Medusa teve seis descendentes, todos filhos do mesmo guerreiro, ninguém sabia muito sobre esse casal, apenas que quando ela estava com ele, mantinha seus olhos fechados, para não o transformar em pedra, entretanto fofocas diziam que a união entre os dois não andava bem, discussões aconteciam o tempo todo, e um dia, algo acabou acontecendo e Medusa o petrificou. Uns diziam que foi acidental, outros que foi de propósito, mas ninguém sabia ao certo o que havia ocorrido.
Após esse acontecimento, o filho mais velho do casal, que tinha apenas doze anos na época, decidiu procurar por asilo na dimensão mitológica, lá clamou aos deuses e contou sua história, pois ele e seus irmãos não poderiam viver somente com Medusa, primeiro porque ela nunca havia sido uma mãe presente, nem carinhosa ou preocupada, apenas o pai cuidou deles, mesmo que muito mal na maior parte do tempo, e agora os filhos também tinham medo de que em algum momento Medusa abrisse seus olhos e olhasse diretamente para um deles, mesmo que por acidente.
Os deuses permitiram a entrada dos seis irmãos, porém somente depois deles passarem por um portal mágico, que só permitia a passagem dos que tinham bondade dentro de si, e felizmente todos os irmãos puderam passar, porém como ainda eram crianças, tendo entre doze e um ano de idade, a magia do portal poderia entender que a ingenuidade em suas mentes significava bondade, então os deuses continuaram de olho nos irmãos, esperando que se tornassem adultos e pudessem passar pelo portal mais uma vez, provando se ainda permaneciam tendo corações puros.
Quinze anos se passaram, e até então quase todos os irmãos já tinham refeito o teste, o mais velho estava com seus vinte e sete anos e seu teste havia sido há seis anos atrás, e o último teste feito até então foi com o quarto filho, que tinha vinte e um anos, agora somente os dois mais novos que não puderam fazer, pois um ainda tinha dezoito anos e o caçula somente dezesseis, precisavam chegar aos vinte e um para poder passar pelo portal novamente.
— Esse lugar me dá medo. — Namjoon expressou olhando em volta, aquele lugar era ainda mais sombrio durante a noite, em sua concepção ao menos.
Havia apenas duas casas naquele pântano, e uma delas era onde os filhos de Medusa moravam, se tratava de um sobrado grande, que lembrava muito as construções do século dezenove existentes na terra dos humanos, muito bem pintada e arrumada, mas para Namjoon apenas parecia uma mansão mal assombrada, saída diretamente de algum filme de terror.
— É só um pântano, Namjoon, relaxa. — Jungkook respondeu rindo baixo, passando pelo pequeno portão de ferro que cercava o casarão começando a subir os degraus que davam acesso a varanda da casa.
— Só bate logo na porta. — O loiro pediu, dando uma corridinha para alcançar o primo.
— Beleza. — Assentiu, dando algumas batidas na madeira maciça da porta.
— Quem é? — Uma voz feminina perguntou lá de dentro.
— Sou o Jungkook, eu preciso falar com um de vocês. — Jungkook respondeu, se aproximando mais ainda da porta, quase encostando sua orelha contra a mesma.
— Com quem você quer falar, filho de Ártemis? — A mulher questionou em seguida. Caramba, realmente todo mundo o conhecia.
— Ah… — Murmurou, sem saber o que responder, e então olhou na direção de Namjoon, que parecia trêmulo até. — Com quem a gente vai falar?
— Com o Jimin, ele pode reconstruir coisas feitas de pedra. — O loiro assegurou rapidamente.
— Precisamos falar com o Jimin. — Jungkook informou para a moça.
Todos os filhos de Medusa eram górgonas assim como ela, entretanto ainda que tivessem serpentes no lugar de seus cabelos, também tinham o DNA de um humano, então acabaram nascendo com uma certa anomalia em seus poderes, pois ao contrário de sua mãe, eles não estavam amaldiçoados com o poder de transformar quem olhava para si em pedra, mas sim cada um tinha um poder diferenciado, mesmo que ainda estivessem no quesito “transformar coisas em pedra”.
Namjoon não sabia qual era o poder especial de cada irmão, porém tinha conhecimento de que um deles somente conseguia transformar coisas líquidas em pedra, outro podia petrificar apenas objetos, e um mudar o formato de pedras, conseguindo até mesmo construir esculturas com seus poderes.
Mas os primos precisariam da ajuda de um dos irmãos em específico, e este era Jimin, o único que possuía o poder de conseguir reconstruir qualquer superfície de pedra, Namjoon já tinha o visto fazer aquilo antes, quando faziam aula de Artes juntos, e num dia assistiu o professor pedir para Jimin o ajudar a reformar uma das estátuas que estavam sendo usadas como exemplo na aula.
Bastou Jimin encarar o objeto, e como num passe de mágica as rachaduras na superfície da estátua começaram a se fechar, logo ela parecia como nova novamente, e Namjoon ficou fascinado, só não foi conversar com Jimin nesse dia pois sabia que o filho da Medusa não iria querer o filho de Atena por perto.
— Tem certeza, hyung? Sei que o Jimin é aquele que tem nossa idade, mas acha que ele vai aceitar nos ajudar? — Jungkook perguntou ao loiro, após a mulher com quem falaram avisar que iria chamar o seu irmão.
— Vamos tentar a sorte. — Namjoon expressou, também não muito confiante.
— Querem falar comigo? — A porta abriu de supetão, quase fazendo Jungkook cair pro lado de dentro por estar encostado na mesma até então, mas conseguiu se recuperar rápido, para enfim levantar seu olhar até quem havia aberto a porta, vendo um rapaz jovem e bonito, com um pano enrolado em cima de sua cabeça, muito parecido com um turbante, que o olhava com curiosidade.
Jungkook ficou um pouquinho sem ação de primeira, nunca tinha prestado muita atenção nos filhos da Medusa, sequer se lembrava de já ter olhado diretamente para o rosto de Jimin antes, afinal tinham apenas duas aulas juntos no colégio, já que os semideuses estudavam em salas separadas dos demais seres na maioria das matérias.
E também, se lembrava que Jimin sempre andava pela escola de cabeça baixa, acompanhado unicamente do seu irmão mais novo, não falava com quase ninguém fora os professores ou quando realmente precisava dizer algo a alguém, como no caso de trabalhos em grupo ou dupla, talvez fosse introvertido ou tímido, Jungkook não tinha como saber.
— Olá Jimin, nós somos… — Jungkook começou a falar, tentando não gaguejar, mas Jimin o interrompeu antes que terminasse.
— Eu sei quem são, todo mundo sabe. — Jimin disse, cobrindo sua boca com a mão ao soltar uma risadinha. Jungkook de cara notou o quanto a voz do rapaz era suave e agradável, só tinha escutado a voz de Jimin pouquíssimas vezes na escola, e em todas ele falava bem baixinho, quase inaudível, mas agora sua voz estava a soando alta e clara, vindo de uma forma doce até os ouvidos de Jungkook, e ele gostou de ouvi-la.
— Oh bem, pulemos as apresentações então. — Jungkook brincou, levando a mão até sua nuca, a coçando, disfarçando seu embaraço. — Nós precisamos da sua ajuda.
— Minha ajuda? — Jimin questionou franzindo o cenho. — O que eu poderia fazer por vocês?
— Fizemos uma grande bagunça e… — Namjoon tentou explicar, mas Jungkook tomou a frente.
— Não use o plural, quem destruiu a quadra foi você. — Jungkook retrucou, dando uma ombrada leve no primo.
— Ok, eu acabei ligando uma máquina que atira discos e ela enlouqueceu, saiu atirando pra todo lado e fez vários estragos nas paredes e colunas do ginásio da escola, e agora meu primo e eu precisamos consertar tudo antes que amanheça, ou o segurança vai contar ao diretor o que aconteceu, e a gente corre o risco de ser expulso. — Namjoon explicou brevemente.
— Ninguém vai expulsar filhos de olimpianos, não sejam tolos. — Jimin certificou, rindo soprado.
— Mas a gente ainda sim pode ser punido severamente. — Namjoon assegurou.
— E o que eu tenho a ver com isso? — O filho da Medusa indagou cruzado os braços.
— Nada, mas sabemos que você tem poder para consertar superfícies de pedra. — O loiro informou em seguida.
— Por que eu te ajudaria, filho de Atena? — Questionou fitando apenas a Namjoon naquele momento, seu olhar era tão intenso que o loiro jurou que sairiam raios dos olhos de Jimin.
— Você pode pedir o que quiser em troca. — Namjoon certificou logo após, fazendo Jimin lhe olhar com desconfiança.
— Por favor, Jimin. — Jungkook pediu, fazendo sua melhor carinha de cachorrinho pidão.
Jimin encarou diretamente Jungkook, e isso fez o jovem sentir aquela coisinha em seu peito novamente, uma curiosidade imensa sobre Jimin, afinal já tinha ouvido muitas histórias sobre Medusa, umas diziam que era uma linda mulher e em outras contavam que era um monstro assustador, porém Jungkook começava a acreditar no conto que dizia sobre sua beleza, pois tinha achado o rosto de seu filho muito belo, talvez ele tivesse puxado a mãe.
— Posso pedir qualquer coisa mesmo? — Jimin indagou ainda desconfiado.
— Se não for nada ilegal, a gente faz. — Namjoon respondeu fazendo graça.
Jimin desviou os olhos para o chão, levou a mão até o turbante em sua cabeça, passando a mão lentamente sobre o pano, ficando pensativo por alguns instantes, enquanto não percebia que estava sendo assistido por Jungkook, que o analisava com um pequeno sorriso nos lábios, era até chocante para o filho de Ártemis perceber que nunca tinha reparado no quanto aquele rapaz era esbelto, mas naquele segundo sentia até mesmo vontade de o elogiar, porém segurou sua língua antes que falasse demais.
— Vocês tem acesso a magia, certo? — O górgona perguntou após aqueles segundos de silêncio.
— É, temos sim. — Namjoon afirmou, pois somente os semideuses e ninfas tinham livre contato com a instrumentos mágicos e poções.
— Ok, então eu vou pedir duas coisas em troca. — Disse, sorrindo de lado.
— Tudo bem. — Jungkook falou assentindo, já começando a se sentir aliviado ao estar mais perto de Jimin lhes ajudar.
— Eu quero uma poção de camuflagem. — Expressou, ganhando um olhar confuso dos dois primos.
— Você quer camuflar o quê? — Namjoon questionou sem entender muito bem.
— Meus… “Cabelos”... — Jimin respondeu aspas com os dedos, desviando o olhar, parecendo ficar sem graça ao tocar no assunto.
— E o que mais? — Namjoon indagou, mesmo que ainda se perguntasse porque o outro queria disfarçar as serpentes em seus cabelos.
— Quero ajuda… — O górgona disse, soltando um suspiro frustrado. — Para chamar uma pessoa para o baile da ambrósia.
— Quem você quer chamar? — Jungkook questionou, sabendo que aquele baile acontecia todos os anos no colégio para celebrar a ambrósia, o doce também conhecido como manjar dos deuses, que apenas os imortais poderiam provar seu sabor.
— É um primo de 2° grau de vocês… — Jimin murmurou desviando o olhar.
— Quase todo mundo aqui é meio que primo, então vai ter que ser mais específico. — Namjoon expressou em seguida.
— O Taehyung. — Jimin respondeu, voltando a encarar os dois rapazes.
— O filho de Eros? — Namjoon questionou arregalando os olhos. — Você quer convidar o filho do deus do amor para o baile? E acha que ele não foi chamado por mais umas mil pessoas antes de você?
— Namjoon… — Jungkook falou o nome do primo em tom de repreensão, o dando uma cotovelada.
— Eu sei que o Taehyung ainda não aceitou o convite de ninguém, eu quero tentar. — Jimin assegurou, tinha perguntado a alguém próximo ao rapaz para ter a certeza de que ele ainda estava sem um par.
— Mas por que o Taehyung? Eu sei que ele é um cara muito legal e tudo mais, porém não é a pessoa mais fácil de se conquistar, ele é literalmente filho do cupido, é alguém muito exigente. — Jungkook argumentou.
— Eu sei, mas ele é uma das poucas pessoas que sempre me cumprimenta quando nos vemos na escola, e se senta do meu lado quando tem trabalho em dupla, ele sempre pergunta como eu estou e... — Jimin explicou, pausando para desviar seu olhar até outro ponto que não fosse os semideuses mais uma vez. — Também nunca olhou para mim com medo…
— Nós também não te olhamos com medo. — Jungkook retrucou confuso.
— Ele olha… — Jimin apontou para Namjoon após afirmar, se voltando para Jungkook em seguida. — E você talvez faça pior, você nem olha na minha direção, mesmo que eu sente na mesa ao lado da sua em duas aulas, não sei se porque tem receio ou simplesmente porque nunca me enxergou ali. — Deu de ombros. — E também é a primeira vez que estão falando comigo, mas apenas porque precisam de algo.
— Me desculpe… — Jungkook murmurou constrangido.
— Sinto muito, eu não queria ter… — Namjoon tentou dizer ao mesmo tempo em que Jungkook, mas Jimin cortou a ambos.
— Tá tudo bem. — Jimin disse em alto tom, interrompendo os primos que agora lhe olhavam com uma expressão de culpa. — Isso não importa agora de qualquer forma.
— Já vi nosso primo Hoseok falando com você também. — Namjoon acrescentou aquela informação.
— O filho de Apolo? — Jimin perguntou e Nam assentiu. — Ele só conversou comigo algumas vezes porque o professor nos colocou no mesmo grupo, nada mais do que isso.
Hoseok, sendo o filho do deus do sol, realmente poderia ser definido como alguém radiante e quente, era um rapaz divertido e simpático que conquistava a todos facilmente, e Jungkook se lembrava de terem sido mais próximos quando eram mais novos, Hoseok gostava de relembrar que o seu pai Apolo era irmão gêmeo de Ártemis, a mãe de Jungkook, então segundo o rapaz, ele e Jungkook tinham nascido para serem melhores amigos inseparáveis.
Jungkook não entendia bem como Hoseok tinha chegado nesse raciocínio, mas nunca lhe contrariou, entretanto os dois eram muito diferentes e a amizade acabou não acontecendo como desejavam, Hoseok amava a popularidade que tinha e se divertia com ela, já Jungkook tentava fugir disso o máximo que podia, então os dois acabaram se afastando com o tempo.
— Digam logo, vão me ajudar ou não? — Jimin questionou impaciente.
— Jimin, a verdade é que a gente não quer enfrentar os nossos primos. — Jungkook confessou. — Yoongi e Seokjin são fiéis e ferozes protetores do Taehyung.
Taehyung sempre foi muito sonhador, romântico e alegre, porém também era um tanto ingênuo, às vezes acreditava demais na bondade de todos e não percebia quando estava sendo claramente ludibriado, e foi por isso seu pai, o deus Eros, pediu para dois de seus irmãos mais novos, Yoongi e Seokjin, que cuidassem de Taehyung, o protegesse e não permitissem que nada ruim acontecesse, principalmente que ele não fosse enganado ou traído por um amor falso.
Yoongi era irmão de Eros por parte de pai, pois era filho de Ares, o deus da guerra. Já sua mãe era uma amazona, ou seja, Yoongi cresceu sendo ensinado como guerrear, era excelente em hipismo e também em diversos tipos de lutas, desde pequeno aprendendo a empunhar espadas e segurar escudos, e mesmo que às vezes tivesse uma personalidade um tanto explosiva, ainda sim era conhecido por ser um professor divertido, mesmo que bastante exigente, já que dava aula para alguns cavaleiros nas horas vagas.
Já Seokjin era irmão de Eros por parte de mãe, já que era filho de Afrodite, e seu pai foi um dos muito amantes da deusa do amor e da beleza, porém se enganava quem pensava que Seokjin era apenas um rapaz bonito e vaidoso, o jovem charmoso era sim essas duas coisas, porém também se tratava de alguém muito inteligente e audaz, tentar passar a perna nele era um desafio em que apenas os desavisados entraram, pois Seokjin conhecia todas as regras do jogo, e com certeza o viraria contra o adversário.
E esses dois eram os tios de Taehyung, seus protetores assíduos, Namjoon e Jungkook sabiam que não seria fácil convencer Yoongi e Seokjin que Jimin era um bom partido ou sei lá o que, seria uma tarefa complicada.
— Yoongi vai é soltar um cérbero atrás da gente. — Namjoon brincou, porém no fundo acreditava que o Yoongi realmente era capaz de ter um cachorro trevoso de três cabeças como seu fiel cão de guarda.
— Não existe nenhum desses por aqui. — Jungkook afirmou rindo.
— É o Yoongi, eu não duvido nada. — Disse Namjoon, e Jungkook concordou.
— Bem, esse é o meu trato. — Jimin interrompeu a conversa dos dois. — Me deem a poção e me ajudem a chamá-lo para o baile.
— Meu coração está batendo tão rápido que acho que a qualquer momento Átropos corta a minha linha — Disse, citando a Moira responsável por cortar a linha da vida de alguém quando chegava o seu fim, era uma das três irmãs que tecem as linhas do destino e da vida de cada um.
— Calma, homem!— O moreno falou, dando uns tapinhas nas costas de Namjoon. — Nós aceitamos o seu trato, Jimin.
— Ótimo. — Proferiu sorrindo levemente. — Mas só vou fazer o que querem se me derem a poção primeiro.
— Como vamos saber que não vai desistir de nos ajudar depois que dermos a poção? — Namjoon questionou, afinal ainda não tinha nenhuma prova de que poderia confiar em Jimin.
— Eu juro que vou cumprir com minha palavra. — Garantiu, revirando os olhos para a desconfiança do loiro.
— Eu acredito nele. — Jungkook expressou, ganhando dois rostos surpresos lhe encarando em seguida, porém uma dessas faces sorriu para si, e este foi Jimin.
— Então vamos. — Namjoon emitiu, se virando de costas e caminhando de volta ao portãozinho de entrada.
Retornaram ao carro, agora juntamente de Jimin, e seguiram para a escola, durante o percurso Jungkook se sentia ansioso, olhava para o filho da Medusa sentado no banco de trás pelo retrovisor, com uma vontade imensa de puxar papo com ele, mas não sabia o que dizer, já Jimin nem parecia estar notado os olhares do moreno, ficou mais entretido olhando as ruas passarem pela janela do carro.
Não demoraram muito para retornar ao colégio, entraram pela mesma porta que Namjoon tinha aberto mais cedo e correram diretamente para a sala de poções, lá os dois primos procuraram o feitiço de camuflagem que Jimin queria, felizmente foi um processo rápido e em menos de cinco minutos, já estavam entregando um frasco com a poção que encontraram em uma das dezenas de prateleiras nas mãos do rapaz.
Assim que saíram da sala, foram diretamente para o ginásio resolver aquela grande bagunça, Jimin chegou a abrir a boca em surpresa quando presenciou o estado em que o local tinha ficado, estava literalmente de queixo caído com aquela destruição toda.
— Eu nunca fiz algo dessa magnitude, não sei se vou poder os ajudar. — Jimin proferiu, olhando um tanto assustado para a bagunça que tinha sido feita naquele lugar.
— A gente confia em você, Jimin. — Jungkook expressou todo otimista.
— Ok… — Jimin murmurou, parecendo ficar desconfortável com algo, levando a mão até o pano sobre sua cabeça, passando os dedos pela lateral do mesmo. — Eu vou ter que tirar isso…
— Tudo bem, não tem problema. — Namjoon falou, não percebendo o clima da mesma forma que Jungkook tinha percebido.
— Ah… Bem… — Jimin gaguejou, olhando em volta, como se buscasse uma saída. — Ok…
— Você quer que a gente te dê privacidade? — Jungkook perguntou preocupado.
— Não, tudo bem. — Jimin respondeu, sorrindo fraco, começando a desenrolar o pano lentamente.
Jungkook sempre achou que quando visse uma górgona assim, mostrando as serpentes de seus cabelos frente a frente consigo, sentiria medo ou repulsa, mas na verdade se viu muito curioso e encantado, percebeu de cara que não era nenhum bicho de sete cabeças, até porque se fosse uma Hidra, ai sim ele com certeza estaria com grandes problemas.
As serpentes nos cabelos de Jimin era pequenas, tinham um corpo fino e escamas azuladas, que reluziam na luz enquanto as mesmas se mexiam, não possuíam bocas, mas tinham olhos brilhosos, não faziam barulho ou coisa alguma, apenas estavam ali fazendo cócegas no rosto de Jimin de vez em quando, o causando risos baixos enquanto as afastava e pedia para pararem de fazer coceguinhas em si. Jungkook começou a achá-lo ainda mais bonito depois de o ver sem aquele pano cobrindo sua cabeça.
Jungkook ficou sem jeito para perguntar, mas se tivesse, teria descoberto naquele momento que cada um dos irmãos tinham serpentes diferentes, o irmão mais velho de Jimin por exemplo possuíam víboras coloridas, não eram todas da mesma cor como as de Jimin, já seu irmão mais novo tinha serpentes nas mesmas cores de cobras-corais, e por aí vai, o Jeon com certeza iria gostar de ver todos, era um curioso nato.
— Pode desviar o olhar se isso está te incomodando tanto. — Jimin expressou na defensiva, fazendo Jungkook levar um susto ao perceber que o mesmo falava consigo.
— Como é que é? — O filho de Ártemis indagou arqueando as sobrancelhas.
— O jeito que você está me olhando… — Explicou, voltando a desviar suas íris da direção de Jungkook.
— Ah, desculpa. — O moreno proferiu, rindo timidamente. — É que eu te achei muito bonito.
— Está zoando comigo? — Jimin exprimiu incrédulo.
— Oi? Não, por que eu faria isso? — Jungkook retrucou, não entendo nada.
— Não sei, você parece sempre fingir que eu não existo e agora me chama de bonito do nada… — Jimin esclareceu, correndo seus dedos pelo pano que agora segurava nas mãos. — Não é o que costumam dizer para mim e meus irmãos quando nos veem descobertos.
— Sinto muito que não apreciem o qual belo você é. — Jungkook proferiu, e Jimin o olhou surpreso. — E agora estou me achando um idiota por nunca ter ao menos sido educado e te cumprimentar na escola, não posso voltar no tempo e desfazer isso, mas podemos mudar as coisas daqui pra frente, não é?
— Por que acha que vou querer ser seu amigo agora? — Indagou com uma expressão séria.
— Oh… — Jungkook murmurou desconcertado. — É que eu gostaria de ser seu amigo, mas se você não quer, tudo bem, eu entendo e…
— Eu quero sim, só queria ver a sua reação. — O górgona disse, cobrindo seus lábios para gargalhar, assim como tinha feito mais cedo, e o moreno apenas sorriu, achando fofa essa ação de levar a mão até a boca toda vez que ria.
— Gente, vocês dois vão ficar papeando até quando? — Namjoon manifestou-se, já que até agora apenas assistia aquilo que nomeou como um flerte mais ou menos bem sucedido da parte de Jungkook.
— Já vou começar, calma estressadinho. — Disse Jimin, revirando os olhos.
Jimin se posicionou no centro do ginásio, respirou fundo algumas vezes antes de fechar suas pálpebras, lentamente as serpentes em sua cabeça se levantaram, como se estivesse se preparando para dar um bote, e assim olhos de Jimin se abriram novamente, fazendo os presentes verem que suas íris tinham mudado, o castanho de antes agora havia tomado uma cor amarela esverdeada, suas pupilas antes redondas se tornaram fendas verticais, se assemelhando muito com os olhos de uma cobra.
Jungkook naquele momento até parecia uma máquina geradora perguntas, tinha tantas dúvidas se passando pela sua cabeça, Jimin era um ser fascinante, e o moreno queria saber mais pois percebia que não tinha conhecimento de quase nada sobre górgonas, mas não falou nada por enquanto, esperando que Jimin terminasse o que havia começado.
E assim foi, o górgona focava suas vistas nas paredes e pilastras rachadas, fazendo assim com que lentamente as fendas fossem se fechando, fibras de concreto surgiam e preenchiam as fissuras, fazendo com que tudo começasse a parecer como antes em uma questão de segundos. Jungkook assistiu tudo maravilhado, Jimin era alguém tão legal, queria mesmo ser amigo dele.
— Isso foi fantástico! — Namjoon exclamou assim que Jimin terminou o serviço, tão fascinado por tudo aquilo quanto Jungkook estava.
— Foi mesmo, nossa. — Jungkook concordou, vendo Jimin virar-se para os primos, fazendo com que vissem que seus olhos haviam voltado ao castanho escuro de antes.
— Agora estou com dor de cabeça. — Jimin respondeu soltando um riso leve, cambaleando levemente, levando a mão até a testa.
Jungkook foi rápido em ir na direção do outro, o aparando antes que caísse, Jimin chegou até a levar um susto quando sentiu um par de braços lhe segurando, mas sorriu em agradecimento ao entender o que o filho de Ártemis estava fazendo, e ambos foram se abaixando devagar, até que pudessem sentar no chão e esperar que a tontura de Jimin passasse.
— Achei que não fosse conseguir, meus olhos começaram a doer muito. — Jimin murmurou cansado, enquanto Jungkook desfazia o abraço que deu no outro, mas continuou sentado ao seu lado.
— Mas você conseguiu, e foi incrível. — O moreno afirmou e Jimin sorriu, nunca tinha recebido uma reação tão empolgada aos seus poderes assim antes. — Por que precisou tirar o pano? O Nam me disse que já tinha visto você consertar uma estátua antes, e continuava com o pano na cabeça.
— Coisas pequenas eu consigo fazer ainda com o pano cobrindo as serpentes, porque elas enxergam através dos meus olhos, mas só ficam mais poderosas quando estão livres, então precisei tirar aqui, já que era uma área bem grande para arrumar. — Jimin explicou rapidamente.
Era tão novo para si ter alguém realmente interessado em seus poderes e particularidades, via nos olhos de Jungkook que ele estava verdadeiramente curioso, não era uma pergunta motivada por medo ou cautela, o moreno apenas queria entender como funcionava, sem nenhum pré-julgamento, e Jimin estava feliz por conta disso.
— Isso é muito legal. — Jungkook afirmou sorrindo e Jimin também abriu um sorriso, pensando no quanto aquele garoto era adorável.
Todo mundo conhecia o filho de Ártemis, então não era um segredo que ele fosse popular e que inclusive Jimin já tivesse o observado algumas vezes, porém ao contrário dos primos, Jungkook não parecia curtir tanto assim essa atenção que recebia, e algumas vezes Jimin pensou em se aproximar, porém o moreno parecia nem ao menos enxergar a sua presença ali, mesmo quando sentava na mesa vizinha a sua.
Jungkook andava apenas com Namjoon pelo colégio e pela vila, eram uma dupla inseparável, e Jimin per vezes se perguntou se o moreno apenas curtia ser mais reservado ou se era mais um arrogante que se achava melhor que todo mundo e por isso não se misturava, mas agora, tendo um pouco de contato com o moreno, Jimin percebia que ele não era nenhuma reencarnação de Narciso, Jungkook na verdade estava lhe cativando bastante.
— Ei Jimin, a gente pode ir falar com o Taehyung amanhã depois da aula, o que acha? — Namjoon questionou, cortando a atenção de Jungkook e Jimin, que até então estavam presos nos olhos um do outro, mas se afastaram assim que o loiro se pronunciou, disfarçando o breve constrangimento que se apoderou de ambos.
— Tudo bem. — Jimin assentiu em seguida. — E vocês já tem um par para o baile?
— Eu chamei a Chanmi. — Namjoon foi o primeiro a responder. — Ela disse que vai responder até amanhã.
— Hm, chamou uma sereia… Tem medo de mim, mas não tem medo de ser enfeitiçado por ela, olha só. — Jimin comentou sarcasticamente.
— Ela não vai me enfeitiçar. — Namjoon retrucou, rindo nervoso.
— Talvez você já esteja enfeitiçado. — O górgona expressou, elevando as sobrancelhas.
— Não me deixa paranoico, Jimin. — Nam reclamou, fazendo Jimin rir novamente.
— Só estou comentando. — Disse dando de ombros e se virando na direção do moreno sentando ao seu lado. — E você, Jungkook?
— O que tem eu? — Jungkook indagou, completamente desligado do assunto que estava rolando.
— Vai com alguém para o baile? — Perguntou mais uma vez.
— Ainda não chamei ninguém e ninguém me chamou, então acho que não. — Respondeu sem se importar muito.
— Não está interessado em ninguém? — Namjoon questionou em seguida.
— Bom… — Jungkook murmurou, olhando diretamente para Jimin e desviando o olhar em seguida. — Talvez sim.
— Então por que não chama essa pessoa? — O primo indagou mais uma vez.
— Ele já gosta de outra pessoa. — Informou, dando de ombros.
— Ah, sinto muito. — O loiro disse, sem saber muito bem como consolar o primo.
— Ora vamos, ainda falta uma semana para o baile, tenho certeza que vai encontrar alguém legal para ir com você. — Jimin proferiu de forma otimista, tocando o ombro de Jungkook delicadamente, o fazendo sorrir.
— É, talvez sim. — Respondeu, voltando a levantar a cabeça e olhar para Jimin.
— Agora chega de papo, precisamos avisar o caseiro que arrumamos tudo e vamos embora. — Namjoon expressou, e os outros dois se apressaram para se levantar.
— Amanhã vamos até o Taehyung, ok? — Jungkook afirmou para Jimin.
— Ok. — Disse ansioso para o dia de amanhã.
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