- WEI YING!
Yibo acorda em um pulo após ouvir o grito doloroso que vinha de dentro de si, algumas noites eram difíceis para ele e Lan Wangji, mais conhecido como cultivador solitário e deprimido que tinha a alma atrelada a sua desde seu nascimento.
Hanguang-Jun, Lan Wangji, Lan Zhan ou Cultivador Chefe. Uma alma deprimida e cansada que passou séculos vagando por um submundo até finalmente retornar, mesmo que parcialmente, à vida.
- Wangji, se acalme por favor.
Wang Yibo se considerava abençoado por ter essa responsabilidade de cuidar de uma alma tão boa e dedicada como a de Wangji, sua maior alegria era saber que com o passar dos anos os dois se tornaram melhores amigos, conquistar a confiança do cultivador foi seu maior feito durante esses quase 20 anos de vida.
- Estou calmo, foi só uma memória ruim.
- A frequência com que essas memórias aparecem tem me assustado um pouco, tem algo acontecendo que eu não consigo sentir? – De fato essas lembranças ruins vinham assombrando Wangji com mais frequência, nem ele próprio sabia explicar o motivo, tudo parecia improvável demais. – Não acha que Wei Wuxian pode estar perto da gente? Talvez ele esteja sendo cuidado por outro corpo assim como você Wangji!
- Wei Ying não deve ter vagado por um submundo como eu, ele reencarnou.
- Certo, que seja. De qualquer forma ele pode estar perto da gente, isso explicaria suas lembranças, quanto mais perto ficam mais suas almas ficam inquietas.
- Seus livros não estão te deixando muito paranoico?
- Wangji!!! Me desculpe por tentar estudar e aprender coisas para te ajudar. Sinceramente acho que isso faz muito mais sentido do que qualquer coisa que você já tenha imaginado.
- Certo, volte a dormir. Peço perdão por atrapalhar seu sono, amanhã seu dia está cheio.
- Fugindo do assunto como sempre, tudo bem. Vou voltar a dormir, mas saiba que você não pode fugir disso para sempre.
. . .
- VÁ EMBORA!
- Xian-ge, o que aconteceu?
Xiao Zhan ainda não havia dormido ainda, mas isso não o poupou de se assustar com o grito vindo de seu interior. Já faziam algumas noites que aquilo acontecia, Wei Wuxian o famoso e temido Patriarca Yiling vinha tendo lembranças e sonhos tenebrosos que sempre o deixavam inqueito.
- A-Zhan, eu senti. A-ZHAN EU SENTI DE VERDADE! – nesse exato momento lágrimas estranhas saíram dos olhos de Xiao Zhan, lágrimas que não era dele.
- Lan Wangji? Você sentiu a alma dele?
- Sim, ele está em algum lugar daqui. A-Zhan eu finalmente o senti, mas e agora?
- Agora você se acalma, nós vamos acabar o encontrando em algum lugar, tudo tem um tempo certo para acontecer.
- Isso não me ajuda, e se encontrarmos ele amanhã? O que eu farei? Como vou conseguir olhar pra ele? E se ele não lembrar de mim? A-Zhan eu não sei como vou reagir se ele não me reconhecer...
- WEI WUXIAN! Controle-se. Não há a mínima possibilidade dele não se lembrar de você, inclusive ele deve achar o mesmo de você.
- Eu nunca esqueceria dele, isso é o maior absurdo que eu já ouvi Xiao Zhan!
- Quais foram as últimas palavras que você disse pra ele? Pois é.
- Escute aqui, sua responsabilidade é zelar da minha alma e não terminar de me destruir!
- Estou zelando por ela nesse exato momento, tentando não fazer você perder o controle de novo. Wei Wuxian você se lembra do inferno que foi quando aquilo aconteceu?
E o Wei lembrava muito bem daquele dia, quando resolveu colocar todos os sentimentos reprimidos a séculos para fora, Xiao Zhan ficou no hospital por dias, sedado e diagnosticado com síndrome do pânico severa, depois meses e meses passando por muitos médicos até achar um único que acreditou em si e sem julgar suas falas, o Zhan finalmente pode parar de tomar calmantes fortes e sedativos e Wei Wuxian pode finalmente sossegar pelo menos um pouco.
- Me desculpe, mas escolha melhor suas palavras, tenho muitas coisas mal resolvidas guardadas comigo.
- Eu que peço desculpas, fiquei nervoso e falei sem pensar. Vamos dar tempo ao tempo e deixar o destino agir, tudo bem? Vou tentar dormir agora, amanhã tudo volta ao normal.
. . .
As segundas-feiras em geral eram o dia mais odiado da semana de Yibo, tudo parecia ser premeditado para fazer daqueles dias em questão um inferno. As matérias do dia na faculdade eram as piores, seu turno na loja de conveniência era do início da noite até o começo da madrugada, suas roupas nunca estavam secas e infelizmente ele só tinha tempo para lavá-las no domingo e pela tarde era o único dia que seu maldito grupo dos trabalhos do semestre podia se reunir.
A única coisa que o deixava feliz na segunda-feira era saber que o horário vago de seu melhor amigo desde a infância, mais conhecido como Song Jyiang, era no mesmo horário que o seu e poderiam colocar as fofocas do fim de semana em dia, já que o Song vivia uma vida sem muitas tecnologias depois de alguns infortúnios no passado.
Estavam em mais uma rotina comum das segundas, sentados no gramado da frente do campus, comendo cada um salgado que haviam comprado no refeitório e tomando o suco mais barato que era vendido na loja que Yibo trabalhava, já que esses ele podia pegar de graça quando estavam próximos da data de validade.
- Sério Jiyang, eu nunca vou ser feliz tendo aula com esse professor, cada palavra que ele diz mil células do meu cérebro morrem. – Yibo estava de saco cheio, estava quase no final do segundo período da faculdade e já pensava em que desculpa dar a mãe caso trancasse a matrícula.
- Pelo menos você não repetiu a matéria dele que nem eu fiz o favor de fazer, tenho certeza que ele vai me repetir de novo, aquele velho desgraçado.
- Dianxia que me livre de repetir esse pesadelo, não tenho psicológico. – Riram alto enquanto alguns alunos passaram ao fundo do refeitório fazendo Yibo se sentir enjoado e com uma náusea tão forte que nem sequer sabia que era possível ter.
Tão rápido quanto correu em direção ao banheiro, Yibo desmaiou no meio do caminho, sem sequer notar que o mesmo havia acontecido com um dos estudantes que passava mais a frente.
. . .
- Yibo! Pelos deuses achei que você não ia mais acordar. – Song Jiyang havia carregado o amigo as pressas até a enfermaria do campus, rezando para que não fosse nada grave.
- Há quanto tempo eu tô aqui? – Sentou-se na maca com certa dificuldade devido a fraqueza que sentia.
- Algumas boas horas, já até escureceu. Eu avisei no seu trabalho que você desmaiou e já enviei a declaração do médico, levou sorte de desmaiar no dia que ele vem aqui.
- O que seria da minha vida sem você? – Encostou a cabeça no ombro do Song que estava sentado ao seu lado, quase se entregando ao sono novamente.
- Provavelmente... Hm, nada. – Riu e apertou a bochecha macia do amigo.
- Eu o encontrei. – Wangji cortou toda sua linha de pensamento enquanto falava com o Jyiang, fazendo o coração de Yibo errar uma batida, será que finalmente Wangji poderia ser feliz?
- Como é?
- Eu encontrei Wei Ying, por isso você desmaiou, me perdoe.
- Onde ele está? Wangji por favor vamos fazer alguma coisa, não fique pedindo desculpas.
- Peça ao Song Jyiang para ver se ele está aqui na enfermaria também, se você entrou em colapso é provável que ele também tenha entrado.
- A-Song... – Chamou o outro de forma arrastada e manhosa. – Vê se tem mais alguém aqui além de mim.
- Tem sim, o cara voltou do intercâmbio hoje e já chegou com o pé esquerdo, coitado.
- Me ajude a ir até ele, sem perguntas por favor depois eu explico com calma.
- Certo, vamos lá.
Enquanto tinham essa conversa, Xiao Zhan ainda não tinha despertado, Wei Wuxian se recusava a desbloquear seus sentidos por medo do que poderia vir. Ele já sabia que Lan Wangji havia o visto, ele sabia que as coisas estavam estranhas por causa daquilo e que precisavam se encarar para ajudar seus melhores amigos que estavam debilitados daquela maneira por culpa deles.
Porém o Wei não tinha coragem de fazer nada, indo contra tudo que um dia foi no mundo da cultivação, Wuxian não conseguia dar o primeiro passo.
Foi uma surpresa e tanto quando ouviu seu nome ser chamado por aquela voz melodiosa que não ouvia a séculos.
- Wei Ying, sou eu. – Wangji falou no impulso assim que Yibo o deu permissão para entrar em sua consciência.
O despertar de Xiao Zhan só teve o tempo necessário para que o Wei tomasse conta de sua consciência e encarasse o homem a sua frente.
- Lan Zhan, sou eu.
O brilho cinza nos olhos de Zhan e as faíscas douradas que saiam dos olhos de Yibo fizeram o Song perceber que era melhor sair dali e deixar ou dois (ou quatro talvez?) a sós para se resolverem.
- Você vive com outra pessoa assim como eu, engraçado. – Wuxian pela primeira vez não sabia o que falar, estava nervoso, com medo e ao mesmo tempo estava em paz.
- Hm, achei que Wei Ying tinha reencarnado.
- Achei que Lan Zhan tinha se tornado um imortal.
Um silêncio mórbido pairou entre os dois, sem saber como continuar aquilo, muita coisa precisava ser dita, mas a pergunta que rondava era “como?”, haviam tantas pautas para abordarem, tantas dúvidas, tantos receios, porém nada fazia sentido naquela hora.
Tudo que Wangji pensava era como poderia se aproximar do Wei e lhe dar o abraço que a séculos sonhava,
- Lan Zhan...
- Wei Ying...
Falaram ao mesmo tempo, dando risadinhas nervosas após tanto tempo em silêncio.
- Vamos falar juntos então. – O Wei sugeriu ainda sorrindo, aquele sorriso que mesmo estando em um corpo minimamente diferente, ainda era o sorriso favorito do Lan.
- Eu faria tudo diferente se pudesse.
- Eu faria tudo diferente se pudesse.
E surpreendentemente para um céu estrelado de uma noite fria de inverno, ouviu-se um trovão e tudo se apagou novamente.
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