MARY ALICE BRANDON
"Para cada ação, uma reação. Para cada escolha, uma realidade diferente. Para cada final ruim, um recomeço do zero e um novo aprendizado." Essas foram as palavras usadas pela jovem Alice, em uma anotação final no seu diário. Quando você é jovem, assumem que você não sabe de nada. Assumem que você não é capaz de impedir algo ou alguém, simplesmente por estar agindo de forma ingênua. Mas Alice não era nem um pouco ingênua. Era uma moça meiga e muito calma, de cabelos longos e coloração castanho-escuros. Seus olhos, também castanho-escuros como seus cabelos, carregavam um brilho e uma inocência que trazia paz para quem olhasse diretamente para sua íris. Sempre tão gentil e carismática, admirada pelos vestidos em tons de amarelo-suave que sua mãe usava desde que Alice era uma menininha. Vivia com sua família em Biloxi, Mississippi. Tinha apenas uma irmã, chamada Cynthia. Sempre foram bastante companheiras, embora Cynthia fosse nove anos mais nova que a irmã. Não as impedia de contarem segredos uma para a outra, porém, era um segredo em específico que tornava Alice diferente de Cynthia. Alice era clarividente, podendo ter premonições e visões do futuro de forma geral, embora as visões nem sempre fossem concretizadas totalmente. Um dom quase divino, se não fosse visto como bruxaria demoníaca e feitiçaria pelos pais. Conforme foi crescendo, Alice criou consciência de que ela não era ingênua ali, mas sim seus pais. Não só por julgarem ela, ou usar bruxa como termo pejorativo, ― que realmente não é, considerando que toda bruxa é altamente inteligente ― mas por anularem a inocência de uma criança com um presente especial, taxando-a como uma abominação.
Conforme Alice foi crescendo e compreendendo melhor o que era amor, seus sonhos e desejos só cresciam cada vez mais. Ela sonhou com um rapaz uma vez. Ele era bem educado, meio recluso, mas a admirava e a protegia de qualquer tipo de perigo. Podia ver em suas visões a forma que ele sorria, a forma que ela fazia bem para ele. Podia sentir o toque dos seus dedos entrelaçando, o seu perfume, a cor dos cabelos levemente cacheados dele. Ela estava bem vivendo com ele, sabia que se casariam um dia. Enquanto humana, ainda sonhava com ele durante a noite, então era difícil dizer se ele existia ou se era apenas fruto de sua imaginação. E Alice cresceu, suas expectativas e espera pelo amor de sua vida diminuíram cada vez mais. Apesar disso não a afetar tanto, as visões sim, a afetaram bastante.
Em uma de suas visões, ela viu sua mãe sendo assassinada por alguém usando roupas escuras que cobriam seu corpo da cabeça aos pés. Aquilo a traumatizou de uma forma que ela não conseguia descrever em palavras. Decidiu que contaria tudo para a mãe, pois poderia evitar esse acontecimento de alguma forma. Poderia mudar esse destino, a sua realidade não precisava ser essa. Sendo assim, ela contou exatamente como sua mãe morreria, ela seria esfaqueada e sangraria até a morte, em um beco próximo à esquina de sua casa. A sua mãe encarou a realidade como um cego encara uma sombra; duvidoso da veracidade de algo que já não compreende tão bem. Esteve agindo de forma tão hostil e manteve a guarda, pois Alice estava sempre certa na maioria de suas precognições. Já o pai, sempre desacreditando que aquelas visões fossem, de fato, algo sério. "Não passavam de asneiras", dizia ele.
Ela lembrara de uma vez em que o céu do Mississippi estava sem nuvem alguma no céu. O sol escaldante fazia sua pele branca ficar vermelha em pouco tempo, mais especificamente na região das bochechas. Elas estavam colhendo rosas brancas no jardim, quando a pequena Alice disse que era melhor que elas entrassem. Alice insistia que uma tempestade estava prestes a atingir aquela parte da região, sua mãe, hesitante, negou e disse que não havia uma única nuvem no céu para que isso fosse acontecer. Mas Alice estava tão segura, tão determinada a proteger a mãe da chuva, que ela se sensibilizou. Poucas horas depois, o céu fechou. Choveu bastante naquela noite. E foi aí que sua mãe percebeu o valor do dom de sua filha.
Eventualmente, nada acontecia. Lillian Brandon, a mãe de Alice, acabou se distraindo enquanto voltava para casa. Havia tido o pior de seus dias, foi altamente estressante por muitas questões. Ela só queria chegar em casa, tomar um banho e descansar. Até o momento em que ela decidiu cortar o caminho de casa por um beco próximo. Não sabia que um predador noturno a atacaria de forma repentina, cravando sua faca em seu peito tão sensível. O sangue descia, era quente e descia muito rapidamente. Uma lágrima rolou em um de seus olhos. Ela podia se lembrar de Alice a avisando de forma contínua, mas não podia fazer nada a respeito, a não ser tentar tirar aquela lâmina do seu peito. Estava ficando cada vez mais fraca, sentia a vida saindo de si lentamente. Lilian chorou, chorou por não poder fazer nada para mudar aquela situação. Chorou por ter que deixar suas meninas, abandoná-las sem nem ao menos poder vê-las se casando algum dia. Em um último suspiro, ela perguntou ao seu assassino:
― Por quê? ― e fechou seus olhos lentamente.
Em poucas semanas, a notícia se espalhou por toda a cidade. Cidade pequena, meados de 1919. As pessoas se importavam mais com o fato de um pai viúvo ter que cuidar sozinho de duas meninas, do quê o fato de que uma mulher foi morta de forma brutal enquanto voltava para casa. Naquela época, era comum rapazes se casarem com moças muito rapidamente. Era tradição de famílias. Em seis meses, o pai casou-se novamente. Agora, com uma moça vinda de Illinois. Algo estava muito errado, aquela mulher carregava consigo uma energia muito pesada e negativa. Alice sabia que aquilo não era qualquer coisa, e ao ter uma visão com eles à partir do momento que conheceu aquela mulher, foi que ela teve total certeza de tudo.
A moça a tratava de forma fria, era petulante e a maltratava. Maltratava à pequena Cynthia também, mas o pai se fazia de cego. Os dias se passavam e Alice desconfiava cada vez mais que eles tramaram todo o assassinato de Lillian para que pudessem, de alguma forma, conseguir a herança da família de Lillian. O que Alice se questionava, era como a sua madrasta podia compelir o pai dela a ajudá-la numa trama dessas. Ele matou sua própria esposa, a mulher que colocou suas duas filhas no mundo. Cansada de toda aquela desconfiança, ela decidiu abrir o jogo em um dos jantares em família.
― Pai. ― disse a jovem Alice, o encarando com frieza.
― Sim, Alice? ― ele respondeu, indiferente.
Estava concentrado em cortar a sua carne mal passada, receita caseira com um molho secreto que a sua querida esposa havia inventado.
― Eu tive mais uma visão e... eu já sei de tudo. Eu não aguento mais esconder. ― Alice comentou, com uma certa insegurança na voz.
― Mary Alice, eu já disse que não queremos saber dessas suas invenções demoníacas aqui em casa. ― ele disse em um tom bravo, batendo os punhos apertados na mesa de madeira onde a percussão se expande pelo cômodo que Alice sabia que não deveria parecer tão mórbido.
Cynthia baixou o olhar, triste por ouvir aquilo. Não podia dizer nada. A mulher, calada. Como de costume.
― Pai, eu sei que você e sua esposa planejaram todo o assassinato da mamãe. Eu pude ver no momento em que olhei nos olhos dela. ― Alice olhou para sua madrasta, agora com um semblante triste.
― Mas que absurdo?! ― a mulher se levantou da mesa de forma dramática, encarando a garota. ― Você vai aprender a me respeitar, sua garota ingênua!
― Calem a boca! Calem a boca! ― o pai troveja, agarrando a porcelana de seu prato e lançando contra a parede do outro extremo do cômodo. Os estilhaços se espalham pelo piso escuro, conforme os ombros de sua esposa e de Alice se contraem, temendo.
Já de pé, na clássica postura de superioridade e agressividade que gostava de manter, ele puxa Alice pelos cabelos e joga seu corpo no chão, sentindo um pouco de seu ódio diminuir. Algo perigoso, de fato. Alguma parte do seu cérebro sentia que quanto mais ele a machucasse, melhor seria. Menos raiva, repúdio, permaneceria em seu peito. Alice gritou com medo, e Cynthia saiu correndo para o canto da parede, com a respiração pesada e seus olhos cheios de lágrimas.
― Papai, não! ― Cynthia implorou, em pânico.
A mulher dele não mexeu um dedo, mantendo a expressão totalmente neutra.
― Você se acha esperta, mas você não é. Eu estou farto de você com suas invenções de bruxaria. Você quer ser uma feiticeira, uma vidente? Você vai aprender que as bruxas queimam! Está fora de si. ― ele dizia com raiva.
Ele puxou Alice pelo braço, enquanto ela chorava de raiva e medo. Ele a levou até o porão, abrindo a porta e a empurrando lá. Alice rolou da escada, que não era muito alta, mas que a machucou bastante na queda. Ela gritou de dor, desesperada. Não entendia direito o que fazer, na verdade, todos seus pensamentos agora estavam conturbados e revirados. As lágrimas rolaram, e ela implorou para sair de lá, mas não teve resposta. Seu pai a largou no porão como se ela fosse um animal maltratado, uma aberração.
No dia seguinte, quando o sol entrava pela pequena janela no topo de uma das paredes, ela ouviu passos pesados. Se sentia fraca, não se lembrava muito bem do que havia acontecido e muito menos que tinha dormido. Viu as marcas nos braços e joelhos, machucados pela queda e pelos dedos de seu pai, e então recobrou a consciência. Os homens de branco desceram, sem falar nada. Ela pensou em pedir ajuda, mas eles eram agressivos a seguravam com força.
― Não... eu não fiz nada. O que estão fazendo? Quem são vocês? ― Alice perguntou, entrando em desespero.
Conforme foi puxada, passou pela sala. Seu pai aguardava na frente da porta, com um olhar frio e semicerrado. Alice olhou para ele uma última vez, implorando com o olhar para que ele fizesse algo a respeito.
― Papai, por favor. Por quê eles estão aqui? Eu não fiz nada! ― ela tentou se soltar dos braços deles.
― Você está louca, Mary Alice. Você diz ter visões, diz que pode ver o futuro e está inventando coisas. Isso não é obra de Deus. Você vai para um hospital para ser curada desses demônios que estão dentro de você. ― o pai disse aquilo na maior calma, sem remorso algum em suas palavras.
Sua esposa encarava a menina, quase que com um sorriso se formando no canto dos lábios. Cynthia estava vendo tudo no topo da escada, triste e confusa por não saber o que estava acontecendo. Era nova demais para processar toda aquela informação.
― Papai, por favor, não deixe esses homens me levarem. Por favor! ― ela implorou, entrando em desespero. Sua voz falhava agora.
Eles começaram a puxá-la para fora. Não haviam muitos modelos de carro naquela época, mas Alice tinha certeza que o veículo que serviria de transporte para o sanatório, era um Lancia Lambda. Os homens a jogaram lá dentro, e ela pensar em fugir, mas não adiantaria. Podia ver a consequência de cada escolha: ela acabava lá do mesmo jeito.
Alice foi, então, mandada para um sanatório bem distante. Mais especificamente, há dois condados de distância. O pai, semanas depois, contou para o povo da cidade que sua filha ficou louca após a morte da mãe e que estava sendo agressiva e falando coisas absurdas ao seu respeito. Eles acreditaram e apoiaram o sr. Brandon, como era de se esperar.
Durante o seu período lá, os médicos rasparam a cabeça de Alice, devido uma ameaça de um surto de febre tifóide. Fora isso, ela teve suas memórias remexidas, em consequência às longas terapias de eletrochoque que ela era submetida. Aquilo causou uma amnésia severa em Alice, fazendo-a esquecer de toda a agressão do pai, da morte da mãe e do abandono da pequena Cynthia. Em compensação, ao menos ela pôde restaurar seu estado natural novamente: feliz e gentil. Graças à sua simplicidade e animação, ela conheceu um enfermeiro que cuidou dela como uma filha. Ele se chamava Joseph, era vampiro.
Em suas frequentes visitas, ele fazia questão de treinar as habilidades de Alice, pois sabia que ela era diferente dos outros pacientes dali. Sendo assim, ele acabava levando objetos para que ela pudesse identificar algo e dizer para ele o que viu em suas visões. Pois ele era o único que acreditava de verdade nela. Além disso, ele também a protegeria daqueles tratamentos severos da época. E funcionou, por bastante tempo eles compartilharam segredos, pois Joseph sabia que Alice estava ali de forma injusta.
Estar próxima de Joseph foi uma das melhores escolhas que ela fez. Alice vivia tranquilamente no sanatório, até que em um dia, ela pôde ter uma visão com um vampiro rastreador: James. James podia detectar facilmente as vítimas, cujo sangue "cantava". O cheiro daquele sangue para vampiros era impossível de resistir. As pessoas que tinham esse tipo de sangue, geralmente eram as melhores vítimas. O sangue delas não era comum aos outros humanos ― chamado de Sangue Cantor ou Sangue Cantante ― eram mais doces, mais puros, eram especiais. Suas incidências eram raras. E James era como alguém obcecado. Tornava isso um jogo doentio de gato e rato. Podia detectar uma dessas vítimas há milhas de distância. Cada pessoa tem um cheiro específico de sangue, o sangue na boca dos vampiros causa uma sensação de frenesi, de euforia. Joseph, tendo consciência disso, não hesitou em planejar uma fuga para Alice.
― Não posso deixar que você morra aqui. Não vou deixar. ― ele afirmou. ― Você vai embora daqui hoje à noite.
Porém, Alice via que aquilo não adiantaria.
― Não! Ele vai sentir o meu cheiro, ele consegue sentir e vai me matar lentamente enquanto eu tento fugir dele. ― Alice afirmou.
Joseph pensava em formas de como elaborar um plano, mas o tempo deles era curto e todos acabavam com Alice sendo atacada por James. Afinal, quem era James e por quê ele faria isso comigo? Alice se questionava. Não havia uma resposta concreta, era o destino dela trabalhando. Mas Alice não achava que precisasse ser assim, porque apesar dela ter suas visões, sabe que são precognições subjetivas. Perdida em seus pensamentos, foi interrompida pelo vampiro Joseph, que mordeu o pescoço de Alice.
Uma de suas visões se manifestou de forma altamente intensa naquele momento. Ela podia sentir o veneno que saía dos dentes de Joseph correndo em suas veias de forma rápida. O veneno se espalhou primeiro na região do pescoço, seguindo para os pulmões e terminando no coração, que bombearia o veneno para o resto do corpo. O coração de Alice parou de bater exatamente no momento em que uma de suas visões finalizou. Ela fechava os olhos lentamente. Joseph precisava ser breve, não sabia quanto tempo restava para Alice, mas precisava mantê-la segura em algum lugar para que a transformação surtisse o efeito. Joseph carregava a garota para um lugar que ele achava que fosse seguro, uma estufa abandonada. Era distante do sanatório, ou seja, nenhum dos enfermeiros podia encontrá-la ali. Então Joseph deitou a cabeça dela no chão, enquanto ela ficava cada vez mais fraca e inconsciente. Ele manteve a guarda por dois dias seguidos, assegurando-se de que ninguém fosse ao local atrapalhar o seu plano.
O vampiro rastreador, James, agora corria por uma extensa floresta. O cheiro do sangue de Alice no ar foi como uma bala de êxtase na língua de James. Uma droga que funcionaria uma única vez, que o excitava e o deixava com mais vontade de matá-la. James subiu em uma árvore muito rapidamente, fungando com força. Sentiu a fraca essência do perfume de Alice entrar em seu nariz, e seus olhos vermelhos ficaram mais vivos. Ele abriu um sorriso malicioso ladino, altamente ativo.
Devido aos sentidos aguçados de Joseph, ele sabia que James estava por perto. Podia sentir aquele desgraçado de sangue frio sedento pelo sangue da jovem Alice. Bem distante, ele viu James por entre uma das árvores. Ele estava com um joelho apoiado em um tronco de árvore, em uma posição atenta. Podia ver Alice deitada sobre a grama, desejando drenar todo o sangue e alimentar a sua sede com aquele sangue que cantava seu nome suavemente. Em uma doce e melancólica melodia que só ele podia ouvir em sua cabeça doentia.
Não demorou para que James fosse correndo na direção de Joseph e que Joseph desferisse um golpe forte na cabeça de James, usando a primeira pedra que encontrou no chão. Os dois agora começaram a brigar, trocando golpes e sendo lançados no chão. James gostava daquilo, era masoquista, frio e calculista. Achava interessante lutar antes de matar a sua vítima, quase como um predador afogando sua presa apenas pelo prazer de vê-la morrer lentamente. Punhos cerrados cortavam o ar, sendo contidos por antebraços rígidos de proteção. O bradar de ódio de ambas as partes da briga se expandiram dentre as árvores, que pareciam gozar da situação conforme o vento batia contra suas folhas, colidindo seus amarelados tom de verde. Com a perfeita sincronia de ódio, tudo o que se consegue ver sob os olhos mundanos são sombras negras. Parecia sorte nenhum deles sangrar.
Antes que James conseguisse notar, seus ossos estalam em um chute impiedoso. Seu corpo se afasta do chão, lançado contra as rochas presentes no cenário tempestuoso de uma batalha épica, já chegando ao seu fim. Com a mão no abdômen, ele tenta encontrar algum ar antes de ser derrubado novamente, dessa vez, com um galho de árvore afiado o bastante para perfurar seu corpo e mantê-lo preso ao chão. Ainda que a dor não seja intensa o bastante para matá-lo, o incômodo o tirou o foco necessário para mudar o status daquela briga. Sua cabeça é apoiada na rocha conforme a sua mão encontra a metade do galho que perfura a região onde ficaria seu intestino, o revirando dentro de seu corpo antes de quebrá-lo, não rápido o suficiente para conseguir se levantar. Quando James se aproxima com o seu claro semblante odioso, Joseph parece perceber o ato fatídico. Seus olhos se fecham em um ato de rendição, causando um prazer que apenas Joseph sentia: rendição. Talvez a necessidade de James em se sentir superior o instigasse a impulsionar uma parte de si menos humana imaginável. Uma parte de si impiedosa, imprudente. Em um suspiro pesado, ele por poucos milésimos consegue convencer Joseph que sentia alguma culpa.
― Não me leve a mal, Joseph. Algumas pessoas simplesmente têm que morrer.
Posicionando as mãos sobre a nuca de Joseph, já pronto para o último golpe, o suplicar aflito do rapaz o obrigou a parar, por simples curiosidade. Talvez ele esperasse que ele clamasse pela própria vida, mas não. Quando os olhos de Joseph encontraram a irís sangrenta do rapaz, tudo o que ele conseguiu dizer foi: "Alice." James pareceu entender, mas nunca expressaria isso. Queria que Joseph partisse aflito. Que ele morresse, sentindo que morreu por nada. Em um movimento abrupto, a cabeça de Joseph se separa em seu corpo como o estilhaçar de um copo, não o permitindo ao menos mudar seu semblante antes de sua decapitação. James encara a cabeça do rapaz por instantes gloriosos, antes de cuspir contra o semblante sem vida. James gostava de sacrifícios, especialmente daqueles que achavam ter chances contra ele.
Alice estava morta. Ao menos, era assim que ela se sentia. Seu corpo pareceu estar ardendo em chamas pelos dois dias seguidos, embora ela estivesse imóvel durante todo a transformação. Ao abrir seus olhos, agora com a íris totalmente vermelhas devido ao veneno vampírico que corria em suas veias agora, era oficialmente uma recém-criada. Começou a correr em busca de sangue de forma imediata, então teve aquela visão com seu amor, como da primeira vez. Ela viu aquele rapaz alto, gentil e carinhoso novamente. Mas agora, tinha uma visão mais clara de seu rosto. Não era aquela imagem borrada que havia visto na primeira vez. Era como se o destino tivesse mudado, e havia mudado realmente. Aquele rapaz dos olhos de cor âmbar, cabelos de coloração loiro-mel e voz suave tocava os dedos de Alice, enquanto sorria lentamente. ― Me desculpa. ― ele dizia em sua visão. Alice não sabia o porquê dele pedir desculpas, mas sabia que era algo bom, pois Jasper sorria de forma educada. Não se lembrava de nada que houvera acontecido antes de sua transformação, era como se a terapia intensiva de eletrochoque tivesse aumentado logo após ela ter se transformado. Mas uma coisa era certa: se sentia cada vez mais forte agora. Seu olhar foi de encontro com o de James, Alice não fazia ideia do porquê dele estar perseguindo ela, mas ela fugiu. Correu o mais rápido que pôde. Tão rápido que não teve tempo de processar direito suas habilidades sobre-humanas ultra-velozes. O jogo de caça de James agora não tinha mais graça, o veneno tomou conta do sangue de Alice. Não seria a mesma coisa perseguí-la agora que ela era da mesma espécie que ele. Então, em um impulso de raiva, James grunhiu com bastante ódio e socou uma árvore com força. Seu soco contra aquele tronco teve tanto impacto que causou uma rachadura no meio da árvore. Feito isso, ele foi embora e deixou que Alice sentisse na pele o que era viver como um selvagem agora. A jovem estava faminta, ouviu os batimentos de cervo e imediatamente foi atrás dele para se alimentar com seu sangue. O veneno lhe trouxe uma garantia: intensidade na sua clarividência. Ela podia sentir suas premonições vindo com muito mais certeza. Era tudo tão concreto. Podia correr mais rápido que um jaguar, pular de alturas inimagináveis e fazer diversas coisas com suas novas habilidades. Mas isso é algo que ela acabaria se adaptando eventualmente, seu foco agora era apenas fugir daquele lugar e encontrar um abrigo, com uma família que a acolheria e a protegeria. Mas para que isso fosse possível, ela precisaria se tornar humana novamente.
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