— Como assim? — Chanyeol ainda estava inconformado com o que tinha ouvido, na verdade, não queria acreditar que aquele era o pensamento de seu amado.
Baekhyun bufou mais uma vez e, ainda de braços cruzados, continuou andando como se não tivesse o deixado falando sozinho. O frio era digno de princípio de inverno, por mais que estivessem no final da primavera quase beirando o verão, era apenas mais de umas façanhas traiçoeiras da meteorologia enganando as pessoas. Chanyeol não deixou barato e continuou seguindo-o para dar ênfase em suas indagações.
— Imagina ser um homem que gosta de pirocas na minha família? Você não sabe o que é isso porque não convive com seu único parente homofóbico! — Falava enquanto apertava o passo, assim como seus braços para aquecê-los. — Não faz ideia do que é viver dentro do armário por 18 anos por medo. Isso não faz parte da sua realidade, mas é a minha! — Exclamou em voz alta. — Antes de pensar em você, eu pensei em mim. Não é porque não te amo, não é porque não me importo! Eu só cansei disso tudo, dessa desgraça… — Suspirou. — Me escondi por muito tempo, escondi meus sentimentos de vários meninos, de você, de Jongdae…
Chanyeol franziu o cenho indignado:
— Jongdae?
— Isso não vem ao caso agora. — Lançou um olhar para ele por cima do ombro, vendo-o apressar-se para ficar parado na sua frente, bloqueando sua passagem. — Foi só uma coisa de fim de semana. — Revirou os olhos.
— Então vocês ficaram? Jongdae é bissexual?
Foi encarado com um olhar de desaprovação.
— Não, nunca ficamos. — Disse apressadamente. — E mesmo que sim, isso não é da sua conta, a gente não tinha nada naquela época.
Ele tentou continuar andando normalmente, mas seu namorado bloqueava sua passagem. O encarou mais uma vez, o cenho tão franzido e os olhos vermelhos de raiva. Não era um bom momento para tirar satisfação, porém Chanyeol não conseguiria engolir facilmente essa historinha de que Baekhyun gostou de Jongdae, de alguma forma tinha ficado irritado e possessivo demais, sem domínio de seus sentimentos.
— Como assim não é da minha conta? Estamos juntos, então eu, no mínimo, deveria saber disso, vocês eram tão grudados desde sempre parecia que queriam namorar. Se Jongdae fosse…
Não pôde terminar a frase. Baekhyun atropelou-se em palavras:
— Mas ele não é! Vai ficar de ciuminho agora? O que deu em você?
Chanyeol respirou bem fundo, ignorando todas as voltas e nós de corda que lhe pesava no peito num misto de angústia, tristeza e raiva. Silenciosamente ele estendeu os braços em rendição, uma expressão de desdém que serviu para que seu namorado ficasse ainda mais enfurecido, as bochechas coradas não só de frio, mas em ódio também. Antes que ele pudesse abrir a boca para falar mais coisas e vomitar todos os seus argumentos, sua linha de raciocínio foi cortada com um toque de celular, encerrando a discussão ali mesmo.
Viu o outro atender a ligação da irmã, virando-se de costas para ter mais privacidade, mesmo que sem necessidade, ele só estava com tanta raiva que não queria nem encará-lo. Baekhyun permaneceu imóvel e com uma carranca, contendo sua vontade de vestir aquele maldito casaco porque também estava borbulhando de raiva naquele momento e era aquilo que o manteve aquecido. Mansamente, após encerrar a ligação, seu namorado voltou a andar na sua direção.
— Yoora está chegando… — Seu tom de voz era baixo. — Resolvemos isso depois.
— Eu não quero resolver nada. — Respondeu friamente.
Depois disso, o silêncio pairou sobre eles por longos minutos. O “chegando” de Yoora era mais demorado do que eles podiam imaginar. Se ela ao menos soubesse que ambos estavam de birra e passando frio na rua, certeza que pisaria no acelerador e ainda se meteria na discussão desnecessária deles porque era assim, metia o nariz sempre onde não era chamada pelo bem da paz.
Quando ela chegou, ficou até surpresa que seu irmão não reclamou da demora, mas ignorou porque achou que era apenas pelo fato de seu cunhado estar em uma situação emocional delicada, por isso evitavam falar. Baekhyun sentou-se no banco da frente, sem muita objeção do namorado, que se enfiou no banco de trás silenciosamente, mesmo que com dificuldades por causa da bagagem. Nada além da música baixa era ouvido naquele carro, diferente das conversas barulhentas e beijos que eles sempre trocavam quando estavam no carro e aquele ambiente fúnebre incomodou a mulher de certa forma.
Ela pensou em puxar um assunto e tentar fugir um pouco daquela desgraça, porém permaneceu calada, visto que a situação poderia ser pior do que imaginava com ambos distantes. Yoora apenas afastou os pensamentos e continuou focada na estrada, indo diretamente para a casa de sua mãe para deixá-los lá porque tinha algo mais importante para fazer naquele final de tarde. Assim que voltasse para casa resolveria os problemas do irmão e do cunhado com uma bela conversa com cada um separadamente, não só pela curiosidade, mas, também, pela empatia e pelo zelo que tinha por eles.
Despediu-se dos garotos com duas buzinas, seguindo rumo para o único lugar que não precisava de nenhum GPS para encontrar, tinha um mapa bem desenhado em sua memória desde quando era pequena, não importa onde estivesse, sempre sabia como chegar lá. Absolutamente nada naquele mundo a faria esquecer aquela rota, nem se ficasse velhinha e com Alzheimer, tinha certeza que poderia se lembrar dessa única coisa, mesmo que perdesse a memória do motivo, teria sempre aquilo em mente.
Não era tão longe assim da casa de sua mãe, o que otimizava seu tempo para voltar para casa. Dirigia, dessa vez, com o som do carro desligado, murmurando a melodia que mais gostava desde quando aquilo aconteceu. Ao avistar a árvore conhecida e bem florida por causa da primavera, sentiu-se mais leve e agraciada pelo cheiro que era bem familiar, por mais que nunca mais tivesse sentido a colônia de frutas adocicadas tão característica, apenas lhe vinha à memória de repente quando apenas avistava aquela árvore ou alguma parecida em qualquer lugar do mundo. Apertou o volante quando se aproximou um pouco mais, um friozinho na barriga a envolveu, talvez porque sua mente estivesse completamente preocupada com outros assuntos. Respirou fundo diversas vezes tranquilamente, fazendo seus pensamentos se esvaírem com cada expiração.
Com uma determinação, livrou-se do cinto de segurança e, sem se importar de estar de salto, desceu do carro e caminhou dificultosamente pelo gramado.
Adorava aquele lugar, mesmo que não fosse cheio de lembranças e momentos mágicos de sua infância. Sempre que pisava lá, juntava as mãos e iniciava uma súplica, não para um deus, não para uma entidade, nem para uma alma ou alguém, mas para um anjo do mal. Não, Yoora não era ligada a coisas malignas, apenas sabia que o cargo desse anjo não era muito bom e ele não tinha culpa disso, ele não havia escolhido ser assim, o Altíssimo que o tinha obrigado a ser desse nível tão horrendo e desprezível, ela só tinha certeza que ele era o único capaz de ouvi-la.
Desfez o coque que prendia seu cabelo o dia inteiro em respeito. Fez uma reverência diante do pôr-do-sol, diante da árvore e diante de vários objetos infantis espalhados e amontoados num altar em forma de um memorial. Buscou o isqueiro dentro de um bolso improvisado na saia lápis, acendendo alguns palitos de incenso, os cabelos atrás das orelhas grandes e chamativas que sempre arranjava uma desculpa para esconder, enquanto carregava um olhar inexpressivo ao fazer algo que, de praxe, era monótono.
Abriu um pequeno sorriso e uniu as mãos, entrelaçando-as uma na outra, iniciando uma canção lenta:
— Eu implorei a Deus para que quando eu te visse um dia, te veria na forma de estrelas do universo, de um mundo tão perverso e cruel… O mundo que te levou de mim, me fez crescer assim, com um buraco no coração e completamente sem emoção… Um dia meu amor me disse que me amava para sempre, na tristeza e na felicidade. Ó, amor! Ó, amor! Você só me trouxe dor, mas nada do meu amor, mas nada do meu amor… — Cobriu o rosto com as mãos, tentando controlar o choro a todo custo para continuar a cantar. A dor dita era do passado, mas parecia tão recente como se tivesse acabado de ser partida ao meio. — Me perdoa! Me perdoa! — Falou entre soluços por não ter conseguido terminar de cantar.
A música estava sempre na ponta da língua, mas, por algum motivo, quase nunca era capaz de completá-la naquele lugar. Sempre encerrava na mesma parte, secando suas lágrimas de dor e sofrimento. Yoora sempre foi uma mulher forte, raramente se entregava ao choro e ter esse título era ruim demais, sempre se sentindo fraca quando demonstrava um traço de vulnerabilidade, sentia-se incapaz de fazer qualquer coisa.
Ela teve um melhor amigo na escolinha durante sua primeira infância, seu nome era Sehun — só foi descobrir seu sobrenome anos mais tarde —, um garotinho engraçado e completamente simpático, que logo a conquistou com pequenos buquês de flores roubadas do quintal da vizinha. Quase todas as manhãs, Yoora recebia umas flores pequenas para botar no cabelo e, às vezes, o próprio garotinho com mãos sujas de terra as colocava para ela ficar linda o tempo inteiro. O garoto usava um dialeto diferente porque nascera numa cidade pequena, mas era bom ouvir sempre que estava bonita, mesmo sem as flores os elogios ainda estavam lá, sempre permanentes e proferidos com um sorriso sincero.
Não foi fácil quando ele teve que mudar de escola quando chegaram em níveis avançados, mas estava tudo bem, afinal, eles não perderam o contato de jeito nenhum. Em 2002, nada os impedia de ficar agarrados ao telefone de fio a tarde inteira falando sobre brincadeiras e, o assunto favorito deles, matemática. Não tinham nada tão em comum quanto o gosto por fazer continhas e brincar, é claro. Se encontrava todas as sextas-feiras no parquinho, pois ainda moravam perto. Esse dia da semana passou a ser o favorito deles, justamente quando podiam levar brinquedos para a escola e brincar de faz de conta na casinha de madeira com balanço e um escorregador. Se esbaldavam até a hora da despedida, que era sempre a mesma choradeira, que parava de repente ao chegarem em casa.
Yoora sempre foi, além de forte, muito azarada também. Sua primeira menstruação veio antes de todas as amigas, logo na véspera dos 10 anos, o que a fez com que ficasse excluída por um tempo. Mas tinha uma única pessoa em específico que nunca a tinha abandonado. Sehun tinha ficado ainda mais próximo dela nesse período de exclusão do grupo de amigos, sempre fazendo questão de andar sozinho do próprio colégio até o dela, tudo para conquistar um sorrisinho ao ser avistado e dividir um lanche no período do intervalo. Suas viagens sempre gerava motivo de castigo porque se atrasava para as aulas depois do intervalo, até o final do ano letivo quando descobriram que o motivo de seus atrasos eram escapadinhas proibidas pulando o muro da escola escondido.
Mesmo assim, independente dos puxões de orelhas e advertências, ele ainda ia de encontro com Yoora que já nem ligava mais para os amigos que a tinham deixado sozinha e nunca havia se importado mesmo, apenas gostava da companhia de Sehun, que lhe rendia boas risadas e momentos divertidos. Ele havia ficado um tempo de castigo por causa de suas travessuras proibidas, mas foram apenas algumas semanas impedido de passar a tarde inteira com sua melhor amiga.
Ambos tinham sentimentos fortíssimos um pelo outro, talvez tivessem confundido as coisas, mas Sehun era o único menino que Yoora não sentia nojo, pelo contrário, adorava ver as mãos — agora maiores — sujas de terra colocar algumas flores em seu cabelo solto. Ela odiava suas orelhas porque era motivo de chacota, porém seu melhor amigo era o único que as fazia aparecer e não para zombar, mas porque achava que ela ficava mais bonita daquela forma, onde dava para prender uma flor maior entre o cabelo e uma orelha, sempre sorrindo depois de passar muito tempo decorando aquele cabelo. Às vezes ele aparecia nos encontros da tarde com uma linha de nylon e caules de rosas sem espinhos além, é claro, das próprias flores que combinavam perfeitamente com uma linda garota. Ficava um bom tempo trabalhando numa tiara de flores em silêncio, pois a amiga estava lendo um livro de romance.
Sehun estava longe de ser um príncipe encantado, rico e popular dos livros favoritos de Yoora, pelo contrário, ele não era nem um pouco rico e muito menos popular, só tinha uma única amiga e tinha sentimentos por ela, sempre mantendo-os guardado porque seu maior medo era perdê-la para sempre, afinal, ela era obcecada por personagens bobos e imaginários. Gostava sempre de lhe fazer uma decoração especial, visto que ela mesma não reconhecia sua própria beleza, precisava ressaltá-la para que ela visse o quão linda era e talvez parasse de se comparar com as meninas bobonas que zombavam de duas orelhas lindas.
Todo ano ganhava brincos de presente de aniversário da família Oh porque Sehun era obcecado por suas orelhas, mas não de uma forma ruim, apenas queria que ela tivesse motivos para mostrá-las e exibi-las por aí com acessórios lindos.
Um belo dia, depois de tanto treinar, ela finalmente estava pronta para se confessar. Sabia que ele gostava de seus lanches, então, dessa vez, não deixou com que sua mãe o fizesse, inventou uma desculpinha de que ela deveria preparar o de Chanyeol porque ele ainda era pequeno e que ela já era uma mocinha. Parecia besta, mas funcionou. Yoora nunca tinha preparado um lanche com tanto amor e carinho como naquela vez, completamente determinada para falar com Sehun.
Como esperado, eles se encontraram e entre lanches caseiros e vitaminas de frutas, diante de um confessionário de longas datas, eles se beijaram pela primeira vez, um selinho rápido só para saberem como era iniciar um namoro. Foram momentos de pura felicidade. Sehun era sempre atencioso e tentava, na maioria das vezes, ser um cavalheiro, mesmo que espirrasse na barra da camisa e limpasse resíduos de comida do contorno da boca com o braço. Ele era apenas um menino normal, mas um menino de ouro para Yoora, que o achava melhor do que qualquer bonitão dos livros. O jeito daquele garoto a fez ficar apaixonada cada vez mais.
Os encontros deles não tinham mudado quase nada. A pureza infantil os limitava apenas a selinhos doces e com medo de uma gravidez por serem tantos. As únicas coisas diferentes eram algumas declarações de amor melosas e bregas jogadas no ar enquanto Yoora ficava deitada quietinha com o cabelo sendo decorado com algumas plantinhas. Ela era a tela em branco que Sehun usufruía para expressar sua arte, sem deixar de ressaltar a beleza da menina mais linda que havia conhecido em sua vida, também a primeira que não sentia nojo ou achava metida. Seus olhares não mentiam de jeito nenhum. Estavam perdidamente apaixonados e sentiam que seria para sempre.
O lema deles era "Nosso amor durará para sempre, na tristeza e na alegria" como votos de casamentos porque nem sempre eles estavam felizes, apenas tinham o amor intacto e, independente dos momentos ruins ele era o único presente, por mais que ambos ainda fossem crianças e ingênuos demais a respeito de amor, sentiam como se fosse as continhas matemáticas que adoravam fazer.
Era apenas um dia normal no final da primavera de 2007. Sehun penteava o cabelo cuidadosamente para se encontrar com sua digníssima namorada, aproveitando para dar uma passada na bancada de cosméticos de sua mãe para pegar o perfume que ela tanto reclamava que estava evaporando, sem nem perceber que o filho que passava. Ele não sentia cheiros, também não sentia falta disso, então não sabia como era o aroma do perfume que roubava, sua única certeza era que Yoora era apaixonada por ele, por isso a frequência de uso tinha aumentado. Antes de vê-la passou pelo jardim da vizinha resmungona, pegando umas flores diferentes dessa vez, imaginando que sua amada iria gostar dessas novas.
Enrolando um fio de nylon nos dedos, o garoto apaixonado virou a esquina da rua perdido em pensamentos. Virou a esquina acenando gentilmente para o sorveteiro popular da cidade, que a senhora Park, mãe de Yoora, odiava com mil e um motivos, mas estava tudo bem para o garoto que já tinha se resolvido com o senhor. Talvez, se fosse um pouco mais desconfiado ou estivesse mais atento, aquela não seria a última vez que ele fosse visto em meses.
Yoora olhava para o relógio de pulso diversas vezes em ansiedade. Seu namorado nunca se atrasava para um encontro, se lembraria de jogar isso na cara dele mais tarde. Ficaria mais brava ainda caso Sehun estivesse de castigo e não a tivesse avisado, ah, ele iria ver só! Já estava uma fera com o atraso de dez minutos, porém esses dez minutos se transformaram em trinta; os trinta em sessenta; sessenta em cento e vinte e, por fim, cento e vinte em duzentos e quarenta, que foi a hora do seu basta. Uma tarde inteira à toa sentada esperando ele aparecer renderia uma bela briga de casal. Só que toda sua raiva se desfez quando chegou em casa com medo de ficar de castigo por ter chegado de noite, se surpreendendo ao ser recebida com abraços preocupados e lágrimas da parte de seus pais e dos pais do seu namorado, juntamente com questionamentos a respeito do mesmo.
Depois de muito reclamar sobre ele não ter aparecido, a conversa se tornou em algo de adulto quando a mandaram ficar no quarto com Chanyeol, que reclamava que queria sorvete por causa do novo dente que tinha caído. Ela estava tão distante querendo saber sobre Sehun que quase não se importou com o irmão tagarela falando que não chorou quando viu o dente dele cair porque ele era um menino grande, o que não era de seu feitio porque sempre alimentava as ilusões infantis do mais novo. Estava com um mau pressentimento naquele momento.
Sehun foi encontrado no inverno por uma família desconhecida, porém muito importantes para o caso, que se divertia apreciando a vista e tirando fotos quando o patriarca, sem querer, pisou em algo que achou que era uma cápsula do tempo enterrada de qualquer jeito perto da árvore. Ele teve a boa intenção de guardá-la direito para quem quer que estivesse enterrado-a. Soltou um grito estrondoso ao ver que era um cadáver, acionando imediatamente a polícia que investigou o caso mais a fundo. A causa da morte foi asfixia por enforcamento, o que significava que ele havia sido assassinado. Uma linha fina no pescoço denunciava o fio de nylon que usava para fazer tiaras para sua amada.
Em breve, tal lugar se transformara num santuário para ele, o caso repercutiu por todos os bairros ao redor e gerou grande comoção. Os pedidos de justiça pelo garoto de 11 anos foram barulhentos o suficiente para a polícia encontrar o assassino mais rapidamente. O próprio sorveteiro simpático que o cumprimentava todos os dias o matou após uma tentativa de estupro. Ele foi condenado a pena de morte, pagando não só pelo o que fez com Sehun, mas o que fez a outras crianças e, por sorte, não chegou a fazer tal mal com Chanyeol.
Ali mesmo foi feito um velório para o garoto, antes de levarem ele para o cemitério, uma jornada longa, silenciosa e torturante para a jovem Yoora, que odiava vestidos pretos porque a fazia parecer uma viúva e só tinha usado uma vez, no enterro de seu avô, até então. Ela era a viúva de Sehun e isso não podia ser negado, seu luto era mais doloroso do que qualquer pessoa que tivesse empatia pelo caso. Por mais que estivesse num funeral, a única coisa que pensava era que sentia-se muito feia e envelhecida naquele vestido. Estava leve e tranquila porque jurava ter visto Sehun acenar para ela antes de ser engolido por uma nuvem preta.
Por isso que aquele lugar não era visto como ruim diante de seus olhos. Era seu lugar favorito porque ali foi a última vez que viu seu amado.
A dor do amor eterno foi difícil de curar ao longo dos anos. Doze anos mais tarde e ela estava começando a se abrir mais para o mundo, talvez se tornar sensível a longo prazo. Eles não foram eternos e, mesmo sabendo disso, Yoora não perdia as esperanças de que o encontraria mais uma vez um dia, então, sempre que podia, ia visitar seu santuário, imaginando que ele estaria ali, no entanto, nunca sentira sua presença. Cantava como num ritual para chamá-lo uma música que ela mesma escreveu para cantar no funeral que não derramou uma lágrima sequer, a mente presa ao maldito vestido. E lá estava ela com uma saia preta que lhe lembrava o corte daquele vestido feio.
O Ceifador Sehun a olhava silenciosamente de longe. O aperto no peito ao vislumbrar uma imagem que nunca havia imaginado da mulher que mais amou no mundo, num estado caótico de puro choro e desespero. Ele sabia, desde o momento que havia pisado no apartamento do mortal, que a conhecia, que sabia muito bem quem era aquela garota sem papas na língua. Seu medo o impediu de ter suas memórias da vida mortal, porém seu interesse foi despertado ao descobrir que seus colegas já sabiam quem eram.
Maldita seja a terra e todos os moradores dela! Agora ele teria que lidar com a dor de não tê-la pelo resto da eternidade.
Caminhou determinado até sua amada para, pelo menos, tocá-la uma vez. Uma brisa a envolveu, seu cabelo deslizou ao vento graciosamente. Yoora parou o choro de repente, olhando fixamente para o céu ao segurar uma mecha do cabelo, tentando conter o sorriso nervoso que lutava contra as contrações dos soluços angustiantes que soltava sem querer por causa do choro compulsivo recente.
— Sehun?
Ele se afastou da mortal instintivamente, porém não da forma que imaginava. Deu alguns passos para trás no gramado e entrou no plano material para não assustá-la, o que foi completamente em vão ao ouvir o grito assustado da garota. Aos poucos, depois do susto, ela foi se acalmando, as mãos ainda trêmulas, analisando cada parte de Sehun da cabeça aos pés. Ele já era um homem adulto e vestia um terno preto impecável, parecendo ter sido feito sob medida apenas para o perfil dele e não serviria em mais ninguém.
— Não se assuste, sou só eu. — Respondeu mansamente ao agachar diante dela.
A mortal ergueu o olhar mais uma vez após se retrair, dessa vez, se aproximando e tocando-lhe onde alcançava. Sentiu os membros do corpo dele completamente firmes e bem massudos, não contendo as lágrimas ao apalpá-lo descaradamente, mas estava tudo bem fazer isso, precisava ter certeza de que aquilo era real e não ilusório. Pegou impulso para ficar de pé e Sehun fez o mesmo, sendo envolvido num abraço em seguida, sem conseguir conter sua vontade de retribuí-lo.
Depois de um tempo em prantos e soluços, Yoora finalmente estava se acalmando até ficar em completo silêncio, talvez em vergonha por ter molhado o terno de um Ceifador com suas lágrimas mortais ou porque, de fato, não queria se afastar dele. O abraço de Sehun continuava completamente confortável do jeito que se lembrava e, sem ele ao menos perceber, tinha transmitido uma paz incompreensível para a moça. De repente, ela se afastou assustada e olhou para todos os lados ao seu redor com uma expressão preocupada.
— Eu morri? — Foi uma pergunta que não queria que fosse respondida.
Sehun sorriu, mesmo que ela não tenha dito nada engraçado.
— Não, você não morreu. Por que está tão assustada?
— Engraçado… — Yoora suspirou ao olhar diretamente para o rosto dele. — Porque você é exatamente como imaginei adulto. — Fez uma pequena pausa. — Na verdade, no nosso casamento. O terno ajudou a dar vida para minha ilusão.
— Eu não tenho forma específica. — Continuou manso. — Apareço para as pessoas da forma que elas querem ou conseguem ver.
Ela concordou com a cabeça e voltou seu olhar para o céu, esperando algum tipo de reação extra da parte dele para ter certeza, mais uma vez, de que não era coisa besta da sua imaginação. Ficou em completo silêncio apreciando as nuvens se moverem lentamente, ainda na expectativa de que aquele cara iria sumir a qualquer momento e, passado um tempo sem ouvir absolutamente nada, chegou a acreditar que realmente estava sozinha.
Olhou por cima do ombro para se certificar de que sua teoria estava certa, tomando um susto ao vê-lo completamente imóvel encarando-a. Yoora cobriu o rosto ao voltar-se para o céu, sentindo as bochechas geladas pelo frio, preferindo esperar mais um pouco até ele ir embora para voltar para casa e fingir que nada tinha acontecido.
— O que quer me contar que tem tanto medo de falar em voz alta? — Sehun falou, o som de sua voz parecendo estar tão próximo de seu ouvido, porém ele estava um pouco distante.
Só podia ser brincadeira. Yoora virou na direção dele. Não é real, não é real, repetia diversas vezes na própria mente. Ela entraria no joguinho dele, se Sehun queria ouvir algo, ele ouviria a verdade, mesmo que ele próprio não fosse de verdade.
— Eu vou encontrar alguém… — Abraçou o próprio corpo. — Ele vai ser legal, gentil, me respeitar acima de tudo e… me fazer bem por um tempo — as palavras foram proferidas como uma chicotada dolorosa para ambos, mais para o lado da mortal —, assim como você me fez no passado. Eu demorei tanto tempo para me abrir de verdade para alguém e, em breve, eu encontrarei a pessoa certa para mim.
Sehun não tinha nada além de palavras duras para falar em resposta, preferiu dar um tempo para ela terminar de comentar sobre o homem que ela encontrará para, então, abrir a boca.
— Você sabe que logo terá que se despedir dele, não é? — Soou calmo, porém com palavras que foram como balde de água fria na mortal. Yoora assentiu de olhos fechados. — Como Sensível eu imaginei que você já soubesse mesmo. Ainda tem esperança?
— Eu te contei uma vez que eu odeio ser Sensível porque isso, querendo ou não, é ligado com a vidência. Eu vi coisas incríveis no meu futuro, mas também vi uma dor incurável dentro de mim. Por mais que ele seja bom demais para mim, alguém que esperei por muito tempo, sei que não vai durar porque ele é reciclável. — Finalmente ergueu o olhar para o Ceifador. — Não estou triste com isso, o que me preocupa não é perdê-lo.
— Seu medo é perder seu protegido, seu irmão. — Era uma afirmação.
Yoora o encarou com medo porque ele sabia de algo muito privativo. Ah, mas era uma imagem formada em sua cabeça, então fazia sentido ele saber e questioná-la.
— Eu o perderei daqui a alguns anos, não sei quanto tempo é, só o vi bem adulto e no auge da felicidade. Tento não demonstrar minha preocupação sempre, só disfarço com uma proteção desnecessária, não quero que ele saiba o que espera no futuro, mas, também, não quero perdê-lo, por mais que não tenha muito o que se fazer além de aceitar. — Falou desviando o olhar dele para o mover das nuvens novamente. — Em todas as minhas visões desse dia são as mesmas coisas que eu vejo, mas o engraçado é que eu só consigo ver até certo ponto, já tentei ir além e tudo o que vi foi escuridão. Como eu não desisto fácil, mergulhei na escuridão até ver o resto do futuro. — Lançou um breve olhar na direção dele. — Isso, Sehun, são dons que o Altíssimo não dá a vocês, são maldições para mortais como eu.
Aquilo tinha se tornado uma sessão de desabafos quando ela só queria falar sobre o cara por quem tinha se apaixonado para o primeiro amor de sua vida que, naquele momento, era apenas um fruto de sua mente. Suspirando, ela preferiu parar de falar, seria melhor dessa forma, talvez ele fosse embora de uma vez se permanecesse muda.
Como se o Altíssimo estivesse testando a mortal, Sehun permaneceu ali mais tempo do que ela queria. Estava prestes a apagar os incensos para ir embora. Se a miragem não saía, Yoora fazia questão de deixá-la lá sozinha sem arrependimentos. Foi quando tomou a iniciativa de ir em direção ao carro que o Ceifador se moveu, bloqueando sua passagem. Ela o encarou com seu olhar de ódio, fingindo que não era seu primeiro amor ali e sim algo que ela mesma criou para se distrair em meio a tanta dor.
Sehun parecia que queria falar algo, porém estava engasgado, querendo a todo custo liberar as palavras e não conseguindo de jeito nenhum. Ele hesitou. Talvez fosse a presença daquela mortal que com apenas um olhar era capaz de desconcertá-lo, mesmo sendo uma criatura espiritual agora, a qual o Altíssimo havia moldado com seu caráter. Engoliu em seco, talvez as palavras fossem sair.
— Seu irmão… — Falou ainda com dificuldade. — Preciso encontrá-lo.
Yoora esperava ouvir uma bela declaração de amor e um pedido para que ficasse com ele para sempre por ser apenas uma imagem que sua mente traiçoeira havia inventado. Com toda determinação do mundo, estendeu a mão e atingiu com força o rosto de Sehun, vendo-o surpreso com o estalo do impacto, mas sem sentir nenhuma dor sequer. Ele franziu o cenho na direção dela, questionando silenciosamente o porquê daquilo. Foi alguns segundos após o impacto que ele percebeu que a mortal só queria ter certeza de que não estava maluca, então, de certa forma, ele merecia o tapa.
A viu erguer o indicador, os lábios tremendo por breves segundos, os olhos marejados mais uma vez.
— Você vai conseguir salvá-lo? — Perguntou pausadamente.
— Não há conserto para a morte. — Foi sucinto.
Não era mentira, não havia nenhum poder de um ser Celestial que fosse capaz de impedir a morte, principalmente quando o mortal tinha algum tipo de vínculo com um Temporário perto de sua morte, geralmente eles que favoreciam a situação para confirmar o fim daquela vida. Apenas o Altíssimo tinha poder para fazer qualquer coisa, tudo e qualquer outro que passasse Dele era inútil.
Yoora parecia já saber que era essa a resposta, porém ainda tinha uma pontinha de esperança de que tudo estaria bem. Biblicamente, Deus era capaz de trazer os mortos à vida, inclusive o próprio Jesus ressuscitou após 3 dias morto. Talvez houvesse esperança para Chanyeol e Baekhyun, só que o último grão de fé que ela tinha se consumiu em seu interior. Engoliu o choro em silêncio, sofrendo por algo que aconteceria só mais para frente. Odiava mais do que tudo ter essa maldição de saber o futuro e não poder fazer absolutamente nada para mudá-lo, por isso queria que ele fosse um mistério como era para muitos na terra.
— O que é pior? Saber que seu irmão e o marido dele vão morrer ou ter certeza de que seu futuro amor terá parte nisso e irá embora quando concluir a missão? — Sehun não poupou palavras no choque de realidade dessa vez.
Foi encarado com um olhar de canto de olho de cima para baixo.
— Os dois. Todos que eu amo vão embora para sempre. Eu vou ficar com um homem que eu sei que não vou amar, vamos nos casar e ter filhos, mas não é você e muito menos meu próximo amor. E ainda tem Chanyeol… — Uma lágrima escorreu de seu olho. — Baekhyun é como um irmão para mim também e vai ser muito doloroso. — Ficou em silêncio por um breve tempo, pensando se deveria contar para Sehun. — Eles estão nesse tempo, na casa da minha mãe. Se puder esperar só um pouco… eles estão brigados.
Ela fez o certo. Sehun assentiu em agradecimento, mas não era só isso que ele queria fazer. Quando percebeu que ela passou por si, destinada a ir embora de uma vez, percebeu que era hora de abrir seu coração e deixar seu lado mortal falar mais alto. Não era mais um Ceifador e sim um humano.
— Eu realmente te amo, Yoora.
A mortal olhou para trás, vendo Sehun de 11 anos sorrir em sua direção. De repente, ela também estava com um corpo de pré-adolescente, talvez essa fosse, de fato, sua visão. Correu na direção dele para lhe abraçar, sentindo-se agraciada por um cheiro familiar de terra misturado com a colônia que ele roubava da mãe. Sehun se afastou e pegou umas folhas da grama, não era uma flor, mas não podia perder o hábito.
— Linda… — Murmurou ao colocar a planta atrás da orelha dela, puxando seu queixo para cima para ter uma bela visão daquele rosto perfeito, depositando, em seguida, um beijo na testa da garota de olhos fechados. — Obrigado por fazer minha vida mortal mais feliz, sinto muito que não tenha sido igual com você. — Foi sincero. — Eu juro que vou tentar fazer o possível para consertar isso por você, minha querida. Vamos nos amar para sempre…
— Na tristeza e na felicidade. — Yoora completou.
Sehun desapareceu no ar, mas, estranhamente, ela tinha certeza de que ele não era só uma miragem.
(...)
Depois de um tempo, Baekhyun ainda estava na sua greve de silêncio absoluto diante do que tinha acontecido, mas falava normalmente com as pessoas. Só quem convivia com ele de verdade conseguia ver sua dor, mesmo que fosse inútil tentar curá-la. E como se isso tudo não fosse o suficiente, ele começou a fumar e passou a beber mais, chegando ao ponto de ter diversos comas alcoólicos.
Chanyeol, a princípio, não quis intervir e ele não entendia o porquê, só sentia como se uma força maior pesasse em sua consciência até finalmente deixá-lo tomar as rédeas da situação. A cada vez que via Baekhyun com um cigarro ou um baseado na boca, a primeira coisa que fazia era arrancar aquilo dele. Em eventos com bebidas alcoólicas fazia questão de monitorar a quantidade que seu namorado bebia, sempre saindo como um cara tóxico, mas até o próprio reconhecia que era para seu bem, então nunca contestava.
Mesmo em situações caóticas, ele ainda queria pegar o máximo de estágio que conseguia para juntar seu próprio dinheiro, ignorando completamente o que a família Park falava a respeito de deixá-lo morar com eles naquela casa, ele preferia mil vezes o alojamento da faculdade do que dar trabalho para a família de seu namorado. Se dedicou tanto para o trabalho que mal tinha tempo para qualquer outra coisa e isso incluía estudos e relacionamento, pelo menos havia sido uma boa distração para não se envolver com substâncias ilícitas novamente, ninguém sabia, mas ele tinha se envolvido com drogas por um breve momento.
Tudo o que menos queria era arruinar o aniversário de Chanyeol, mas estava tão distante que mal conseguia se concentrar em algumas conversas em grupo, o que acabou por preocupar seu namorado. Felizmente, contornando a situação, conseguiram ficar uns dias sem tocar no assunto, até chegar o tão esperado dezembro e a perfeita época para comprar presentes de natal para todos os amigos e, é claro, para a família Park que tinha sido tão acolhedora com Baekhyun nesses tempos difíceis. Eles resolveram ir ao shopping fazer as compras e aproveitar para ter um tempinho juntos, já que era escasso no relacionamento universitário deles.
Baekhyun poupou dinheiro para gastar mais com o presente para seu namorado, que esnobava com presentes caros até para o cachorro de uma tia. Ele era muito mão aberta, tudo comprava presentes para agradar as pessoas, geralmente quem ganhava mais eram as três pessoas mais importantes de sua vida. Até que fazia sentido ele ser tão solto assim, ele já tinha muito dinheiro e estava guardando o salário do estágio para ocasiões como aquela. Aproveitava o fato de ser da área da saúde para sempre limpar as mãos com álcool em gel sempre que saía de uma loja, até porque não queria contar a verdade para não preocupar seu namorado.
Fizeram uma pausa para o lanche contra a vontade dele, que estava sem fome e sem vontade de ser contaminado com coisas ruins como germes por exemplo, mas Chanyeol era muito insistente. Mais uma vez se entupiu de álcool em gel, limpando até os cotovelos antes de levar o pedido para a mesa, tomando o cuidado de limpar com um lenço até as bandejas da lanchonete. Seu namorado ficou impaciente com aquela frescura toda e puxou o pulso alheio para lamber a palma da mão dele. Baekhyun puxou a mão para perto do peito assustado porque realmente não esperava que isso acontecesse.
— Por que isso, Chanyeol? — Estava chateado. Pegou um lenço para limpar a mão lambida.
— Você está paranóico demais trabalhando na área da saúde com medo de germes, se controle. — Respondeu comendo uma batata em seguida.
Ele sabia o porquê de Baekhyun estar agindo assim, mas simplesmente fingiria que não se importava e continuaria agindo normalmente.
Depois de comerem e com vários presentes para todo mundo, resolveram que era hora de ir embora. Não trocaram tantas palavras no caminho para a casa de Chanyeol, que já tinha voltado a morar com sua mãe que adoeceu e, felizmente, não era nada grave. Se pouparam até o momento de embrulhar os presentes, preferiam fazer aquilo logo porque não teriam mais tempo pelo resto daquela semana com tanto trabalho de final de período e provas, contanto que eles não ficassem para as provas finais estava tudo bem.
Sentaram no chão do quarto e começaram a cortar os papéis de presente para embrulharem carinhosamente com uma cartinha para quem fosse receber. De todos os amigos, o presente mais caro era para Minseok, não só por ser fofo, mas por ter ajudado Baekhyun secretamente com algumas ajudas financeiras sem que Chanyeol soubesse. E era melhor que ele ficasse sem saber por muito tempo mesmo. Mas, é claro que o sexto sentido dele sabia que tinha alguma coisa errada e, além da observação a respeito do presente do amigo, também tinha outra coisa que o intrigava.
— Como foi o trabalho hoje, amor? — Chanyeol puxou assunto cortando as fitas vermelhas para ele dar uns laços. — Você quase não anda falando nada do estágio. Aconteceu alguma coisa?
— Pessoas muito doentes, eu tendo que dar notícias ruins para familiares dos pacientes, gente morrendo, o de sempre. — Evitou todo tipo de contato visual com o namorado até ser puxado pelo queixo para olhar nos olhos dele. Mesmo que tivessem muita intimidade, Baekhyun ainda sentia borboletas no estômago ao encontrar o olhar dele, as bochechas automaticamente coraram.
— O que não quer me contar?
Ele suspirou e desviou o olhar, preferindo dar atenção para os laços que dava.
— É sempre isso, sempre as mesmas coisas. — Maldita hora para gaguejar. Olhou de relance para o namorado que semicerrou os olhos em suspeita. — Tem uma coisa acontecendo por aí, algo horrível e eu não quero que ninguém se machuque. Pessoas morreram disso achando que era gripe, mas é pior do que se pode imaginar, por isso eu não gosto de ficar sem lavar as mãos e me limpar, não é só uma frescura de médio e eu também não gosto quando você espalha germes por aí de brincadeira.
— Meu esperma é considerado com germes? — Brincou.
Baekhyun revirou os olhos e deu um chute na perna dele.
— Isso é sério Chanyeol. — Falou num tom irritado. — Não, seu esperma não tem germes, mas é anti higiênico ejacular por aí. — Completou. — E sobre isso… bom, não disseram o nome ainda, afirmaram que começou na China e já vem se espalhando pela Coréia, só não falam em nenhum lugar a respeito porque geraria surto na população. E agora que você sabe, também vai ter que ficar de boca fechada.
Chanyeol ergueu três dedos na têmpora.
— Positivo, capitão! — Gargalhou diante do sorriso bobo do namorado. — Mas, e aí? Como vai ser isso?
— Se piorar, vou trabalhar na linha de frente em combate a isso, mas, felizmente, já estão desenvolvendo vacinas, só estão deixando as coisas por debaixo dos panos mesmo. Eu nem quero pensar no pior agora, quero pensar que isso vai morrer por aqui e… — Não conseguiu concluir porque Chanyeol tinha se aproximado e depositado um beijo em seu pescoço e aquilo o tinha desconsertado por inteiro, uma pena que não poderiam fazer nada ali. — E… Ah… Você quer parar? — Reclamou em tom de brincadeira. — Perdi a linha de raciocínio. Foda-se.
Deixou as coisas de lado e puxou o namorado para um beijo. Eles sabiam que seria muito mais do que um simples beijo, então foram engatinhando juntos até a porta quase sem desgrudar os lábios para fechá-la e terem privacidade.
Em muito tempo, aquela era a primeira vez que eles faziam amor, estavam com tanta saudade daquilo, foram meses sem tempo que resolveram jogar tudo pelos ares e deixar apenas o prazer falar. Ali, largados no chão do quarto, arrumando uma estratégia de irem tomar banho juntos sem a mãe de Chanyeol ver os dois andando pelados pelo corredor, parecia que nada mais importava, que todos os problemas e medos estavam do lado de fora daquele lugar. Se abraçaram, quase deixando o sono tomar conta deles. Chanyeol distribuiu diversos beijos pelo rosto de Baekhyun, um hábito muito fofo que só deixava transparecer quando estavam sozinhos.
Naquela noite eles dormiram juntos e no dia seguinte acordaram num susto porque era dia de aula, os dois completamente perdidos no tempo. Chegaram um pouco atrasados, mas nada muito ruim para o currículo deles pelo menos e, também, nada que atrapalharia a tarde deles, que envolveria muito amor.
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