Tudo que Alice acabara de ver, não passava de uma visão. Em um momento, ela estava no futuro. Podia ver a forma cruel e impulsiva que Jasper agia quando queria matar. Ela não o deixaria fazer isso, sabia que não era bom para ele, apenas sentia. O fascínio pelos olhos de Jasper a faziam repensar em possibilidades de mudar tudo. Suas escolhas criariam novas realidades, mas como ela não tinha muito tempo para pensar, decidiu agir pela emoção do momento. Como estava no presente de novo, tinha que ser rápida.
― A chuva não vai parar agora, então posso te segurar aqui por um bom tempo. ― ela disse de forma sugestiva.
― A chuva nunca foi um problema para mim. ― respondeu.
― Hum... mas você não quer ir embora. ― Alice afirmava.
― Exato.
― Então ainda bem. Porque estou gostando dessa coisa de você querer adivinhar o meu dom especial.
― Que por sinal está sendo um pouco difícil de decifrar. Por que não apenas me diz? ― ele sugeriu.
― Não vai ser tão fácil assim.
― Eu tenho a leve impressão de que vai, senhorita. ― ele sorriu.
― Veremos. ― desafiou-o
A cena se repetia exatamente como na visão, Lorraine deixou os pratos caírem. Antes que Jasper pudesse sequer sentir o cheiro do sangue dela, Alice o segurou pelo braço com força, o que fez ele olhar para a mão dela apertando-o quase que de forma imediata.
― Mas não precisa ser agora. ― ela disse.
Ao se inclinar para frente, não hesitou em puxá-lo para um beijo nos lábios. Jasper ficou em choque, não por Alice ser atrevida ao ponto de beijá-lo sem permissão, mas sim por sentir uma energia percorrendo seus corpos. Ele sentia seu corpo esquentar, Alice sentia os pêlos do braço, meramente visíveis, se arrepiarem. Jasper colocou a mão no maxilar de Alice, fazendo um carinho com o polegar naquela região. Lorraine pôde coletar todos os cacos de vidro e se retirar dali sem chamar a atenção de Jasper e reativar aqueles seus sensores assassinos. Ela não fazia a mínima ideia que seus dois únicos clientes presentes no estabelecimento eram vampiros. Melhor que continuasse assim.
O beijo só parou quando Alice tinha certeza de que Lorraine já estava nos fundos da lanchonete, distante o suficiente para que fosse cuidar daquele sangramento. Havia acabado de mudar o destino de Jasper, o que teve boas consequências, já que ele sorria novamente para Alice.
― Você é como uma caixa de mistérios. ― ele disse em um tom calmo.
― Você nem imagina. ― respondeu.
― A chuva está mais fraca, eu acho que podia te acompanhar até sua residência. Se me permitir, é claro. ― Jasper sugeriu.
― É uma ótima ideia, Jasper. ― ela afirmou com a cabeça.
Logo, ajeitou seu vestido e se levantou. Deixou uma quantia de dinheiro para pagar pelo café em cima da mesa. Lorraine poderia pegar quando desse um jeito naquele ferimento, sair dali o quanto antes era uma ótima opção. Jasper pegou seu guarda-chuva e foi logo depois de Alice. As ruas, como era de esperar, estavam desertas. Ele abriu o guarda-chuvas e Alice ficou perto dele, entrelaçando seu braço com o braço dele.
― Eu ainda acho que você controla o tempo. Como pode ter tanta certeza sobre tudo isso que vai acontecer, se você não tem controle sobre? ― ele a perguntou, curioso.
― Eu apenas sei. Desde que eu abri meus olhos, eu apenas sabia de tudo. ― Alice disse, parecia pensativa.
― Então você é intuitiva. ― ele afirmou.
― Faz parte, mas não é bem isso. ― retrucou.
― Eu desisto, é difícil dizer quando você está segurando meu braço. ― ele sorriu sem mostrar os dentes, enquanto olhava para frente.
― Eu estou te deixando nervosa? ― ela perguntou em um tom baixo.
Jasper olhou para ela enquanto eles caminharam. As gotículas de chuva batiam contra a parte de cima daquele guarda-chuva preto.
― Prefiro que você descubra por si só, já que é tão boa nisso, senhorita.
― Você não precisa me chamar de senhorita. ― Alice riu do jeito que ele falava tão educadamente.
― Alice. ― corrigiu-se.
― É melhor assim. ― ela disse aquilo e tomou o guarda-chuva da mão dele. Logo em seguida, fechou.
Aproveitaria que ninguém estava presente na rua para que pudesse correr.
― O que está fazendo? ― Jasper perguntou em confusão.
― Estou te desafiando a me pegar. ― Alice mirou para uma direção e jogou o guarda-chuva para o alto.
Deu uma simples piscadela para ele, depois começou a correr rapidamente. Atirou o guarda-chuva com tanta força que nem podia imaginar quantos metros o objeto já tinha percorrido. Para que não atingisse o chão e quebrasse aquele pertence de Jasper, Alice correu o mais rápido que pôde. Jasper seguiu ela, correndo também. Eles sorriam de forma desafiadora, tudo ao redor deles parecia em câmera lenta. Jasper correu para uma árvore, pulando de galho em galho com muita facilidade. Alice continuou correndo por baixo. Agora, ambos corriam para o topo de uma árvore muito rapidamente. Havia se tornado uma competição para ver quem conseguiria alcançar o guarda-chuva primeiro e estava dando muito certo. Jasper não se sentia tão animado em fazer algo há anos. Aquele guarda-chuva que cortava o ar, estava prestes a alcançar o chão, mas Alice foi mais rápida e pulou dali. Em um reflexo rápido, ela caiu no chão de pés e conseguiu pegar o guarda-chuva primeiro. Ao se virar, se deparou com Jasper, que segurou seu rosto.
― Nunca te ensinaram a não baixar a retaguarda? ― ela disse em voz baixa.
Escapou das mãos dele muito rapidamente, correndo para o topo de um galho de árvore na menor fração de segundos. Jasper a encarou por baixo, sorrindo. Ajoelhou-se, apoiando só um joelho no chão, como se estivesse prestando uma reverência.
― Aceito minha derrota, Alice. ― ele baixou a cabeça, depois levantou e sorriu para ela.
― Disponha. ― ela respondeu, ajeitando seu vestido. ― Como você não vai descobrir nunca meu dom, eu vou te dizer, eu tenho-
Antes dela finalizar sua frase, ele a interrompeu.
― Visões. Eu sei. ― ele afirmou, com um sorriso. ― Eu estava testando você, te deixando curiosa.
― Isso não é justo. ― Alice também sorriu, depois desceu lá de cima. ― Nós combinamos. Sabia que você não iria me decepcionar.
― Combinamos, é? ― Jasper perguntou sem esperar uma resposta.
Alice apenas segurou a mão dele e saiu caminhando, como se ela realmente o conhecesse há milênios. Por mais que Jasper fosse cético quanto àquelas coisas que Alice parecia acreditar, a esperança e animação dela o confortava. Pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu uma conexão boa, e também, acabou se desviando de pensamentos ruins. A doce Alice, por outro lado, teve uma visão com um clã de vampiros. Tinha certeza que eram os vampiros que mais tarde os "adotariam". Mas preferiu manter o silêncio por enquanto para que tivesse tempo o suficiente para conhecer Jasper melhor.
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