História Entre a Fama e a Lama - Amor não correspondido

E lá estava eu no estúdio no dia seguinte. Eu literalmente fui a primeira chegar, com o pensamento de evitar chegar junto com Jeremy, mas não faria nenhuma diferença já que nos veríamos de qualquer forma, porém quis evitar situações piores. Enquanto aguardava, eu dava início a uma nova história, mesmo que eu não levasse isso a sério, era uma tentativa de fugir meus pensamentos um pouco de Jeremy, que também não adiantou porra nenhuma. Ainda bem que eu estava sozinha para chorar.

Meu drama acabou quando eu ouvi alguns passos no corredor, rapidamente enxuguei as lágrimas e me voltei para meu notebook, quando a porta do estúdio se abrir, parecia que meu coração parou e voltou. Por sorte (ou não), era Scott que acabava de chegar.

- Bom dia, senhora Smith.

Senhora Smith? É, acho que ele não estava muito contente comigo.

- Bom dia, Eastwood.

- Chegou cedo hoje.

- Quis chegar mais cedo hoje para adiantar algumas coisas.

Ele se silenciou por um tempo. Era muito visível que estava bem chateado. Aquilo me doía sim, pois sempre tive um bom convívio com Scott e fomos muito amigos, mas eu não podia me manifestar, não queria magoá-lo mais ainda.

Para terminar de foder mais ainda comigo, adivinhem quem chegou em seguida? Ele mesmo. Jeremy. PORRA, QUE RAIVA! Eu fiz de tudo para evitar situações menos piores e me acontece uma dessas. MAS QUE CARALHO!

Obviamente nem um bom dia foi dito por ninguém, eu tentava ignorá-lo o máximo, mas não deixava de torcer para que ele falasse comigo e não pensasse que eu e Scott estávamos fazendo alguma coisa ali, do jeito que aquela cabecinha oca é, era bem capaz de ter passado isso assim que entrou pela aquela sala.

- Sobre o que está escrevendo? – Disse Scott, vendo que eu não parava de digitar. Uma bela hora para puxar assunto comigo.

- Nada demais.

- Um novo roteiro?

- Talvez.

Eu só observava disfarçadamente as reações de Jeremy, que demostrava nitidamente que estava incomodado. Não sei se ceder aos assuntos de Scott era uma boa ideia, mas enciumar Jeremy me parecia seria bem legal, apesar de não ter culhão para fazer isso.

- Poderia aproveitar que fez isso para lançar um novo.

- É, quem sabe.

Em seguida o celular de Scott tocou e ele se retirou para atendê-lo, deixando-me totalmente a sós com Jeremy. Ficamos um bom tempo ali, silenciosos, eu queria puxar assunto, mas eu me sentiria muito idiota por fazer isso, então o jeito era continuar fingindo que eu não estava nem aí e claro, sempre observando disfarçadamente.

Aí ele resolve puxar assunto comigo, estragando totalmente meu plano de ignorá-lo. Caralho, Jeremy!

- Eu fiquei esperando você responder minhas mensagens ontem. Espero que tenha arrumado minhas coisas.

É sério que ele estava preocupado com suas malditas coisas?

- Eu não tive tempo, mas não se preocupe. Amanhã eu trago para não te dar o trabalho de ir até em casa pegá-las.

- Se puder fazer isso, eu agradeço.

Aquilo era decepcionante. Eu estava o tempo topo esperando um assunto decente para abrir o espaço de uma reconciliação e tudo o que ele queria de mim era as coisas que ficaram em casa. Dava a entender que ele não estava nem aí para o término, não sei se estava fazendo de propósito, mas no fim a minha ideia de fingir que não me importava tinha ido para água à baixo. Não tinha como não demonstrar tristeza e por mais que eu tentasse segurar o choro, não tive sucesso. Imediatamente saí de sala e fui tomar um café lá no pátio do estúdio, deixando Jeremy completamente sozinho.

Chegando lá me deparo com Scott. Não tinha nem como fingir que não o vi já que dei de cara com ele.

- Aconteceu alguma coisa? – Questionou percebendo que eu tinha acabado de chorar.

- Não, está tudo bem.

- Por que está chorando?

- Não é nada. Com licença, preciso tomar um café.

Scott segurou levemente meu braço. Já vi que ele não sossegaria enquanto não soubesse o que estava acontecendo.

- Foi o Jeremy, não é?

- Scott, eu não quero falar sobre isso.

- Eu não vou deixar você chorando aqui. Me conta o que aconteceu, por favor.

- Terminamos. Fizemos o que você queria. Satisfeito agora?

Ok, eu fui um pouco rude com ele, mas me arrependi naquele exato momento, eu odiava ser grossa com alguém, ainda mais com uma pessoa que nutria sentimentos por mim.

- Olha Scott, me desculpa, mas é que eu não estou em um bom momento para falar disso, tá bom? Eu não quis ser rude com você.

- Tudo bem, se precisar, estou aqui.

Ele então sai do local com uma feição de decepcionado.

Eu fiquei sentada pensando em toda a situação até que todos pudessem chegar, só assim tive coragem de voltar para lá. Pelo menos ainda no trabalho eu estava me saindo bem e decidi que aquele seria o meu principal foco, afinal tudo dependia de mim para fazer um trabalho bem feito, ainda mais quando estava perto de concluí-lo.

...

O trabalho daquele dia já estava concluído e até que eu consegui lidar bem com a situação enquanto eu estava lá dentro, o problema foi quando saímos, todos olhavam de forma estranha percebendo que Jeremy não falou comigo, nem sequer se despediu e muito menos me esperou, uma situação completamente de merda. Em seguida fui pedir um café para ver se conseguia aliviar um pouco da tensão. Scarlett e Taron ficaram por ali também e não paravam de olhar para mim, como se quisessem saber alguma coisa e eu não me manifestei, até o momento em que ambos se sentaram comigo, me cumprimentaram e iniciaram o assunto.

- Olha, não queremos ser intrometidos, é que nós estranhamos essa situação toda. Vocês eram tão grudados. – Disse Scarlett. – Fora o fato de você saber que também sou amiga do Jeremy.

- Ele também não quis contar nada para a gente. – Completou Taron.

- Vocês sabem que somos bem reservados em relação a nossa vida pessoal, então não sei se devo contar o que realmente aconteceu.

- Eu sei, mas quem sabe eu possa te ajudar. Kelly, eu vi a mudança nele quando te conheceu e percebi que ele está bem triste com tudo isso.

- Scar, ele que quis assim. Ele terminou porque uma pessoa está apaixonada por mim e agiu como se a culpa fosse totalmente minha.

- Você deu moral para a pessoa?

- É claro que não. Eu fui pega de surpresa tanto quanto ele.

Scarlett e Taron se olharam e pelo o que deu a entender é que ambos concordavam comigo.

- E se a Scarlett conversar com ele? Já que ela é próxima dele, pode te ajudar com isso.

- Não, Taron. Deixa isso para lá. Se ele quer assim, que seja. Estou com minha consciência tranquila.

- Mas vocês precisam pelo menos conversar sobre. Capaz dele nem saber a sua parte.

- Ele sabe. Para você ter noção, eu implorei para que ele não fizesse isso, falei tudo o que tinha direito e de nada adiantou, ele tomou a decisão que achou conveniente. Dói muito porque o amor que eu sinto por ele é muito forte, mas eu não vou me humilhar para ninguém. Se eu estivesse errada, tudo bem, mas não estou.

- É, isso eu tenho que concordar com você. – Disse Scarlett. – De qualquer forma, eu vou conversar com ele mesmo que você não queira, não acho as atitudes dele corretas e ele precisa ver isso.

Mesmo que eu tentasse falar que não precisava, Scarlett insistiria em conversar com e no fundo eu queria saber qual era a resposta.

Logo me despedi deles depois de um momento de conversa. Entrei em meu carro, eu até iria para a casa, mas eu não queria, então imediatamente eu fui dar uma volta pela cidade para esfriar um pouco a cabeça. Deixei meu carro em um estacionamento e simplesmente fui andando como se estivesse sem rumo, eu só queria que algo me distraísse aquele dia, pois quanto mais eu fizer as coisas, menos eu pensava em algo. Quem me dera que aquela vez fosse assim, parecia que quanto mais eu andava, mais os pensamentos focavam em Jeremy, o que fazia com que meu coração ficasse cada vez mais machucado. Eu não entendia o porquê de tanta frieza sendo que só fui boa com ele, nunca cometi nenhum erro que comprometesse meu caráter, não entrava de forma alguma na minha cabeça que eu realmente tinha feito algo grave.

Estava quase anoitecendo e resolvi parar em uma loja de chocolates, pois eu sabia que Britney estava de TPM e ficava insuportável nessa época, então nada mais que justo fazer um agrado a ela. O que eu não esperava era encontrar Scott por lá, até parecia perseguição.

- O que está fazendo aqui? – Perguntou.

- Sou cliente como qualquer um daqui. Eu que me pergunto o que está fazendo aqui.

- Faço da minha resposta a sua. Vim comprar uns chocolates para meu sobrinho.  E você?

- Vim comprar para a Britney.

- Não duvido que você comerá tudo. – Brincou.

- Se eu comer tudo, Britney me mata. Mexe com ela, mas não mexe com seus chocolates.

Rimos e em seguida, o local que já estava vazio ficou mais silencioso quando nos calamos. Scott me olhava timidamente e eu morrendo de vergonha, mal olhava na cara dele.

- Bom, eu tenho que ir.

- Ok, até amanhã. Kelly.

- Até amanhã, Scott.

Em seguida vou em direção ao caixa, pago os chocolates e poucos minutos depois, quando eu já estava caminhando pela calçada, escuto Scott me chamar pelo nome e quando me viro para trás, o vejo se aproximando de mim.

- São para você. – Me disse quando entregava uma caixa de bombons trufados. – É algo simples, mas quando vi não pude deixar de comprar.

O fato dele saber quais eram meus sabores favoritos de bombons trufados me assustavam um pouco, mas eu fiquei feliz pelo gesto.

- Obrigada, Scott. Realmente não precisava.

- Lógico que precisava. Quem sabe deixa o seu dia mais feliz.

- Como sabe que gosto de bombons de morango, maracujá e limão?

- Esses dias atrás vi você comendo escondido lá no estúdio, então deduzi que fossem essas.

Ok, aquilo me assustou. É sério que ele reparou em mim enquanto eu comia trufas escondida? NO SABOR DELAS? Para não ser tão rabugenta, confesso que em partes é fofo, porém assustador. Aliás, tudo para mim naquele momento poderia ser assustador, mas no fim eram só atitudes de uma pessoa apaixonada, então tive que me conter para não sair simplesmente fugindo como se ele estivesse tentando me matar.

- Eu agradeço a lembrança. Qualquer dia desses eu compenso.

- Ah, que isso! Não precisa se incomodar comigo.

- Não, eu preciso compensar de alguma forma.

- Que tal darmos uma volta juntos?

Era um péssimo pedido. Hesitei muito em aceitar, pois eu não queria dar nenhum tipo de esperança a ele, fora o fato de que o meu relacionamento acabou pelo falo dele estar apaixonado por mim. O problema é que eu gostava da companhia de Scott, desde o momento em que o conheci sempre gostei de sua companhia, das suas piadas, do seu jeito de ser e por mais que eu quisesse ser legal com ele, não poderia ser.

- Olha, Scott. Eu acho que vou ficar te devendo essa. Me desculpe.

- Mas por quê?

- Você sabe... que...

- Por causa do Jeremy, não é?

Nem respondi, é claro. A minha cara já dizia tudo e a dele também, que ficou completamente triste.

- Vocês agem como se tudo fosse culpa minha. Acha mesmo que eu queria causar isso? Acha mesmo que eu queria me apaixonar por você?

-  Não, eu sei que não queria isso.

- Então por que me trata assim?

Scott tinha razão. Tinha atitudes minhas que não eram legais, mas eu estava tomando-as pelo bem dele.

- Scott, eu só não quero se engane ou que tenha esperança de nada.

- E quem disse que eu estou tendo?

- A caixa de chocolates já diz muita coisa.

- Aí que você se engana. Eu só quis te agradar.

Por um momento o silêncio toma conta e só era possível ouvir os barulhos da rua noturna. Eu tinha decepcionado Scott, acho que não importa qual atitude eu tomasse, eu ia decepcioná-lo de qualquer forma.

- Olha, eu vou indo nessa, tá bom? Espero que goste dos bombons.

Ele se vira para ir embora, mas é óbvio que eu não o deixaria ir daquele jeito.

- Scott, espera. – O segurei pelo braço. – Me desculpa se fui escrota com você. Sabe que eu não quis magoar você.

Ver Scott daquele jeito era uma merda para mim e pessoas tristes me derrubavam inexplicavelmente, ainda mais por minha causa.

- Se você quiser, daremos uma volta, mas só como amigos. Você que escolhe o destino.

Ele continua me encarar com tristeza e não parecia estar muito contente com o meu convite, mas acabou aceitando. Andamos pela redondeza e reparamos o clima tenso de minutos atrás, até parecia que nada tinha acontecido.

Aproveitamos o momento em que acontecia  um artista de rua cantando em frente a um restaurante bem frequentado ali da região, imediatamente fomos lá,  mas tentei me esconder o máximo possível, não esqueci que ele era um pessoa pública, para cair nos sites de fofocas e Jeremy ver era rapidinho.

Rapidamente sacamos dinheiro de nossas carteiras e colocamos entro do chapéu do artista e muitos reconheceram Scott, pediram para tirar foto e toda aquela coisa que famosos fazem (provavelmente eu passaria por isso algum dia). Ele foi bem solicito e até cumprimentou o artista de rua.

Depois de alguns minutos de show, algo inesperado acontecia.

- Boa noite, meus caros! Meu nome é Lewis Robinson, tenho 34 anos e eu agradeço a todos que estão aqui me apreciando neste momento. Gostaria que alguém se manifestasse e cantasse comigo para deixar essa noite ainda mais linda e vocês mais alegres.

Não pensei duas vezes e logo me manifestei, deixando Scott se perguntando o que eu acabava de fazer.

- Você sabe cantar? – Questionou.

- Sim, eu sei.

Para a falar verdade, as vezes que cantei foi a pedido de alguém e a única vez que cantei em público foi quando eu saí com Sebastian, mas era a primeira vez que eu tomava tal atitude. Imediatamente fui para o lado de Lewis Robinson.  Só lá na frente percebi que eu estava fazendo algo completamente contrário da minha postura, mas a diferença é que eu queria fazer aquilo.

- Temos aqui essa moça bonita aqui. Por favor, diga o seu nome e o que vai cantar para gente

Eu não sabia nem como eu conseguia pegar no microfone de tão trêmula que estava minha mão.

- É... meu...nome é Kelly Smith e eu vou cantar Wish You Were Here do Pink Floyd.

Respirei bem fundo, era difícil com tantas pessoas me olhando e me filmando, mas comecei a cantar. O tom de voz com o do violão ficou perfeitos e isso fez com que minha performance fosse muito bem sucedida, deixando todos ao redor surpresos e aplaudindo constantemente, eu não sabia onde enfiar a minha cara, mas a sensação que eu tinha no peito era ótima.

- Você foi incrível! Sensacional! Eu estou sem palavras para você. Sua voz com certeza melhorou o meu dia. – Dizia Robinson.

- Obrigada, de coração. Eu te desejo muita sorte e que um dia você possa conseguir teu sonho, afinal você canta maravilhosamente bem.

Em seguida saí de lá e me deparo com Scott impressionado e com um brilho nítido no olhar. Aquilo me deixou muito mais envergonhada do que eu já estava, mais um pouco eu estaria da cor de um tomate.

- Espero que tenha gostado.

- Kelly... essa foi a coisa mais linda que eu já vi em toda a minha vida.

Eu dei um sorriso de canto. Scott me continuava a me olhar, estava encantando com que acabava de ver e isso me deixou desconfortável, parecia que tudo que eu fizesse o deixaria assim.

Em seguida meu celular toca. Sim. Era Jeremy. O que ele queria? Não sabia, mas com certeza me mataria se soubesse que eu estava com Scott.

- Alô? – Tive que fingir ao menos que eu tinha excluído o número dele.

- Kelly?

- Sim, eu mesmo.

- Sou eu. Jeremy.

Meu coração parecia que ia sair pela boca. Aquela ligação me trouxe a esperança de novo.

- Olha, se for referente a suas coisas, já disse que eu as levarei amanhã.

- Não é por isso que liguei.

Dessa vez não tinha como não manter as esperanças.

- Qual o motivo da ligação?

- Eu só quero parabenizá-la pelo show. Eu não sabia que você tinha talento para cantar. Por que nunca me contou isso?

Eu comecei a ficar cada vez mais nervosa. Como ele sabia que eu tinha acabado de cantar?

- Como você sabe?  

- Olhe para trás.

PUTA QUE PARIU!! EU ESTAVA FODIDA. JEREMY ACABAVA DE ME VER COM SCOTT!

Ele desligou o celular e foi se aproximando cada vez mais de mim, cada passo que ele dava parecia uma facada no meu peito. Até entender que não tinha rolado nada, com certeza daria uma merda bem grande.

- Que noite maravilhosa, não é casal? – Obviamente isso foi ironia da parte dele.

- Jeremy, não é o que você está pensando.

- Ah não? Os dois juntinhos agora é o que então? Uma linda amizade? Não fode, Kelly. Eu fiz muito bem em terminar essa merda de namoro.

Ele então se virou e obviamente fui atrás dele. Eu tentei diversas vezes segurá-lo pelo braço, mas ele sempre desviava. O único que conseguiu pará-lo por pelo menos um momento foi Scott.

- Cara, ela está dizendo a verdade. Não fizemos nada demais.

- Vai se foder, Scott! Some da minha frente.

- Jeremy, para com isso.

Jeremy empurra Scott com força e faz com que ele quase caísse no chão. Scott pensou em revidar, mas eu entrei no meio.

- Por favor, gente. Vamos resolver isso sem briga.

- Já resolvemos, Kelly. Acabou tudo.

- Você nem deixou ao menos eu me explicar.

- Foda-se suas explicações. Foda-se você. Fodam-se vocês dois.

Eu não acreditava que Jeremy tinha o seu lado agressivo. Aquela reação dele me doía muito e o pior de tudo, ele tinha razão em ficar puto, mas não tínhamos feito nada e eu queria que ele soubesse disso.

Em seguida comecei a chorar desesperadamente. Acho que nunca chorei tanto igual aquele dia, eu soluçava muito e me faltava ar. Até me afastei um pouco dos rapazes tentando deixar o local, mas eu não conseguia.

Uma crise começava lá. Senti minhas pernas fraquejarem e eu comecei a passar mal, consequentemente tive que me apoiar em um poste e logo me sentei. O que eu não esperava é que a qualquer momento eu corria um risco de vida muito grande. Um carro desgovernado estava andando em forme de zigue- zague, provavelmente estava louco na droga, perdeu o controle e bateu no poste onde eu estava. A sorte é que Jeremy percebeu antes e me tirou daquela situação antes que ocorresse.

O susto só piorou a minha situação, mas fez que eu me recuperasse um pouco, até eu entender a situação. Foi aí que eu chorei mais ainda. O acidente acabava de ferir gravemente duas pessoas que estavam no carro, Scott rapidamente ligava para a ambulância enquanto Jeremy tentava me reanimar.

Assim que a ambulância chegou, nós três fomos para o hospital e lá pude ser examinada. Jeremy e Scott me aguardavam na sala de espera e assim que saí, os via muito preocupados. Até esperava isso de Scott, mas de Jeremy... ainda mais depois de todo o escândalo da noite.

- Como você está? – Perguntou Jeremy.

- Estou bem. Foi só um susto e uma crise de choro. Temos que nos preocupar com a vida do motorista.

- Isso não exclui a parte de se preocupar com você. – Disse Scott

- Relaxa, estou bem. Só preciso ir para casa.

Agora que eu estava mais calma, mesmo que a situação na qual me coloquei daria razão para que Jeremy pensasse merda de mim, ainda sim eu sentia que não merecia tudo aquilo. Eu só queria sair daquele hospital, pegar meu carro e ir para minha casa.

- Eu os agradeço por tudo. Eu realmente preciso ir.

Assim que eu passei pela porta do hospital, ouvi Scott me chamando e o vi correndo em minha direção, claro que Jeremy foi ver o que ele faria.

- Scott, por favor, não quero mais causar problemas. Nem para mim e nem para você.

- Eu sei. Eu só queria te pedir desculpas por mais uma vez causar problemas entre você e o Jeremy.

- Relaxa, você não fez nada demais. Aliás, não fizemos.

Em seguida eu encarei Jeremy e sentia um olhar de remorso lançado em minha direção.

- Obrigada por hoje.

- Eu que agradeço.

Em seguida me virei e fui até onde meu carro estava, dei partida e fui para casa chorando com a minha playlist melancólica. A primeira coisa que fiz quando entrei em casa foi abraçar Britney, que não entendeu nada do que estava acontecendo. Em seguida a campainha toca.

- Amiga, aguenta um pouco. Eu já venho.

Britney demorou alguns e entra pela porta da sala ao lado de Jeremy, o que me fez surtar completamente.

- Jeremy? O que está fazendo aqui? Já não basta o que aconteceu hoje?

Ele nem sequer me respondeu e me abraçou em seguida. Novamente eu podia sentir aquele abraço gostoso, mas as suas palavras, toda a situação de forma geral estava na minha cabeça.

- Me perdoa por tudo, por favor. – Disse Jeremy, me enchendo de beijos e aos prantos. – Eu fui um idiota.

- Ok. Agora por gentileza alguém me explica o que está acontecendo nessa porra? – Questionou Britney

Jeremy me soltou em seguida e esperava uma atitude minha, mas eu não estava disposta a falar sobre aquilo naquela hora, além de render novamente uma história que eu queria deixar para lá, pelo menos naquele momento.

- Amanhã a gente conversa, tá? Estou exausta.

- Amanhã o caralho, Kelly. Você chega mais de nove horas da noite sem me dar ao menos me falar o motivo, em questão de minutos chega o Jeremy pedindo perdão por sabe lá Deus o que aconteceu e você vira para mim falando que vai conversar amanhã? MEU CU, KELLY, O MEU CU. Vocês vão sentar essas bundas seca do caralho no sofá e me explicar detalhadamente o que aconteceu e não vou deixar irem embora em hipótese alguma.

É, acho que não tinha alternativa a não ser contar a situação, onde também pude expressar o meu lado.

Depois algumas horas de conversa, percebemos que já estava tarde e já tinha passado da hora de dormir.

- Bom, eu preciso ir. Amanhã teremos trabalho a fazer e era para eu estar em casa dormindo.

- Até parece que eu vou deixar você sair essa hora. – Disse Britney. – Dorme aqui essa noite.

Eu só queria matar a Britney pelo convite.

- Eu agradeço, mas não é uma boa situação para ficar aqui.

Britney concordou, então Jeremy se despediu dela e saiu sem fazer o mesmo comigo. Em seguida fui tomar um banho, enquanto a água quente massageava minha pele eu refletia tudo o que tinha acontecido naquele dia. De fato, eu não entendia Jeremy, passava pela minha cabeça que ele só tinha me pedido perdão devido ao acidente daquele carro. Talvez eu estivesse errada em pensar isso, mas era impossível, mas também a culpa foi provocar toda aquela situação, foi por ter dó de Scott que aquela situação aconteceu e parecia um sinal quando pensei que não deveria ter o deixado me acompanhar. Na realidade minha cabeça estava a milhão, em partes me sentia culpada, em outras sentia que eu não tinha feito nada de errado, desde o início deixei bem claro que eu não tinha intenção alguma com Scott, tanto para ele quanto para Jeremy.

Me deitei e pelo jeito eu demoraria a dormir aquela noite. Eu olhava o céu daquela noite pelas janelas traçadas do meu quarto e podia ver a lua cheia. Não demorou muito para que eu recebesse uma ligação. Era Scott. Hesitei muito em atender, afinal da última vez que “dei abertura” a ele deu merda e foi naquele dia, mas eu atendi para ver o que ele queria.

- Diga, Scott.

- Boa noite, Kelly. Eu liguei para saber se você melhorou.

- Sim, eu melhorei.

- Fico feliz por isso. – Um breve tempo em silêncio. – Eu novamente peço perdão por hoje. Acho que sairmos juntos foi uma péssima ideia, nem passava pela minha cabeça que iria acontecer tudo isso e não tenho intenção de te machucar ou prejudicar você.

- Relaxa, Scott. Está tudo bem.

Na realidade não estava e não tinha como esconder isso.

- Kelly, eu sei que em partes você me culpa por tudo isso. Mesmo que você queira não assuma.

- Scott, olha, eu...

- Acho melhor eu me manter distante de você.

Eu fiquei espantada com o que Scott acabava de dizer. Mentiria se eu dissesse que nunca tinha pensado em me afastar para que ele pudesse deixar de sentir algo por mim, mas nunca achei justo e sempre quis ele ao meu lado como amigo.

- Como assim?

- Vai ser melhor para nós. Assim eu te esqueço e você segue sua vida com o Jeremy. Garanto que você se afastando de mim, ele volta para você no dia seguinte.

Eu realmente queria que Jeremy voltasse para mim, mas não daquele jeito ridículo. Uma reconciliação em troca de um amigo. Eu jamais faria isso.

- Scott, isso não tem cabimento. Eu não vou fazer isso, você é meu amigo e eu não acho justo que você tenha essa decisão só para que eu volte com Jeremy.

- Kelly, entenda uma coisa: não estou fazendo só por você, mas também por mim. Eu preciso te esquecer e se eu mantiver a amizade vai ser pior. Caso você e o Jeremy voltem eu vou ficar mal, então se eu me afastar de você, não vou precisar ver isso praticamente jogado na minha cara.

Não tinha como não entender Scott, ele estava certo. Já bastava de sofrimentos e amor não correspondido.

- Tudo bem. Vou fazer isso por você.

- Só manteremos o contato para fins profissionais. Além disso, não teremos nenhum tipo de assunto, ok?

- Tudo bem.

- Obrigada. Eu te amo.

E desligou.

A verdade? Aquela decisão partiu meu coração, ainda mais ao ouvir um “eu te amo” que eu não podia corresponder.. Eu sentiria falta de todas as brincadeiras, das conversas, da sua alegria e mesmo daquele dia ter sido um desastre, ainda sim por um momento fui feliz e Scott contribuiu para isso.