais disse. Apenas caminhava até o campo novamente sentindo a presença do amigo atrás de si. Gavi odiava o efeito que Pedri causava nele, ainda mais quando o mesmo parecia saber disso.
— Prometo fazer um gol especialmente para você. — o mais velho provoca, fazendo Gavi virar e mandar o dedo do meio pra si, mas voltando a caminhar escondendo o sorriso que queria brotar em seus lábios.
Já no campo, todos vão para suas posições, prontos para começar a partida. O apito soou e logo a bola começou a rolar com posse do time rival, que tentava atravessar o outro lado, que no entanto, estava sendo impedida pelos donos da casa.
O segundo tempo vibrava com várias emoções diferentes pelos torcedores e equipes. Os reservas atentos na bola, a seguindo com o olhar a cada instante. Os culés começaram a cantar o hino do clube, deixando seus jogadores um tanto emocionados, enquanto os parisienses já gritavam comemorando a vitória teórica do time.
Gavi observava tenso cada movimento em campo. Caso fossem derrotados nesse dia, seria o quarto seguido. O Barcelona não estava nas melhores situações atuais, o que fez com que o atacassem ainda mais após ganhar o prêmio "Golden Boy 2022". Segundo os críticos, ele não estaria fazendo nada para mudar essa fase crítica do clube, e a maioria dos comentários vinham dos torcedores rivais, e não do time catalão.
Pedri avançava o campo rival, sendo marcado pelo camisa 13 e 09, o que não impediu do mesmo fazer um drible perfeito e a bola ir de encontro em uma jogada espetacular em 15 minutos de jogo. A torcida vibrava enquanto o camisa 08 corria com um sorriso no rosto, com as mãos em volta de seus olhos formando um estilo "óculos" em direção a câmera que focava em si logo mandando um beijo e deixando outro no escudo do Barcelona no manto do clube.
Gavi celebrava na reserva com os outros jogadores e equipe. Orgulhoso do amigo, até olhar para o telão e o ver mandando um beijo para a câmera. Suas bochechas ganharam um tom rosado, "Prometo fazer um gol especialmente pra você". A fala de Pedri ecoava em sua cabeça lhe causando arrepios. Detestava como se sentia facilmente vulnerável com qualquer coisa relacionada ao outro.
O jogo acabou. 4x3 para o Barcelona, sendo dois de Eric e um de Pedri. Os barcelonistas comemoravam, o estádio estava uma loucura. Logo os jogadores vão em direção ao vestiário, cantando o hino do clube em pura sintonia e animação, enquanto engraçadinhos mais animados faziam danças aleatórias arrancando risadas uns dos outros. Depois de muitas derrotas, enfim chegou a vitória, que queriam acreditar estar próxima de muitas outras.
— Vocês não imaginam qual é a fofoca da vez. — Ansu diz, após todos saírem da ducha e se arrumarem para comemorar a vitória. Alguns olhares curiosos caíam sobre o mesmo, enquanto os outros terminavam de se arrumar esperando a bomba que o garoto soltaria.
As melhores fofocas do CT eram trazidas por ele. Ansu era o verdadeiro fofoqueiro do Barcelona.
— Já sabemos o ritual que você vai fazer antes. Então conta logo. — Pablo Torre diz arrancando risadas dos jogadores. Era sempre um "longe de mim querer espalhar boatos, estou apenas espalhando informações que pode ser de seus interesses."
— o Piqué traiu a Shakira. — solta a bomba. Os olhos de Lewa e Pedri quase saltaram, verdadeiros tapados. Já outros, deram de ombros, o que acontece no CT, fica no CT. Já viram Gerard dar mole para várias mulheres pelos corredores, mas por que se meter onde não são chamados?
Não valia a pena já que Sérgio e Piqué eram os veteranos dali.
— Você já foi dono de informações melhores. — Disse Raphinha, amarrando seu tênis.
— Aí vem a melhor parte. — o moreno sorri maldoso, mas logo ri. — falaram que foi com a mãe do Gavi.
Como se tudo estivesse em câmera lenta, Pablo franze o cenho encarando o camisa 10, enquanto todos abriam a boca em um perfeito O, em conjunto. A cena podia ser considerada engraçada se o caçula tivesse levado na brincadeira.
— Minha mãe? — perguntou risonho. Aquilo era fora de cogitação.
A porta é aberta por Gerard que fica com o semblante confuso ao ver agora todos encará-lo de boca aberta.
— Eu sei que sou fantástico o bastante para vocês ficarem sempre surpresos com minha ilustre presença, mas vocês estão me assustando. — diz com um sorriso nervoso, fechando a porta atrás de si com o próprio corpo.
— Pede benção do seu pai, Gavi. — Pedri solta fazendo com que todos tomem um choque de realidade e risadas ecoam pelo local, exceto Gerard e Pablo júnior que agora o encarava de braços cruzados.
— Nem morto.
...
Depois do pequeno escândalo no vestiário, Gavi e Pedri se encontravam tentando entrar no carro do mais velho, o qual estava cercado de fãs do time, que pareciam ter os aguardado desde que o jogo foi encerrado.
Com as coisas saindo do controle, mãos bobas de garotas começaram a rolar pelo corpo de Gavi, o deixando completamente constrangido. Pedri o puxa pela cintura, enquanto pedia para ninguém se aproximar, o que não foi muito bem respondido pelas fãs do garoto.
As mesmas que os assediava falavam como ambos garotos tinham jogado bem, ou como Pablo tinha jogado bem, mas na real, era tudo mentira. Sabia que muitas só estavam ali por conta de sua aparência. Já que se fosse pelo jogo, teriam no mínimo falado palavras de conforto.
Seguranças do CT se aproximavam contendo a multidão, enquanto outros faziam barreiras em volta dos dois meninos.
Gavi entra no carro, podendo finalmente voltar a respirar, enquanto colocava o cinto de segurança, observando algumas pessoas tentando chamar sua atenção pelo vidro da sua janela. Só queria sair dali o mais rápido possível. Os seguranças faziam uma barreira em volta de Pedri, que logo entrou no carro, colocando o cinto e dando partida para a estrada, se distanciando da sede.
Um silêncio predominava no automóvel, ambos garotos prestavam atenção no trânsito que não estava tão terrível quanto nos outros dias. A tarde estava caindo, dando o lugar para um lindo pôr do sol que já se misturava com cores mais escuras no céu, logo chegaria a noite.
— Eu sinto muito. — Pedri resolve quebrar o silêncio fazendo Gavi o encarar confuso. — As pessoas não sabem a definição de limites. — o camisa 30 volta a sua atenção para a estrada ao entender que o mais velho se referia ao acontecido de minutos atrás. — Não acha irônico? Devemos testar nossos limites, ir além, mas ter senso para saber em qual momento devemos aplicar isso. — Pedri apoia cuidadosamente uma de suas mãos sobre a coxa do mais novo, fazendo uma leve carícia ali, sem maldade. — tomar cuidado com os limites.
O garoto no banco do passageiro assente e desvia o olhar para o mais velho novamente.
— E qual é o seu limite? — perguntou curioso.
— Quando eu descobrir, provavelmente você vai saber. — diz risonho e o outro ainda o encarava esperando uma boa resposta, que não veio. Detestava sua lentidão para compreender as coisas.
Não é atoa que para ter certeza que sua mãe não tinha nada com Gerard, ligou para ela, a questionando sobre aquela notícia. O que não foi muito bom, por ter que escutar a anfitriã brava por quase 1 hora.
— Tudo bem. — diz por fim.
Agora com a noite caindo, o carro para em frente a casa de Gavi. Pedri deita sua cabeça sobre o volante, mas se esquiva para olhar o amigo que o já encarava. Se dependesse de ambos, ficariam assim a noite toda.
Falam que os olhos são a janela ou espelho da alma, quando se cruzam é possível muita comunicação, mesmo sem dizer uma palavra sequer. Onde você pode enxergar a mágoa, tristeza, alegria, desejo, rancor, inveja, paixão ou qualquer outro sentimento. Você consegue fazer uma leitura do outro apenas com esse singelo ato.
O Único problema é que umas pessoas se comprometem umas com as outras sem saber ler.
Pedri sabia ler Gavi, mas Gavi estava em fase de construção para saber ler Pedri. Era algo que ele se esforçava bastante para aprender.
Não tem desculpa quando você deseja uma pessoa, não o desejo carnal, mas o sentimental. Você faz o possível para saber lidar com ela e com esse desejo. Não tentando apagar, e sim manuseando da melhor forma possível, tendo responsabilidade afetiva, para que no fim, nenhum dos dois se machuque. Mas será que temos tanta certeza se queremos a pessoa para nossa vida, custe o que custar? Será que estamos propensos a pagar qualquer coisa para termos a pessoa amada? Será que isso só depende da gente?
Imagine essa confusão quando você não é maduro o bastante para saber lidar.
— Se suas fãs continuarem assim, vou ter mais chance do que elas. — González diz baixo o bastante para Gavi o escutar e sorrir.
— Isso não é novidade para ninguém. — decide entrar na provocação do amigo. O semblante de Pedri era de surpresa e confusão, não esperava que o garoto fosse retribuir aquilo. — obrigado pelo carona, e até mais tarde. — ri, saindo do carro.
Pedri nega com um pequeno sorriso nos lábios o qual tentava esconder. Era ele quem costumava fazer provocações, deixando Gavi de saia justa. Ao ver que o amigo adentrou na residência, logo parte em rumo a sua casa, a qual iria se arrumar para o jantar na propriedade de Xavi, em comemoração a vitória do clube.
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