História Encontro marcado - Trato feito

Passaram-se seis dias, desde que Eugênio e Violeta foram ter com madame Margô. Eles mal se viam na tecelagem, ficavam se evitando e em casa, também não se esbarravam. Eugênio trocara a poltrona por um colchão que pegou no quarto de hóspedes quando todos dormiam. Violeta havia percebido o distanciamento repentino do colega, mas ela por sua vez, também nunca tentou uma reaproximação. Viviam no automático, cogitando e aguardando ansiosamente pelo dia que poderiam voltar para as suas realidades e enfim, viverem as suas vidas.


Era uma linda manhã de domingo quando Heloísa acordou radiante, era o dia em que  começariam os preparativos para a festa de noivado de Isadora e Rafael. Aquele ano era mais do que especial para a costureira, já que finalmente reencontrara sua filha perdida Olivia, e pode instalar uma boa relação de mãe e filha, apesar da mesma continuar morando com os pais adotivos. Aprontou se rapidamente e foi correndo até o quarto de Isadora, que também estava quase pronta

- E então boneca ? Já está pronta? Estou tão ansiosa! Olivia ligou e disse que está nos esperando. Temos que ir logo, pois ainda temos que pegar Arminda.

- Meu Deus tia, que empolgação toda é essa ?_ Isadora riu_ Parece até que é a senhora que vai casar

- Não, não vai ser eu maas, vai ser minha filha do coração_ Puxou a modista para um abraço apertado_ Vai logo aí, vou lá chamar sua mãe, ela estava tão ansiosa, trabalhou como uma condenadas semanas atrás para conseguir tirar dois dias de folga. Hoje e amanhã vamos comprar tudo para o noivado

- Mamãe é uma exagerada tia, eu e Rafael dissemos a ela, que era melhor fazermos só um jantar, e o dinheiro gasto nesta festa usariamos para a do casamento, mas... Mamãe teimosa do jeito que é

- Ah mas a ideia dela, de comemorar o noivado de vocês no dia dos namorados  MEU AMOR! Foi supimpa! Será super romântico! Sua mãe é uma gênia

- Só fala isso porquê viiive puxando saco da mamãe

Heloísa revirou os olhos e mostrou a língua para Isadora, num gesto inocente de criança birrenta. Após mais algumas palavras trocadas com a sobrinha, Heloísa tratou-se logo de ir avisar a irmã que ela, e Dorinha, já estavam prontas para partirem a Campos. Ao entrar no quarto, não acreditou no que viu: Violeta dormindo profundamente na cama, enquanto Eugênio.... " No chão?" Pensou. Não podia acreditar, já havia percebido que ambos estavam estranhos e... Até chegou a comentar com a sobrinha, mas não sabia que estavam naquele nível, dormindo separados. Heloísa ficou os observando, com uma expressão extremamente triste, voltou até o quarto de Isadora, para desabafar com a sobrinha a cena que vira

Após alguns minutos...

- Meu Deus tia, não acredito..._ Comentou Isadora triste, sentando-se na cama_ Mas, o que será que aconteceu ? Mamãe e Eugênio a umas duas semanas atrás estavam tão felizes, pareciam dois adolescentes apaixonados, até marcaram de ir novamente para o Rio de Janeiro, o que será que aconteceu?

- Não sei meu amor, mas temo por Violeta estar denovo com... Você sabe.

- Acha que a ansiedade dela voltou ?

- Eu não sei, custou muito para depois de Matias ser internado, e ela enfim conseguir o desquite, voltar a ser a nossa Violeta de sempre.  Não gosto nem de pensar na possibilidade, dela se afundar denovo nessa doença terrível

- Ai tia, vira essa boca pra lá_ Isadora deu três murrinhos na madeira de sua penteadeira_ Eles vão ficar bem. Mas... E agora, se mamãe está dormindo...

Enquanto as duas estavam no quarto da noiva de Rafael, discutindo sobre a relação de Violeta e Eugênio, o casal estava acordando e como sempre, trocaram apenas um bom dia seco, e mais nada. Quando o delegado levantou do colchão, deixou seu óculos ainda encima do mesmo, escondido pelas cobertas e, quando Violeta se levantou, ao apoiar os pés no chão sentiu o barulho do objeto se quebrando. Tomou um grande susto quando o pegou nas mãos, e a perninha estava quebrada. Eugênio na mesma hora que ouviu o barulho, a olhou e a viu pegando nas mãos o óculos quebrado

- Eugênio..._ Chamou olhando para o homem_ Me desculpa, foi sem querer eu... Eu não vi

Eugênio respirou fundo, pensou em brigar, esbravejar  e xinga-la, mas ficou quieto, se aproximou dela e tomou o óculos de suas mãos

- Sem problemas._ Murmurou

Impactada pela reação do grisalho, Violeta se levantou novamente da cama e o puxou pelo braço, tomou o óculos de sua mão e se dirigiu até a gaveta de uma das cômodas do quarto, pegou uma fita adesiva e após alguns minutos, concertou a perninha quebrada. Colocando uma mexa de seus cabelos atrás da orelha e se aproximando do agora sócio, sorriu delicamente e o estendeu para ele

- Prontinho, nem parece que quebrou

Ela ficou aqui alguns segundos o olhando com a mão esticada. Por dentro ele achou lindo, fofo e singelo o gesto dela, porém, logo se repreendeu por pensar isso, e tomou secamente o óculos de sua mão

- Obrigado.

- Vem cá qual é o seu problema hein ?_ Indagou com a voz firme, o puxando pelo braço

- Não tem problema nenhum, me deixa em paz.

- Te deixar em paz ?_ Perguntou chocada_ Você do nada começou a me tratar como se eu fosse uma estranha. Estamos juntos nessa pombas! Não entendo sua indiferença, se eu te fiz alguma coisa...

- Você não fez nada!_ A interrompeu com a voz alterada

- Gente, o  que está acontecendo?_ Heloísa abriu a porta assustada ao ouvir as vozes altas, atrás dela vinha Isadora e Leônidas

- Não me venha fingir que nada está acontecendo,  porquê está sim! Estamos presos aqui e você age naturalmente! Você não me conhece e eu não te conheço, você é sim uma estranha!_ Continuou Eugênio, as emoções em suas palavras eram explícitas, mesmo sem gritos ou ofensas, era notório sua indignação

- Ei! Não fala assim com minha irmã!_ Reclamou Heloísa agora entrando no quarto, chocada por não reconhecer mais o cunhado

Nesse momentos o telefone da sala tocou e Isadora foi atender as pressas

- Deixa Heloísa_ Pediu Violeta com um olhar de fúria para o delegado_ Quer saber Eugênio? Acho que é melhor  você dormir no quarto de hóspedes, até esse seu mau humor passar.

- Ótimo! Qualquer lugar é melhor do que... Perto de você!_ Eugênio não queria, não queria dizer aquilo, mas algo dentro dele lhe atormentava insistindo que ele precisava. Não podia se apaixonar, não podia amar Violeta, ele precisava voltar para as filhas, e se fosse preciso, a magoaria para que mantesse a distância.


Sem tempo para mais discussões, Eugênio pegou suas almofadas e o cobertor e saiu do quarto irritado até o quarto de hóspedes, sendo seguido por Leônidas. Violeta ficou no quarto com Heloísa, não se importou com a atitude de Eugênio de ter ido para o quarto de hóspedes, pegou sua toalha no guarda roupa e aí se dirigir ao banheiro quando Heloísa a segurou, acenando com a cabeça para que se sentassem uma ao lado da outra, na cama.

- Minha irmã, o que aconteceu aqui ?

- Ai Heloísa, nada

- Me fala, eu te conheço Violeta, sei que tem algo de errado com você e Eugênio. Estão tão estranhos ultimamente, diferentes.

- Impressão sua, só estamos passando por uma fase ruim, normal em qualquer casal

- Não não, vocês não são qualquer casal, é certo que vocês realmente vivem brigando mas, não assim. Hoje pareceriam dois estranhos, como se não tivessem vínculos nenhum

- Talvez os vínculos... Tenham se perdido.

- Não, não vocês. Tem alguma coisa acontecendo...

Violeta se assustou com a desconfiança da irmã, e tratou logo de desbaratinar a situação com a irmã. Após alguns minutos de conversa, Isadora voltou ao quarto da mãe chorando, com os ombros caídos e a cabeça baixa

- Boneca, o que aconteceu? Que cara é essa ?_ Perguntou Heloísa preocupada


Isadora surpreendeu Violeta que esperava que a menina fosse se aconchegar no colo da irmã, quando na verdade pediu carinho da mãe. Mesmo que ainda dura e tensa com a situação, Violeta a aconchegou em seus braços e a fazendo carinho, perguntou:

- Foi o telefonema, não foi ? Fala meu amor, o que aconteceu

- Ai mamãe_ Respondeu chorosa_ Hoje era o dia que íamos para o Rio comprar as coisas da festa e, fazer a prova dos sapatos que a senhora mandou fazer para meu casamento. Mas graças a sua discussão com Eugênio, perdemos o trem, e até o próximo sair, a loja já vai ter fechado porquê hoje é domingo. A ligação era da secretária do sapateiro, só poderemos ir semana que vem lá, faltando apenas dois dias para a festa

- Meu amor... _ Violeta virou a filha de frente pra si_ Por favor... Me perdoa ? Eu não queria prejudicar seus planos

- NOSSOS planos mamãe, a senhora trabalhou a semana toda para conseguir pegar esses dois dias de folga, hoje e amanhã. Tínhamos combinado tudo, eu, você,  Olivia, Arminda e tia Helô. Até reserva naquela... naquela casa de aluguel a senhora fez, ia ser nosso passeio em família, e a senhora conseguiu acabar com tudo por conta de uma discussão que durou nem uma hora, vocês estão muito estranhos, nem parecem os mesmo. Mas muito obrigada viu!

Isadora saiu do quarto aos prantos, triste e raivosa com a mãe. Violeta ficou em choque, estava doendo ver a menina chorar, e então se lembrou das palavras de Margô...

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                  No quarto de hóspedes
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- " Vocês precisam manter as aparências, não podem deixar o futuro, interferirem no presente" Não foi o que a cigana disse ? Seu idiota! _ Esbravejou Leônidas na cara de Eugênio, que estava sentado na ponta da cama, com as duas mãos cruzadas a frente de seu queixo

- Foi sim, idaí ? Não teve interferência de nada

- Ah teve, teve sim! A sua discussão com a Violeta, por conta das  pinimbas entre a policial e o delegado, interferiram no planejamento de Isadora e Heloísa. Agora a menina tá lá, mal, chorando. E Heloísa está tiririca com você e Violeta. E tem mais! Ela acha que está acontecendo algo de grave com vocês dois, já parou pra pensar, se ela começa a investigar vocês dois?

- Do que você tem medo, hm? Que ela descubra que nós... Somos viajantes do futuro? _ A última frase fora dita de forma arrogante e debochada pelo delegado, deixando o investigador Leônidas Lobato, extremamente irritado

- Não, meu medo é ela deixar de viver a vida dela, ou de alguma forma deixar de fazer algo importante, porquê vocês dois parecem duas crianças! E eu não vou ficar preso nesse mundo, porquê vocês não souberam fazer o mínimo, que é: fingir se gostarem e serem um casal normal, e não ficar interferindo na vida dos outros. Inferno!


Eugênio não disse nada, sabia que o melhor amigo estava certo e não podia fazer nada a respeito. Ele e Violeta se detestavam,  mas precisavam manter esse relacionamento só por um mês, ou melhor, por vinte e cinco dias. Após o silêncio na sala dos dois, Violeta bateu na porta e pediu a licença que logo fora concedida por ambos, Leônidas ainda irritado saiu sem dar tchau, os deixando a sós.

- Violeta olha, eu sei o que vai dizer e eu...

- Não Eugênio,  não fala nada. Você não gosta de mim e eu já entendi, e é justamente por isso que eu quero e vou, voltar pra minha vida, e espero que você seja maduro o suficiente para atuar só um pouquinho, aquela cena no quarto, você deixou as coisas se misturarem, essas pessoas não sabem quem somos de verdade.

- Eu sei! Eu sei disso e apesar de eu realmente ter meus problemas com você, quero minhas filhas de volta então... Eu dou minha palavra, que vou ser um ótimo marido nesses, vinte e cinco dias_ Eugênio deu um sorriso e estendeu a mão direita para um selo de acordo entre os dois. Violeta o encarou por alguns segundo, e apertou sua mão.

O trato estava feito, iriam se dedicar ao máximo para seguir a risca tudo o que a madame Margô exigira. Após alguns segundo do aperto de mãos, Eugênio não pode deixar seu lado infantil e provocativo de lado, percebendo que a mulher estava distraída, a puxou com toda força para si, a segurando pela cintura.

- Só cuidado, não pode se apaixonar por mim de verdade_ Debochou o homem

- Que isso Eugênio?! Tá maluco?! É pra fingir na frente dos outros só! Me solta!

Violeta presa nos braços do homem, tentava se soltar, ela estava presa, envolta naquels músculos e pelo corpo quente do homem. Ela ainda estava de camisola, seus seios encostavam no peito quase nu do homem, apenas coberto por uma regata de dormir. Ela sabia que conseguiria lhe dar um golpe e o jogar no chão, aliás, fez anos de judô e saberia fácil mobilizar alguém maior que ela, mas parecia que naquele momento, usar sua sensualidade e seu poder de manipulação, parecia mais divertido do que a força bruta. Parou de se espernear, ficou por alguns segundos o encarando profundamente em seus olhos, umideceu os lábios devagar, o que fez o homem engolir a seco, chegou com a boca bem perto da sua, e sussurou

- Quem tem que tomar cuidado aqui é o senhor, porquê eu só entro num jogo_ Violeta passou a mão pelo membro do homem, por cima da calça, sentindo  que ja estava ficando duro_ Se for pra ganhar.

Dito isso bateu forte com as duas mãos em seu peito o afastando brutalmente, e Riu com a cara de pasmo que ele estava. Nunca imaginaria que ela faria aquilo, o seduzir daquela maneira por pura diversão e competitividade, ele sabia que ele havia começado, mas ela realmente não brincava em serviço. Deu um sorriso para ela, mas não disse nada. Quando a mesma abriu a porta para sair do quarto se virou e disse

- Aliás doutor Eugênio, sua... ENTEADA, está lá no quarto chorando. Trate de dar um jeito nisso

- Dorinha está chorando? Eu vou lá falar com ela!

- Não! Não vai, ela irá estranhar. Porquê não tenta pensar no que o verdadeiro Eugênio Toupeira faria, sim ?_ Deu uma piscada para ele e se retirou.


Eugênio pensou por alguns minutos quando teve uma brilhante ideia para reparar o seu erro. Se vestiu o mais rápido que pode, e saiu rumo ao que o salvaria da interferência que causou na realidade, e que acalmaria o coração da sua filha.