Era um belo dia. O céu estava rosado e as flores estavam desabrochadas, enquanto o príncipe Corrin se via em frente a um grande lago. A luz do Sol era serenamente refletida nas águas calmas que pareciam ser da cor de um cristal. Ele sentiu um impulso que o levou a querer lavar seu rosto no lago. Ao se agachar, ele parou a se admirar, pois sempre se achou estranho em comparação aos outros. Um cabelo grande, bagunçado e prateado, com um par de olhos vermelhos como um rubi, orelhas pontudas e um rosto que expressava nobreza não eram um visual comum no lugar de onde ele veio... Mas de onde ele é? Por algum motivo, ele não se lembra. Ele sabe que é um príncipe, mas de onde? E como ele sabe que seu nome é Corrin? Quando essas dúvidas começaram a dominar sua mente, ele decidiu apenas lavar seu rosto e ignorar sua aparência. Talvez, assim, ele poderia se recordar de algo.
Após isso, decidiu se deitar nas margens do lago e seu coração entrou em paz ao admirar uma paisagem tão bela, mas seu sossego fora interrompido ao ouvir uma voz que entoava uma canção:
“És as ondas cinzas do mar / Teu destino está além de lá...”
Corrin, espantado pela presença de outra pessoa naquele lugar tão remoto, se virou para tentar identificar quem era a dona daquela voz tão bonita e serena. Mas tudo o que ele conseguiu enxergar foi a silhueta de uma mulher que estava coberta por um grande véu branco que cobria todo o seu corpo e um longo cabelo azul e liso. Parecia que ela não havia notado sua presença e continuou com sua canção:
“As águas guiarão teu caminho / Como o fulgor do tempo / O caminho és teu para seguir...”
Ele pensou em tentar abordá-la, para saber quem ela é ou onde ele está, mas a canção lhe transmitia tanta paz que ele se sentiu incapaz de parar de ouvi-la. Contudo, a misteriosa moça começou a andar em direção à água, mas não mergulhou, continuou caminhando como se seu corpo ignorasse qualquer Lei da natureza e foi se afundando no lago a cada passo que dava. Corrin ficou assustado e intrigado pelo o que acontecia diante de seus olhos. E se algo acontecesse com ela? Ele decidiu se aproximar e tentar puxá-la para a superfície, se fosse possível.
O príncipe olhou para seu corpo e não conseguia recordar se ele sabia nadar, mas uma coisa era certa: Ele não estava usando roupas apropriadas para mergulho. Ele não se lembra de usar roupas tão estranhas... Ele estava usando vestes brancas, com uma capa branca e estava descalço. Laços uniam a capa com um collant que cobria seu corpo do pescoço ao tornozelo. Corrin realmente não se lembrava de quando se vestiu assim, mas tampouco tinha tempo para contemplar sua existência, pois a cantora misteriosa estava completamente submersa no lago.
Ele correu e saltou na água, mas para sua surpresa, aquele lago era muito maior do que aparentava na superfície. Apesar do dia estar ensolarado, o fundo daquele lugar era iluminado como se tivesse luz própria. Além disso, havia castelos e árvores flutuando ao seu redor e, mesmo submerso, ele conseguia respirar. Um brilho vinha de longe e junto com isso, a canção parecia mais intensa do que antes:
“Águas mudam como a fluidez do tempo / Cabe a ti trilhar teu caminho / Perdido solitariamente em teus pensamentos...”
Corrin nunca escutara essa música antes, mas sentia certa nostalgia ao ouvi-la. Bem quando ele estava para reconhecer sua origem, ele acordou.
- Príncipe, pela milésima vez, acorde logo!
Corrin abriu seus olhos e viu seu fiel mordomo, Jakob, na ponta de sua cama com suas sobrancelhas franzidas e um olhar de certa frustração.
- Enfim abriu seus olhos, Alteza – Disse Jakob, aliviado. – Eu estava tão preocupado, te chamei tantas vezes... Comecei a pensar no pior!
- Me desculpe, Jakob. Eu estava sonhando... – Respondeu Corrin, ainda um pouco confuso.
- Posso saber que tipo de sonho o faria dormir tão profundamente, Alteza?
- Jakob, já lhe disse várias vezes... Você cuida de mim desde que eu era criança, pode me chamar de Corrin! Nos conhecemos tanto, e você ainda me trata como se eu fosse apenas um príncipe para você...
- Rogo seu perdão, Alteza, mas anos atrás fiz um juramento de lealdade que não pretendo violar. Chamá-lo diretamente por seu nome seria uma séria violação do meu juramento.
- Sei, sei... Sobre o sonho... Por algum motivo, meu coração fica apertado quando me lembro dele. Foi tudo tão estranho, e familiar ao mesmo tempo... Jakob, por acaso você conhece algum lugar cujo céu é rosado?
Jakob, um homem jovem de cabelos longos e prateados, olhos castanhos claros, vestido com trajes formais que um típico mordomo de Nohr usa fez uma expressão triste ao ouvir a pergunta de seu amo.
- Até onde sei, Alteza, o céu é azul em todos os lugares do mundo. Mesmo aqui em Nohr, em que sempre temos nuvens carregadas de chuva em cima de nós, há um céu azul por trás delas.
No momento em que Corrin acordou, suas memórias foram recobradas. Ele é um príncipe de Nohr que tem outros quatro irmãos e vive na Fortaleza da Solidão, onde cresceu ao longo de sua infância com visitas frequentes de seus parentes. Ele é um jovem adulto que teve uma vida de príncipe sem conhecer seu próprio reino, pois era proibido sair de sua casa. Passou sua vida confinado. Os únicos que moram com ele são seus subordinados Jakob e Felicia. Seu quarto era grande, porém com poucos móveis. Sua cama, grande o suficiente para comportar até 10 pessoas, ficava no centro do cômodo. Cobertas vermelhas cobriam seu corpo. De seu lado esquerdo, havia uma lareira com um sofá vermelho na frente. Do seu lado direito, uma varanda, cuja vista era limitada por uma densa névoa. O lugar estava limpo, porém, as paredes de tijolos eram tão escuras que pareciam sujas.
- Jakob, onde está Felicia? E você sabe se meus irmãos virão hoje?
- Ela ficou tão preocupada quando Vossa Alteza não acordou que ela foi pessoalmente convocar seus irmãos mais velhos... Xander e Camilla provavelmente virão. Presumo que Vossa Alteza sabe o que isso significa, não sabe?
- Sei, sim. Meus irmãos caçulas, Leo e Elise, virão também. Mas confesso que isso me deixa muito feliz, nem consigo me recordar da última vez que passei tempo com eles todos juntos. Afinal, você, Felicia e meus irmãos são as únicas pessoas que conheço. Nem tenho memórias de meu pai, o Rei Garon.
- Alteza, talvez o dia de sair daqui esteja próximo. O dia em que Vossa Alteza puder enfim trilhar seu próprio caminho nesse mundo... Sei o quanto sonha com esse dia.
- Jakob, por que você também ficou ao meu lado? Você também passou os últimos 20 anos aqui, me servindo com Felicia. Você sabe que isso não era necessário, não sabe?
- Estou ciente disso. Mas é que Vossa Alteza sempre foi tão gentil comigo... Quando decidi ser seu mordomo e subordinado, quis que sua vida fosse o menos solitária possível, afinal, não foi fácil para Vossa Alteza crescer tão longe todos... O nome dessa fortaleza não poderia ser mais certeiro.
- Obrigado, Jakob, você também é muito gentil. Quando eu puder sair daqui, vou querer sua companhia... Quem sabe, não possamos ser amigos? Assim, você poderá me chamar pelo meu nome!
Jakob ficou envermelhado e teve dificuldade em esconder um sutil, porém sincero, sorriso. Antes que pudesse responder algo, eles foram interrompidos por Felicia. Com seu uniforme de empregada, cabelo rosado e bagunçado e olhos azuis claros, ela estava suando de tanto correr.
- Alteza! Enfim acordou! – Exclamou Felicia, aliviada e com pouco fôlego. – Eu tomei um susto tão grande!
- Está tudo bem, Felicia. – Respondeu Corrin. – Eu apenas tive um sonho bem estranho...
- Ah, é? Sobre o que sonhou?
- Bom, eu estava num lugar em que o céu era rosa e...
- Alteza, me perdoe! Quase me esqueci de avisar. Seus irmãos, príncipe Xander, princesa Camilla, príncipe Leo e a princesa Elise estão aqui! Não acredito que me esqueci de anunciá-los! Sou uma péssima subordinada!
- Não se preocupe! – Respondeu Corrin, num sutil tom de risada, acostumado com o comportamento desajeitado de Felicia – Pode permitir que eles entrem aqui. Ficarei feliz em vê-los depois de tanto tempo.
- Entendido! Aliás, parece que Vossa Majestade, o Rei Garon, lhe enviou uma mensagem que seu irmão mais velho irá transmitir... Mas ele pode ter se esquecido, porque eles estão preocupados, afinal, reportei que Vossa Alteza estava inconsciente e gelado como morto após ter sofrido um terrível acidente!
- O que?! – Exclamaram Corrin e Jakob em sincronia.
- É que eu fiquei tão preocupada! Presumi que, se eu reportasse a pior notícia possível, a ajuda viria imediatamente!
No mesmo instante, a porta do quarto de Corrin foi arrombada. Seus irmãos, de personalidades e gênios fortes, haviam chegado.
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