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História Equinócio - Não Julgue Um Livro - História escrita por IsaLindBelle - Spirit Fanfics e Histórias
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História Equinócio - Não Julgue Um Livro


Escrita por: IsaLindBelle

Capítulo 8 - Não Julgue Um Livro


Desde que Mina acordou uma manhã e viu os primeiros brotos rosa pálido surgindo dos galhos nus da árvore, a antecipação havia crescido dentro dela, borbulhando sob a pele. Com isso, veio a urgência da incerteza, a incerteza que a fazia andar em cima de cascas de ovo, tentando ler qualquer expressão desconhecida em um rosto ou tom na voz, buscando um significado oculto em cada gesto.

Mina ainda sentia como se estivesse esperando o momento em que a verdade seria revelada, que tudo, na verdade, fosse uma mentira.

Às vezes, em seus momentos particularmente agitados, ela olhava para a porta, esperando ansiosamente por um grupo de Oficiais MPs invadindo e levando-a embora.

Quando vou parar de questionar?

Ela olhava mais intensamente para Mike, que devolvia o olhar com uma expressão confusa.

Seus olhos se detinham em Nanaba, que se virava e franzia a testa para Mina. "O que? Tem alguma coisa no meu rosto?"

Amigos.

Essas pessoas são meus amigos?

O que isso significa?

Estamos todos apenas... usando uns aos outros?

 

__________

 

A reunião com o Comandante Erwin, na qual ele oficialmente declararia o fim do período de experiência e os declararia como membros plenos do Reconhecimento, foi inesperadamente adiado.

Petra explicou durante o café da manhã como a situação imprevista surgiu, na forma de uma descoberta sem precedentes.

Um adolescente havia sido descoberto com a habilidade de se transformar em um titã. Ele estava agora sob a segurança da Tropa de Exploração enquanto tentavam estudar a revelação mais a fundo e usar o garoto nos esforços para avançar na batalha da humanidade contra os titãs.

Mina ficou atônita, sem entender se era uma piada, sua compreensão do senso de humor das pessoas ainda era incerta.

Niklas murmurou algumas palavras escolhidas, perguntou se Petra achava que ele era um idiota e se ela havia escondido uma garrafa de bebida com o café da manhã enquanto sacudia a cabeça, incrédulo e irritado.

Só quando Petra explicou que eles provavelmente encontrariam o jovem em um futuro próximo e talvez vissem suas habilidades de perto é que finalmente a situação caiu a ficha.

Niklas deixou a cabeça cair sobre a mesa, gemendo.

"Por que? Por que é uma coisa atrás da outra?" Ele se queixou contra a mesa. "Esse lugar é insano. Estou começando a sentir falta do Subterrâneo, sabe? Pelo menos eu sabia o que esperar." Ele olhou para Mina, que compartilhava seus olhos arregalados. "Humanos se transformando em titãs?! Eu já tive o suficiente. Ei, quer dar o fora agora?"

Petra resistiu à vontade de bater na cabeça dele.

"Quanto tempo até o nosso grande dia então?" Niklas perguntou, mastigando pensativamente enquanto olhava para Petra.

Ela considerou. "Ele deve voltar até o final da semana. O Comandante está ansioso para ter vocês matriculados antes que os novos recrutas comecem a chegar."

"E você vai estar nessa pequena reunião?"

"Claro." Petra sorriu.

"Bem, tenho certeza de que você vai cantar louvores a nós dois, certo? Sei que podemos contar com você, Petra." Niklas sorriu de maneira travessa para ela. "Quem mais?"

"Todos os outros que estiveram trabalhando com vocês. Mike, Eld...Oluo-"

Niklas a interrompeu com um gemido. "Deixa pra lá então."

Ele lançou um sorriso para Mina. "Desculpe, Mina, eles provavelmente estão me expulsando. Agora você está por conta própria."

Mina franziu a testa para ele.

"Não brinque com isso." Ela murmurou.

"Pode haver outros lá, suponho que o Comandante queira que você conheça o maior número possível de nós." Petra continuou, ignorando o comentário de Niklas. "E o Capitão Levi, é claro!"

Mina visivelmente estremeceu ao ouvir o nome, o gesto captado por Niklas e Petra.

"Ei, o que é isso?" Niklas cutucou sua direção com o garfo, com a testa franzida.

"Só... poderia ter causado uma primeira impressão melhor, só isso." Mina falou baixinho.

Petra deu a ela um olhar simpático. "Ei, tenho certeza de que está tudo esquecido. O Capitão Levi não vai guardar rancor por isso, ele entendeu a posição em que você estava e o que você sentia que tinha que fazer naquele momento. Ele é um homem justo, Mina."

Mina mexeu na comida no prato, evitando o olhar de Petra.

"Estou falando sério. Quero dizer, ele pode parecer um pouco indiferente... abrupto... às vezes talvez até rude. Mas é importante não julgar um livro pela capa. Não conheço ninguém que se importe tanto com seus soldados quanto o Capitão Levi. Ele realmente se importa com todos nós. Em combate, vez após vez, ele luta por cada um de nós... ele ficará com os soldados até o último suspiro, se puder..." Sua voz ficou baixa, um olhar distante nos olhos, os lábios pressionados, memórias cruas borbulhando na superfície.

Niklas e Mina a observaram, preocupados por alguns segundos, antes que ela se afastasse das memórias, retornando a si mesma com um sorriso largo.

"Só não quero que vocês tenham uma impressão errada dele. Não se ofendam se ele não for tão... comunicativo com vocês. É apenas o jeito dele. Vocês têm muito mais em comum do que percebem."

"O que quer dizer com isso?" Niklas perguntou.

Petra balançou a cabeça rapidamente. "É, hum... não é meu lugar dizer exatamente por quê... só saibam que ele pode entender muito do que vocês passaram." Ela sorriu para Mina, um pequeno riso escapando dos lábios. "Na verdade, acho que você terá muito mais em comum com ele, Mina... ele é uh... estranho à sua maneira. Pode não ser o tipo de estranheza de que você gosta, mas talvez você realmente aprecie o jeito dele." Ela lançou um olhar preocupado para Mina repentinamente, os olhos claros arregalados com medo de ter causado algum ofensa. "Desculpe, não que você seja estranha de um jeito ruim, claro! É, na verdade, cativante!"

Mina desviou os olhos do escárnio de Niklas.

"E... por favor, não conte a ele que eu o chamei de estranho, se puder?" As bochechas pálidas de Petra coraram de rosa, imitando o tom morango de seu cabelo.

Mina acenou com a cabeça.

Eu duvido que isso vá surgir na conversa.

"Então, esse tal de Capitão Levi?" Niklas estava olhando para Mina, olhos buscando a atenção dela. "Acho que lembro dele. Ele é o que salvou sua vida?"

Mina estremeceu internamente novamente.

Eu realmente estava tão desesperada naquele dia?

Que estava preparada para acabar com tudo?

Eu não estava com medo.

Mas naquele momento... eu me sentia pronta.

Como se não houvesse outra saída...

Mas agora....

Mina acenou com a cabeça. "É..." ela tossiu de forma constrangedora enquanto Niklas observava, não tendo perguntado sobre o incidente, sabendo que Mina estava muito envergonhada com suas ações para querer falar sobre isso. "Ele me pegou."

"Huh." Niklas disse, olhando para o prato, acenando com a cabeça. "Parece que eu devo um agradecimento a esse cara, afinal."

 

__________

 

O dia havia chegado.

Mina sentiu um choque em seus ossos quando olhou no espelho, os olhos procurando através do estranho no reflexo para encontrar a si mesma. Seu estômago se contorceu inquieto enquanto ela levantava o braço, assistindo a figura no reflexo copiar os movimentos, sentindo a pele da testa enquanto ela ajeitava um pequeno fio de cabelo atrás da orelha.

Mina não havia olhado adequadamente para sua reflexão há muito tempo, apenas pegando vislumbres de si mesma em superfícies de vidro ou espelhos, às vezes olhando rapidamente quando examinava um ferimento, cuidadosa para se concentrar em um ponto, borrando o resto.

Mas ainda assim, a pessoa que ela via agora no espelho parecia um impostor, um corpo que a mantinha refém, uma entidade estrangeira...

Mina olhou mais, observando seu rosto, seus olhos, a estranha sensação peculiar começando a desaparecer até que tudo parecia se encaixar.

O corpo parecia familiar.

Não era o que ela estava acostumada.

Não era o que ela esperava.

Mas parecia ser dela.

"Você está muito bonita." Petra disse suavemente, incerta sobre como interpretar o olhar arregalado e inexpressivo de Mina.

Mina piscou repentinamente, virando-se para olhar para Petra com a mesma expressão perplexa.

"Bonita?"

O que me faz bonita?

Como se vê ou se julga ou se mede a beleza?

Se ela pudesse ver mais... ainda me chamaria de bonita?

"Você parece forte. Saudável. Como uma soldado." Petra reafirmou rapidamente, antes de hesitar novamente. "Mas ainda assim... bonita também."

Bonita?

Quando ela pensava nessa palavra... nunca estava associada a si mesma... ou a qualquer outra pessoa ao seu redor... apenas a uma pessoa.

"Minha mãe era muito bonita." Mina disse de repente, pensando em seu rosto, sempre suave apesar dos seus dias mais doentes, olhos sempre quentes, enrugados com seu sorriso brilhante.

Petra piscou, seu rosto suavizando. "Tenho certeza de que ela era. Ter você como filha... ela deve ter sido linda."

 

Petra sentiu Mina hesitar atrás das portas duplas, os passos vacilando ligeiramente.

Ela estava se lembrando, lembrando-se da última vez que esteve ali, com as mãos algemadas, empurrada para dentro da sala, machucada e quebrada, sem saber se aquele seria seu último dia de vida.

"Ei." Petra sussurrou suavemente.

Mina olhou para ela.

"Arrase, ok?"

Mina só conseguiu sorrir timidamente em resposta.

Petra empurrou as portas, entrando primeiro antes de deixar Mina passar à frente, parando no centro da sala, ciente do Comandante em sua mesa e das várias caras familiares reunidas nas paredes da sala.

Mina tentou desfocar as figuras enquanto permanecia sob o raio de sol que entrava pelas janelas arqueadas, sabendo que todos os olhares estavam avaliando-a. Quase seis meses haviam se passado desde que ela viu alguns dos rostos. Aqueles seis meses haviam limpado sua aparência, moldado seu corpo, de maneira que a Mina, de todos aqueles meses atrás, suja e desgastada, mal poderia ser encontrada.

Apesar do frescor de sua forma, ainda havia as velhas cicatrizes persistentes. Elas não podiam ser escondidas por cabelo ou roupas, mais visíveis do que nunca na vida de Mina, um lembrete de quem ela sempre seria.

Mesmo aqueles, como Mike e Nanaba, que haviam treinado com ela mais, e estavam mais próximos dela ao longo dos meses, não haviam visto suas cicatrizes assim.

Os olhares caíram primeiro em seu rosto.

As cicatrizes eram mais evidentes ali, sem cabelo caindo para esconder a bochecha direita, a cicatriz mais profunda da têmpora até a linha da mandíbula sempre era a primeira que as pessoas notavam. Seus olhos então seguiam as lacerações que cobriam a linha do cabelo, a pele ao redor da orelha, se espalhando pelas bochechas, descendo pela face, acima da mandíbula.

O botão branco do uniforme deixava seu pescoço descoberto, a inclinação até o ombro e o início da clavícula visíveis. Ali também estavam as cicatrizes, algumas profundas e escuras, outras leves e rápidas, muitas para contar enquanto cruzavam o lado direito do pescoço e da clavícula, desaparecendo sob a camisa. Ela sabia que olhariam para a linha horizontal mais escura, o corte que atravessava o pescoço e quase cortava fundo demais.

Os olhares continuaram para seus antebraços expostos, a camisa enrolada até os cotovelos, escondendo as cicatrizes ao longo do ombro e do braço superior, mas expondo os cortes que desciam até os pulsos, variando em profundidade, mas todos muito cuidadosos, evitando qualquer coisa muito profunda, evitando áreas que poderiam atingir uma artéria.

Calculado.

Tudo o que Mina havia escondido por anos, suas partes mais vulneráveis, agora à mostra.

Não apenas a pele exposta, mas seu corpo, agora com um peso saudável, notavelmente mais forte nas pernas, a curva dos quadris e os músculos dos braços, sem cotovelos saltados ou ossos dos pulsos proeminentes. Mina não havia entendido o que roupas em um corpo assim poderiam sentir, mas ficar em pé, repentinamente em um material que se grudava a ela, delineava seu corpo, sem material caído ou frouxo para se enroscar, parecia uma exposição diferente.

Seu corpo irreconhecível, assim como seu rosto.

Ela havia preso o cabelo para trás, recusando-se a cortá-lo apesar dos pedidos de Petra, transformando a longa e cacheada cabeleira em uma única trança que chegava até a base das costas. Seus ossos das maçãs do rosto ainda estavam altos, mas havia uma redondeza em seu queixo e mandíbula, sem mais pele murcha e pálida, volume onde antes havia magreza. Seu lábio superior cheio ainda se erguia ligeiramente, mostrando os dentes superiores, seu nariz ligeiramente torto, sobrancelhas escuras, olhos ainda grandes e caídos, mas não mais saindo de órbitas vazias, sem os tons roxos ou azuis ao redor. Sua pele estava mais brilhante, ainda pálida de anos de escuridão, mas com um leve tom oliva, um rosado na ponte do nariz e nas bochechas do sol, uma leve salpicada de sardas.

Seus olhos pareciam de alguma forma mais claros, alguns tons desbotados do azul marinho original, seu cabelo quase negro capturando de repente tons de marrom profundo à luz do sol.

Ela ficou ereta, ombros relaxados, pescoço longo e reto, mãos entrelaçadas atrás das costas.

Para aqueles que a treinaram nos últimos seis meses, e para aqueles que não a viam desde então, a mulher de pé no escritório de Erwin era quase irreconhecível.

"Mina." Ela moveu os olhos ao ouvir seu nome, olhando para ver Niklas se levantando da cadeira, vestido com o mesmo uniforme.

Ela notou que ele parecia maior no uniforme, largo e robusto, quase como se tivesse crescido também, o tom de areia de seu cabelo mais claro, um tom rosado em seu rosto antes pálido.

"Ei. Quem é você e o que fez com a Mina?" Ele tentou sorrir, mas havia um olhar distante em seus olhos.

Mina sabia que ele estava brincando, mas a pergunta inofensiva parecia ricochetear dentro de sua cabeça.

O que eu fiz com a Mina?

Ou será que... agora eu finalmente me sinto como Mina?

"Eu não via seu cabelo assim desde..." Niklas hesitou, sem saber antes de seus olhos se fixarem nela novamente.

Desde antes das cicatrizes.

"Você se parece exatamente com ela, Mina... sua mãe... a cara dela."

Mina sorriu.

"Uau." Ela ouviu um assobio baixo e virou os olhos para ver Nanaba sorrindo para ela. "Quem diria que você se limparia tão bem, hein?"

Seus olhos percorreram a sala para ver Oluo, Eld, Gunther e Mike, todos com expressões variadas de diversão e indecifráveis.

Seus olhos pousaram em uma figura desconhecida, sentada ereta em uma cadeira, cabelo castanho preso de maneira desleixada na cabeça, olhos grandes atrás de um par espesso de óculos, um sorriso alegre no rosto que apenas se alargou quando seus olhos se encontraram com os de Mina.

Mina deslizou rapidamente os olhos sobre o estranho, antes de parar em outro rosto familiar, um que parecia exatamente igual ao que tinha há seis meses. Ele estava encostado na parede mais distante de onde ela estava, encostado em um canto, braços cruzados sobre o peito, fios de cabelo escuros caindo sobre seu rosto enquanto ele a observava, desviando os olhos para Erwin quando seu olhar se deteve nele.

Capitão Levi.

Ela finalmente deixou seus olhos se fixarem no Comandante, que se inclinou para frente em sua cadeira com um pequeno sorriso satisfeito.

"Boa tarde, Mina. É um prazer finalmente vê-la novamente."

Ela assentiu.

"Olá, Comandante."

"Ah. É bom ouvir sua voz também. Como foram os últimos meses de treinamento para você?"

Mina olhou rapidamente para Niklas, se perguntando por um breve momento se ele já havia estado onde ela estava e respondido as mesmas perguntas, se ele havia se conformado, se ele havia oferecido resistência... se estavam esperando sua reação primeiro.

Ela não conseguiu ler sua expressão, seus olhos ainda fixos nela como se tentassem encontrar algo.

Ela lambeu os lábios, ciente de que a pergunta ainda pairava no ar.

Ela ainda estava cautelosa com Erwin acima de tudo, e ter que falar com uma audiência, todos olhando, esperando, observando, abalava seus ossos de tal forma que seus dedos escorregaram de seu entrelaçado, uma unha de seu dedo indicador enterrando-se na palma da mão.

Ela desviou os olhos para a janela, um movimento não perdido pelo Comandante e Levi, focando nas faixas de luz solar que cortavam a sala.

"Eu acho que foi muito bem." Ela escolheu suas palavras com cuidado. "Eu aprendi muito."

"De fato. Você tem um relatório brilhante de todos aqui nesta sala que tiveram o prazer de treiná-la."

Os olhos de Mina piscavam na luz solar.

O elogio parecia estranho.

Eu só fiz o que pediram de mim.

Certamente era isso que se esperava...

"Acredito que você possui todas as qualidades necessárias para se tornar uma excelente soldado, Mina Verenich. Você já está no caminho certo e, com a orientação e experiência adequadas...todos acreditamos que você pode se tornar um recurso extremamente valioso em nossa luta pela liberdade da humanidade. Quem sabe o que o futuro pode reservar para você."

O futuro?

Eu me pergunto... Se eu realmente fizer isso... que futuro eu terei?

"Vejo que você é determinada. Seu progresso em um período tão curto de tempo é louvável. Não apenas fisicamente, mas mentalmente, a mudança é aparente. Sua dedicação e disposição para aprender são, sem dúvida, uma das partes mais importantes de ser um soldado. Não é algo que pode ser ensinado."

Os olhos de Mina começaram a arder enquanto ela continuava a olhar para os raios de sol.

Dedicada... determinada... para quê?

Meu futuro?

Futuro de Niklas?

Futuro da humanidade?

Por que eu faço isso?

Por que eu fiz tudo isso?

"Fazer parte da Tropa de exploração não é uma tarefa fácil, tenho certeza de que você já aprendeu isso. O que você experimentou no treinamento até agora é apenas um gostinho. O verdadeiro desafio, fora das muralhas, enfrentando a morte a cada passo..."

Enfrentar a morte a cada passo?

Isso não tem sido sempre minha vida?

Todo dia tentando não morrer.

Todo dia tentando sobreviver.

Então, se eu fizer isso... o que realmente vai mudar?

A chance de um futuro?

Um futuro que não é garantido... continuo lutando todos os dias para viver para quê...?

...para mim mesma?

Para algo que mal consigo imaginar, pois está tão fora de alcance...

"Mas aceitar esse medo... deixar tudo de lado... ignorar todo instinto em seu corpo para continuar lutando... pelo bem da humanidade... pelo bem de um futuro sem muralhas... sem titãs... para descobrir a verdade..."

Pelo bem da humanidade?

O que o resto da humanidade já fez por mim?

Eu deveria lutar pelo futuro deles... mas e o meu próprio futuro?

Como isso é justo?

.....

Um mundo sem muralhas.

Um mundo com um futuro.

Um mundo sem medo.

Se eu não puder ter essa chance... eu realmente poderia dar isso a outra pessoa?

Sou capaz disso?

"Você acha que é capaz, Mina?"

Ela se sobressaltou repentinamente, desviando os olhos da janela para ver Erwin a observando curiosamente, notando sua expressão desapegada, seus olhos arregalados, buscando respostas não dele... buscando em outro lugar.

Ela não viu as sobrancelhas franzidas de Petra, nem os olhares cansados dos homens. Não notou o olhar duro de Nanaba ou os olhos preocupados de Niklas.

Não viu a forma como Levi observava cada mudança em seu rosto, observando-a com uma concentração intensa.

Sou capaz de viver pelos outros?

Acordar todos os dias e não lutar apenas por mim mesma?

Eu costumava ser... costumava lutar pela minha mãe... por Max.

Talvez eu não possa ter o futuro que eu queria... mas os outros podem.

Eles podem... por minha causa.

Uma imagem surgiu em sua mente das crianças no orfanato, sempre sorrindo apesar dos rostos cansados e corpos pequenos, ainda capazes de ter esperança e sonhar com algo mais.

Um mundo sem titãs... sem muros...

...para elas... o que isso significaria?

Um futuro?

Eu poderia dar isso a elas?

"Mina. Você está pronta para dedicar seu coração?"

Dedicar meu coração?

A isso.

A essa causa.

A quase certamente morrer por essa causa...

....

Não.

Eu fiz uma promessa.

Eu fiz uma promessa para minha mãe.

Para Niklas.

Para Max.

Eu tenho que fazer o que for necessário... por todas as promessas que fiz...

...para mantê-las.

Para permanecer viva.

Eu farei tudo o que eu puder.

E se eu não conseguir...

...pelo menos estarei lutando pela vida que eu poderia ter tido...

...talvez um dia possa ser a vida de outra pessoa.

Os olhos de Mina se focaram repentinamente, não mais dispersos, repousando somente em Erwin, que também percebeu a determinação.

Ela não olhou para Niklas, não precisou ler sua expressão para solidificar sua decisão.

Ela ergueu o braço com firmeza, cerrando seu punho direito e pressionando-o contra o peito, sentindo o batimento de seu coração.

Estava silêncioso.

"É um prazer ter conquistado sua confiança, Mina." Erwin finalmente disse, com um leve sorriso nos lábios.

Ela o encarou.

"Espero poder continuar conquistando o seu." Ela respondeu.

"Então é isso." O sorriso de Erwin se curvou novamente. "Os novos recrutas chegarão em breve. E você será uma deles. Você treinará com eles, mas como você e Niklas ainda estão claramente atrás em termos de habilidade e força, seu treinamento básico individual continuará. Você terá um mentor para isso, alguém que pode monitorar seu progresso e adaptar seu treinamento para suas áreas específicas de fraqueza. Eles designarão o soldado que acharem mais adequado para ajudá-la."

Erwin fez uma pausa enquanto Mina esperava com expectativa, o coração ainda batendo forte na garganta.

"O Capitão Levi supervisionará os próximos meses do seu período de treinamento. Se tiver algum problema, por favor, relate a ele. Espero que se aprenda muito com a orientação dele."

Mina piscou, o coração estancando por um segundo, mas se forçou a manter os olhos longe do homem no canto, sem olhar para ver se ele estava a observando ou não.

Ela simplesmente acenou com a cabeça em compreensão e Erwin ofereceu novamente o tilintar dos lábios.

"Bem-vinda a Tropa de exploração, Mina."

Mina viu Niklas se mover pelo canto do olho, mas outra figura o superou, aproximando-se para dar uma palmada no ombro dela e puxá-la para perto.

"Essa é minha garota." Nanaba a sacudiu gentilmente. "Bom ver esse rosto."

Ela a acolheu sob o queixo de maneira brincalhona enquanto Niklas avançava, tentando chamar a atenção de Mina.

"Muito bem, Mina." Outra mão estava gentilmente batendo em seu ombro e Mina olhou para ver Mike sorrindo para ela.

Ela acenou para ele, movendo-se para enfrentar Niklas antes de ser interrompida novamente.

"Mina!" A voz desconhecida gritou em seu ouvido, uma figura aparecendo como que do nada, uma mão agarrando a dela e sacudindo-a com tanta força que fez o corpo de Mina estremecer. "Muito prazer em conhecê-la! Eu sou a Líder de esquadrão Hange!" A pessoa de óculos falou, continuando a sacudir sua mão.

"Prazer em conhecê-"

"Você parece uma garota inteligente! Vontade de aprender, hein? Sim, eu li seu relatório. O que você sabe sobre titãs? Mais importante, o que você quer saber sobre titãs? É fascinante, não é? Tantas perguntas sem resposta ao nosso alcance! Bem, ao meu alcance! Ao seu também, se você estiver interessada!"

Sua mão ainda estava sendo sacudida violentamente e Niklas avançou para tira-la de seu alcance.

"Ei." Ele olhou para Hange com desconfiança. "Você não é aquela maluca que faz experimentos com titãs?"

Hange simplesmente riu enquanto os olhos de Mina se arregalavam, agora se lembrando da pessoa de uma conversa anterior com Petra.

"Derrotar titãs não é só uma questão de força bruta, sabe? Precisamos de conhecimento para superá-los, para dominá-los! Quanto mais entendemos sobre eles, melhores serão nossas chances! Não é tão louco quanto todos fazem parecer. Deve ser feito!"

"É... claro." Niklas murmurou, puxando Mina para trás com cautela.

"Ah, vamos lá, Mina, você não está nem um pouco interessada? Aposto que você não sabe nada sobre titãs. Não gostaria de aprender?" Hange se inclinou para frente curiosamente e Mina observou o brilho nos olhos por trás dos óculos.

"Viu! Eu vejo isso nos seus olhos! Essa vontade de aprender!" Hange exclamou vitoriosamente.

"Estou te dizendo, o que você quiser saber, venha até mim, certo? E eu estou sempre à procura de rostos novos para trazer novas ideias! E se você quiser uma experiência mais prática com os titãs, estou aceitando voluntários!"

"Hange."

A voz baixa interrompeu a mistura de ameaça e exasperação. Mina observou enquanto o Capitão Levi dava alguns passos à frente, com os braços ainda cruzados sobre o peito, o rosto impassível.

"Feche a boca, ok?"

"Estou apenas conhecendo a garota que pode se tornar uma possível membro do meu esquadrão!" Hange piscou para Mina, que simplesmente olhou de volta com uma expressão confusa, enquanto Niklas mantinha uma atitude cautelosa entre eles.

"Sim, claro. Você não vai chegar nem perto dela de novo." Ele murmurou no ouvido de Mina.

"Vocês dois... aproveitem o resto do dia." O Comandante chamou Niklas e Mina. "Os novos recrutas chegam amanhã. Aproveitem um tempo para vocês antes que fique movimentado."

Mina se perguntou se ele poderia estar se referindo a...

"Nós dois? Tipo... só nós?" Os olhos de Niklas se arregalaram.

O Comandante assentiu e Niklas sorriu.

"Não precisa nos dizer duas vezes. Vamos, Mina." Ele segurou seu antebraço para dar um leve puxão quando ela hesitou.

"Espere." Ela sussurrou para ele.

Ele olhou para ela, mas soltou, permitindo que ela se virasse de volta.

Ela compos seu rosto enquanto fazia isso.

"Capitão Levi." Ela o abordou calmamente, observando enquanto ele ergueu a cabeça surpreso para encontrá-la.

"Eu sinto muito pelo que eu fiz... naquele dia... no seu ombro."

Os olhos cinzentos dele se encontraram com os dela por apenas um segundo antes que ele desviasse o olhar, respondendo-a em um tom baixo.

"Foi apenas um arranhão."

Certo.

O mais forte da humanidade, afinal.

Não foi nada para ele.

"Mesmo assim." Ela acenou para ele. "Sinto muito. E obrigada."

Ela se virou antes que pudesse ver a resposta dele, permitindo que Niklas a conduzisse para fora da sala.

 

__________

 

"Isso é bom."

Mina fez um leve som de concordância. Ainda havia um frio no ar, a primavera apenas começando, mas o céu claro e o sol alto da tarde proporcionavam-lhes um manto de calor, suave e reconfortante. Mina sentia a grama arranhando seus antebraços e sabia que haveria terra em seu cabelo e em seu uniforme limpo.

Ela não se importava, não com a brisa acariciando-a, o cheiro da terra, o som dos pássaros.

"Você acha que podemos ter isso?"

Mina virou a cabeça levemente para a direita para observar Niklas que estava deitado ao lado dela, mão estendida em direção ao céu, olhando para o sol.

"Todos os dias. Imagine. Só nós. O céu. As estações mudando." Ele virou a cabeça para olhar para ela. "Podíamos fazer isso."

Mina sorriu levemente.

"Isso é o que queríamos, certo? Estar aqui fora... mas não... não assim." Sua mão agarrou sua camisa, apertando o uniforme. "Não somos livres assim."

Mina ficou quieta por alguns segundos.

"Eu penso na minha mãe e no Maxi aqui fora."

Niklas a encarou intensamente enquanto ela olhava de volta para o céu, sem encontrar o olhar dele.

Ficou quieto novamente, até os pássaros pararam de cantar, o farfalhar do vento havia enfraquecido.

"Maxi teria adorado os campos e as árvores. Correr por aí e escalar. Eu ouço as folhas ao vento e vejo ele atrás das minhas pálpebras. E minha mãe... ela teria amado o sol... Eu imagino o jardim dela assim... muita grama e árvores... flores que ela colhe todos os dias e leva para dentro... vegetais que ela cultiva... correndo atrás do Maxi à noite, quando ainda está quente apesar do sol se pôr."

"Mina." A voz dele tremia tristemente.

"Eu consigo imaginar tudo isso."

Ele se sentou, olhando para ela intensamente.

"Podemos fazer isso... Eu posso fazer isso acontecer, Mina... ainda estamos jogando o jogo, certo? Podemos sair daqui... vamos simplesmente... vamos simplesmente fugir."

Mina sorriu tristemente. "Niklas."

"Estou falando sério. Dane-se a Tropa de Exploração. Olha, estamos longe aqui. Vamos fugir agora."

"Pare."

"É a única maneira... só podemos ter um gostinho disso aqui... respondemos a todos os outros... não temos controle sobre nossas próprias vidas... sim, nos alimentaram com promessas para depois que tudo isso acabar, mas vamos chegar muito longe? Quais são as chances? Quantos soldados passam anos lutando contra titãs e sobrevivem para contar a história?"

"Niklas."

"Não. Isso não é suficiente. Ficar aqui. É só uma fração do que poderíamos ter... nosso futuro depois disso não está garantido... se formos... corrermos agora... pelo menos... retomamos o controle... temos voz... nós-"

"Niklas. Não podemos simplesmente fugir agora. Não vamos sair daqui tão facilmente."

"Estamos longe agora... o guarda mais próximo não tem seu DMT, eu vi quando passamos... se corrermos bem rápido... usarmos as árvores como cobertura... poderíamos... há uma chance."

"Uma chance em um milhão."

"Ainda é uma chance. Imagine. Se a aproveitássemos. Saímos daqui."

"E para onde iríamos?"

"Para qualquer lugar! Encontramos um lugar fora do radar... fazemos o que fazemos melhor... encontraremos alguém para nos acolher... mesmo que não tenhamos nada... temos um ao outro... e temos isso." Ele estendeu os braços, inclinando o rosto para o sol. "Essa liberdade. Será nossa."

Mina o observou, seu rosto se contorcendo de tristeza enquanto o rosto dele se desmanchava, o sorriso no rosto dele vacilando, a ruga em suas sobrancelhas aprofundando-se, seus olhos se abrindo, encontrando os de Mina marcados pelo desespero.

"Não vale a pena tentar?"

"Eu gostaria que pudéssemos." Ela sussurrou, mãos cavando na terra, puxando a grama. "Fazer nossas próprias escolhas. Viver nossa vida do jeito que queremos... mas não podemos... você sabe que não podemos simplesmente fugir agora."

"Por quê?" Sua voz era quase um sussurro rouco.

"É uma chance em um milhão. Se nos pegassem agora, estaria tudo acabado. Eu não estou disposta a correr esse risco. Não estou disposta a morrer por isso... a deixar você morrer por isso."

"Isso não vai acontecer. Você sabe que eu prometi que não deixaria você morrer. E você me prometeu que não morreria."

Ela fechou os olhos.

"Você sabe que estou falando sério. Não importa o que aconteça, você não vai morrer, Mina. Você vai viver tudo isso. Você tem tanto para viver... tanto que quer fazer. E você vai conseguir. Eu prometi isso a você."

"Niklas... não fale assim."

Ele deu de ombros, voltando a olhar para o sol, os ombros caindo, a urgência desaparecendo de sua voz, aceitando a derrota.

"Você me fez essas promessas que eu não pedi," disse Mina. "Por que é que, quando eu peço para você ficar vivo... você não pode me prometer isso?"

Ele sorriu, olhos fechados em direção ao sol. "Fácil. Você tem muito mais pelo que viver."

"Ni-"

"Você é uma boa pessoa. Você faz coisas boas. E precisa viver para mostrar isso a mais pessoas, para trazer mais bondade a este mundo."

Mina ficou quieta enquanto as palavras pareciam perfurar seu coração, paralisando-a por alguns segundos.

"Ugh." Ele caiu para trás, deitando-se de costas no chão novamente. "Você sabe, eles realmente ainda não confiam em nós."

Sua voz voltou a ser leve e brincalhona.

Mina sentiu seu coração finalmente bater.

Ela olhou para ele com curiosidade diante da mudança de tom.

"Você tem o Capitão Levi supervisionando seu treinamento agora. O Comandante me disse que eu tenho o Miche."

Mina franziu a testa. "Por quê?"

Niklas deu de ombros. "Como eu disse... eles ainda não confiam em nós... tentando nos manter separados o máximo que podem. Estaremos em regimes de treinamento diferentes, então quem sabe com que frequência vou ver você agora."

Mina franziu os lábios.

"Bem." Ele suspirou. "Acho que um minuto atrás eu estava falando sobre fugir... então reclamar sobre confiança é meio irrelevante."

Ele inclinou a cabeça para olhá-la.

"Você confia neles?"

"Você ainda acha que estão armando algo para nós?" Ela retrucou.

"Talvez."

Ficou silencioso.

"Você não respondeu minha pergunta." Niklas murmurou.

Mina pensou em Mike, seus acenos de aprovação, seu encorajamento silencioso.

Ela pensou em Petra, suas palavras gentis e sorriso reconfortante.

Ela pensou em Nanaba, sua atitude prática, sua sinceridade feroz.

Pensou em seu pai, o homem que deveria passar a vida protegendo-a.

Ela pensou em Kenny, o homem que ela achava que queria substituí-lo, ser o pai que ela deveria ter tido. Pensou em como Kenny a deixou acreditar nisso, acreditar para seu próprio benefício... até que ela fosse velha o suficiente para perceber.

Até que ela deixasse de ser útil para ele.

"Eu não confio em ninguém além de você." Mina disse calmamente, olhando para ele antes de voltar o olhar para o céu.

"Sim." Ele disse, com um suspiro de contentamento.

De tristeza.

"Eu também."

 

__________

 

Petra tinha deixado o quarto de Mina naquela noite, outro grupo de soldados vindo para remover sua cama, substituindo o espaço por um pequeno armário, um pouco gasto.

"Você finalmente tem um lugar para suas coisas!" Petra sorriu enquanto Mina ficava sem jeito, as únicas coisas que lhe pertenciam sendo sua medicação, roupas de treino extras, e várias flores e folhas de outono que ela tinha colocado no parapeito da janela.

Havia mais espaço para as pernas sem a cama extra, mas de repente o espaço parecia grande demais, vazio demais, excessivo demais para Mina ter só para si.

"Eu pensei que você dividiria com os novos recrutas, mas parece que eles não tinham utilidade para este quarto de qualquer maneira. Eu sei que ainda é muito pequeno, mas nem mesmo alguns dos veteranos têm seu próprio dormitório!" Petra encorajou, observando enquanto Mina abria uma gaveta do armário para colocar suas roupas cuidadosamente dobradas, as outras gavetas permanecendo fechadas e vazias.

Mina não dormiu bem sozinha naquela noite.

 

__________

 

Petra chegou cedo para buscar Mina na manhã seguinte, mais cedo do que o horário usual do café da manhã, e Mina seguiu Petra até o refeitório, confusa com a quietude no ar, ainda mais surpresa quando entrou no refeitório e o encontrou completamente vazio.

"Então." Petra sorriu para Mina, mas não a olhou nos olhos.

"Os recrutas ainda estão chegando ao longo do dia. O Comandante achou melhor dar alguns dias para ajustarmos nossos horários, para resolvermos todas as questões antes de você ser jogada no meio deles!"

"Onde está Niklas?" Mina simplesmente perguntou em resposta.

Ela observou enquanto Petra desviava o olhar mais uma vez.

"Oh... deve ter dormido demais!"

 

Mina passou os três dias seguintes sozinha, fazendo exercícios de força e resistência com Eld ou Petra o dia todo, sem Mike ou Nanaba por perto.

Ela recebeu garantias de que tudo voltaria ao normal em breve.

Ela comia sozinha nas refeições, sempre conduzida por Petra para a cantina mais cedo do que o normal, apenas vislumbrando novos cadetes ao sair, passando por eles nos corredores, vendo-os de longe no campo de treinamento, passando por corpos sem rosto a caminho dos banheiros ou chuveiros.

Ela não tinha visto Niklas.

Petra explicou que ele estava ficando com Mike por um tempo e ajudando-o com o trabalho no terreno. Era isso que o mantinha longe nas horas das refeições, Petra havia garantido a Mina, muitas vezes descendo com Mike mais tarde do que qualquer outra pessoa.

Mina apenas assentiu, sempre observando a maneira como Petra desviava os olhos.

No quarto dia, Petra veio buscar Mina mais tarde. Seu sorriso estava mais largo enquanto ela estava na porta de Mina, seus olhos mais brilhantes.

"Certo! Estamos prontos. Você está pronta para encarar a multidão?"

Mina ergueu as sobrancelhas, mas assentiu.

Ela hesitou alguns passos atrás de Petra enquanto caminhavam para o refeitório, seus punhos cerrados, relaxando, os dedos se movendo para alisar sua camisa, desejando poder desabotoá-la, deixá-la solta ao redor dela, desejando poder desdobrar as mangas e soltar o cabelo da trança.

Ela engoliu em seco ao ouvir vozes, um zumbido distinto, um murmúrio de conversas e risadas.

Não ouvi tanto barulho desde...

...Não desde que deixei o Subterrâneo.

Petra parou, sorrindo enquanto Mina se posicionava ao lado dela na entrada do refeitório, olhando para ela com olhos suaves e encorajadores.

Mina pressionou as unhas nas palmas das mãos, os olhos varrendo nervosamente o refeitório lotado. Pessoas amontoadas nos bancos, vagando ao redor, encostadas nas paredes, todas rindo ou conversando, braços jogados nos ombros, sorrisos e ocasionais provocações pelo salão.

"Ainda está bem agitado. Eles ainda estão muito empolgados, ao que parece." Petra tentou explicar, observando os olhos arregalados de Mina percorrerem nervosamente a sala.

É muita gente...

Eu não posso...

Eles vão me ver...

Tudo o que eu sou...

Uma risada estrondosa interrompeu os pensamentos de Mina, quebrando as preocupações em pedaços que se espalharam em sua mente, obscurecendo sua visão por alguns segundos enquanto ela procurava desesperadamente a origem do som.

Niklas.

Ela o encontrou, no centro da sala, sentado em um banco, espremido entre um grupo de pessoas, todos amontoados, sem tocar nos pratos de comida enquanto riam, a maioria olhando para Niklas, observando seus gestos e ouvindo suas palavras.

Mina observava, suas bochechas coradas, olhos brilhantes, jogando a cabeça para trás para rir novamente, as pessoas ao seu redor ecoando sua risada.

Ele olhou para cima de repente, como se a sentisse, os olhos procurando por ela.

"Mina!"

Ele se levantou rapidamente, um olhar de alívio claro em seu rosto, saindo do banco rapidamente para caminhar até ela.

Mina tentou manter os olhos fixos, focando no rosto dele e não nos olhares curiosos daqueles que observavam para ver quem havia atraído a atenção dele.

Ele a puxou para um abraço, apertando-a firmemente.

"Aqueles babacas." Ele murmurou em seu ouvido para que Petra não ouvisse, antes de se afastar. "Eles não me deixaram ver você! Sabe quantas voltas eu tive que correr por sua causa?! Eu estive no pé deles esses últimos dias; tem sido uma loucura!" Ele a puxou para um abraço novamente. "Eu sabia que não havia nada de realmente errado... Só odiava não saber como você estava." Sua respiração fazia cócegas em seu ouvido, o alívio em seu tom fluindo pela sua pele.

Ele se afastou, notando sua expressão confusa enquanto Petra ria, nervosa.

"É, como dissemos, Niklas, nossos horários estavam bagunçados enquanto nos adaptávamos. Eu te disse que ela estava trabalhando comigo."

"Então você não está em nenhuma das minhas aulas?"

"Eu não... eu não comecei as aulas." Mina olhou para ele por alguns segundos.

Sua testa franziu. "Você esteve com Nanaba e Mike?"

"Eu não vi nenhum dos dois há dias."

De repente, tudo fez sentido.

Eles sabiam como isso iria se desenrolar.

Niklas não seria capaz de sair do meu lado... com todas essas pessoas por perto... ele seria minha sombra.

Eles não podiam permitir isso.

Eles precisavam que ele estivesse relaxado.

Eles precisavam que ele quisesse ser aceito.

Ele não pode fazer isso quando está sempre cuidando de mim.

"Tome o café da manhã, Mina, antes que a comida esfrie." Petra sorriu para ela, com esforço, os olhos vacilando novamente.

"O que está acontecendo?" Niklas perguntou, olhando de uma para a outra. "O que você quer dizer com 'não começou'? O que você tem feito?"

Petra mordeu o lábio, observando enquanto Mina a encarava com olhos reveladores. "Sinto muito, Mina. Foi um pedido do Comandante."

Mina apenas assentiu.

"Vou deixar vocês dois conversarem." Petra disse, acenando para Niklas novamente antes de se apressar em meio à multidão.

"Eu não entendo..." Niklas disse, olhando novamente para Mina enquanto segurava seus ombros, examinando seu rosto.

"Vamos... vamos sentar e comer primeiro."

Niklas a seguiu enquanto Mina se movia para pegar um prato, seus olhos desfocados, tentando borrar todos os rostos, transformar os olhos que ela sabia que estavam olhando para ela em formas distantes e cores nebulosas.

Eles podem ver meu rosto.

Minhas cicatrizes.

Não.

Eles não podem me ver,

Apenas...

...Respire.

Ela inalou profundamente, um suspiro saindo de seus lábios, o ar tremendo dentro dela, os dedos tremendo enquanto deixava Niklas guiá-la para uma mesa vazia. Ele a empurrou suavemente para a cadeira antes de se sentar em frente a ela, olhos preocupados.

"Eles nos separaram de propósito." Mina disse, os dedos pressionando suas têmporas enquanto sentia olhares em sua direção.

A testa de Niklas franziu.

"Você tem estado em aula? Com algumas dessas pessoas?" Mina perguntou baixinho.

"Sim... os cadetes daquela mesa... eu os conheci nos últimos dias."

Ela assentiu. "Você está amigável com eles."

Ele apertou os lábios. "Mina... não comece com isso de novo... não é como se-"

"Não." Mina balançou a cabeça. "Eu não... não é isso que estou querendo dizer. Eles queriam que você... o Comandante queria que você fizesse amizade com as pessoas... ele sabia que você não poderia fazer isso se eu estivesse por perto. Você estaria muito focado em mim."

Ele ficou quieto enquanto Mina mexia em sua comida.

"A primeira impressão conta, afinal." Seu tom era suave, as palavras deveriam soar amargas, mas saíram muito baixas, muito gentis. "Eles queriam que você se estabelecesse primeiro sem mim... para que pudesse relaxar com essas pessoas, sentar na mesa deles, comer com eles, rir com eles... sem se preocupar em ter que ficar de olho em mim."

"Mina... não é como-"

Ela balançou a cabeça. "É bom. É o que eles querem que você faça. Acho que quanto mais você ficar do lado deles, melhor."

"Eu não quero ficar do lado deles, Mina, pelo amor de Deus, eu-"

"Mas você deveria. Não acho que eles vão ser tão... indulgentes... não na frente de todos esses cadetes agora, não quando devemos ser um deles. Além disso... precisamos que eles confiem em nós. Se depois de tudo isso... ainda planejamos sair um dia..." Seus olhos estavam distantes, olhando pela janela atrás da cabeça de Niklas.

Sua voz também estava distante, desapegada.

Niklas ouviu com um nó no estômago.

"Talvez se afastar um pouco um do outro seja uma coisa boa... talvez eles não fiquem tão desconfiados de nós... isso funciona a nosso favor, certo?"

"Eu não vou me afastar de você, Mina, droga. Não quando eles ainda estão brincando com a gente desse jeito. Talvez... talvez seja pior que isso... talvez eles estejam tentando nos separar, fazer com que nos odiemos? Assim, eles sabem que nos terão presos. Se livrar da única coisa que nos importa." Ele balançou a cabeça, uma expressão furiosa surgindo em seu rosto de repente.

"Não tenho certeza se é exatamente isso... de qualquer forma..." Ela olhou para ele, o olhar firme. "Você não deveria se preocupar em comer com seus amigos. Você não quer se alienar por minha causa."

"Eu não dou a mínima para o que eles pensam de mim, Mina."

Ela deu de ombros. "Se ainda estamos tentando ser táticos aqui... você deveria fazer amigos. Você deveria ser visto com outras pessoas. Isso será bom para nós a longo prazo."

Niklas parecia exasperado. "Você está pensando demais nisso, Mina. Não temos que agir de forma diferente, não por ninguém. Eu não vou te abandonar por ninguém."

"Seus amigos estão nos observando agora. Provavelmente se perguntando quando você vai voltar para lá." Mina disse baixinho, olhando por um segundo para ver as cabeças viradas, pescoços se esticando para ter uma visão melhor.

Niklas balançou a cabeça novamente. "Então venha sentar com a gente."

"Eu não acho que sou a melhor companhia."

"Mina, você não é..."

Mina olhou para ele com as sobrancelhas pesadas.

Sua expressão vacilou e suas palavras sumiram.

Ele ficou com Mina pelo resto do café da manhã.

Nenhum dos dois falou.

Ambos ouviram seus próprios pensamentos.

Petra voltou no final da refeição para informar Mina que sua primeira aula seria de combate corpo a corpo.

"Você sabe para onde ir." Petra sorriu encorajadoramente.

Niklas se levantou junto com Mina, seus passos caindo em sincronia com os dela para segui-la para fora.

"Niklas. Você tem treino de DMT, certo?"

Niklas lançou-lhe um olhar.

"E daí?"

"Então... sua aula é para o outro lado." Petra apontou com o polegar na direção oposta. "Você não pode se atrasar."

Niklas franziu a testa, lançando um olhar para Mina.

Ela balançou a cabeça para ele.

"Estou bem, Niklas."

Ele balançou a cabeça em resposta.

"Não é justo, eles te jogando às cegas assim... Eu vou com você... tenho certeza de que Mike vai entender."

"Niklas. Eu não vou deixar você se meter em mais problemas por minha causa. Vai. Nos vemos mais tarde."

Mina se virou antes que ele pudesse protestar, saindo apressada do refeitório e fazendo seu caminho pelos corredores.

 

__________

 

Ela foi uma das últimas a chegar à clareira, seu passo havia diminuído enquanto tentava acalmar o coração, precisando se escorar em uma parede para respirar fundo algumas vezes, limpar os pontos pretos em sua visão e engolir o bile na garganta.

Havia cerca de dez outros cadetes no campo, alguns sentados, alguns em pé, todos vestidos com o mesmo uniforme branco que Mina.

Por que sinto que é diferente para mim... vestir isso?

Havia duas figuras com capas verdes na frente da multidão, conversando baixinho entre si.

Mina reconheceu o primeiro como Eld, seu cabelo loiro preso em seu habitual rabo de cavalo.

O segundo era menor, parcialmente escondido atrás de um cavalo, uma mão descansando no pescoço do cavalo enquanto ele abaixava a cabeça mais perto de Eld, espiando um pedaço de papel nas mãos dele.

Seu cabelo escuro caía para a frente, as mechas obscuras, e Mina pôde ver o início do corte de cabelo ao redor de sua nuca, seus olhos passando pela gravata branca franzida que ficava em sua clavícula.

Capitão Levi.

Havia murmúrios quietos entre os cadetes, esperando pacientemente pelo início da aula. Mina manteve os olhos em Eld, que estava escrevendo no pedaço de papel, acenando ocasionalmente com a cabeça às palavras de Levi.

Sua abordagem foi silenciosa, mas ela sentia como se seu coração soasse como o trovão de uma tempestade, como naquele dia de treinamento, batendo contra suas costelas, batendo contra as nuvens, reverberando pelo céu para que todos à sua frente pudessem ouvi-lo.

Ela tinha certeza de que podiam ouvi-lo, especialmente quando todas as cabeças se viraram em sua direção, ouvindo os passos suaves na grama atrás deles.

Alguns dos olhares se demoraram e Mina tentou bloqueá-los novamente, tentou focar seus olhos no verde da grama e no azul do céu, tentou fazer as cores se desfocarem e apagarem seus rostos.

"Mina." Eld acenou para ela em saudação, seu olhar quase simpático.

O aceno de cabeça dela em resposta foi quase imperceptível.

O Capitão Levi apenas deixou seus olhos passarem por ela por um segundo.

"Ei." Uma voz suave chamou sua atenção, alta e calorosa.

Seus olhos se voltaram cansados para um jovem sentado de pernas cruzadas na grama, sorrindo para ela.

Ela analisou suas feições, os olhos se esforçando para focar, notando grandes olhos azuis, cabelo loiro caído e um sorriso de dentes brancos.

"Mina? Você é a nova transferida? Irmã do Niklas?"

Ele já sabia os fatos, mas os colocou como perguntas, tentando ser caloroso e encorajador para iniciar uma conversa gentil com ela.

Ela notou duas figuras sentadas ao lado esquerdo dele, uma pequena garota loira, olhando curiosa para cima, uma garota mais alta de cabelos castanhos, observando com uma leve carranca no rosto.

Mina cravou uma unha na palma da mão.

Ela assentiu.

"Legal! Meu nome é Armin!" Seu sorriso se alargou ainda mais, de modo que seus olhos se enrugaram, quase fechando.

Ela assentiu novamente, observando como o sorriso dele vacilava ligeiramente, os olhos piscando enquanto ele a olhava... esperando algo.

Esperando o quê?

Ela quase podia ouvir o tom irritado de Niklas em sua cabeça respondendo à sua pergunta interna.

Você falar com ele, sua boba!

"Niklas..." Ela tentou falar, a boca parecendo cheia de algodão. "Você o conheceu?"

Ele assentiu animadamente. "Sim! Ele é um cara muito engraçado!"

Mina lambeu os lábios.

Ela assentiu.

O sorriso dele vacilou novamente.

"Ok." Eld chamou a atenção deles, os olhos em Mina e Armin.

Ela se perguntou se ele havia ouvido suas tentativas patéticas de conversar e decidido que aquele seria o momento de salvá-la.

"Se eu pudesse ter sua atenção."

Ficou quieto enquanto os cadetes olhavam para ele, ansiosos e empolgados para começar.

Mina se sentia como se estivesse debaixo d'água, a voz de Eld abafada e distante.

"Vou formar duplas para praticar suas técnicas de combate corpo a corpo. Quero entender suas forças e fraquezas, o que precisa ser trabalhado como um todo. Esta aula pode parecer obsoleta no grande esquema das coisas; claro, vocês nunca irão enfrentar um titã em combate corpo a corpo. Mas cada avanço que vocês fazem no treinamento serve para moldá-los em soldados completos. Tanto física quanto mentalmente. Espero que não haja relaxamento. Façam o seu melhor."

Ele acenou com a cabeça para a turma. "Os pares serão aleatórios." Ele abriu a palma da mão para revelar pedaços de papel rasgado. "Você nunca sabe se um oponente será maior ou menor que você. O inesperado é a única maneira de aprender. O Capitão Levi estará monitorando a sessão de hoje comigo. Como eu disse, estaremos observando... então esperamos nada menos que 100% de esforço."

Mina manteve os olhos à frente, dolorosamente ciente da presença de Levi na frente da turma, seus olhos escaneando a pequena multidão com intensidade.

Ela se concentrou nas vozes, murmúrios enquanto esperavam que Eld misturasse os nomes.

"Ah, combate corpo a corpo definitivamente não é meu ponto forte. E agora com o Capitão Levi assistindo? Ah cara." Armin se preocupou, colocando a mão na testa.

"Eu não sou muito melhor que você!" A pequena garota loira exclamou.

"Ei, espero que você forme dupla comigo então." A garota de cabelo castanho cutucou o ombro da garota loira. "Eu vou pegar leve com você, querida."

"E você?" Mina piscou, sua visão turva se concentrando no rosto de Armin enquanto ele olhava para ela com um sorriso encorajador.

"É boa nisso?"

"Ah... eu não sou tão ruim." Mina respondeu.

"Sabe, estou curiosa para ver do que você é capaz, novata." A garota de cabelo castanho sorriu na direção dela, inclinando a cabeça para o lado.

"Seja legal, Ymir." A pequena loira repreendeu, antes de lançar um sorriso próprio para Mina.

"Eu sou Krista, é um prazer conhecê-la! Deve ser muito difícil para você, não conhecer ninguém aqui... se precisar de ajuda com qualquer coisa, ficarei feliz em ajudar!"

Ymir bufou. "Tá, tá, calma aí, senhorita Perfeitinha. Tenho certeza de que ela pode se virar sozinha."

Mina não deixou de notar o olhar de Ymir em seu rosto, observando as cicatrizes com um olhar atento.

Mina virou a cabeça.

"Certo." Eld chamou a atenção deles mais uma vez, antes de começar a ler os nomes.

"Armin Arlert!" Armin ficou em posição de atenção, olhos arregalados enquanto esperava. "Faça dupla com Krista Lenz!"

Seus ombros relaxaram de alívio e ele lançou um sorriso para Krista, que o retribuiu agradecida.

Ymir revirou os olhos. "Oh céus. Vai ser como dois travesseiros lutando um contra o outro. Vocês dois são muito moles, sabiam?"

Krista a ignorou, movendo-se para se juntar a Armin, os dois sorrindo um para o outro.

"Ymir..." Sua cabeça se levantou enquanto ela esperava. "Forme dupla com Bertolt Hoover."

Ela bufou. "Ótimo. Aquele filho da pua magricelo. Que sorte a minha." Ela resmungou para si mesma, saindo para encontrá-lo.

"Reiner Braun!"

Houve uma pausa enquanto Eld hesitava.

"Forme dupla com... Mina Verenich."

A cabeça de Mina se ergueu ao ouvir seu próprio nome, observando enquanto seu oponente rapidamente identificava seu rosto desconhecido na multidão de seus companheiros.

Ele era bem mais alto que ela, extremamente robusto, com ombros e braços largos e cabelo loiro curto, seu rosto angular e severo na expressão.

Ele se aproximou dela, o rosto suavizando um pouco enquanto a cumprimentava com um aceno de cabeça.

"Ei."

Ela acenou de volta.

"Transferida, né? De onde você é?"

Mina desviou o olhar. "Só uma pequena aldeia agrícola lá longe... a maioria das pessoas nunca ouviu falar dela." Ela recitou as palavras que Petra a havia ensinado.

"Você é mais velha que muitos dos caras aqui." Ele a observou, com os braços cruzados sobre o peito, as palavras não eram acusatórias ou suspeitas, apenas tentando entender quem ela era.

"Eu... eu tive que tirar alguns anos... para cuidar da família... eles ficaram doentes." As palavras eram mais fáceis de dizer quando não eram suas. Era mais fácil soltar a mentira entre os dentes quase cerrados quando era a versão formulada por Petra.

"Bom. Sinto muito por ouvir isso. Mas não pense que eu vou pegar leve com você, tudo bem?" Sua voz era baixa e áspera, mas havia um toque de brincadeira, uma pista de que ele não era tão sério quanto parecia.

Ela assentiu.

"Comecem a luta!" Eld gritou.

Mina e Reiner se moveram, caminhando para um espaço aberto, os olhos não desviando um do outro.

O rosto dele havia endurecido novamente, observando-a cuidadosamente, a maneira como ela ficou perfeitamente parada, o rosto vazio, os olhos sem piscar.

Para ele, parecia que ela não tinha ideia do que estava fazendo.

Mina estava esperando que ele fizesse o primeiro movimento.

As inalações dela eram profundas e longas, absorvendo cada respiração para apertar e contrair seus músculos, cada expiração varrendo as ansiedades que martelavam em sua cabeça.

Eu posso fazer isso.

Não é diferente de lutar com Mike.

Foco.

Não se decepcione.

Mina estava ciente dos grunhidos e respirações pesadas ao seu redor, cada par de lutadores em ação, membros conectando-se com carne, sons de esforço preenchendo seus ouvidos.

Ela lançou um olhar para a direita ao ouvir um gemido súbito, vendo um flash de cabelo loiro encaracolado atingir o chão, o primeiro cadete a ser imobilizado.

Quando seus olhos voltaram para Reiner, ela os encontrou em Eld e Levi, observando a poucos metros de distância, ambos concentrando sua atenção apenas nela.

Seus olhos capturaram os de Reiner bem a tempo, enquanto ele se movia.

Ela se esquivou, girando sobre o calcanhar para desviar de seu ataque. O retorno dele foi rápido, seu pé cravado no chão em busca de apoio para atacá-la com um golpe do braço, que ela esquivou, girando sobre o pé novamente para mover seu corpo um quarto de volta ao redor dele.

Eles repetiram esse movimento mais algumas vezes, as tentativas de Reiner de acompanhá-la sempre um passo atrás, incapaz de encontrar seu equilíbrio enquanto ela dançava ao redor dele, antecipando e prevendo cada um de seus movimentos.

Ele é muito maior que eu.

Não posso contar com minha força.

Mas ele é mais lento.

Ele não está se dando ao trabalho de observar meus movimentos; ele só quer focar na investida.

Vou cansa-lo.

Ela se moveu mais rápido, torcendo seu corpo em ângulos mais extremos para desviar de seu caminho. Ele começou a flutuar, os golpes tornando-se mais selvagens e desesperados, tropeçando em suas próprias curvas.

Ela podia ouvir suas respirações pesadas enquanto esperava pelo momento perfeito.

Ela se abaixou sob seu braço direito novamente, enquanto ele o balançava para frente para socar, tropeçando sobre seus pés, seu corpo se lançando para frente.

AGORA!

Ela agarrou o braço direito dele enquanto ele hesitava, os dedos cravando-se no músculo borrachudo de seu bíceps, usando-o como apoio para girar seu corpo por baixo. Ela girou o braço com ela para prendê-lo atrás das costas, sua outra mão empurrando o ombro esquerdo dele. Suas pernas se esticaram para chutar suas panturrilhas, observando enquanto ele se encurvava.

Ele caiu no chão e ela usou seu peso corporal para empurrá-lo para frente, de modo que ele pousasse de barriga para baixo. A mão que prendeu seu pulso esquerdo se moveu, levando seu braço para trás para se juntar ao pulso direito. Mina centrou seu peso corporal na parte sensível de suas pernas, pressionando-o contra a terra.

Assim como Mike lhe ensinou.

Ele gemeu, suas respirações rasas e ofegantes enquanto ela mantinha seu aperto.

As próprias respirações de Mina eram regulares e constantes, um fio de cabelo solto se desenrolou, caindo em sua visão enquanto ela encarava a parte de trás da cabeça dele, antes de olhar para cima, sabendo que os olhos de Eld e Levi ainda estavam a observando.

Eld acenou com a cabeça, um pequeno sorriso e uma expressão satisfeita em seu rosto.

Os braços de Levi estavam cruzados, a sobrancelha baixa, olhos afiados, rosto impassível.

"De novo." Ele disse, os olhos se focando em Mina.

Eld olhou para ele, mas não disse nada.

Mina cerrou os lábios, soltando as mãos de Reiner e se afastando rapidamente dele.

Ele se ergueu do chão, rodando o pescoço enquanto encarava Mina, seu rosto mais sério, soltando um suspiro áspero.

"Você me pegou dessa vez." Ele murmurou, olhando para Eld e Levi. "Eles querem que a gente vá de novo?"

Mina assentiu, movendo-se para criar espaço enquanto começavam a se circular.

"Sem problema." Reiner disse com um sorriso. "Agora conheço todos os seus truques."

 

 

Apesar de sua força, Reiner era muito lento para acompanhar Mina, e, como antes, ela o imobilizou no chão em poucos minutos, mãos firmes atrás das costas, seu rosto pressionado contra a terra.

"De novo."

Mina virou a cabeça ao ouvir a voz baixa, os olhos de Levi se movendo dos dela para olhar em um espaço ao lado de seu ombro.

Ela se afastou de Reiner, seus nervos agora dissipados, enquanto sua sobrancelha se franzia. Reiner se estabilizou, a confusão crescendo em seu rosto.

Eld olhou para Levi novamente.

Estou fazendo algo errado?

"Ok." Reiner falou com um encolher de ombros e um suspiro. "Vamos de novo."

 

 

Mina grunhiu enquanto pressionava Reiner contra o chão pela terceira vez, o suor começando a escorregar por seu rosto, se acumulando na parte de trás do pescoço, sua respiração se tornando mais pesada.

Ela estava ciente dos outros cadetes a observando, claramente confusos sobre por que apenas eles eram o único par destacado.

Mina olhou para Levi, ansiosa, antes que ele pudesse falar.

"Vá de novo." Os olhos dele só encontraram os dela por um breve segundo.

 

 

"Mais uma vez, Mina." Kenny balançou a cabeça para ela enquanto seu corpo se deixava cair, as costas se movendo de maneira errática para tentar recuperar o fôlego, os dedos tremendo enquanto ela tentava fechá-los em punhos, segurando os braços fracos em frente ao rosto, sua postura defensiva vacilando enquanto o cansaço ameaçava derrubá-la.

"Eu não consigo." Ela sussurrou, sentindo o sal na língua, o suor escorrendo pelas bochechas em filetes.

Kenny se abaixou para igualar sua altura, as mãos segurando seus ombros, pressionando suas palmas com força, fazendo com que seu corpo tremesse sob o peso.

"Eu não me importo que você esteja cansada, garota. Você precisa aprender a superar isso. Você acha que vai ter uma pausa lá fora só porque está cansada?"

Ele estalou a língua, claramente irritado enquanto ela olhava para cima, os olhos arregalados e desesperados para agradá-lo.

"Vamos de novo."

 

 

"Capitão Levi, há algum problema?" Os olhos de Eld se estreitaram no rosto de Levi, antes de olhar novamente para a expressão de Mina.

As sobrancelhas dela estavam franzidas, o rosto firme enquanto ela se afastava de Reiner mais uma vez, endireitando-se e movendo-se para uma posição ofensiva.

Reiner balançou a cabeça, a frustração crescendo dentro dele também. "Que diabos está acontecendo?" Ele sussurrou entre os dentes.

Estou fazendo algo errado.

Ele não está feliz... Capitão Levi.

Mas eu estou imobilizando Reiner toda vez.

Ele mal consegue acertar um golpe.

O que estou fazendo de errado?

Mina se moveu novamente, cada movimento de seu corpo mecânico e planejado, observando os próprios movimentos de Reiner com intenso foco, tentando planejar dois passos à frente de cada uma de suas ações.

Isso é o que Mike me ensinou.

Mina pisou, virou e golpeou.

Estou fazendo tudo certo.

"Você está se segurando." A voz de Levi era baixa e firme.

Ele não se dirigiu a Mina pelo nome.

Mas ela sabia que o comentário era direcionado a ela.

Seu corpo estremeceu, travado, congelando.

 

 

"Você está se segurando, garota." Kenny a repreendeu, segurando seu punho mais uma vez enquanto ela balançava para atingi-lo. "Eu sei que você tem mais do que isso."

Mina balançou a cabeça. "Estamos apenas praticando... Isso importa?"

"Isso importa?" Ele riu. "Claro que importa, garota. Você nunca deve se segurar. Você acha que isso é um jogo?"

Ele a puxou para perto dele com força, os dedos apertando em torno de seus pulsos de modo que ela estalasse, o hálito quente soprando em seu rosto.

"Essa atitude sua não vai te manter viva. Você quer se segurar? Parece mais que você quer acabar morta."

 

 

Reiner observou seu corpo ficar parado, apenas por um segundo, como se uma força invisível a tivesse paralisado, removendo todo movimento de seu corpo.

Ele aproveitou a oportunidade.

Ele lançou-se, usando a potência de suas pernas e o peso de seu corpo superior para derrubá-la, envolvendo seus braços e fazendo seu corpo voltar ao chão.

Ela engasgou em choque quando suas costas atingiram a terra, sentindo suas entranhas se reavivarem, as mãos se movendo para bloquear o golpe em seu rosto.

Ele a imobilizou, o joelho pressionando seu estômago, os braços levantados firmemente acima da cabeça enquanto ele segurava seus pulsos, seu rosto pairando sobre o dela, determinado e um pouco presunçoso.

Merda.

Mike. O que Mike faria?

Essa posição... eu não sei... não sei como sair disso...

 

 

"Eu vejo isso nos seus olhos." Kenny inclinou a cabeça. "Você está desperdiçando seu tempo... tentando prever meus próximos movimentos... tentando criar uma estratégia."

Sua voz era um baixo murmúrio, como se estivesse entediado com ela.

"Isso não vai te fazer bem, garota. No momento em que você pensar em um plano bonitinho para escapar de um golpe, a bala já terá sido disparada na sua cabeça."

Kenny tocou sua testa com o dedo indicador, um sorriso no rosto.

"Não pense. Apenas aja. Use seus instintos animais. Eles sabem como te manter viva."

 

 

Isso foi o que Mike tentou arrancar de mim... meus instintos de lutar... lutar sem pensar... deixar meu corpo agir por mim.

Técnica, forma e planejamento... que diferença faz quando há uma arma na sua cabeça?

"Você está se segurando." As palavras de Levi ecoaram em seus ouvidos novamente.

Certo.

Se é isso que ele quer.

Não vou me segurar.

Mina se soltou.

Ela se permitiu acreditar que havia um perigo.

Acreditar que havia uma faca em seu pescoço.

Uma arma em sua garganta.

Ela deixou seu corpo agir.

Mina arqueou as costas, forçando seu peso para cima e pressionando-se contra o torso de Reiner, sentindo-o se mover em resposta, pressionando seu próprio peso mais forte contra o dela para impedir sua fuga, aproximando-se, sua cabeça a apenas uma polegada de distância.

Ela virou o rosto, pressionando a bochecha esquerda com força contra a terra, girando-o o máximo que podia. Ela arqueou mais profundamente, antes de torcer o pescoço, levando a lateral da cabeça para frente com toda a força que conseguia, acertando sua têmpora com o crânio de Reiner.

O aperto dele caiu enquanto ele gemia, a cabeça se movendo para trás, surpreso.

Ela se moveu em fração de segundo, a mão esquerda subindo para agarrar tufos de cabelo dele, puxando sua cabeça para trás apenas para bater com força contra a terra.

"Porra!" Ele gritou.

Reiner piscou, afastando os pontos negros que nadavam em sua visão, a dor agora reverberando atrás das pálpebras enquanto ele lutava para se recuperar, os membros desajeitados e confusos enquanto tentava atacar.

Seu joelho ainda estava acima do estômago dela e Mina usou a coxa esquerda para enganchá-lo, empurrando-se para cima e virando o corpo de Reiner para baixo, mudando a posição para pressionar seu próprio joelho contra o torso dele, os braços presos atrás das costas enquanto ele tentava se mover, seu antebraço pressionado com força contra a garganta dele.

Os olhos dele se abriram como pratos enquanto ela se inclinava para frente, seu braço pressionando ainda mais, fazendo-o engasgar. Ele tentou se contorcer para fora de seu aperto, a pressão enviando sinais de pânico para o cérebro.

Estava silencioso.

Mina podia ouvir sua respiração ofegante, o coração pulsando em seus ouvidos, ver o rosto surpreso de Reiner através das mechas de seu cabelo escuro.

Ela engoliu em seco.

"Chega." A voz de Levi chamou-a.

Ela piscou.

Reiner olhou para cima, um flash de alarme evidente em seu rosto.

Ela se moveu, levantando o braço da garganta dele, ouvindo seus súbitos ofegos de respiração enquanto se lançava para longe dele, seus próprios dedos tremendo levemente, as pernas tremendo.

Ela estava ciente de uma audiência, todos os outros cadetes haviam parado para assistir, um silêncio no ar tão pesado que Mina sentiu como se estivesse engolindo-o, deixando-o sufocá-la de dentro para fora.

Ela não ousou olhar para o rosto do Capitão Levi.

Não devia ter feito isso.

Deveria ter sido mais cuidadosa.

Eu... exagerei.

Não é assim que me ensinaram a lutar... não aqui...

Eles viram demais.

"Okay, o show acabou." Levi gritou, a irritação evidente em seu tom enquanto olhava para os outros cadetes. "Vão se acalmar."

Mina se preparou para se mover, querendo fazer o máximo de espaço possível entre ela e Reiner, limpando da mente a imagem do medo em seus olhos.

Ele ainda estava no chão, as mãos levantadas para esfregar o pescoço.

Ela hesitou.

Engoliu em seco.

Inalou.

Reiner olhou para cima, surpreso ao ver uma mão se estendendo em sua direção, Mina de pé com os lábios comprimidos, os olhos se movendo ao redor de sua expressão, evitando manter o olhar nele.

Ele se moveu, sua grande mão subindo para agarrar a dela, sentindo o puxão gentil enquanto ela o ajudava a se levantar, sabendo que não era necessário, mas entendendo o gesto.

"Valeu." Ele disse a ela, acenando agradecido.

Ela acenou de volta; o rosto inexpressivo, mas os olhos ainda se movendo. "Não queria...", ela deixou a frase no ar, incapaz de encontrar as palavras.

Reiner sorriu. "Ei, não se preocupe com isso. É para isso que serve o treinamento. Você se saiu bem. Não imaginaria que você ficou fora de ação por tanto tempo."

Ela acenou em resposta e Reiner quase riu da expressão incerta em seu rosto.

"Você deveria me ensinar alguns desses movimentos um dia. Acho que poderiam ser úteis." As mãos dele estavam nos quadris, um sorriso no rosto.

Mina tentou oferecer um sorriso de volta, sem ter certeza se o puxão de seus lábios havia sido percebido antes que ele se virasse, começando a correr, juntando-se aos outros cadetes em sua volta de relaxamento.

"Ei." Mina se virou para ver Ymir se aproximando, um sorriso no rosto. "Bom trabalho, novata! Nunca teria imaginado isso só de te olhar." Ela inclinou a cabeça para o lado. "Onde você aprendeu tudo isso?"

"Ymir, deixa ela em paz." Krista murmurou, vindo para seu lado e puxando a manga da garota mais alta.

Ymir riu, passando o braço pelos ombros de Krista. "O que? Só estou perguntando. Ela é só uma coisinha."

Ymir olhou para Mina novamente, algo em seus olhos fazendo Mina se contrair.

Ela pode me ver?

"Além disso, foi bom ver o Reiner levar uma surra. Esse cara realmente me irrita."

"O Reiner é um cara legal." Krista defendeu-o, recebendo um olhar fulminante de Ymir.

"Sim, e não é como se ele não adorasse ouvir isso. Por favor, esse seu cavaleiro de armadura branca é muito egoísta." Ymir revirou os olhos, fazendo uma expressão como se estivesse vomitando.

"Bom trabalho, Mina!" Armin também se aproximou, um pequeno sorriso nos lábios.

Mina franziu os lábios, juntando as mãos atrás das costas e balançando nos pés, insegura, apesar do tom sincero e do sorriso caloroso dele.

"Vocês cadetes vão fofocar a tarde toda? Ou vão se juntar ao resto para relaxar?" Eld se aproximou do pequeno grupo, seu tom feroz e sobrancelhas levantadas.

Os quatro ecoaram um "Sim, senhor!", começando a corrida.

"Mina." Eld a parou rapidamente, deixando os outros criarem distância antes de acenar com a cabeça em direção a Levi. "O Capitão Levi quer falar com você."

Mina cravou a unha na palma da mão, seguindo Eld em silêncio.

Levi estava ao lado de seu cavalo, as mãos brincando com a arreio ao redor do pescoço grosso do animal, olhos fixos na tarefa à sua frente, sem olhar para Mina enquanto ela se aproximava.

O cérebro de Mina estava uma confusão, formulando uma defesa, uma explicação, qualquer coisa para minimizar a punição que esperava receber.

"Você pode retomar seu treinamento com a Nanaba pelo tempo que achar necessário." Ele falou baixo, seu tom usual, os olhos ainda em seu cavalo, as mechas de cabelo preto caindo em seu rosto enquanto ele se abaixava para inspecionar algo ao redor da parte superior da perna do cavalo.

Mina piscou.

"Ela explicou como as aulas extras têm sido benéficas para você. Estou deixando essa parte do seu treinamento inteiramente em suas mãos."

Ele se endireitou novamente, os braços se estendendo acima da cabeça enquanto os dedos se moviam ao longo do pescoço do cavalo, sem uma vez desviar o olhar para ela.

"Ela estará esperando por você esta noite, como sempre."

Mina assentiu, percebendo em seguida que ele não poderia ver a ação.

"Obrigada, Capitão." Suas palavras saíram mais firmes do que esperava.

Ela o observou em silêncio por mais alguns momentos, seu silêncio e a concentração no cavalo sendo um despedida sem palavras o suficiente para ela se virar e passar por Eld sem olhar, começando a correr.

Ela observou o grupo de cadetes agrupados à sua frente, correndo muito atrás deles em seu próprio ritmo solitário.



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