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História Empresário - Apartamento, a nova casa - História escrita por ikus - Spirit Fanfics e Histórias
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História Empresário - Apartamento, a nova casa


Escrita por: ikus

Notas do Autor


Ei, Upinhos!! Como vocês estão? Espero que bem! Eu tô meio cansadinha, mas vida que segue!

Como sempre, muito obrigada por estar lendo <3

Boa leitura!
#JKNãoUsaGravata

Capítulo 18 - Apartamento, a nova casa


Fanfic / Fanfiction Empresário - Apartamento, a nova casa

Jimin desligou o telefone atordoado, inundado de uma preocupação que já tinha experimentado em algum momento de sua vida, porém havia esquecido o sabor pelos últimos anos. Se Taehyung já tinha sido atendido, provavelmente ele estava bem, não…? Esperava que sim. Queria ter tido a presença de espírito de perguntar sobre o ocorrido, mas agora era tarde demais.

— Jungkook, vou ter que sair mais cedo hoje — avisou, guardando suas coisas apressadamente dentro da mochila.

— Claro — o CEO respondeu tranquilamente, não era como se o horário de trabalho da UP2U fosse fixo. Contudo, levantou os olhos, estranhando o comportamento do estagiário. — Alguma coisa aconteceu?

— Parece que o Taehyung foi parar no hospital… — Olhou ao redor meio aflito, tentando verificar se tinha esquecido de algo importante, mas estava agitado demais para se concentrar. Naquele momento, quis muito sua fleuma de sempre. — Aí vou buscar ele.

Jungkook arregalou os olhos, igualmente preocupado. Levantou-se prontamente e foi até Jimin, ajudando a escanear a mesa dele com o olhar. Achou a carteira do Jimin largada em um canto, pegou e entregou para o dono, que murmurou agradecido.

— Eu vou lá com você. — Jungkook decidiu sozinho, até porque Jimin parecia muito desorientado. E Jimin, sendo sincero, não sabia por que estava daquele jeito. Pensou que todas as vezes que teve que levar o irmão ao hospital fariam que ele tratasse aquilo com mais naturalidade. — Que tal eu pegar meu carro? Posso dar caroninha pra vocês até em casa.

— Tudo bem… — Jimin concordou, ainda um tanto perdido em pensamentos. Realmente deveria ter perguntado o que aconteceu com o amigo, pois a falta de compreensão da gravidade da situação o incomodava em níveis inesperados.

— Me encontra lá embaixo em dez minutos então — o CEO disse antes de sair correndo, também sem saber quanta pressa que deveria ter.

Enquanto Jungkook corria até sua casa para pegar o famoso “bebedor de gasolina” (que na verdade bebia etanol¹), Jimin tentou mandar mensagem para o Taehyung, mas elas nem ao menos chegavam, indicando que o celular provavelmente estava desligado. Será que tinha escondido e ignorado algum problema de saúde por causa do período de provas? Ou, talvez, ter minado sua saúde justamente por causa delas?

Completamente inquieto, desceu até a portaria do prédio em que a UP2U ficava e apoiou-se em um poste perto da calçada para esperar Jungkook. Repousou o olhar na grande avenida, um pouco confuso com a quantidade de carros, e procurando o SUV cor de chumbo que Jin utilizou aquele dia. Refletiu que Jungkook realmente morava perto de tudo, era impressionante.

Logo um carro encostou ao seu lado, com o pisca alerta ligado. Tomou um susto por um momento, mas logo reconheceu o veículo e Jungkook no banco do motorista. Entrou no passageiro com certa naturalidade estranha e observou Jungkook colocar o endereço do Hospital Municipal no Google Maps enquanto afivelava o cinto de segurança. E, com uma certa tensão, voltou o olhar ao trânsito da avenida.

Ficaram quietos dentro do carro, Jimin por não querer falar muito naquele momento e Jungkook para respeitar o estado de espírito dele. Imaginava o quão tenso o estagiário estava e esperava muito que o tráfego e os sinais colaborassem para que chegassem mais rápido.

O Hospital Municipal era um tanto longe da UP2U, mas imaginou que Taehyung tivesse sido encaminhado para lá por ser próximo da maioria das universidades de sua cidade, perto de onde moravam, porém afastadas do centro comercial onde trabalhava. Jimin toda hora ficava olhando o GPS, como se isso fosse capaz de apressá-lo e encurtar logo o caminho.

Jungkook deixou Jimin na portaria do hospital, dizendo que o encontraria na sala de espera da emergência depois que achasse um lugar para estacionar. O estagiário concordou e fez força para não ir correndo até o prédio um tanto quanto velho e surrado.

Quando entrou na tal sala de espera da emergência, olhou para todos os lados e não encontrou Taehyung, apenas desconhecidos o fitando e teorizando sobre o que tinha errado com ele — o entretenimento de todo doente entediado esperando atendimento. Foi até o balcão tentar descobrir alguma informação.

— Boa tarde… Recebi uma ligação para acompanhar meu amigo de volta pra casa. Kim Taehyung o nome dele. — Soltou tudo de uma vez, tenso, para a recepcionista de cabelos perfeitamente arrumados.

— Ah, o Tetê! — Ela riu, agitando a mão, como se fosse super conhecida do ruivo. Jimin ficou extremamente confuso, porque sabia que aquele não era o hospital em que ele trabalhava. — Ele tava com uma carinha de entediado esperando aqui, aí as enfermeiras chamaram ele pro café da tarde.

— Hm… — Jimin não soube muito o que responder, pensando se realmente deveria ter se preocupado tanto com um homem que ia tomar café da tarde com as enfermeiras logo depois de ter sido atendido pela emergência. — E como eu encontro ele?

— Calma, vou ligar aqui pro telefone que tem na copa… — a mulher respondeu, discando um ramal em seu telefone branco e falando algo que Jimin não prestou atenção por estar refletindo se era idiota.

Jungkook apareceu antes do ruivo e, assim que Jimin explicou a situação, riu tão alto que levou um esporro da recepcionista por estar fazendo barulho na emergência. Depois daquilo, não demorou muito para o protagonista daquela confusão, Kim Taehyung, aparecer do corredor do hospital; a boca cheia de farelo de pão e uma enfermeira agarrada nele como se tivesse lhe adotado.

O CEO pediu desculpas ao Jimin e resolveu sair da sala de espera, porque simplesmente não estava conseguindo conter o riso com a cena e não queria ser linchado pela recepcionista outra vez. Jimin cruzou os braços, encarando o colega de apartamento de cima a baixo, averiguando se ele realmente estava bem.

Taehyung, espantado em também ver Jungkook — apesar deste ter sumido —, ficou tentando traçar teorias sobre o que tinha acontecido. Despediu-se rapidamente das suas mais novas amigas enfermeira e recepcionista, agradecendo a elas pelo cuidado. Já ia puxar Jimin para fora do hospital.

— Não, não. — Jimin recusou-se a sair dali. Chamou a enfermeira, que voltava para dentro do hospital. — Senhora, o que aconteceu com ele? Não confio que ele vai contar a verdade verdadeira, com certeza vai tentar dar uma aliviada na situação.

O ruivo arregalou os olhos ao ter sido pego no flagra, mas logo mudou para uma expressão de inocência e incredulidade perante a acusação. Jimin bufou ao encará-lo, acostumado porque o Jihyun volta e meia vestia aquela mesmíssima máscara. A enfermeira, ao entender o ponto, julgou Taehyung com o olhar também.

— Esse mocinho chegou aqui vomitando o chão todo… — expôs ela, com certo prazer que talvez fosse contra o código de ética dos profissionais da saúde. — Suando frio feito um porco saído direto do mundo daquela menina lá, a Frozen. Taquicardia e gastrite, consegue imaginar o porquê disso?

— Por quê? — Jimin perguntou, como era esperado que fizesse.

— Porque se entupiu de pó de guaraná e sabe-se lá que outro tipo de energético que ele não contou… Sinceramente, se fosse uma pessoa que não soubesse das consequências de fazer isso com o corpo tudo bem, mas um enfermeiro…

— Boatos de que médicos funcionam à base de “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço". Só tô tentando ser compatível com minha futura profissão… — Taehyung justificou-se, ainda com a expressão inocente no rosto.

— Ah, mocinho! Veja se isso é coisa que se diga! — a enfermeira devolveu irritada. — Se todos os médicos se jogarem da ponte você vai se jogar também?

— Tem que considerar os motivos, né... Se parecerem razoáveis, talvez.

A mulher respirou fundo, como se estivesse colocando um belo esforço em não tascar um tapa no jovenzinho ali mesmo. Não que o ruivo não fosse carismático e tivesse conquistado o coração de literalmente todo mundo que lhe atendeu — mesmo tendo vomitado um pouco neles, o que era um péssimo começo —, mas sinceramente aquela displicência com a própria saúde… detestava!

— Você, jovem. — Apontou para Jimin. — Deixo em suas mãos cuidar da peste, não deixe ele se aproximar de energéticos. Faça ele beber bastante líquido e se alimentar de um jeito que preste. Dormir também, descanso sempre é um dos melhores remédios.

— Pode deixar… — Jimin concordou, segurando o braço de Taehyung ao seu lado com força e lançando-lhe um olhar cortante. Estava um tanto puto com o relato, porque o ruivo não só fodeu o corpo como poderia foder seu psicológico também daquele jeito. Lembrava muito bem que o próprio irmão começou daquele jeito e, depois de um tempo, escalou para as frequentes crises de ansiedade. E, ao lembrar daquele ponto, ficou confuso sobre as próprias crenças por um momento. Antes, parte dele achava que saúde mental era besteira, porém outra já tinha vivenciado que não era. Confuso.

— Ai! — Taehyung reclamou manhoso e fazendo bico, como se fosse uma criancinha, enquanto Jimin puxava-lhe para fora depois de se despedir das duas mulheres. Estava tão preocupado com o enfermeiro que acabou nem fazendo seu julgamento um tanto quanto misógino de sempre com as duas.

Encontraram Jungkook esperando do lado de fora e, como Taehyung tinha limpado os farelos da boca no meio do caminho, ele conseguiu manter a compostura e perguntar se estava tudo bem daquela vez. Jimin expôs o Taehyung assim como a enfermeira fez e o ruivo revirou os olhos ao ver Jungkook lançar para cima dele um olhar de julgamento também.

— Ei, tio TaeTae! — Jungkook abraçou os ombros do ruivo enquanto guiava ele e Jimin até a vaga em que tinha estacionado o carro. — Que tipo de exemplinho você tá dando pros seus pacientes e pro pessoal dos orfanatos e asilos?

— Nenhum! — retrucou orgulhoso, empinando o nariz. — Se eles não viram, quer dizer que não aconteceu…

— Fala isso pro chão que você vomitou… — Jimin, ao lado, estava do lado de Jungkook naquela discussão.

— Tu me odeia… — bufou Taehyung.

No final, Jungkook acabou “ficando de Uber”, já que Jimin queria ficar ao lado de Taehyung e eles sentaram no banco de trás. Começou a dirigir com tranquilidade até a casa dos dois, observando feliz pelo retrovisor seus passageiros se alfinetarem o tempo todo. Era uma boa notícia saber que Taehyung estava melhor, de fato.

Jimin pediu que parassem por um momento ao lado de um supermercado que tinha no caminho e entrou correndo enquanto Jungkook e Taehyung colocavam o papo em dia. O estagiário apareceu após poucos minutos — poucos em proporção ao tempo que se leva normalmente em um supermercado, claro — cheio de sacolas no braço, parecendo tão determinado que os outros dois riram com a cena.

— Vou voltar lá pra Up, tenho umas coisinhas pra fazer — Jungkook falou quando estacionou ao lado do prédio conhecido, o pisca alerta ligado apesar da rua ser vazia. — Se cuide direitinho, hein, Tae!

Taehyung simplesmente resmungou, como se não precisasse ser avisado daquilo, mas agradeceu a carona antes de caminhar em direção à portaria, procurando suas chaves. Jimin contornou o carro para ficar ao lado da janela aberta do motorista, apoiando-se um pouco na porta.

— Obrigado, Jungkook… — o estagiário falou sério, fazendo com que o CEO o encarasse um tanto quanto perplexo.

— Ei, por que você tá tão sério? Foi só uma caroninha, relaxa. — Riu sem graça.

— Você sabe que não… — Jimin bufou, detestava quando ele se fazia de sonso, principalmente sobre as próprias atitudes. Timidamente, segurou todas as sacolas em uma mão só e resolveu arriscar o que observou muita gente próxima de Jungkook fazer e que, teoricamente, ele gostava. Levou a mão nos cabelos longos e penteou-os delicadamente para trás, um tanto nervoso. Nem percebeu que tinha prendido a respiração. — Obrigado por ter passado por isso comigo, eu tava muito nervoso antes.

— Não precisa agradecer uma coisinha dessas. — Jungkook sorriu, com a casca inocente e pura como sempre, daquele jeito que Jimin nem entendia direito. O CEO estava animado, pois adorava demonstrações físicas de afeto, e era legal recebê-las de Jimin, que parecia tão desconfortável ao seu lado e parecia pouco compreender sobre a parte mais… inocente, talvez, dos toques. — Se precisar de mais alguma coisinha é só me chamar, tudo bem?

— Tá… Você também… — respondeu Jimin antes de terminar de prender os fios negros do CEO atrás de sua orelha e afastar-se para entrar no prédio. Taehyung mantinha o portão aberto e assistia a cena entre os outros dois interessado, mas um tanto abismado também.

Afinal, apesar de saber que os dois trabalhavam lado a lado — mesmo que não entendesse muito como ou por que depois de tudo que aconteceu —, a última vez que os viu juntos foi no apartamento deles, quando teve que expulsar Jungkook porque Jimin estava quase derretendo de tanto chorar. Parte dele ficava muito confusa, de fato, com todos os acontecimentos, até porque não sabia o que tinha acontecido para “aplacar os ânimos”, mas ver que os dois estavam bem também o tranquilizava um pouco.

Gostava muito de Jungkook e definitivamente era muito mais divertido participar de eventos de caridade na presença dele, da sua amada Yoonji e do Seokjin. Sem contar que via como o trabalho do CEO de melhorar a organização dos eventos era muito profissional e dava resultados. E Jimin… Bem, dividiam apartamento e madrugadas há muito tempo, tinham uma certa cumplicidade.

Foi desperto de seus pensamentos um tanto quanto ruminantes com Jimin voltando a segurar seu braço, encarando-o cheio de julgamento e puxando-o até o apartamento deles. Ele fez com que Taehyung sentasse em um dos bancos da cozinha, ameaçando-o de morte se saísse de lá. O ruivo acabou rindo com aquele jeito mais nervoso do colega de apartamento, sempre tão indiferente.

Ficou observando Jimin mexer nas sacolas curiosamente. Ele guardou algumas coisas na geladeira e separou outras em cima do balcão, como se tivesse costume de fazer aquilo, sendo que nenhum dos dois comia muito em casa. Colocou na mesa, em frente a Taehyung, uma garrafa de isotônico vermelha.

— Provavelmente já te deram soro no hospital, mas… por via das dúvidas — comentou, lembrando que o irmão tomava coisas similares quando acabava vomitando por gastrite nervosa.

— Valeu, bro… — Taehyung respondeu, contendo a voz por estar um tanto emocionado. Abriu o lacre com certa pompa e tomou um gole. Ficou feliz ao ver que ainda estava frio da geladeira do supermercado.

Jimin botou água para ferver e começou a picar alguns legumes. Taehyung nem sabia que ele era capaz cozinhar algo mais elaborado. Na verdade, ambos sobreviviam de comida pré-pronta, então encarou toda a cena um tanto quanto encantado e achando, talvez, um tanto quanto estranho também. Jimin talvez parecesse… mais gentil.

Era mais aquele Jimin dos almoços de sábado depois da consulta de Woohyun, que continuava não falando tanto, mas parecia um tanto mais aberto a escutar. O silêncio era basicamente o mesmo, porém as intenções eram completamente diferentes e talvez Taehyung gostasse daquilo. Talvez gostasse muito, na verdade.

Não sabia o que levou Jimin a ficar daquele jeito, se era o trabalho de Woohyun, se era por causa de Jungkook — que estranhamente fora buscá-lo no hospital também —, se era alguma epifania que passou pela cabeça do outro. Estava confuso, de fato, com tal mudança.

Após longos minutos regados de encantamento desconfiado, um caldo de frango apareceu na mesa em frente a Taehyung. O cheiro gostoso que já permeava a cozinha abria o apetite tão tímido até então. O ruivo pegou uma colher, mexendo no caldo dourado e seus acompanhamentos.

— Macarrão de letrinhas? — Taehyung riu, observando se encontrava palavras em meio às cenouras.

— Eu acho gostoso. — Jimin deu de ombros, pegando um pouco de caldo para ele mesmo e sentando-se na mesa também. — Sei lá, acho que é mais coisado… Leve, sabe?

— Achei top demais. — Taehyung sorriu feliz, sorvendo a primeira colherada de caldo. Parecia algo tão… nostálgico. Talvez essa fosse a palavra certa. Lembrava do tempo em que morava com a avó, que costumava fazer aqueles pratos mais divertidos para entreter uma criança cheia de energia no meio da roça. Não lembrava de ter comido algo do tipo desde então.

Comeram em silêncio, Jimin para se alimentar normalmente, mas Taehyung… Taehyung sentia a força que perdera durante o dia voltando aos poucos, o corpo aquecer com o prato quente, junto de seu coração. Sentia-se confortável e acolhido dentro do apartamento que, até então, servia mais como um cenário de suas mágoas e desesperos. Sentia-se tão bem que tinha medo daquilo tudo ser uma ilusão.

— Desembucha — Jimin mandou assim que percebeu que o ruivo tinha terminado de comer e já relaxava.

— O quê?

— Tudo. Suas provas, quando são, quantas horas você tem dormido… — O tom ainda era sério, Taehyung refletiu se aquela vergonha que despontou no seu peito era parecida com a que filhos normais sentiam quando eram desvendados pelos pais.

— Aff… — murmurou manhoso, aceitando de bom grado o papel de alguém a ser cuidado. — Tenho uma depois de amanhã… E as últimas duas próxima semana.

— Quantas horas você tem dormido por dia? — Jimin reforçou a pergunta.

— Duas… — Taehyung afastou seu olhar, achando mais fácil responder daquele jeito. — Alguns dias eu não durmo.

— Ah, mas você vai dormir oito horas, sim — Jimin decretou, sem nem querer saber a opinião do ruivo sobre aquilo. — Seus colegas de curso também tão pirando o cabeção? Com mensagens de celular e essas coisas?

Taehyung assentiu com a cabeça, temeroso. Jimin parecia muito certo do que estava falando.

— Hm… Então nada de se desesperar com eles. Deixa seu celular descarregado, tá? — falou, mesmo que nem esperasse uma resposta. — Dormir vai ser importante pros seus estudos, sabia? Teve uma vez que apareceu uma porra de propaganda de bons hábitos nos meus vídeos de reforma no YouTube e ela dizia que seu cérebro usa o sono pra assimilar as coisas que você aprendeu… e que deixar de dormir diminui sua produtividade e aprendizado, sabia?

— Sabia — Taehyung concordou. Como enfermeiro e estudante de medicina, sabia de muitas coisas sobre a fisiologia humana. O que não queria dizer que fizesse o que deveria.

— Sonso do caralho… — Jimin xingou, revoltado, pegando as louças dos dois para lavá-las rapidamente. Taehyung sorriu que nem um bobo com o insulto, sentindo-se ainda mais próximo do Jimin depois daquilo. Que estranho. — Vai dormir, sim.

E Taehyung obviamente aceitou a ordem. Agradeceu silenciosamente o fato do colega de quarto estar de costas, porque sentiu os olhos lacrimejarem. Estava verdadeiramente tocado com a atenção que Jimin — tão egocêntrico até então — lhe dava. Sentia-se feliz e amado, sensações das quais era privado há tanto tempo, ainda mais onde morava, que tinha saudades de ser cuidado de tal forma.

— Obrigado… — Taehyung levantou-se e abraçou Jimin por trás, já que o colega de apartamento estava ocupado em lavar a louça. Queria apertar Jimin bem apertadinho, abraçá-lo por horas e poder continuar sentindo o mesmo calor dentro do peito ao comer o caldo com a proximidade deles. Sentia que finalmente tinha alguém que poderia considerar como uma família no mundo, mesmo depois de tantos anos de convivência ambígua. — Vou tomar um banho…

— Vai lá… Tô sentindo seu fedor daqui. — Jimin riu, achando o abraço até mesmo confortável. Estranho. Taehyung acompanhou o riso e deu um último abraço apertado no corpo menor antes de ir ao banheiro.

Jimin terminou de arrumar a cozinha bem a tempo de ver Taehyung passar pelo corredor com a toalha amarrada na cintura, em direção ao quarto. Resolveu tomar um banho também. Faria bem e quem sabe o ajudaria a relaxar depois da correria do dia.

Tomou banho encarando o azulejo branco do box, refletindo se algum dia voltaria a gostar tanto de tocar seu próprio corpo quanto anteriormente. Ele ainda masturbava-se, claro, mas com uma frequência e, principalmente, uma vontade, muito menor do que antes de… tudo aquilo ter acontecido.

Passou em seu quarto a fim de vestir um pijama antes de bater na porta do quarto de Taehyung, que apareceu após alguns minutos. Jimin observou com um olhar ferino a escrivaninha dele, que dava indícios ter sido utilizada para estudos recentemente.

— Hora de dormir — decretou, puxando os ombros do ruivo. — Já escovou os dentes?

— Já, mas tá cedão! — Taehyung resmungou por um momento, sem querer ir para a cama ainda. — Nenhum zé dorme tão cedo!

— Zé Taehyung dorme, vai, deita aí. — Jimin dispensou as reclamações com facilidade e um abanar de mãos. — Vamos dormir juntos hoje, pra garantir que você não vai acordar no meio da madrugada pra estudar.

— Ah, não! — Taehyung fez birra, prolongando o “o” enquanto jogava-se no cantinho de sua cama, deixando um espaço para que Jimin conseguisse deitar também. Um sorriso tomava seu rosto, porque estava amando fazer birra e ser cuidado. O ruivo realmente não tinha percebido que sentia tamanha solidão até então, porém o quão feliz estava com os carinhos para com ele demonstrava que estava, sim, lamentavelmente sozinho.

— Menos reclamação e mais sono, caralho. — Jimin ligou o abajur do lado da cama e desligou a luz principal do quarto antes de ajeitar-se do lado do amigo, que o esperava ansioso. Uma onda de familiaridade atingiu Jimin com força ao executar todas as ações, idênticas às de quando ia dormir com seu irmão. A rotina parecia ter cutucado algumas das feras adormecidas em seu peito. — Dormir e deixar que seu cérebro consiga fazer aqueles coisos… Meu Deus, qual o nome? Devia ter prestado atenção na propaganda.

— Sinapses? — Taehyung sugeriu, ajeitando-se no colchão e passando um dos braços por Jimin para poder aproveitar seu calor.

— Sinapse é coisa de cérebro? — Jimin perguntou, enquanto ponderava se abraçava Taehyung de volta ou não. Eles nunca foram próximos daquele jeito, ainda mais fisicamente, mas parecia muito confortável e ele mesmo sugeriu que dormissem juntos.

— É, né.

— Então é isso aí mesmo. Boa noite e boas… sinacoisas pra você — falou, o tom sério apesar das brincadeiras, Taehyung riu, porque a personalidade meio indiferente misturava e conflitava com a cuidadosa, formando uma ainda mais divertida.

— Boa noite, Jimin, boas sinapse pra tu também.

E, deitado no abraço de Jimin, Taehyung pegou rápido no sono, mesmo ainda fosse relativamente cedo. Tão acolhido que nem a faculdade parecia um bicho de sete cabeças. Junto à consciência sendo tomada pelo torpor do descanso, deixou a insegurança e o medo derreterem, tudo perante a vigília do cuidado e confiança do momento. Cuidado e confiança de algo que esperava poder chamar de família, depois de tantos anos vazios.

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— E aí, o Tae tá melhorzinho? — foi a primeira coisa que Jungkook, preocupado, perguntou quando Jimin chegou ao escritório no dia seguinte.

— Sim, ele dormiu bem essa noite — respondeu Jimin, apoiando a mochila embaixo da sua mesa. — Prometeu que vai dormir na próxima também e pegou uma folga no trabalho pra poder estudar pro período de provas. Parece que todo mundo no hospital entendeu.

— Fico aliviado em saber disso. — Jungkook até suspirou, mais relaxado. Estava sendo sincero, tinha ficado genuinamente preocupado com o ruivo. Seus olhos varreram o Coração e deram de cara com Yoonji, escondida atrás da entrada. — Parece que você ganhou um espiritozinho te assombrando, Jimin.

Jimin olhou ao redor, confuso, mas logo acabou dando de cara com a mulher também, que já tinha amaldiçoado três gerações de Jeons na cabeça dela por ter sido revelada daquela forma. Sem ter para onde correr, Yoonji entrou na sala por completo, com o rosto completamente corado.

— Porra, Goo — não podia deixar de xingar, cruzando os braços. Respirou fundo, tomando coragem para falar com Jimin. — Eu só… só queria saber se o Tae tá bem, ele não tem respondido minhas mensagens...

— Ela quer tá muito interessada mesmo — Jungkook expôs, gargalhando alto. — Ontem eu voltei pra cá depois de nossa visitinha ao hospital, né, aí a Yoonzinha chegou pronta pra arrancar meu couro: “Onde você tava, pirralho catarrento? Acha que pode simplesmente sumir assim?” — imitou o tom de voz revoltado dela, com uma expressão de diversão no rosto. Aproximou-se da mulher para abraçá-la e acariciar os cabelos escorridos, como se tentasse acalmá-la. — Aí foi só eu falar do Tae que ficou mansinha, mansinha, cheia de “Ó, Deus… O lindo, maravilhoso, carismático, apaixonante Taehyung está bem?”.

— Eu não disse isso! — Yoonji rosnou, o rosto completamente corado, Deus sabe se de vergonha ou de raiva. Talvez os dois. A mulher parecia pronta para atacar Jungkook e enforcá-lo e Jimin refletiu que talvez fosse por isso que ele a abraçou: a fim de proteger-se de uma possível agressão.

— Não disse, mas sei que pensou, Yoonzinha — provocou mais uma vez, fazendo que Yoonji terminasse de se arrepender em ter ido até o Coração. Afinal, tal visita não tinha como dar certo, porque um dos habitantes daquele Órgão era um machista nojento — que por algum motivo morava com seu amado e completamente-não-machista Taehyung — e outro era um pirralho irritante.

Jimin apenas observou a cena contemplativo, pois não sabia que Taehyung e Yoonji tinham algum tipo de relacionamento. Talvez devesse perguntar ao enfermeiro depois. Não o julgou por não ter contado, porque lembrava de ter xingado Yoonji aos montes na frente dele, e a cara de paisagem que o ruivo fazia quando ele soltava o verbo começou a fazer sentido. Será que o colega de apartamento tinha conhecido Yoonji junto com Jungkook e Seokjin? Provavelmente; só sabia da relação dos outros dois porque tinha perguntado depois daquele acidente todo por que eles pareciam se conhecer, mas como nunca viu Yoonji e Taehyung juntos antes, não dava para saber.

— Ele tá bem — respondeu Jimin, cortando as provocações. Involuntariamente, um sorriso gentil despontou em seu rosto, mas nem ele mesmo percebeu. — Eu fiz ele parar de mexer no celular porque achei que o pessoal desesperado da turma dele era um dos motivos pra ele ter ficado tão ansioso, vou avisar que você ficou preocupada…

A implicância entre os dois líderes da UP2U minguou em um instante, e ambos encararam o estagiário embasbacados. Jamais tinham presenciado aquele tom de voz amável vindo de Jimin, muito menos um sorriso tão sincero e doce, nenhum deles. Sorrindo daquele jeito, até que ele parecia simpático. Yoonji ficou desconcertada, refletindo se não tinha o julgado errado — afinal, Jimin nunca tinha sido diretamente machista com ela, porém sentia nele o mesmo desprezo cheio de superioridade que recebera durante toda sua vida estudando e trabalhando em uma área tipicamente masculina — e Jungkook sentiu um certo orgulho pairar em seu peito, mesmo que tal sentimento não fosse tão claro para ele.

— Ah… Obrigada… — Yoonji respondeu, ainda um pouco perdida com a reviravolta.

— Hm… Nada. — O agradecimento de Yoonji pareceu fazer Jimin despertar, deixando-o um tanto quanto confuso com o próprio comportamento. Pareceu natural na hora, mas agora que refletia sobre ele, percebia ser muito distante de como agia normalmente.

Como o clima ficou meio esquisito com a perplexidade de todo mundo (inclusive do Jimin, causador dela), Yoonji convenientemente lembrou de alguma tarefa que tinha que fazer e foi embora, interpretando aquilo como sua deixa. Jungkook riu e sentou em sua mesa para trabalhar também.

O tempo passou e Jimin começou a ficar curioso sobre a… imobilidade de seu CEO. Afinal, Jungkook normalmente passava o dia inteiro pulando de um Órgão para outro na UP2U, o que seria tão urgente e trabalhoso daquele jeito para fazê-lo ficar sentado por dois dias seguidos? Era muita coisa para os padrões do Jungkook.

Antes de mais nada, resolveu concluir todas as tarefas que tinha para aquele dia para não atrasar. Detestava atrasar tarefas. Terminou o relatório sobre os resultados da UP2U, enviando tanto ao Cérebro para ajudar eles a escrever o parecer² e aos Pulmões para que eles achassem uma forma legal de divulgar aquilo para o resto dos Upinhos — provavelmente alguma arte engraçada com algum meme da moda a ser divulgado no general do Slack —, adiantou alguns preparativos para a reunião com o Cérebro sobre a nova forma de parceria com o NerdExpress e contatou os integrantes da startup para passar os feedbacks e dicas da Yoonji sobre a plataforma, além de dar um resumo de como estava o andamento da possível parceria por parte da UP2U.

Resolveu tudo rápido, até, talvez impulsionado pela curiosidade em perguntar ao Jungkook o que o prendia naquela cadeira. Agradeceu-se internamente por ser organizado e já ter adiantado um tanto das tarefas, enquanto observava despretensiosamente o CEO concentrado.

— Hm… Jungkook… — chamou, estranhamente tímido. — O que você tá fazendo aí?

— Ah… Nada demais, na verdade. — Acabou rindo, de uma maneira um pouco nervosa. — Eu sempre tiro alguns diazinhos a cada dois meses para ler todos os comentários tanto da pesquisa de clima³ pra ver como estamos internamente, quanto os de clientes, em NPS que a gente coleta, ReclameAqui, redes sociais… É sempre bom pra eu poder ter uma visão do todo do que tá acontecendo. Aprendi isso na marra, mas acho que aprendi.

— Entendi… Pensei que os Pulmões filtrassem para cada Órgão quais são os pontos da pesquisa de clima podem ser melhorados por ele.

— Sim, eles filtram. Mas sei lá… gosto de pensar que como CEO é importante que eu saiba de tudinho, porque a gente cuida junto da estratégia da empresa inteira e dos Órgãos junto com o Cérebro, então é legal eu saber também quais probleminhas e ações foram filtradas para cada diretoria e tudo mais.

— Entendi… — Jimin repetiu, estranhando algo em Jungkook, mas sem saber o quê. — Posso ajudar em algo?

— Não, relaxa, é de boinha. Tô só lendo mesmo. — O CEO sorriu brevemente antes de voltar à atividade. Jimin, espantado pela conversa ter terminado de forma tão brusca, demorou um pouco para percebê-la como encerrada.

Bem, Jimin estava de mãos atadas. Tinha terminado as atividades do dia e, com Jungkook tão fissurado no próprio notebook, não poderia roubar tarefas dele como normalmente fazia. Resolveu dar uma passada nos Órgãos para ver o andamento das atividades que teoricamente eram de Jungkook, mas ele tinha repassado.

No final todo mundo, exceto Yongsun, estava com a maioria das atividades bem encaminhadas e quase finalizando. A líder dos Pés, por outro lado, tinha recebido uma demanda enorme do setor jurídico — terceirizado — e aparentemente os últimos dias foram uma correria tão maluca que não teve tempo nem pra respirar.

Já que estava à toa mesmo, Jimin adiantou um pouco a tarefa que estava com ela. Não gastou muito tempo, pois era uma daquelas tarefas chatas que precisava da resposta das pessoas envolvidas para avançar e, portanto, demandava uma certa espera a cada etapa. Depois, mesmo só sabendo o básico do básico de finanças — deveria ter prestado mais atenção nas suas aulas de contabilidade —, sentou ao lado de um Yeonjun tão desesperado que até a raiz do cabelo amarelo ovo estava maior do que o normal e começou a ajudá-lo com suas demandas.

Sentiu na pele a gravidade da situação dos Pés. Estavam realmente apertados de tempo, e as horas que trabalhou lá passaram como um piscar de olhos tamanha a correria e o clima de pressão por causa do prazo a ser cumprido. A maioria das pessoas trabalhavam em silêncio, bem longe do burburinho divertido que normalmente era característico em todas as partes da empresa.

Yeonjun e Jimin só pararam de trabalhar quando Changkyun, que estava na mesa ao lado, percebeu as horas e avisou que provavelmente já tinha dado a hora deles irem, porque não podiam cumprir hora extra. Frustrados, os dois estagiários aceitaram sua derrota.

Enquanto Yeonjun passava o que estava pendente ao Changkyun, Jimin apenas despediu-se e voltou para o Coração, encontrando Jungkook ainda vidrado naquele maldito notebook. Não era possível existir tanto comentário sobre a UP em apenas dois meses para ele ficar sentado tanto tempo daquele jeito!

— Ainda aqui? — Jungkook perguntou perdido, levantando o olhar quando Jimin entrou na sala. Era óbvio que sim, afinal, todas as coisas do estagiário ainda estavam na sua mesa, mas o CEO passou o dia inteiro meio distraído.

— Sim, tava dando uma força lá nos Pés.

— Tá agarrado lá, né? — Jungkook perguntou, suspirando pesadamente. — Seojoon, o representante do jurídico que a gente terceiriza, falou mesmo que entrou uma demanda bem urgente e grande… O pessoal tá dando conta?

— Não sei, não… — Jimin ponderou. — Aparentemente vão conseguir entregar tudo que é necessário no prazo, mas difícil dizer se eles conseguem manter o ritmo, porque definitivamente estão trabalhando muito a mais do que o normal. Capaz dos Pés esvaziarem depois disso.

— Imagino que sim… — Jungkook finalmente fechou seu notebook e apoiou a mão no queixo, reflexivo. — Obrigado por ter dado uma ajudinha a eles, fez bem.

— Tava tranquilo. — Jimin deu de ombros, indiferente como sempre.

— E obrigado por me repassar a situação… Yongsun falou que ainda tava dentro do possível, mas vou ter uma conversinha com ela agora pra ver se é necessário que a gente contrate alguma firma de contabilidade só para ajudar a dar vazão nisso.

— É uma boa ideia — o estagiário concordou enquanto começava a guardar suas coisas para ir embora.

— Fechou por hoje?

— Pois é, passou rápido.

— Quer tomar um chá comigo lá na sala de convivências? Meus pais viajaram pra China e compraram um cházinho todo especialzão pra mim, pensei em experimentar hoje e aproveitar pra relaxar um pouco.

— Pode ser — Jimin concordou, colocando a mochila no ombro de uma vez para ir direto pra casa depois do chá. Estava confuso com o convite. Não costumava ser convidado para muitas atividades ou lugares, então aquilo era uma novidade. Também não sabia muito bem como se portar, mas acreditou que não faria mal aceitar daquela vez. Tinha um certo interesse em aceitar aquele convite. Nos últimos dias, Jungkook tinha feito um bom trabalho em quebrar aquela barreira de estranheza entre eles e queria testar o que poderia ter atrás daquela parede. Relações humanas normais, quem sabe.

No meio do caminho, Jungkook passou nos Pés, claro, e conversou rapidamente com a Yongsun sobre as necessidades da diretoria. No final, resolveram contratar uma consultoria externa para ajudar com a demanda, que era ainda maior do que imaginado. Yongsun também aceitou a ajuda de Jungkook em fazer o orçamento dessa contratação e mandar para a aprovação dela e do Cérebro o quanto antes.

Subiram até o último andar, com menos Upinhos do que o normal por ser fim de expediente, em que todo mundo se preparava para ir embora. Normalmente só um pessoal das Mãos sobrava na empresa naquele horário.

Passaram na cozinha e ferveram a água para o tal chá — que realmente parecia especial, vindo em uma bela e lustrosa caixa de metal —, que possuía um cheiro muito gostoso de flor, que permeava o ambiente. Jungkook respirou fundo com o aroma, sentindo-se mais tranquilo. Se fosse o começo do dia, provavelmente estaria se enchendo de café, então a bebida mais leve soava como o prelúdio de um descanso pelo qual estava um tanto aflito.

Com duas canecas estranhas e completamente diferentes que acharam na cozinha — afinal, a louça ali era na maior parte das vezes um agrupamento de coisas que os Upinhos traziam de casa —, foram sentar em pufes macios e coloridos da sala de convivência. Passaram um tempo em silêncio, sentindo o corpo afundar na espuma macia do móvel e bebericando o chá quente, apenas tranquilos com a presença um do outro. Ou quase isso. Jungkook não era muito bom em ficar quieto.

— Fiquei aliviado em saber que o Taehyung tá melhorzinho. — Jogou sua melhor carta de extrovertido: falar de algo, alguém ou uma situação que compartilhavam. Jimin tombou a cabeça, meio confuso, porque não entendia muito bem por que falar do Taehyung se já tinha explicado quando chegou na Up que estava tudo bem com ele.

— Sim.

Um silêncio meio estranho pairou enquanto Jungkook tentava arrumar um jeito de continuar a conversa. Era o seu talento, ou algo do tipo.

— Como você convenceu ele a dormir? Ele parece do tipo que madruga escondidinho.

— Dormi com ele.

— E ele comeu direitinho?

— Sim, fiz um caldo e ele comeu.

— Você gosta de cozinhar então? — Os olhos de Jungkook acenderam com a brecha que encontrou para começar uma conversa. Aquela parecia perfeita.

— Não — Jimin respondeu simplesmente. Até gostava de ficar à toa e ver vídeos de culinária sobre receitas que nunca faria, mas gostar de cozinhar era uma palavra muito forte.

— Entendi…

Um novo silêncio se instaurou entre eles por um momento. Ao contrário de Jungkook, Jimin não se importava com a quietude. E, enquanto pensava em que assunto poderia puxar, Jungkook lembrou de um tópico que sempre quis perguntar, mas não sabia se deveria. Continuava sem saber, na verdade. Tentou achar uma ligação entre aquilo e o assunto anterior para não parecer tão estranho.

— Então… — Jungkook engoliu em seco, um pouco nervoso se deveria comentar sobre aquilo ou não. — Taehyung está melhorzinho… E você, como está?

— Hm… Bem? — Jimin perguntou confuso, sem saber o que Jungkook queria dizer com aquilo. O CEO ficou um tanto envergonhado ao ver que a conexão entre um assunto e o outro foi um fracasso total. Com sorte, não ofenderia seu estagiário.

— Quer dizer… Como você tá sobre aquilo tudo que aconteceu um tempo atrás… — Ele parecia caminhar em ovos, sem saber a melhor forma de levantar o assunto. Talvez não tivesse uma forma boa. E talvez não devesse levantar o assunto. Mas sentia-se responsável pelo evento ainda e gostaria muito de saber o andamento dele. — Mesmo quando fui no Woohyun junto com você, não soube muito bem como você tá…

— Ah! — Jimin finalmente pareceu entender. — Você diz a tentativa de estupro?

— Uhum… — Jungkook concordou baixinho, em dúvida se poderia falar aquilo de forma tão direta. Inclusive ficou assustado com a objetividade do Jimin ao mencionar o ocorrido.

— Acho que tô bem sobre isso já… — Jimin ponderou, reflexivo. — Faz bastante tempo que minhas consultas com o Woohyun mudaram de foco… Ele ficou dizendo que eu poderia ficar reativo a alguns toques, ou que algumas situações poderiam ser gatilho, mas não passei por isso ainda… Até usou um tal de EMDR⁴ para me ajudar a dissociar o trauma, algo assim… Mas acho que não fez diferença pra mim porque eu meio que já não tô ligando para o que aconteceu.

— Sério? — Jungkook perguntou, um tanto desacreditado. Mesmo que Jimin realmente parecesse o tipo de pessoa que preferia esquecer as coisas a remoer (de uma forma até exacerbada), simplesmente superar com facilidade um caso grave de violência física e sexual parecia no mínimo improvável. Jungkook tinha um tanto de amigas que sofreram assédio e, mesmo passando um tempo considerável, ainda eram fortemente marcadas pelo trauma. Refletiu, impressionado, que as pessoas realmente eram muito diferentes e subjetivas, até mesmo na forma de absorver uma experiência negativa.

— Sério. — Jimin deu de ombros, bebericando mais um pouco do chá. — Não sei explicar bem, mas… eu só não penso mais nisso. O cuzão lá realmente foi preso e provavelmente nunca mais vou ver ele na vida, meus machucados também melhoraram e… sei lá, acabou por aí. Pra mim é só memória.

— É só memória, mas tipo… quando você lembra do que aconteceu, você não revive as emoções? — Jungkook perguntou curioso, porque ele definitivamente era o tipo de pessoa que remoía as emoções junto com suas memórias, principalmente as ruins.

— Emoções? — Jimin pareceu ponderar a pergunta, refletindo se em algum momento aquilo tinha acontecido. — Acho que só logo depois do acontecido… Depois de alguns dias foi diminuindo e acho que agora eu não sinto nada… Só raiva do cara, né, mas já dei como resolvido.

Depois de falar, o estagiário ficou pensativo por um tempo, refletindo sobre o que Jungkook tinha perguntado. Realmente, não encontrou muita dificuldade em esquecer o que aconteceu, talvez porque aquilo tivesse ficado distante e não lembrava muito frequentemente. E porque tinha um certo talento em esquecer as coisas.

Apesar de já estar melhor sobre aquele ponto, não tinha a mesma facilidade em superar o nojo que tinha começado a sentir por ele mesmo por ter assediado Jungkook. Talvez porque ver o CEO todos os dias o lembrava daquilo. Ou talvez, ao contrário de Seunghyun que foi um dia na sua vida, ele tinha que carregar a consciência de ser um assediador todos os dias, porque envolvia-lhe diretamente e não era possível descartar aquilo. Ou talvez o que estivesse dificultando superar aquilo era entender que sua dependência clara de yaoi e pornografia gay até então era problemática e que deveria construir algo além daquilo. Mas não sabia de nada além daquilo, tudo lhe foi arrancado de uma forma muito súbita. Era uma questão difícil, não entendia bem… ainda estava trabalhando com o Woohyun.

— E você não acha que isso prejudicou seus relacionamentos? — questionou novamente Jungkook. Era a primeira vez que via uma reação como a do Jimin. — Tipo… você não tem uma certa resistência em ficar com alguém que antes você teria vontade? Ou até mesmo amizade… não fica desconfortável se alguém te toca?

— Não, mas eu não tenho muitos relacionamentos também — Jimin confessou. — Duvido muito que alguém me considere um amigo.

— O Taehyung te considera… — Jungkook murmurou, coçando a sobrancelha por estar confuso.

— Talvez ele me considere — respondeu com sinceridade. — Mas não acho que eu mereça, tô notando que eu não cuido das pessoas ao meu redor. Na verdade, eu nem me importo com elas.

— Se você não se importasse mesmo você não estaria falando isso… — Jungkook retrucou, sendo vagarosamente tomado por melancolia.

— Estaria. Eu não tenho dificuldade de perceber as coisas racionalmente. Eu realmente não me importo e é mais fácil assim, porque nunca dói. Mas esses dias eu acho que gostaria que isso fosse diferente… talvez. — Jimin desviou o olhar, ficando ainda mais pensativo.

— Dando minha humilde opiniãozinha… eu acho que você tá diferente. Tenho certeza que você sabe mais dos seus próprios sentimentos do que eu, e talvez uma parte sua não ligue mesmo… Mas eu acho que tá diferente, mesmo que pouquinho.

— Se você diz… — Jimin deu de ombros antes de terminar de beber seu chá.

— Digo! — Jungkook confirmou, rindo.

— E quanto a ficar com alguém… — Jimin relembrou o início da discussão, terminando de responder tudo ordenadamente apesar do rumo subjetivo a conversa que tomou, cheia de novas ramificações aleatórias por causa da curiosidade difusa de Jungkook. — Antes eu ficava atraído por qualquer homem bonito e forte de um modo geral… Ainda fico, na verdade. Mas aí tento descobrir se é atração mesmo ou uma expectativa que tô projetando por causa dos yaois, você sabe… Mas não confirmo porque não acho que algum cara teria paciência de transar comigo do jeito que sou hoje.

— Como assim?

— Você sabe… pra lidar com o que eu considero sexo… — Jimin continuou analisando friamente. — Já consegui entender que yaoi e a pornografia gay em geral não representam bem os relacionamentos gays reais, mas isso não significa que eu consigo fazer a distinção entre os dois e que eu saiba como é um relacionamento gay real.

— Acho que não existe muito isso de relacionamento gay real… — Jungkook ponderou. — Porque são duas pessoinhas diferentes, né. Pra mim, a dinâmica do sexo tem muito mais a ver com as pessoas do que se é gay, hétero ou qualquer outro tipo de orientação sexual. Você só vai aprender com a pessoa, e vai aprender do jeito da pessoa a partir das experiências dela, do mesmo jeito que você tem o seu a partir das experiências que você foi exposto.

— Mesmo assim, não acho que alguém teria paciência de ensinar alguma… experiência mais normal também… — Jimin suspirou por fim, porque aquele assunto era muito complexo. Na verdade, nem sabia onde procurar qualquer pessoa, apesar da parte racional achar que era uma experimentação válida a se fazer para testar as próprias reações àquilo. A verdade, era que ainda não conhecia a dimensão das sequelas do trauma.

— Bem, a gente pode tentar transar. Acho que eu não ligaria com seu jeitinho porque já te conheço — Jungkook sugeriu despretensiosamente, quase como brincadeira. — Pelo menos eu acho que te conheci um pouco mais nos últimos meses… Não tenho ficado com ninguém, acho que eu estou precisando transar um pouquinho também.

— Quê?

— Olha, não é tão estranho se a gente pensar que a gente já ficou… — Jungkook emendou rápido, ao perceber a surpresa estampada na expressão de Jimin. Jimin não ficava surpreso. Nem com nenhuma expressão, de modo geral.

— Eu tenho a impressão de que aquela vez não foi uma experiência legal pra você... — Jimin lembrou o jeito que o CEO saiu correndo e deixou ele sozinho em cima da mesa. Como esquecer? — E eu acho muito estranho se você pensar que eu fui um lixo com você antes… Eu até superei o negócio do Seunghyun, mas ainda me sinto um pouco desconfortável perto de você por causa do que eu fiz.

— Justo, se você se sente assim… — Jungkook deu de ombros, porque realmente não existia nele nenhum resquício de mágoa quanto ao Jimin. Se a culpa sufocante que o assolava até sem pretextos motivou que ele enterrasse qualquer sentimento ruim que existia sobre aquilo, os meses de convivência tranquila e aparentemente saudável foram desculpa o suficiente para Jungkook cimentar por cima da cova da mágoa. E ele, como mero ser humano programado para se proteger, faria de tudo para provar que a decisão que tinha tomado era certa(5). E ofereceu tentando confiar que também tinha melhorado suas atitudes a ponto de fazer aquilo porque queria, e não porque achava que deveria ou para normalizar algo errado. — Se você mudar de ideia você pode me chamar. Tentar é uma possibilidade também, se eu ou você acharmos ruim a gente só desiste.

— Você falaria se achasse ruim? — Jimin levantou uma sobrancelha e estreitou os olhos, tentando intimidar Jungkook a falar a verdade, porém tinha suas dúvidas se funcionaria.

— Claro, eu não pretendo cometer o erro de tentar normalizar qualquer coisa errada que nem fiz antes — foi o que ele respondeu. Era quase uma promessa que tentava fazer consigo mesmo.

Jimin ponderou a proposta com seriedade. Dificilmente encontraria algum cenário mais propício do que aquele. Jungkook conhecia suas manias estranhas, parecia ter bastante experiência sexual, era atraente e no momento encarava a situação de uma forma bem racional, do jeito que gostava. O único, porém gigantesco, empecilho era o possível desconforto por causa de tudo que passaram… mas se aparecesse poderiam interromper tudo, certo?

No fim, não havia grandes riscos envolvendo a situação como um todo. Tentou procurar outro ponto de atenção, mas não achou. Jungkook não era do tipo que o demitiria se algo desse errado, ainda mais fora do âmbito profissional.

— Tudo bem… Podemos tentar.


Notas Finais


GLOSSÁRIO

¹ Etanol. Não que vocês não saibam o que é etanol, mas só queria passar aqui pra trazer uma ~informação~ de que usar etanol no lugar de gasolina reduz até 90% dos GEE (Gases de Efeito Estufa). Se for uma opção na sua vida, vale muito optar pelo etanol pelo planeta por enquanto (mas quem sabe os carros elétricos e transportes públicos que prestes não cheguem logo também)

² parecer. De acordo com um site, "Dar um parecer é transmitir mais do que uma opinião, é expressar-se de modo embasado. Seu objetivo é explicitar o assunto, de forma clara e precisa, para uma outra parte cujo conhecimento técnico não é o mesmo do parecerista. O parecer técnico é a avaliação profissional de algo." No caso, é um documento em que o Conselho Administrativo faz uma avaliação da companhia a fim de facilitar a transparência dentro dela, que é um dos pilares da governança corporativa.

³Pesquisa de clima é um formulário que todo mundo na empresa deve preencher de tempos em tempos para avaliar o ambiente da empresa. Ela dá uma nota que é meio que a "satisfação" dos funcionários, mas também é dividida em vários temas e pergunta para ser possível entender o que tem que ser melhorado. Em geral é o RH que é responsável pela execução dela na empresa toda, mas as melhorias tem que ser feitas por todas as diretorias.

⁴EMDR Eye Movement Dessensitization and Reprocessing, ou em português: Dessensibilização e Reprocessamento através do Movimento dos Olhos é um tipo de terapia que ajuda a relacionar eventos possivelmente traumáticos com o presente. É uma psicoterapia válida para alguns tipos de paciente, mas vive caindo na mão de charlatões, então muito cuidado em falar sobre isso. Tem um podcast suuuuper legal sobre essa técnica: aqui https://www.b9.com.br/shows/naruhodo/naruhodo-243-mover-os-olhos-pode-reprogramar-suas-memorias/ (tem no spotify tbm, é só buscar o nome)


Bem, então os jikook resolveram transar... Eu que não vou comentar sobre isso

Qual foi a cena favorita de vocês? A minha foi os vmin por motivos óbvios aiiiiii, muito feliz por eles, principalmente pelo tetecooo

Bem, espero que tenham gostado do capítulo!! Muito muito obrigada mesmo por quem acompanha, comenta e me dá tanto carinho aaaaaaaaaaaa Se quiserem surtar comigo no #JKNãoUsaGravata no twitter eu também amoooooooo (o único probleminha é q estive meio sumidinha semana passada e provavelmente vou ficar na próxima também, pq o fim de semestre aqui na minha faculdade realmente tá absurdo kkkkkkkrindodenervoso

Não sei se vocês viram no twitter, mas faz um tempinho que eu comentei sobre tirar umas férias de postagem. Ou seja, em abril eu não posto nenhuma att. Espero muito que vocês entendam :( tô meio na correria há muito tempo e mesmo assim eu tenho postado religiosamente várias coisas há quase dois anos. Muito obrigada pra quem não me esquecer durante esse pequeno período.

Beijinhos de luz e até dia 01/05 às 19:00!


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