— Ugh... eu sou péssimo nestas coisas! – murmurou Máscara da Morte, a apenas um lance de escada distante da entrada da Casa de Libra.
Após os eventos no Elísios e em Asgard as coisas no Santuário voltaram mais ou menos ao normal. A verdade é que ‘normalidade’ era uma palavra estranha naquele lugar desde que Saga enlouqueceu e tomou o lugar do velho mestre do santuário.
E falando em caras velhos...
— Máscara da Morte! – uma voz festiva o chamou. Um homem jovem, de cabelos castanhos e traços orientais aproximou-se dele. – Que surpresa vê-lo por aqui!
— Dohko. – era estranho ver o mestre ancião naquela forma juvenil. Embora tivesse centenas de anos, ele parecia ainda mais jovem que o cavaleiro de Câncer. – O seu cirurgião plástico fez mesmo um trabalho maravilhoso.
— Hahaha, essa foi boa! – a voz retumbante dele ecoava com energia. – Mas não fique enciumado! Misophotamus só funciona uma vez. E eu não tinha condições de lutar com todas as minhas forças enquanto meu coração batia mais devagar. Então, creio que o tempo vai correr normalmente para mim, a partir de agora.
— E você não está chateado com isso?
— Por que eu deveria? Eu vivi uma vida longa e agradável e ainda tenho algumas décadas pela frente. Bem, a não ser que mais alguma ameaça apareça. Mesmo que eu não seja mais o cavaleiro de Libra, estou pronto para lutar novamente e dar a minha vida, se necessário.
— Blá, blá, blá! – Máscara da Morte jogou a cabeça para trás, entediado. – Todos vocês adoram morrer, não é? Depois eu é que sou mórbido!
— Haha! Você não é tão odioso quanto parece, Enzo!
— Não me chama de Enzo! – o cavaleiro de câncer fez uma careta. Ele não gostava do seu nome verdadeiro. – Escute, eu vim aqui com um propósito! Eu vim aqui para... para... err, para me apresentar formalmente ao novo cavaleiro de Libra!
— Você veio pedir desculpas ao Shiryu, não é?
Máscara da Morte fechou a boca numa linha reta, bufou.
— É! Eu vim fazer isso. Afinal de contas, agora que o Santuário está restaurado, todos nós devemos ser ‘amigos’, não é?
— Você não é obrigado a ser amigo de ninguém, se não quiser. Apenas tente manter a convivência saudável. Sem mais mentiras e sem mais intrigas. – Dohko desmanchou o sorriso. – Ah, e tente não matar mais crianças, está bem?
— Não se preocupe. Eu jurei, no túmulo de Helena em Asgard, que não faria mais isto.
Os dois cavaleiros ficaram em silêncio alguns instantes, até o chinês sorrir de novo e abraçar Máscara da Morte com alegria.
— Ah, pára, impiastro! – o homem mais jovem disse, deixando transparecer seu sotaque italiano.
— Bem-vindo de volta, Enzo!
— Farabutto!
O antigo cavaleiro de Libra acenou uma última vez e se foi, descendo as escadas até a casa de virgem. Balançando a cabeça, Máscara da Morte começou a subir as escadas e, após um pouco de hesitação, entrou na casa de Libra.
O som da sola dos seus sapatos ecoava alta dentro da casa. O lugar passou quase incólume durante as batalhas dos últimos anos, com apenas algumas rachaduras aqui e ali no piso e nas pilastras. O lugar parecia deserto.
— Ô de casa? – Mascara da Morte chamou, sua voz ecoando pelo local. – Tem alguém aí? Se não tiver, eu vou passar reto pela casa, heim? Vai ser uma vergonha se um invasor passar por ela sem resistência.
— O Cavaleiro de Libra está aqui.
A voz veio de trás de Máscara da Morte. Uma voz que o cavaleiro conhecia muito bem: Shiryu, antigo cavaleiro de bronze de Dragão, atual cavaleiro de ouro de Libra.
Ele não estava usando sua armadura, apenas um roupão cinza simples, no estilo tradicional dos chineses. Ele havia crescido um pouco naqueles últimos dois anos e estava da mesma altura que Máscara da Morte.
— Ei, cabeludo. – o homem mais velho sorriu. – Como está? Não tem morrido mais ultimamente?
— Eu ia te perguntar a mesma coisa. – o cavaleiro chinês quase esboçou um sorriso. Quase. – O que o traz aqui, Máscara da Morte? Se queria apenas passar para a próxima casa, nem precisava ter me chamado.
— Ah, eu, hã... – o canceriano desviou o olhar. – Eu vim aqui falar com você.
— Sobre o quê?
A forma fria com que Shiryu lhe dirigia a palavra era merecida, mas não deixava a situação mais fácil para o que o italiano queria fazer.
— Bem, eu... – ele hesitou só mais um instante. – Eu vim aqui lhe pedir desculpas. Desculpe! Eu tentei matar a sua namorada. Eu matei várias pessoas indefesas e usei as almas delas para atacar você durante a nossa luta. Eu fui um egoísta que não se importou com as tramoias de Saga, mesmo sabendo que havia algo errado no Santuário todos estes anos. Eu, ugh... eu fui um completo imbecil! Pronto! Já admiti! Eu peço desculpas.
Shiryu inclinou a cabeça de leve, como se estivesse pensando se acreditava ou não naquele pedido de desculpas. Ou se sequer acreditava que quem estava diante dele era o temível cavaleiro de ouro de Cancer que colecionava as cabeças dos mortos até poucos anos atrás.
— Eu perdoo você, Mascara da Morte. – o rapaz disse, por fim.
O cavaleiro mais velho arregalou os olhos. Ele estava esperando que Shiryu pelo menos esbravejasse um pouco com ele antes de perdoá-lo. Ou quem sabe que não o perdoasse de forma alguma.
— Ah, é sério? Você me perdoa?
— Não estou fazendo um favor a você. – disse o chinês, sorrindo finalmente. – Estou fazendo um favor para mim mesmo. Afinal, agora somos cavaleiros de ouro irmãos. Além disso, eu creio que você também já sofreu muito. Foi marionete de Hades e depois perdeu alguém importante. Meu mestre me contou sobre Helena. Eu lamento pela sua perda.
— Ah, ele contou? Heh, linguarudo. – o canceriano acariciou o queixo, incomodado. – Eu não quero que você me perdoe apenas por estar com pena de mim.
— A última coisa que eu teria é pena de você, Máscara da Morte. Mas como eu disse, você fez algo ruim, foi punido, repensou seus atos, ajudou Athena no Muro das Lamentações e, por fim, renasceu como um novo homem em Asgard. Se o seu arrependimento for sincero e se você estiver mesmo disposto a lutar por um mundo melhor de paz e harmonia, então você merece a sua redenção.
Máscara da Morte suspirou de alívio. Aquelas palavras, apesar de serem um tanto clichês, trouxeram um alívio para sua alma.
— Bem, neste caso. – ele estendeu a mão para um cumprimento. – Obrigado.
— Não tem de quê. – Shiryu o cumprimentou.
— Bom, então é isso! Até mais.
Girando nos calcanhares, o italiano se dirigiu até a saída da casa de Libra, mas a voz do chinês o chamou de volta.
— Máscara da Morte?
— Sim?
— Apareça mais vezes em minha casa. – o tom era amigável. – Vou fazer lamen caseiro esta semana. Você está convidado.
— Oh, bom saber! Err, obrigado!
Apertando o passo, o cavaleiro de ouro de Cancer saiu da casa. Era estranho pensar em Shiryu como um amigo. Bem, na verdade eles não eram exatamente amigos, não é? Aquele era apenas o primeiro passo para uma relação de camaradagem que poderia não passar disso: camaradagem. Mas talvez pudesse evoluir para uma amizade verdadeira.
Máscara da Morte seguiu de volta para sua casa, sentindo-se mais leve do que nunca. E era bom ele se sentir assim, pois havia mais uma pessoa com quem ele precisava se desculpar.
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