CAPÍTULO TRÊS
MAYOI HEN
Sakura segurou as suas costelas, esperando ansiosamente que a dor fosse apaguizada. A menina revirou-se na cama, depois saiu, tentando se distrair.
Mas não funcionou.
Nunca funcionou, cada letra perfurando a sua pele em um toque de rasgo, firmando lentamente cada sílaba, como se Kaguya ansiasse pelo seu sofrimento.
Ela queria gritar.
Ela queria chorar.
Mas demonstrar fraqueza não faria a sua alma gêmea parar de matar. Eles não estavam interligados, como ele poderia entender aquela dor? Sakura nunca o fez passar por isso.
Ela caiu contra a parede, deslizando até chegar no chão.
O motivo da sua insônia não foi somente as novas marcas que apareceram em sua pele. Algumas horas atrás, uma sede de conhecimento a levou até a biblioteca de Konoha.
Almas gêmeas nunca foi algo muito discutido, simplesmente levado como uma normalidade, automático, como respirar, como andar. Mas era normal alguma parte disso? Era normal sentir tanta dor assim?
Os livros disseram que sim.
Os quatro que Sakura pegou lhe explicou o que sempre foi dito para ela. Que era um vínculo inquebrável, que precisava de ambos os sangues e um beijo para ser firmado, em um ritual que uniram as almas em uma só, mantendo-os ligados para sempre.
Não era fácil encontrá-lo, não para os ninjas, mas era recomendado que expusessem os marcas em seu corpo e se atentasse a qualquer cheiro que pudesse lhes atraírem, e se você tivesse os nomes, eles começariam a arder quando estivessem pertos.
Sakura não sabia o que pensar. Ela era apenas uma criança. Ela só queria encontrá-lo logo. Ela só queria que aquilo não doesse tanto.
Sem nunca conseguir dormir, a Haruno andou pela casa mais tarde, encontrando o seu pai fazendo o café da manhã.
– O que é um cheiro atrativo?
Kizashi parecia surpreso com a pergunta repentina, arregalando os olhos quando notou as grandes olheiras no rosto da sua filha.
– Por Kaguya! Sakura, você não conseguiu dormir de novo?
– Apareceu novamente.
Ela não precisava erguer a cabeça para saber que havia aquele expressão no rosto do seu pai. Pena. Sakura sabia o que ele pensava, o que a sua mãe pensava.
Por que ele não parava de matar?
– Está doendo muito? – ela balançou a cabeça negativamente, não querendo insistir no assunto. – Bem, sabe quando você encontra um bolo de chocolate muito gostoso e você quer devorá-lo? Ou a sua comida favorita, perfume ou algum cheiro que você gosta? – cada palavra fez o corpo de Sakura vibrar, seus olhos se abrindo. – Esses são cheiros atrativos, querida.
Ela abriu a boca em um "O".
Então, saiu correndo da cozinha.
Kizashu franziu o cenho, mas deu de ombros quando ouviu os passos dela subindo para o andar de cima.
Sakura chegou muito mais cedo na academia do que qualquer outra pessoa, seus dedos batendo contra a mesa de madeira enquanto esperava. Ela sabia que poderia ser loucura, ela sabia que poderia ser apenas uma coisa na sua cabeça, mas houve aquele e se.
Ela nunca se sentiu atraída pelo cheiro de ninguém. Nunca. Mas houve apenas aquela sensação, como se pudesse sentir todas as emoções que saíram do corpo de Itachi como ondas.
Foi como nadar em um misto de sentimentos. Estar perto dele era como sentir a chuva. Sim, sim. Ele cheirava a chuva. Ela sempre se sentiu inclinada a cheirar mais disso enquanto estava perto dele.
Sasuke pousou a sua bolsa no assento, observando desconfiado a figura sentada no banco que ele sempre sentava.
– Bom dia, Sasuke. – Sakura cumprimentou-o com um sorriso. – Fiquei sabendo que você vai no festival hoje a noite.
– Anda bisbilhotando a minha vida agora? – a contragosto, ele se sentou ao seu lado. – Não estão aceitando mais meninas no meu fã clube, Sakura.
– Você sabe que eu preferiria criar um clube para coisas mais relevantes. – ela continuou sorrindo, ignorando o bufo vindo dele. – Eu vou no festival com você.
– Sonhar sempre é bom.
A menina não reagiu ao comentário dele, apenas tirou dois bolinhos de arroz da sua bolsa. O nariz do Uchiha se contraiu, seus olhos desviando-se para a comida sobre a mesa.
– O que foi, Sasuke? Gostou dos bolinhos? – ela passou o alimento perto do rosto dele, e Sakura sorriu quando viu ele inspirar. – Você está sempre comendo bolinhos de arroz, não é? Eu poderia te dar um, se fôssemos no festival hoje juntos, é claro.
– Nii-san não se interessa por crianças de seis anos, Sakura. – ele bufou, como se apenas pensar na ideia fosse ridícula. – Ele já tem 13 anos e é um ninja AN... Perfeito.
Suas bochechas estavam muito vermelhas, o seu interesse era tão aparente assim? Será que outras pessoas perceberam?
– Eu tenho sete anos, okay?– ela o corrigiu, com raiva. – E eu não gosto dele desse jeito! Você é tão idiota, Sasuke. Eu apenas queria passar um tempo com você!
– É claro. – seu tom não poderia ter soado menos sarcástico. Sasuke pegou um dos bolinhos de arroz, mordendo-o. – Espero que você não fique decepcionada quando descobrir que eu vou no festival com a minha mãe, não com o nii-san.
Ela ficou. Muito. Ao ponto de querer arrancar o bolinho de arroz da mão dele e jogá-lo pela janela. Ela teve tanto trabalho fazendo eles!
– Claro que não, Sasuke. – Sakura murmurou, claramente decepcionada para os olhos de qualquer um. – Eu realmente queria ir nesse festival com você.
Sasuke murmurou um m-mm, parecendo feliz com a maneira que os ombros da sua colega de mesa caíram.
– Você não parece ter tido uma ótima noite de sono hoje.
Os ombros da menina tensionaram, sua mão indo inconscientemente para a nova adição em suas costelas. Ela se obrigou a ficar calma. Ninguém poderia ver aquelas marcas. Ninguém poderia lhe julgar quando estava coberta.
– Não tenho dormido muito bem esses dias.
Sasuke ficou em silêncio, mas Sakura sentiu os olhos negros varrendo-a, parecendo querer tirar toda a sujeira em sua volta.
– Eu... – o Uchiha abriu a boca, hesitante. – Entendo.
– É?
O garoto suspirou, parecendo arrependido de ter aberto a boca.
– Não sei porquê estou conversando isso com você.
Sakura estava prestes a responder, mas no mesmo segundo, inúmeras crianças entraram na sala. Um Shikamaru com sono acenou para ela, Ino tagarelando ao seu lado.
Hen, um dos colegas de classe, arrastou Naruto para dentro da sala de aula quase pelos cabelos. O loiro parecia muito inclinado em brigar com Chouji por um pedaço de banana, mas isso era uma ocorrência tão diária que ela ignorou, se concentrando no professor que havia acabado de chegar.
Mais tarde, Ino passou os braços pela sua nuca, exatamente onde estava algumas marcas de alma gêmea do mês. Ela comprimiu os lábios, apertando os dedos.
– Sakura, por que você não se sentou comigo hoje? Eu tive que ouvir o Chouji falando sobre batatinhas fritas!
– Descupa' Ino, eu senti que não estava prestando atenção nas aulas esses dias. Por isso eu sentei lá na frente. Mas não se preocupe, foi apenas hoje.
– Ótimo, quero sentar do lado da minha melhor amigo todos os dias.
Sakura sorriu, e quando ela desvencilhou-se dos braços da loira, a menina não pôde deixar de suspirar em alivio.
– Você está doente Sakura? – Shikamaru perguntou, olhando para a sua nuca coberta. – Há algo de errado com a sua nuca?
Sakura automaticamente pôs a mão sobre o local, seu corpo se tornando tenso quando todos olharam para a direção que o Nara mencionou.
O olhar de Meri passou pela sua cabeça, a pena escancarada quando viu a quantidade de nomes espalhados em suas costas. Pena. Pena. Ela odiava aquele olhar direcionado para ela.
As marcas em seu corpo eram uma das razões que mais lhe motivavam a se tornar uma pessoa mais forte. Ela não queria que ninguém olhasse para elas como se ela fosse uma boneca de porcelana.
– Eu dormi de um lado ruim hoje.
Sakura disse a si mesma que não estava mentindo. Foi apenas omissão.
E omissões eram normais entre ninjas, seu pai lhe disse uma vez. Mas, ela sentiu culpada quando Ino bagunçou o seu cabelo, falando:
– Você tem treinado muito. Tente descansar, quero ir ao festival com você mais tarde.
– Sim. – Shikamaru concordou. – Vai ser divertido todos nós juntos.
Sakura sorriu para eles, mas se esbofetou várias vezes mentalmente. Ela não poderia furar com Sasuke. Ela teria que arranjar uma maneira de dar um perdido em algum dos dois!
Quando as aulas do dia terminaram, um Uchiha Sasuke disse que ele e a sua mãe estariam procurando peixes em uma barraca. Sakura pensou que essa foi a maneira dele dizer que estariam esperando por ela.
A Haruno pulou de casa em casa até chegar em sua residência, onde foi diretamente para o seu quarto. A casa estava completamente vazia, sem sinal do seu pai a sua mãe.
Ah.
Eles estavam ajudando nos preparativos do festival.
Ela encontrou um bilhete em cima da sua cama, com as letras da mamãe e com um um boneco mandando beijo.
Sakura, o seu kimono está no sofá. Se você não se sentir confortável em ir para o festival por causa da nova marca, fique em casa descansando.
Mas se você decidir ir, esteja na presença de adultos. Esse festival é meramente para recolher possíveis ameaças da vila. Depois da tentativa de assassinato do Hokage-sama, eles podem ter decidido tornar esse dia uma missão de expurgo. Tem acontecido muitas coisas na vila, seja cuidadosa.
Com amor, mamãe e papai
Ela não sabia que a situação da vila estava tão ruim assim. Mas isso explicava a quantidade de marcas aparecendo em seu corpo nos últimos tempos.
– Será que eu estou me enganando?
Mesmo Itachi sendo um chūnin em uma idade tão nova, o Hokage não daria tantas missões de assassinatos para ele, certo?
A sua obsessão pelo Uchiha estava indo tão longe que começou a fantasiar coisas impossíveis. Ela queria tanto ser forte como ele que começou a juntar uma peça na outra, fantasiando-o como a sua provável alma gêmea.
– Foi idiota da minha parte. – Sakura sussurrou, observando um desenho do Uchiha na parede. – Estou apenas imaginando coisas.
Eram sete e meia quando ela saiu de casa, perfeitamente vestida e pulando de um telhado para o outro. As suas ferramentas ninjas se remexeram quando ela pulou de uma das casas, parando no centro.
As ruas estavam bem decoradas, com grandes velas brilhantes em todo o caminho até a premissa das colinas. E em frente ao monumento Hokage, uma grande concentração de pessoas andavam de um lado para o outro, todas bem-vestidas.
Ela viu ninjas por todos os lugares, sutilmente escondidos, outros caminhando por entre as ruas. Ela procurou Ino, ficando na ponta dos pés enquanto passava os olhos por todos os lugares.
Sakura não encontrou.
Em contrapartida, a Haruno viu um menino vestido com um kimono azul parado em frente a uma barraca de peixes. Mikoto abriu um grande sorriu quando a viu, acenando animadamente.
– Sakura-chan! – ela cumprimentou-a alegremente, animada por vê-la desde a última reunião dos pais. – Você está tão fofinha! Eu deveria ter trazido a minha câmera para fotografar vocês dois.
A menina corou, sentindo os olhos zombeteiros de Sasuke observando-a.
– Olá, Sra. Uchiha. – Sakura se curvou. – Você também está muito bonita.
– Quando o Sasuke me falou que você viria com a gente, eu mal pude acreditar – ela tinha uma animação incontrolável, parando para acrescentar: – Quer pegar um peixe também, querida?
Sem esperar por sua resposta, a Uchiha pagou o homem da barraca. – O Sasuke fala muito bem de você. Disse que você conseguiu fazer o jutsu clone das sombras na última aula, não foi?
– Sim, sim. O Sasuke-kun é um dos meus melhores amigos. Estou tão feliz por ele fazer comentários tão bons sobre mim.
O peixe de Sasuke caiu de volta no aquário com a mentira descarada. Ele a olhou de canto, desacreditado que ela tenha colocado algum sufixo no seu nome.
– Ah, as amizades da infância – seu tom foi quase sonhador. – Esses tempos de academia passam tão rápido, eu me lembro quando Itachi se formou. Ele era um ano mais velho que Sasuke.
Os olhos de Sakura brilharam com as palavras de Mikoto.
– Como ele era, sra. Uchiha?
– Ele era tão fofinho. Tinha uma franjinha, assim como você, Sakura-chan.
A menina tocou em seu próprio cabelo. Sasuke bufou ao seu lado: – Está alimentando a paixão de infância dela, mamãe.
O chute que o garoto levou foi o suficiente para fazê-lo calar a boca.
Ela entrou em uma conversa animada com Mikoto, e logo descobriu o motivo de Itachi ser tão gentil. Sasuke parecia com a mãe em termos de aparência, mas em personalidade? Não. Mikoto era como Itachi em uma versão masculina.
– Eu não entendo o que você quer com o meu irmão. – Sasuke murmurou ao seu lado, segurando o saco que estava o peixe azul. Eles tinham pegado há um tempo. – Ele é muito velho para ser a sua alma-gêmea. E os Uchihas se relacionam entre Uchihas, você sabe.
Ela quase tropeçou.
Porque Sakura não sabia, mas isso explicava bastante coisa. Os mesmos cabelos negros, olhos escuros e tom de pele. Todos os Uchihas que ela conheceu eram extremamente parecidos. Todos provavelmente tinham algum grau de parentesco, e isso explicava Sasuke cumprimentando uma dúzia de primos na hora do intervalo.
Sua teoria caiu completamente por terra.
– O seu irmão é uma inspiração para mim. – não era mentira, mas chegava longe de ser apenas isso. – Ele é incrível, sabe? Em termos de habilidades, quero dizer. Não é qualquer um que consegue chegar no nível dele aos treze.
Sasuke lhe varreu de cima a baixo como fez mais cedo, procurando, arrancando cada poeira que visse pela frente.
– Entendo. – ele abriu um sorrisinho, acenando em direção a sua mãe ao lado de uma barraca de tiro ao alvo. – Você quer vir?
– Eles aceitam crianças?
– Mamãe pode fazê-los aceitar.
Mikoto era bem persuasiva, e Sakura descobriu que tinha uma mira melhor do que pensava. Ela se divertiu tanto jogando as kunais que seus pensamentos ficaram distantes de Ino, muito concentrada no prêmio.
Quando segurou um grande coelho azul sobre o seu peito após vencer o Uchiha pela segunda vez, ela percebeu que estava se divertindo. E indo de uma barraca para a outra, seus problemas pareciam ter sumido.
Ela riu com Mikoto quando Sasuke se engasgou com uma maçã do amor.
– Aww', coitado do Sasuke-kun!
– Você sabe que não pode exagerar nos doces. – a sra. Uchiha disse com um sorriso. – Eu vou comprar uma garrafa de água para você. Me esperem!
Sasuke segurou um elefante rosa com um bico no rosto, a sua tosse eventualmente se tornando um rosto avermelhado. Ele jogou a maçã no chão, claramente amuado aos olhos de qualquer um.
– Você está bem, Sasuke-kun?
– Não me chame assi...
Todas as luzes se apagaram, gerando um burburinho instantâneo. No lugar das lâmpadas restou as velas ligadas, que começaram a voar para o céu, parando alguns metros acima das suas cabeças.
Sakura tinha a ligeira sensação de que isso não fazia parte do festival.
Em um piscar de olhos, kunais começaram a sair das velas voadoras, em uma chuva que fez as pessoas gritarem.
Ela empurrou Sasuke para fora da estrada do festival, jogando-o em direção a premissa da floresta. Sakura começou a correr, mas não rápido o suficiente - uma kunai deslizou pelos seu rosto, cortando-a.
Ela ofegou quando caiu na grama, se arrastando para longe enquanto fazia selos com a mão. Uma barreira de terra se formou em cima das suas cabeças, protegendo ambas as crianças das armas.
Ela tentou encontrar o kimono azul de Mikoto, mas não conseguiu vê-la naquele mar de pessoas, o cheiro de sangue começando a impregnar todo o local.
Ossos quebrando, pessoas sendo pisoteadas, mortas. O choro das crianças. O barulho da carne sendo cortada. Sakura sentiu vontade de vomitar.
– Sakura, você está bem? – Sasuke perguntou, e pela primeira vez, ela ouviu o tom de voz dele pingar em preocupação. – Temos que sair daqui, procurar a mamãe e...
– Mikoto é uma ninja forte. – Sakura respondeu. – Ela não vai morrer desse jeito. Temos que ir para um lugar seguro.
– O quê? – ele gritou, se levantando do chão. – Não podemos deixá-la aqui! É a minha mãe!
– E o que você sugere que façamos, Sasuke? – ela perguntou, se levantando do chão. Sakura sentiu seu lábio tremer quando viu o seu peixe fora do saco plástico. Ele não se mexia. – Que a gente entre nessa luta e receba um belo presente de várias kunais nas nossas cabeças?
– Não posso ir embora sem ela. Não posso deixá-la aqui! O nii-san está protegendo a vila, se conseguirmos encontrá-lo, ele vai achar a mamãe em um segundo!
Antes que Sakura pudesse falar, a chuva de kunais havia cessado, com um jutsu de água sendo colocado abaixo de todas as velas. Ela suspirou em alívio, abraçando o seu urso mais fortemente contra o peito.
Sakura desejou que a sua alma gêmea não estivesse ali.
Ninguém merecia ver aquela chacina.
– Okay. – ela sussurrou, abraçando o seu urso enquanto começava a seguí-lo.
Eles caminharam pela floresta, observando a concentração de pessoas caídas no chão. Havia tantos feridos. Tanto sangue. Ela esperava que os seus pais estivessem bem longe.
– Sakura-san, Sasuke-san!
A Haruno virou automaticamente a cabeça em direção a voz, avistando Hen, o seu colega de classe, encostado em uma árvore.
Ela suspirou com o quão molhado de sangue ele estava, desde os seus cabelos brancos até as calças pretas. Ela mal poderia imaginar o que ele passou para chegar nesse ponto.
– Hen-san, por Kaguya, você deveria estar indo para o hospital! Como está conseguindo se manter em pé?
Quanto mais Sakura se aproximava dele, mais ela percebia a ausência de ferimentos. A camiseta do ninja estava completamente intacta, como se nunca tivesse chegado perto das kunais que deslizaram para fora das velas.
Até mesmo as suas calças não eram amarrotadas, parecendo tão bem passadas como se ele tivesse apenas acabado de usar o ferro quente.
E então algo clicou.
Sasuke agarrou o seu pulso, ambos dando um passo para trás. Ao mesmo tempo, um sorriso começar a deslizar em torno dos lábios do garoto, a máscara ANBU que havia na mão dele caiu no chão.
– Eu nunca me senti melhor em toda minha vida, Sakura-san.
Eles viram tarde demais dois corpos mortos atrás dele.
Ela moveu as mãos em direção do seu obi, tentando tirar as shurikens escondidas atrás do tecido. No entanto, no meio do caminho a sua mão paralisou, seu urso caindo no chão.
Todo o seu corpo se tornou estático, assim como o de Sasuke. Eles foram pegos pela sensação de terror latente que começou a dominar todos os sentidos dos seus físicos, tornando-os paralisados.
– Vamos lá crianças, que tal ficarem parados na floresta enquanto os meus amigos fazem um bom trabalho na vila? Não é muito difícil, certo, Sakura-san, Sasuke-san? – ele bateu palmas, assentindo com a falta de resposta deles. – Eu fico feliz que vocês me entendem.
Hen havia aparecido no ano passado. Segundo ele, a sua família morava em Suna, mas eles se mudaram para Konoha depois que a sua mãe morreu de uma gripe.
Ele cheirava a ar fresco. Estava sempre com roupas coloridas e embora falasse de uma maneira um pouco formal e fosse mais alto que a maioria, ele parecia tão comum quanto qualquer um deles.
Não houve motivos para desconfiar.
– O que você fez!? – Sakura perguntou, horrorizada.
– É o meu jutsu, não é legal? Eu consigo paralisar a maior parte dos músculos dos meus oponentes. Ainda estou treinando para que eu consiga controlar a língua. É um músculo particularmente difícil.
Ela sentiu lágrimas se formando nos seus olhos, a sensação de impotência deixando-a desesperada. Eles estavam tão fundos na floresta que ninguém conseguiria vê-los.
– Qual é o sentido de fazer isso? Você está envolvido na tentativa de assassinato do Hokage, não é?
Hen se agachou, ficando do tamanho dela. Ele deu duas tapinhas na sua cabeça, como se estivesse lidando com um cachorro.
– Se conseguirmos dominar a vila, teremos poder, Sakura. E não é isso que move o mundo? – ele sorriu. – Não importa quantas pessoas morreram aqui. Ou quantas pessoas morrerão daqui algumas semanas. Tudo isso – ele gesticulou para o espaço, cheio de gritos e mortes. – É motivado por nossa ganância. Nunca estaremos totalmente satisfeitos com nada. Somos seres egoístas e famintos, sempre procurando por mais.
Uma onda de ânsia se apossou de todo o seu corpo. Ela forçou a sua língua, reunindo uma quantidade de saliva o suficiente para cuspir no rosto dele.
– Você é um lixo.
Sasuke lhe observou com horror.
Hen passou a mão pelo cuspe, a expressão se tornando vazia.
– Eu realmente não queria fazer isso, Sakura.
A mão dele bateu firmemente contra o seu rosto, fazendo o seu corpo imóvel cair contra o chão. Ela sentiu a dor lhe percorrendo como se tivesse recebido uma grande pedra contra a sua bochecha.
Sakura sentiu um chute contra o seu estômago, fazendo o vômito subir e descer pela sua garganta. Ela não conseguiu expressar o quanto doeu, nem se mover quando o próximo chute bateu em cima do nome Amayume Yuze.
Algo dentro dela pareceu quebrar, e talvez tenha sido os ossos das suas costelas.
– Pare, pare com isso! Não machuque ela!
– Odeio crianças como vocês. – ele ebravejou, com raiva. – Não adianta lutar com o sistema. A crueldade. Elas vão continuar existindo, queira vocês ou não.
Hen lhe agarrou pelos seus cabelos rosas, deixando-a de frente a um Sasuke paralisado. Mas Sakura não conseguiu ver nada, seus olhos completamente embaçados.
Parecia que algo estava engolindo-a, trazendo-a para baixo. Mas a sua determinação era inabalável. Ela poderia morrer, mas flexinou a sua língua novamente, cuspindo no rosto dele.
– L-i-x-o.
Ela abriu um sorriso ensaguentado quando notou que o rosto dele se contorceu. O garoto se moveu, agarrando um objeto que ela reconheceria em qualquer lugar. A kunai foi em sua direção, firmada com uma intenção assassina.
– Adeus, Sakura.
E então, seus olhos embaçados capturaram um movimento atrás deles, tão rápido que parecia como um flash de luz.
Sakura assistiu uma figura mascarada descer da árvore, uma espada brilhando em sua mão. Gotas de sangue pingaram em seu rosto quando a lâmina atravessou o peito de Hen, a ponta da espada parando centímetros antes do rosto dela.
Ela sentiu seu controle do corpo voltando. Sakura não conseguiu se mexer, assistindo a cena como se ainda estivesse sob o domínio do jutsu.
Ela viu o sangue deslizando pela boca do ninja traidor, os olhos lentamente fechando enquanto ele gemia com a dor dilacerante da lâmina atravessando-o.
Ela ouviu a voz de Sasuke no fundo, mas não conseguiu entender, erguendo a cabeça para encarar embaçados olhos vermelhos.
Uma dor famíliar perfurou seu corpo.
Sakura ofegou, gemendo em uma sensação agoniante. Ela sentiu uma letra se formando, dançando lentamente em sua barriga em uma tortura silenciosa.
Ela não precisou ver para saber que o nome Mayoi Hen estava sendo escrito em sua pele. Mas ela ainda ergueu a mão quando o ninja colocou o corpo morto sobre os ombros, começando a se mover para longe.
– Ei, você! Espere! Espere!
Mas ele não esperou, sumindo tão rapidamente quanto apareceu.
A última coisa que Sakura viu dele foi como o seu cabelo parecia longo em seu rabo de cavalo.
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