Todas as tardes, Maka, Black Star, Tsubaki e ás vezes as irmãs Thompsons visitavam Soul depois do treinamento, e o mesmo estava ou dormindo, ou jogando um jogo estúpido no celular, motivo de ele e Maka acabarem discutindo.
- Aí, de novo... – Maka resmungou ao entrar no quarto dele e ver o mesmo sentado na cama, apoiado por vários travesseiros, comendo um monte de besteiras e com o celular na mão. Apenas um olho dele havia voltado ao tom vermelho escarlate, enquanto que o outro ainda possuía o azul cobalto. Ficava até bonito, mas heterocromia era algo que o mesmo considerava estranho e não via a hora de ter os olhos vermelhos de sempre. – LARGA ESSE CELULAR E RECEBE SUAS VISITAS, SOUL!- Ela gritou, indo até ele e tentando tomar o celular, mas ele virou e afastou a mão, ainda jogando.
- E lá vão eles de novo... – murmurou Lizzy, e os outros riram baixo, vendo os dois brigando.
- Isso não tem graça!- Maka tentou puxar as mãos dele. – Me entrega isso, Soul! Deveriam proibir de usar essa porcaria no hospital!
- Por que proibiriam de usar celular?- Soul riu, mas parou, apenas pra comemorar por ter passado de nível. – Sai... Espera... Maka, olha eu já... – ele tentava falar, desviando a mão toda hora em que ela tentava pegar o celular. – Ei... É sério, eu tô quase... Morri. – ele fechou a cara.
- Hunf!- ela bufou, pegando o celular dele e enfiando no bolso. – Bem feito.
- Como pode dizer isso?! Eu estava com pontuação máxima! Já havia superado oitenta e dois níveis da masmorra... E o jogo não salva! Vou ter de jogar tudo desde o início... – ele murmurou.
- Já sabe o caminho. – ela deu de ombros.
- Os caminhos mudam, assim como os boss e os inimigos...
- Então torno à repetir: bem-feito. – ela disse, fazendo bico. – Por que raios fica jogando?
- Stein está arranjando desculpas pra me manter aqui e não tô muito afim de ficar contando moscas.
- Aqui não tem moscas. – Lizzy apoiou uma mão na cintura, apontando ao redor com o indicador da outra mão.
- Viu a graça disso agora?- Soul semicerrou os olhos.
- Não jogue esse jogo. Precisa descansar.
- Preciso é de comida. – ele se ajeitou na cama. – Vejo que está se empenhando em apanhar. – ironizou, notando os curativos pelo rosto da garota.
- Ah, estou melhorando. – ela disse, tocando com a ponta dos dedos os machucados. – Soul, você estragou a Blair.
- O quê? Por que diz isso?
- Ontem eu fiz hambúrguer e sopa de legumes pro jantar e ela disse que preferia coq ao vin... – ela resmungou. – Com um vinho acima de sessenta anos... Honestamente, eu deveria ter ficado com ela.
- Ela era minha antes de você aparecer.
- Eu ajudei a cuidar dela. Tenho os mesmos direitos sobre ela. Direitos que eu deveria ter exigido. Agora ela exige comidas que eu nem sabia que existia, banhos de sais e rosas, gasta todo o seu salário semanal no salão e ainda fica devendo. Ela está acostumada demais à uma boa vida!- Maka reclamou.
- Deixa ela se divertir. – ele disse.
- Há uma enorme diferença do que é diversão e ostentação.
- Veio aqui pra reclamar da minha gata ostentosa ou veio pra tomar meu jogo?
- Os dois. – ela bufou, ainda emburrada. – Ah, e... Não... Disso eu reclamo quando tiver alta. Aí vou poder te bater sem me sentir culpada.
- Acho que vou ver se o Stein me coloca em coma. – Soul murmurou. Na mesma hora, Maka deu um cascudo nele, o fazendo morder a língua. Ele a encarou, com a boca entreaberta, irritado.
- Que é?- ela desviou o olhar. – É só pra te lembrar que vai apanhar de mim mesmo estando hospitalizado. Eu meio que não ligo da sua situação. Se me fizer raiva, apanha.
- Ex-peitinhos irritante. – ele disse, bufando. Ela ia dar outro cascudo quando o restante resolveu se aproximar.
- Terminaram?- Lizzy sorriu. Os dois se encararam e viraram o rosto, bufando. – Então agora posso dizer, certo?- eles concordaram, à contragosto. – Eu e Patty vamos à uma missão, junto do dr. Stein. Parece que... Descobriram algo mais sobre o que as bruxas planejam. Falta pouco para a tal lua e até agora mais possíveis armas continuam desaparecendo.
- Ah, sobre isso... – Maka ia dizendo. – Ainda não encontraram a anciã dos Majuwala?
- A Shibusen está tentando localizar todos que foram levados, e sempre que encontramos um esconderijo das bruxas, chegamos tarde demais, pois não encontramos nada além de uma outra pedra. - Disse Lizzy, num suspiro cansado.
- Outra pedra?- Maka a fitou, confusa. – Há mais?
- Por mais estranho que pareça... – Lizzy disse. – Já encontramos sete outras. Estão todas sendo investigadas, e ninguém entende o efeito que ela tem sobre nós... Nem nós entendemos.
- Falta três dias pra essa lua surgir. – disse Tsubaki. – Até agora, as pistas que temos são escassas. Elas não deixam pra trás nada que indique o que realmente querem.
- Não é óbvio?- Soul cruzou os braços. – Elas querem o que nos deram há muitos anos. Embora não tenham nos dado, foi graças à alma de uma bruxa que nos tornamos armas. Foi graças ao que “nos deram”, que evoluímos. Enquanto ouvia aquelas coisas esquisitas... – ele parou, olhando pro lado, em silêncio. Encarava algo invisível, e todos se entreolharam. Ele franziu o cenho, abaixou a cabeça, pensativo e em seguida, voltou à fitar os amigos. – Elas querem nosso poder de arma. Enquanto estava vendo e ouvindo aquelas coisas, parecia que minha alma estava se dividindo. Não senti a lâmina, muito menos a forma. Ela sumiu e parecia que não tinha nada. – ele descruzou os braços e olhou pra Tsubaki. – Tem certeza de que não viu aquela mulher? A com túnica preta e vermelha, parada diante de uma... Pedra gigante?- a morena negou com a cabeça e o albino suspirou outra vez. – Não importa.
- Mas como nós, que somos artesão, vamos entender como é estar sem a lâmina?- Maka disse.
- Já ficou fissurada em uma série de modo que só conseguia pensar sobre, se indagar sobre os eventos futuros, se imaginou em um mundo onde algo do tipo acontecesse, ou até mesmo adorou tanto um personagem que surtava caso falassem mal dele?- Soul a encarou, e a loira concordou com a cabeça. – Daí, cancelam a série, sequer fazem um final apropriado e ainda não explicam nada quanto ao por quê do término. – todos pareceram entender a analogia. – Essa é a sensação de ter a lâmina sumindo de mim. Só que com a sensação de o cérebro estar explodindo, a pele arrancada da carne, fogo passando pelas veias, a alma rasgando... E arrancando band aid da perna peluda. – todos o olharam. – Vi meu irmão fazendo e o modo como chorou me pareceu bastante doloroso. – ele fez careta, e todos começaram à rir.
- Seu irmão é um marica!- disse Black Star, antes de começar à gargalhar mais alto ainda. Todos riram mais ainda, não da afirmação do azulado, mas sim da sua risada mais escandalosa que antes. De repente, a porta se abriu e Stein deslizou pra dentro do quarto em sua cadeira de rodas, fazendo giros enquanto deslizava pelo local.
Girava a mão no parafuso, que havia duplicado de tamanho, enquanto seu rosto mantinha-se calmo, como sempre. Ele não havia se alterado em nada nos últimos anos, além de seu enorme parafuso. Até seu corte de cabelo era o mesmo.
- Que bom que estão de bom humor. – disse Stein, se aproximando de Soul. – Soul, vim avisar que agora que terminei meus experi... Sua observação, garanto que está bem o suficiente pra sair desse leito. – todos o fitaram, com uma gota na cabeça. Era óbvio que ele usara o albino como macaco de testes. – E também vim saber se você se sente completamente bem.
- Sim. – Soul disse, fitando o homem.
- Ótimo. Shinigami quer vê-lo. – disse ele, e Soul concordou, jogando a coberta de lado.
- Estava doido pra sair dessa cama e... – ele parou ao fitar os próprios pés. – É impressa o minha... Ou meus mindinhos estão trocados...?- todos encararam os pés dele. De fato, ambos os mindinhos estavam estranhos.
- Ah... – Stein parou de girar o parafuso. – Acredito que me enganei quanto à sua alta. – ele mentiu. – Quis dizer que amanhã os resultados serão cem por cento satisfatórios. Até lá, descanse e fique dormindo. – ele disse, ainda olhando os pés dele. – Irei voltá-los ao normal...
- Às vezes me pergunto por que o médico da Shibusen não pode ser alguém normal... – Soul murmurou, sério. – O que fez com meus mindinhos?
- Troquei, não vê?- Stein tentou sorrir.
- Tanto faz!- Soul bufou, se ponde de pé. – Vou ver o que...
- Não!- disse Stein. – Como seu médico, aconselho que se deite novamente... E só se levante amanhã... – ele semicerrou os olhos. – Garanto que não vai querer que um dos “joelhos” vá parar na testa...- ele abriu um sorriso mínimo, que fez Soul estremecer, voltando à se sentar. – Sua alta será amanhã. Falarei ao Shinigami que não está totalmente recuperado ainda. – ele voltou à deslizar com a cadeira pela sala, até parar na porta. – Lizzy, Patty, partiremos de madrugada. Estejam preparadas.
- Certo. – as duas disseram juntas, e o homem enfim partiu. Soul ficou encarando os pés por um longo tempo, até suspirar e voltar à se enfiar embaixo das cobertas.
- Então... Agora você tem dedinhos de alien... – Maka murmurou, vendo ele tornar à se ajeitar na cama.
- Algo assim. – ele disse, sem aparentar nenhum choque ou consternamento, igual todos que o encaravam. Ele olhou pro lado de novo, e abriu um sorriso de canto, se aconchegando mais na pilha de travesseiros.
- Ainda o vê?- Tsubaki resolveu perguntar.
- Infelizmente. – ele deu de ombros. Maka ia dizer algo, já alterando sua expressão de revolta. – E não, ele não fica olhando as calcinhas de vocês de novo. – ela fechou a boca, como se a resposta a contentasse.
- Ele faz isso?- Lizzy estava se segurando pra não rir.
- Faz. – Soul murmurou. – Não que eu reclame, mas é que ele não consegue guardar segredo. – ele abriu outro sorrisinho de canto. – Diz Dr. Stein que talvez o lance de eu ter batido a cabeça diversas vezes, coisa que não me lembro de fazer, me faz alucinar. Mas não lembro dele, muito menos das coisas que dizem que eu fiz... Há alguns anos, muito menos do fato de alguém como Maka ter me salvado. – ele disse, e todos se entreolharam.
- Realmente não se lembra?- Maka suspirou.
- Não dele. Mas o vejo. Não alucinaria com um demônio que vê calcinhas. – ele riu baixo, e olhou para o lado. Embora todos ali estivessem cientes de que Eater existiu anos antes, era difícil imaginá-lo em um corpo físico, sendo a que apenas Maka viu como ele realmente era. – Acho que minha memória já deveria ter voltado... Não?
- Achamos que ela pode voltar se resgatarmos aquela mulher. – Lizzy disse. – Por isso, só tem de aturá-lo até... – de repente, Soul começou à rir. – Qual a graça?- ele tapou a boca e deu uma olhadela pra Maka, antes de segurar o riso de novo.
- Nada. – ele murmurou, pigarreando. Lizzy franziu o cenho e Maka o fitou, irritada.
- Viram? Quando eu disse que ele está insuportável, é por que realmente está insuportável!- Maka disse. – E sempre ri de mim. O que o Eater te disse, Soul?
- Nada. – ele disse, convicto, e Maka cerrou a mandíbula. – É sério. – ele olhou pra outro lado.
- Escuta aqui, seu nariz está maior!- Maka disse, dando um peteleco no nariz dele, que franziu o cenho.
- Está me chamando de mentiroso?
- Não leu nas entrelinhas?- ela fez bico.
- Pelo menos não sou uma anã irritadi... – antes que terminasse, foi atingido por um livro na cabeça. Maka o olhava com desprezo, uma expressão neutra, enquanto tornava à guardar o livro embaixo do sobretudo. – POR QUE FEZ ISSO?! – ele a encarou, com o cabelo rachado ao meio, na forma exata do livro, saindo até fumaça.
- Desculpe. Tinha um mosquito na sua cabeça. – ela disse, ainda com um olhar hostil.
- Que mentira deslavada! Depois, eu que sou o Pinóquio! – ele disse, bufando.
- Tá me chamando de mentirosa?!- agora ela é quem se revoltou.
- Não leu nas entrelinh...?- ele afinou a voz, fazendo um tom mais enjoado, e antes mesmo de terminar a frase, era acertado uma segunda vez pelo livro.
Os dois voltaram à discutir, enquanto o grupo aproveitava a distração de ambos pra escapar de fininho. Os dois nem notaram a saída dos amigos, pois estavam ocupados discutindo algo sobre jogos, calcinhas e livros.
No dia seguinte, Soul enfim saiu do hospital, e a primeira coisa que fez, foi ir atrás de Blair. Maka tinha enchido tanto seus ouvidos quanto à gata ostentosa que ele decidira que ela seria o primeiro problema à resolver. Mas enquanto ia atrás da gata, foi interceptado por Lizzy, que o arrastou até a sala de Kid, o deixando na porta.
- Soul!- Kid disse, ao vê-lo, e Soul ficou tão surpreso ao ver o amigo que não conseguiu esconder o espanto. Kid estava muito mais pálido, e os ossos do rosto já eram marcados, devido à magreza. As bolsas escuras embaixo dos olhos e o cabelo desidratado era o que mais o surpreendeu. Kid estava com um ar cansado, muito mais magro e estava com os olhos opacos.
- Kid... O que raios... – ele balbuciou, se aproximando. – Quando foi a última vez em que dormiu? Tem comido direito? Olha só pra você... – ele olhou para Sid, que estava ali também. – Tá certo que ele é um shinigami, mas não é um deus completo! Precisa descans...
- Eu... Estou bem... – Kid disse, sinalizando pra Soul relaxar. Sua voz estava rouca e mais baixa que da última vez e ele piscava lento, jogado na cadeira. – Eu... Preciso saber uma coisa...
- Não, precisa é deixar de teimosia e ir puxar um ronco. Já olhou pra sua cara no espelho?! Tá mais morto que o Sid-sensei!
- Me ofender com esse tipo de comentário. Eu não me ofendi, mas ofenderia. Esse era o tipo de homem que eu era. – disse Sid e Soul bufou.
- Estou bem. Mesmo. – Kid sorriu, cansado. – Me disseram que sua visão foi diferente da de Tsubaki... O que viu, exatamente?
- O que... Bem... – ele suspirou, decidindo deixar o assunto do bem estar do amigo pra lá (por hora, já que o próprio insistia em ignorá-lo). - Havia uma pedra do tamanho de uma casa, em cima de um... Tipo de altar. Várias pessoas brigavam, usavam lâminas, armas, bastões... Se matavam, sem pensar duas vezes... E uma mulher sorria, em frente à pedra. Haviam várias almas flutuando pra todo lado, o céu era vermelho, risos vinham de toda parte e... Aí tudo fica confuso. Não consigo me lembrar de nada em especifico. Nada além de que... Isso acontecia aqui. Dentro da Shibusen. A escola estava destruída, as ruas infestadas... – Soul olhou para Sid. – A lua ficará cheia quando?
- No próximo fim de semana. – o professor respondeu. – Temos menos de quatro dias.
- Soul, sei que... Acabou de sair do hospital... Mas...
- Não se preocupe. Estou aqui pra te ajudar e ficar bancando o enfermo não é a minha. Quer que eu faça algo?
Kid olhou para o albino, vendo que ele falava sério e um micro sorriso perpassou por seus lábios rachados.
- Tenho um pedido pra você... E por favor, não diga nada à ninguém. – ele murmurou. – Inclusive à Maka...
Continua...
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