Não era um dia especial. Não era dia de receber visitas, nem dia de fazer faxina na casa ou um daqueles dias que a gente marca no calendário de organização da casa. Mas era um daqueles dias em que o espírito da limpeza se apossa da pessoa e ela fica inquieta, inquietação que só passa depois do objetivo cumprido.
E era exatamente isso que estava acontecendo com Hermione Granger Weasley. Não era um dia especial mas era um daqueles dias perfeitos pra esse tipo de coisa. Ronald estava trabalhando, Bichento estava em algum lugar fora de casa, provavelmente procurando ratos ou qualquer outro bicho no quintal de algum vizinho e Hermione estava de folga. Estava entediada e sozinha, podia ter pego um livro para ler, mas quando o espirito da limpeza entra em alguém é difícil controlar. E como tudo parecia conspirar a favor, por que não?
Assim sendo, muniu-se de todos os aparatos necessários para esta missão – Vassoura, balde, varinha, esfregão, produtos de limpeza e começou. A primeira a ser contemplada foi a cozinha, enfeitiçou a pequena louça para se lavar sozinha enquanto organizava a geladeira separando o que ainda era comestível do que estava a um passo de estragar e precisava ser jogado fora. Dali foi para a sala, aonde se sentiu realmente irritada com o tanto de coisa que devia estar em qualquer outro lugar mas o marido insistia em atirar pela sala. Passou pela lavanderia colocando as poucas roupas para lavar, pelos banheiros, que por incrível que pareça, principalmente para uma casa habitada por Ronald, não estavam tão sujos e um simples movimento de varinha deu um jeito. Na biblioteca não foi preciso nem cruzar a porta, já que Hermione mantinha suas estantes de livros sempre impecáveis.
Dirigiu-se ao quarto do casal, onde estendeu a cama, tirou o pó dos poucos armários que se encontravam ali e passou a vassoura em todo o chão.
Chegou ao lugar onde guardavam as roupas e precisou respirar algumas vezes para se acalmar, a bagunça que parecia até ser um talento especial de Rony desenvolvido com muito cuidado por anos, realmente a deixava estressada. Aonde deveria ter apenas as roupas do marido dobradas e organizadas, tinha roupas emboladas de qualquer jeito, misturadas a diversos objetos que iam de tinteiros vazios a folhetins de restaurantes de comida japonesa.
Resolveu que o único jeito de fazer aquilo direito era começando do zero, tirando tudo e reordenando.
Quando estava tirando as últimas peças de calças de uma das prateleiras, bem no fundo, Hermione viu algo, esticou a mão e pegou.
Era um caderno, pequeno, cheio de barbas de folhas arrancadas pelas molas, com a capa gasta, folhas amassadas com orelhas nas pontas e até meio encardidas. Rabiscos aleatórios pelas folhas, desde desenhos de vassouras modernas a trasgos babando associados a nomes de colegas Sonserinos da época de escola. Listas de coisas para comprar que Hermione tinha certeza que não haviam sido compradas, já que todas as vezes em que ele ia sozinho fazer compras para casa esquecia metade dos itens que ela mandava comprar e Hermione tinha que acabar voltando ao supermercado.
Era a cara de Ronald. Um caderno sem nenhuma informação realmente útil e mal cuidado, o que fazia Hermione pensar em como ele conseguia detonar tanto um caderno que nem usava com frequência, era espantoso.
Seria ainda mais se fosse colocado ao lado de alguma das caprichosas e bem cuidadas agendas de Hermione. Com letras bem formadas, folhas brancas, sem um amassado ou pequena rasura sequer. Recheado com listas de compromissos e informações importantes de toda natureza possível.
Sabendo disso fica fácil entender por que Hermione estava impressionada com aquele pequeno caderno desleixado de Rony que havia encontrado.
Folheando as páginas, entre páginas e mais páginas de rabiscos aleatórios Hermione encontrou algo que chamou mais a atenção que o desleixo do marido. Um texto. Bem escrito, sem rasura, sem amassos na folha, com a letra torta e extremamente característica de Ronald Weasley.
Não havia título, e diante do contraste dessa folha pro resto do caderno foi inevitável se conter e Hermione começou a ler seu conteúdo.
“Nela tudo me encanta. Um encanto que nem Merlin poderia decodificar e desvendar, a não ser que a tivesse conhecido.
Me encanta o modo como fala, as expressões de seu rosto quando conta alguma história. O modo como ri até sair lagrimas de seus olhos de qualquer piada boba que eu possa fazer. A forma como seus olhos se apertam quando tenta achar soluções para algum problema. A incrível habilidade de ler qualquer coisa, em qualquer lugar, com pessoas na volta conversando ou no mais incrível silêncio. Me encanta o modo delicado que ela encontra para falar de determinadas coisas. Me encanta o fato dela conseguir ser atenciosa com quem quer que seja, desde alguém da família a um desconhecido pedindo informação na rua.
Me encanta e me espanta. Me espanta a sua inteligência extraordinária. Sua capacidade de me desmontar inteiro com um toque, um sorriso, um olhar. Me espanta o como seus sermões conseguem ser longos, o como ela consegue ficar irritada com coisas que eu nem sequer percebi que fiz. Me espanta como ela consegue ver os mínimos detalhes de tudo, e ver beleza em coisas que ninguém mais vê. Me espanta dela sendo tão incrível, em meio a tantos pares perfeitos, escolheu a mim, o mais imperfeito de todos.
Me encanta, me espanta e me faz aprender. Com ela aprendi a ter responsabilidade, aprendi a ser menos impulsivo, aprendi que as vezes é preciso ceder, aprendi com ela como tratar uma garota.
Com ela aprendi a ver o mundo trouxa com outros olhos, e principalmente a explora-lo. Aprendi a cozinhar, aprendi a dirigir e com isso não depender tanto de meios mágicos pra me transportar. Aprendi que as vezes o que achamos normal no mundo da magia não é tão normal assim fora dele, aprendi a ver outros seres mágicos de forma diferente. A poção para resfriados que faço hoje tão bem foi ela quem me ensinou. Dos dez melhores feitiços que já fiz, sete ela me ensinou. Os outros três eu fiz errado e ela me corrigiu.
Talvez a vida tivesse realmente começado para mim quando aquela menininha de cabelo arrepiado disse que meu nariz estava sujo no trem a caminho de Hogwarts ou quando a guerra acabou e finalmente estávamos juntos como casal. Hoje compartilhamos não só os amigos, mas os gostos por filmes, música, comida e em algumas vezes até por livros – já que os poucos que li foi pela incrível insistência dela.
Dizem que coisas assim só se vive uma vez na vida, e eu hoje só tenho a agradecer por estar vivendo isso com ela.
Hermione Granger, a mulher que me encanta, me espanta, me ensina, mas principalmente, me faz amar.”
Hermione leu cada palavra, sem acreditar que tinham sido escritas pelo mesmo homem que mal dizia eu te amo para ela, e quando dizia parecia a personificação do constrangimento. Ao chegar nas últimas linhas a vista já embaçava pelas lágrimas, o coração apertava, a vontade de abraçar aquele homem e nunca mais soltar. O amor que de tão grande transbordava dela, transbordava dele e envolvia tudo ao redor, envolvia a casa, a bagunça dele, os livros dela, a história vivida pelos dois e a história que estava para ser vivida.
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