handporn.net
História Enchanted - Conversa justa - História escrita por Arlequinaforeve - Spirit Fanfics e Histórias
  1. Spirit Fanfics >
  2. Enchanted >
  3. Conversa justa

História Enchanted - Conversa justa


Escrita por: Arlequinaforeve

Notas do Autor


Hellou morangos, como passaram os feriados e finais de semana? Espero que bem ☺️ entregue mais um capítulo fresquinho pra vocês.

Capítulo 10 - Conversa justa


Fanfic / Fanfiction Enchanted - Conversa justa

Aires sabia que teria que tocar naquele assunto mais cedo ou mais tarde, embora ele preferisse que fosse bem mais tarde. Mas quando durante um jantar, Edmundo perguntou como estava sua família, o príncipe murchou consideravelmente. Dando de ombros ele achou que talvez fosse melhor contar de uma vez.


— Fui deserdado. 


As diversas versões de choque e indignação surgiram pela sala. 


— Mas por que? Você se saiu muito bem nas negociações, seu tio não mandou nenhuma reclamação ou objeção após a sua partida. O que o levou a fazer isso?


Aires ergueu os olhos de seu jantar para encarar o rei justo nos olhos. 


— Porque ele não queria que eu mantivesse qualquer relação com seu irmão que não fosse puramente profissional. — Aires pretendia dizer exatamente tudo o que conversou com o tio. Mas resolveu deixar para lá, não pelo rei, mas por Pedro. Ele não merecia ouvir aqueles absurdos, já não bastava a vida horrível que levou do mundo de onde veio. — Ele não achou apropriado, pediu para que eu deixasse de lado minhas intenções sentimentais. Até mesmo me proibindo de ter contato com sua majestade, além de negócios, e que se eu insistisse até mesmo isso seria proibido. 

— Por Aslan. — Exclamou Lúcia em um misto de tristeza e raiva. 

— Quando disse que voltaria para cá, meu tio quis me proibir. Discutimos e palavras que não poderão ser retiradas foram trocadas entre ele e eu, e entre ele e minha mãe. Ele disse que eu até poderia voltar aqui, mas sobre juramento de ser deserdado e como podem ver, aqui estou. Então sabemos o que isso significa.


Susana pousou a taça na mesa com algo longe da delicadeza, uma mancha se formou ao redor de onde foi colocada e a bebida derramada. 


— Ele te deserdou, porque você não o deixou controlar sua vida?

— Resumidamente, sim.


Pedro riu, chamando atenção de todos na mesa.


— Quem ele pensa que é? Se há alguém que tem que achar apropriado ou não a suas intenções, sou eu. 


Susana e Edmundo desviaram o olhar, Lúcia sorriu orgulhosa do irmão. Caspian continuou jantando, ocasionalmente erguendo os olhos para dizer que estava participando de algum modo da conversa.


— Meu tio tem pensamentos um tanto quanto...atrasados. 

— Rei é um idiota. — Diz Edmundo apertando a faca entre os dedos. 

— Não posso discordar. 


Algo pareceu perturbar a mente de Pedro, pois o rei arregalou os olhos e se virou para o príncipe. 


— Ele não proibiu você de ver sua família, não é?

— Não me disse nada sobre isso, então creio que ainda posso voltar. Não acho que tenha sido exilado, mas estou esperando o retorno da carta que mandei para minha mãe assim que cheguei, saber como estão as coisas por lá. 


Lúcia franziu a testa, depois sorriu como se tivesse tido a melhor das ideias. 


— Você pode ficar aqui se desejar, não acho que lhe seja confortável voltar a viver sobre o mesmo teto que seu tio após toda a discussão que tiveram.  


Aires arregalou os olhos, todos se viraram para a pequena rainha, Edmundo e Susana com espanto, Caspian como se já imaginasse algo assim vindo da menina. Pedro de longe o mais feliz, como ele amava sua irmãzinha e suas ideias. 


— Lúcia, Aires ainda tem sua mãe e irmãs lá. Ele não pode deixá-las. 


A garota revirou os olhos.


— Não sou estúpida Edmundo, sei disso. Mas ele é livre para ir e vir quando quiser, já que não foi exilado. E sua família poderá vir visitá-lo quando e por quanto tempo desejar. 


O príncipe se mexeu desconfortável na cadeira. Aquilo parecia que viraria uma discussão a qualquer momento e ele não queria ser o pivô. 


— Se suas majestades permitirem...há uma casa pertencente a minha família em Zypherion, meu pai mandou construir depois de se casar com minha mãe para que eles pudessem ter momentos longe da imponência do palácio. Eu poderia muito bem me estabelecer fixamente por lá ao invés de apenas ocasiões. Não há necessidade de se preocuparem comigo. 


Agora se Aires já tinha reparado nas semelhanças individuais das duas duplas, agora ficou ainda mais nítido. Edmundo e Susana tinham expressões idênticas de contemplamento, Lúcia e Pedro faziam um pequeno beicinho de decepção. 


— Bem, quando você se casar com Pedro você terá que morar aqui de qualquer maneira. Estamos apenas antecipando sua mudança. 


Aires e Edmundo se engasgaram com a comida e o suco respectivamente, Susana deixou a garfo cair. Caspian e Pedro correram para ajudar os  parceiros. A pequena rainha valente apenas olhou para todos confusos com as reações extremas. Era óbvio apenas para ela, que isso aconteceria em breve? 


— Q-que ideia é essa, Lúcia? — Pergunta Edmundo, recuperando o fôlego. 

— Ora Ed, é o resultado que vejo pelo rumo que as coisas estão tomando. 


Caspian acariciou o ombro do parceiro com um sorriso singelo.


— Me surpreende você não ter exigido isso após os acontecimentos de dois dias atrás. Ou o intimado para um duelo. 


Edmundo revirou os olhos em despeito, não que ele não tivesse pensado na hipótese. 


— Acho muito cedo. 


Susana fez um pequeno som em desdém. 


— Acho muito apropriado, já que estão tomando banho juntos. Daqui a pouco estarão dormindo também, e fazendo coisas além de dormir. 


Lúcia apontou o garfo em direção a irmã mais velha, já estava irritada com essa situação. Ela entendia o apegado de Edmundo a Pedro depois de tudo o que aconteceu na primeira vez deles em Narnia. E entendia o de Susana por ver Pedro constantemente deprimido e doente na Inglaterra, se sentindo um ninguém, alguém sem valor e importância. Mas o irmão deles estava bem agora, saudável e sem aqueles pensamentos tenebrosos e preocupantes. A própria Lúcia tinha estado muito preocupada pelo amor de Aslan, mas nem por isso sufocava ele com uma superproteção descabida. Se Aires fosse um canalha, ela mesma cortaria a garganta dele, mas obviamente não era o caso. 


— E com qual dos seus amantes você se casou, Su? Me lembro bem de você fazer exatamente todas essas coisas, mas se casou com nosso estimado Duque Fernando, cujo nunca tiveram nenhuma relação similar. 


A rainha gentil abriu e fechou a boca várias vezes tentando formular uma frase em resposta, mas por fim optou pelo silêncio mal humorado. 


— Lú, você não precisava. 


A mais nova abanou a mão. 


— Pedro, Su e Ed tem que ter consciência de que você não é uma taça de cristal frágil que vai quebrar se eles não estiverem olhando, tanto quanto você tem que ter consciência de que nada vai acontecer conosco se você descansar e viver um pouco. 


Os três irmãos ficaram em completo silêncio, a irmã caçula deles era tão boa em fazer com que todo um ambiente se enchesse de barulho, quanto fazê-lo ficar silencioso como um salão de bailes vazio. Ela poderia dizer as coisas mais doces em um momento e as verdades mais duras em outro. 


— Sua majestade às vezes me assusta, sabia!?


A pequena rainha valente riu do príncipe. 


— Uma hora você se acostuma, nem mesmo Caspian está cem porcento habituado. Bom, podemos continuar a jantar? 


Pedro apertou o ombro de Aires e beijou sua bochecha, antes de se afastar ele sussurrou: 


— Eu estou apaixonado por você. E se você ficar, eu prometo, não há lugar mais seguro no mundo do que aqui comigo.


O príncipe sorriu com a declaração, estava muito tentado a aceitar o convite. Após o jantar, Edmundo foi o primeiro a se levantar, alegando precisar ter uma conversa com o convidado deles. 


— Edmundo... — diz Pedro apertando os braços da cadeira com apreensão. 

— Não se preocupe, Pedro. Eu não vou matar seu pretendente.


O rei justo piscou para o irmão, que revirou os olhos. Ele não estava menos ansioso com essa conversa, Edmundo não precisava de uma arma para ser cruel e perigoso. Susana se levantou, ajeitando a saia do vestido e Pedro estava um pouco mais em pânico. Lúcia pousou o guardanapo na mesa. 


— Su!? Aonde vai? 

— Irei também, Lúcia. 


Antes que a caçula pudesse protestar, Edmundo ergueu e balançou o dedo na direção da irmã mais velha. 


— Se quiser, fale com ele depois. Essa conversa somos só nós dois. 


A rainha tinha em seu rosto uma expressão de indignação. 


— É assim?

— É, é assim, Susana. 


Pedro olhou de uma para o outro, depois para Aires. 


— Você não precisa ir, sabe disso, não é?


O príncipe sorriu tranquilizador. 


— Eu sei, mas eu vou. Quero saber do que se trata. 

— Mais uma vez, não há motivo para preocupações. Eu e o príncipe Aires vamos apenas conversar, podem ficar tranquilos Pedro e Lúcia. 


Edmundo abriu o braço, indicando que o mais velho deveria passar primeiro, depois o seguiu para fora da sala de jantar. 


— Não acho que seja necessário tanta preocupação. Não é como se o Edmundo fosse jogar ele da sacada. — Caspian brinca, tomando um gole de seu vinho. 


Susana estalou a língua no céu na boca, Pedro soltou um suspiro alto e melancolia, Edmundo era homem o suficiente pra jogar alguém da sacada. Lúcia bebeu um gole de seu suco. 


— Nunca se sabe, uma vez quando... — Caspian ergueu os olhos do seu jantar alarmado, e a garota parou de falar. — Uhm, acho que é uma história pra outro momento. 


Será possível que eles tinham uma história pra qualquer momento!? 


* * * 


Aires e Edmundo caminham pelos belos jardins de Cair Paravel, o rei justo tinha os braços cruzados atrás das costas olhando para o belo céu de sua terra, o príncipe que lhe acompanhava pensava em talvez perguntar do que se tratava a conversa, mas optou por manter o silêncio.


— Sabe Aires, eu sei que Lúcia tem razão quando diz que eu e Susana podemos ser exagerados em nossos ciúmes e superproteção. 


— Não estou lhe julgando, majestade.


— Sei disso, mas sinto que talvez deva explicar. Antes da nossa primeira em Narnia, estávamos enfrentando tempos difíceis da terra de onde viemos, a guerra estava fazendo o povo sofrer como se é esperado de uma, famílias sendo separadas e uma delas era a nossa. Nossa pai foi convocado e desde então as coisas começaram a ruir, nossa mãe tinha que trabalhar dobrado como podia naquela situação toda para nos sustentar, o que deixava-nos aos cuidados de Pedro e Susana, especialmente Pedro. As coisas ficaram tensas e todos muito mal humorados, bem menos a Lu. Ela sempre foi a mesma, a luz de esperança em nossas vidas, embora eu não pudesse ver na época. Eu estava constantemente irritado pela falta de nosso pai, era mais próximo dele do que da mamãe. Minha irritação e saudades fez com que eu descontasse em meus irmãos, Pedro e eu constantemente entramos em brigas desnecessárias, eu não aceitava a autoridade que nossa mãe tinha colocado sobre os ombros dele e não via o quão pesada era. Tinha ciúmes, inveja, sabe!? Mas não era só isso, ver Pedro tentando ser um chefe de família e mandar em nós como se fosse o papai...isso significa que ele não estava ali e com a guerra sem previsões de ter fim, poderia significar que talvez nosso pai nunca mais voltasse. 


Aires estendeu uma mão para tocar no ombro do mais novo, mas a retraiu. Ele sabia como era perder um pai e ver outra figura tentando assumir esse papel. 


— Eu sinto muitíssimo, entendo perfeitamente como deve ter se sentindo, acredite em mim.


— Eu acredito, príncipe Aires. 


— Continue, por favor.


O rei justo assentiu e continuou a história, enquanto caminhavam pelos jardins.


— Como eu disse, estávamos todos com os nervos à flor da pele. Pedro e Su tinham mais responsabilidade que crianças de suas idades deveriam ter, claro que ficariam estressados. Meu irmão constantemente perdia a paciência comigo, eu não facilitava em nada e fazia de tudo para contrair sua autoridade. Quando as coisas ficaram realmente muito sérias na Inglaterra, mamãe decidiu nos mandar para uma antiga mansão no interior da Inglaterra aos cuidados do professor Digory Kirke. De início parecia apenas um homem misterioso e por vezes meio caduco, mas nem imaginava-mos que segredos descobririamos em sua casa. Com instruções explícitas de não incomodarmos o professor dadas por sua criada Dona Marta, rapidamente ficamos entediados. Na primeira semana Pedro ficou doente, um resfriado terrível que eu na época jamais admitiria que temi perder meu irmão. Mas recuperado, por insistência de Lúcia que achou que talvez o faria se sentir mais animado, começamos a explorar a casa. Lúcia encontra um guarda roupa em um quarto vazio enquanto brincávamos de esconde esconde, sendo a primeira de nós a entrar em Nárnia.


Aires tinha os olhos arregalados em pura animação infantil, ao ouvir a história. 


— E o que aconteceu?


— Ela conheceu um fauno chamado Sr Tumnus, que lhe contou tudo sobre o que no futuro seria nossa terra. Quando ela voltou contando sobre esse mundo mágico, nenhum de nós realmente acreditou nela.


— Por que não? — pergunta o príncipe confuso.


— Veja bem, de onde viemos coisas assim como Nárnia, são chamados de contos de fadas, histórias para crianças dormirem. 


— Oh.


— Mas ela afirmava com certeza absoluta o que tinha visto, então quando ela tentou voltar eu a segui. Aires, minha irmã não poderia estar mais certa. Mas eu me perdi dela no cominho e esse foi o começo da minha grande desgraça.


O príncipe sabia bem do que ele estava falando. A feiticeira branca.


— Jadis.


Edmundo estremeceu ao ouvir o nome, mas assentiu com a cabeça.


— Aquela maldita, enquanto eu explorava a floresta e procurava por minha irmã, avistei um trenó que carregava uma mulher de beleza exuberante. A mulher se apresentou a mim como Jadis, a rainha de Nárnia. Me convidou a sentar com ela para conversar, ofereceu-me comida e bebida. Meu primeiro erro, ter aceitado qualquer coisa que ela tenha me oferecido. Jadis disse a mim que sempre quis ter um filho, para ser seu herdeiro. Foi me persuadindo com seu jeito gentil, quando dei por mim, contei tudo a ela sobre.... — O rei adolescente engoliu em seco, a voz embargando, dessa vez Aires realmente colocou a mão em seu ombro, tentando passar conforto.


— Não precisa me dizer nada meu rei. 


— Não. Eu quero, quero lhe contar. 


O príncipe sorriu com tristeza, deveria ser tão doloroso para aquele garoto, lembrar dessas coisas. 


— Me sinto honrado. 


Edmundo respirou fundo, olhando para o céu como se ele pudesse lhe dar forças. Depois de alguns minutos em silêncio, ele continuou. 


- Contei a ela sobre minha família, que Lúcia já tinha visitado o seu país e que havia encontrado Sr.Tumnus. Contei sobre minhas frustrações por Pedro estar assumindo o papel de nosso pai. Foi então que ela me ofereceu o que pareceu fantástico na época, me tornar um príncipe. Eu, um pobre garoto de Londres, um príncipe!? E tudo que eu precisava fazer era trazer meus irmãos até ela, sobre a promessa de fazê-los duques e duquesas e cuidar de nós. O idiota aqui obviamente concordou, eu teria tudo de bom que poderia querer e ainda seria superior aos meus irmãos. 


A risada amargurada do jovem monarca enviou um arrepio a coluna de Aires. 


— Sua majestade, se as histórias sobre essa mulher forem remotamente verdadeiras, ela o enfeitiçou e o usou.


Edmundo o olhou com olhos vidrados, antigos que viram reis acenderem e caírem. Reinos e povos caírem em desgraça e ruína. 


— Você está com a razão, mas ainda me culpo muito por isso.


— Imagino que deva, mas tenho certeza que seus irmãos não o culpam. 


— Não, com certeza não. Mas eu sim, todos os dias de minha vida. Eu fui o maior dos covardes, traí meus irmãos. De onde eu venho, me chamariam de Judas. 


— Judas!?


— É uma história para outra hora, alteza. — Aires concordou com a cabeça e Edmundo prosseguiu seus relatos. — Concordei e segui meu caminho, prometendo manter nossa conversa em segredo. Pouco tempo depois, encontrei Lúcia na floresta e  voltamos para a casa do professor. Minha irmã mencionou em suas histórias sobre sobre uma Feiticeira que se dizia rainha de Nárnia, mas eu já estava sob o feitiço dela e continuava a planejar encontrar-me com Jadis novamente. Por fim, minha irmãzinha disse que eu poderia confirmar a existência dessa terra fantástica. E diante dos olhos questionadores de meus irmãos mais velhos e os esperançosos de minha irmã, me envergonhei de meus pensamentos, me recusei a admitir que tinha de fato visto Nárnia. Lúcia saiu correndo chorando e eu disse que apenas tinha sido uma brincadeira deles dois, Pedro e Susana ficaram bravos comigo, dizendo que primeiro eu zombava dela, depois a incentivava para logo depois zombar novamente. Eles estavam preocupados que talvez ela estivesse ficando louca.


— Muito distante da verdade.


— E como estavam. Alguns dias se passaram e estávamos entediados, em um dia, numa tentativa de nos escondermos da senhora Marta, acabamos todos os quatro dentro do guarda roupa, assim retornando a Nárnia. Lúcia provou estar certa e eu um grande mentiroso. Pedro fugiu tão zangado comigo, sabe!? Foi te fazer uma confissão, por mais que as coisas estivessem tensas entre nós, eu sentia tanta falta do meu irmão mais velho doce e carinho, mas esse Pedro estava cada dia mais distante de mim e eu só o fazia se afastar ainda mais. 


— Eu fico feliz que estejam se dando melhor agora.


Edmundo sorriu.


— Eu também, sabe foi nessa melhora de relação, ciúmes e apego que ajudou a surgir os boatos de incesto. Claro e a minha fase de atração por loiros olhos azuis.


Aires jogou o cabelo por cima do ombro e riu, da expressão de desgosto do jovem rei. 


— E o casamento de Pedro e Susana. 

— Por Aslan, não me lembre dessa história. Ainda hoje não sabemos como isso surgiu, talvez por eles serem muito paternais comigo e Lúcia!? Ela e Pedro sempre agiram como uma dupla, cúmplices e iguais, não como irmão mais velho e irmãzinha. 

— Entendo, eu e minha irmã Marelyn às vezes agimos assim também. Ela é a que mais me compreende e tem compatibilidade com a minha personalidade. 

— Suponho que você entenda melhor do que eu então. O fato é, por anos, essa história perpétuou. 

— Imagino o tamanho do desconforto. 


O rei fez um barulho de escárnio.


— Continuando. Já em Narnia, decidimos visitar o Sr. Tumnus, mas ao chegarmos a sua casa,  encontramos ela vazia, com um mandado de detenção para ele pendurado sobre a porta. Antes que pudéssemos decidir o que fazer e para onde ir fomos atraídos por um pássaro, que nos levou para o interior da floresta onde um castor nos esperava. O Castor explicou que Nárnia era realmente oprimida pela rainha, chamando-a de Feiticeira Branca. Ele levou a mim e meus irmãos para sua casa, contando a nós que o verdadeiro rei daquele país era um leão chamado Aslan, e ele voltaria afim de recuperar seu reino. 

— Aslan... — sussurra o príncipe, o nome soava em sua língua como uma esperança, uma oração antiga. 

— Sim. Ele também nos contou que de acordo com Aslan, nós quatro fomos profetizados para derrotar a Feiticeira e assumir seu lugar como os reis e rainhas de Nárnia. No meio da refeição eu escapei para encontrar-me com Jadis. Disse a ela que havia levado meus irmãos até onde podia. Foi ai que descobri que ela não era tão amável como tinha sido em nosso primeiro encontro, ela jogou-o para as masmorras.

— Oh deuses. 


Por mais que conhecesse a história, Aires sempre sentia seu coração doer. Edmundo era mais novo que suas irmãs, se os mitos estivessem corretos. 


—  Não fiquei muito tempo lá, fui retirado do calabouço e parti com a Feiticeira em seu trenó para encontrar meus irmãos. Bem, você conhece a história, meus irmãos receberam presentes do Papai Noel, procuram por mim. Fui descoberto como um traidor, Aslan se sacrificou por mim e fomos à guerra em Berunna contra a vadia gelada. 


O Zypherionano riu dos modos do garoto mais novo, Edmundo tendia muito a gingar em suas conversas informais, principalmente seus inimigos e oponentes. 


— Pedro lutou como um verdadeiro leão naquela batalha, meu irmão quase morreu. Eu mesmo quase morri lá. 

— Mas a rainha Lúcia o salvou. 


O rei justo deu um pequeno sorriso singelo. 


—  Sim, nossa pequena rainha valente. Mas quando Pedro me abraçou, chorando como uma criança, eu realmente me dei conta do meu erro. Se eu tivesse morrido lá...como Pedro iria explicar para a mamãe o que tinha acontecido comigo? Ele se sentiria eternamente culpado, cairia em eterna ruína. 


Aires sabia que Edmundo estava certo, Pedro se sentia muito responsável pelos irmãos, e ele entendia bem o sentimento  do rei supremo. 


— Sou irmão mais velho, rei Edmundo, entendo perfeitamente bem como seu irmão se sente com sua majestade e suas irmãs.


O rei adolescente suspirou e bagunçou os cabelos.


— Desde então fiz de tudo para não ser uma pedra de tropeço em sua vida, mas um companheiro que ele poderia confiar cegamente, seu braço direito. Estivemos juntos em diversas batalhas, nos completando e cobrindo os erros, falhas e defeitos um do outro. Em um campo de batalha, Pedro, Lúcia e eu somos como uma unidade. Estive em sua cabeceira todas as vezes que ele caiu doente, como ele esteve na minha. Quando retornamos à Inglaterra era como se fossemos estrangeiros, não parecia mais nossa casa. Foi difícil para todos nós nos adaptarmos, mas foi muito mais para ele. Pedro sentia que a qualquer erro tudo iria desabar e nós iríamos nos machucar e seria culpa dele. Advinha por que?


Aires torceu o nariz em desgosto.


— Sua atração por meninos.

— Exato, ele já lutava com isso antes da primeira vez que viemos a Nárnia, meu irmão se sentia errado, um pecador. Depois do nosso retorno ele já tinha consciência de que não era, mas não tornava as coisas melhores de lidar, principalmente por ter que passar pelo crescimento mais uma vez. A preocupação por eu estar crescendo e meu interesse por meninos logo também iria vir à tona, mais uma pessoa que ele iria precisar defender. As memórias de Nárnia se confundindo em nossas cabeças, os anos de nosso reinado se apagando...

— Vocês se esqueceram?


Edmundo assentiu. 


— Sabíamos que tínhamos estado aqui, mas não nos lembrava-mos dos nossos anos vividos nessa terra, assim como quando voltamos a Inglaterra pela primeira vez, não nos lembramos de nossa vida lá. Pelo menos não até cruzar o guarda roupa e ao regressar a Nárnia, não até chegarmos a praia de Cair Paravel.


Aquilo parecia demasiado confuso e angustiante, Aires nem conseguia imaginar como havia sido.


— Muitas vezes as memórias se misturavam, ou simplesmente não vinham à cabeça. Susana nem sequer se lembrava que foi casada, ou Pedro, que já sabíamos que ele não se interessava por meninas. Já imaginou o quão angustiante é, ter que se assumir outra vez?


Aires não saberia.


— Não saberia, meu rei. 


Edmundo balançou a cabeça, como se estivesse relembrando sua própria experiência com isso. Provavelmente estava.


— É assustador. Vê-lo tão frágil daquele jeito partiu meu coração, príncipe Aires. Pedro estava tão mal enquanto estávamos lá, sempre entrando em brigas, ficando noites e mais noites acordado, caindo doente com frequência. Por Aslan, os pensamentos de insuficiência que ele às vezes deixava escapar. Dizia que Su era gentil e era uma coisa útil, tal como a valentía de Lúcia e meu senso de justiça e equilíbrio. Mas como alguém pode ser magnífico em Londres, sendo um adolescente órfão e briguento? Mas meu irmão entrou em brigas para defender os que não podiam, lutar por aqueles que não eram capazes. Mesmo longe de Nárnia, ele ainda era um líder, um guerreiro, um herói...um rei. Pedro ainda era o magnífico. Mas por que ele não conseguia ver? Eu não entendia, e aquilo me deixava com raiva. 

— Dele? — o príncipe franziu a testa em confusão. 

— Também. De Aslan por ter nos tirado de Narnia, de mim, por não conseguir fazer nada para que meu irmão se sentisse melhor. E de Pedro por não conseguir ver o garoto perfeitinho que eu via. O garoto que defendia até mesmo quem não conhecia, que lia histórias para Lúcia dormir, que ajudava Susana a remendar nossas roupas, que jogava croquet comigo. O garoto que encantava reis e divindades com sua beleza. Inferno Aires, eu tive que duelar com um maldito erote pela mão do meu próprio irmão. 


Aires abafou uma risada. Ele conhecia essa história e era de longe a sua favorita. Hedilogo era um deus menor dos cortejos e elogios, filho da deusa Afrodite e Hermes. Certa vez a divindade se apaixonou pelo rei surpremo e o raptou, o rei Edmundo como o único outro irmão homem da família e o terceiro mais velho, sobe as leis de Nárnia teve que duelar com o erote que queria havia rogado casamento ao rei Pedro diante de um altar da deusa Hera. Claro que Edmundo venceu, mas obviamente não se casou com o irmão. Aires que queria dizer nada embora tivesse certeza que o rei adolescente soubesse, aquela história em particular contribuía bem para fama que tanta os assombrava. 


— Oh sim, eu conheço essa história.

— Fora as diversas propostas de casamento, muitas delas absurdas que eu mesmo joguei na lareira. Como ele não conseguia ver o quão incrível era? Estar de volta, ter que crescer novamente estava nos matando por dentro, estava nos separando. Meu irmão estava murchando Aires, definhando. Então não tenho vergonha nenhuma de admitir que quando voltamos para Nárnia, quando Aslan anunciou que nem Pedro nem Susana retornariam, eu me ajoelhei perante asistas dele e implorei para nos deixar ficar, porque tinha certeza que se voltassemos meu irmão não iria suportar, ele iria quebrar e eu não poderia perde-lo. Perder Pedro significava perder nosso pilar, nossa âncora a nossa força. Perde-lo me faria um náufrago perdido num oceano selvagem com tempestade a vista, me faria perder a fé em mim, em Nárnia...em tudo. Caspian se juntou a súplicas, dizendo que não conseguiria sozinho. Felizmente, Aslan nos permitiu ficar. 


— Graças aos deuses.


Edmundo assentiu, um pequeno sorriso em seus lábios.


— Tenho certeza que Su tem os mesmos motivos que eu e até mesmo os particulares dela, mas entende por que somos tão protetores? Se Pedro quebrar, nós não saberíamos o que fazer. Ele sempre foi a nossa força, mesmo doente ele continua alegando que está bem e que não precisamos nos preocupar. Ficamos apreensivos, mas cuidadomos dele. Sabemos o que fazer, por que...

— Não está quebrado.


O rei adolescente senta na escadaria de um belo gazebo de msrnifno jardim, Aires e acompanha. 


— Exatamente. Lúcia é a mais forte entre mim e Susana, mas também não tenho certeza como ela reagiria se algo acontecesse com Pedro. Eles são de longe os mais próximos e ela é como uma leoa quando se trata deles. Você pôde como ela até mesmo ataca a mim e a Susana, para protegê-lo. 

— Eu quase não a reconheci.


Edmundo sorriu orgulhoso. 


— Ela pode ser muito cruel quando sua família está em jogo. Mas o fato é, minha irmã sempre foi a mais intuitiva e visionária e eu nunca mais duvidarei dela, jamais cometerei esse erro outra vez. Se Lúcia vê em você alguém de confiança, então eu confio nela. Porque se ao menor sinal de perigo que você representar ao nosso irmão, príncipe Aires... — O sorriso orgulhoso do rei justo se transformou em algo sombrio e cruel, que fez o Zypherionano estremecer. — ...minha irmã não carrega aquela adaga por acessório. 


Aires arregalou os olhos e assentiu veenimente. 


— Claro, recado dado e compreendido. 


Um dedo longo e fino foi apontado em seu rosto. 


— E é melhor você cuidar bem do meu irmão, porque se não cuidar, eu vou te caçar nos confins da terra e te matar. 

— C-claro. 


Edmundo riu e

 se afastou e deu dois tapinhas no ombro do príncipe. 


— Bem vindo a família, alteza. 

— Obrigado, majestade. 


Apesar de parecer estar brincando pelo sorriso descontraído, os olhos do rei justo diziam o contrário. Havia promessa de dor e sofrimento. Aires decidiu confiar nos olhos, olhares não mentem.



Notas Finais


O maior capítulo até agora véi 😨 enfim, espero que tenha gostado ☺️


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...