-Certo, só vamos pra casa, estou cansado... – Yi havia dito e enquanto Yasuo o carregava, alguns alunos que ainda estavam acordados cumprimentaram os dois antes de eles começarem a subir as escadas, e no meio das mesmas, o menor simplesmente parou até de se ajeitar nos braços de Yasuo, e ele olhou para baixo viu seus olhos fechados de forma serena, completamente distante, mas ao mesmo tempo tão alcançável... Ele não acreditava que Yi havia dormindo nos seus braços...
Mesmo ele sendo cuidadoso todo o caminho, esperando que isso acontecesse...
Ele adentrou o quarto quando conseguiu correr a porta, o deitou com calma apenas afrouxando alguns laços de seu quimono, e o mesmo logo se mexeu abraçando um travesseiro, declarando o estado completo de inconsciência, Yasuo estava perdidos em pensamentos a tarde inteira, mas nesse momento, apenas se deitou ao seu lado, ainda estranhando a comum rotina, e quando seu namorado trocou o travesseiro pelo seu peitoral, ele riu, os cobriu, e fechou os olhos...
Perdidamente feliz...
Antes mesmo do raiar...
Não havia sol entrando pelas frestas da janela e pela primeira vez no tempo que eles dividiam a cama, Yasuo despertou primeiro naquele dia, mesmo ainda sendo escuro e a lua ainda refletisse sua luz na grama molhada pelas curtas chuvas da noite passada, mas tinha razões para que o evento raro acontecesse, o evento sendo obviamente Yasuo levantar antes de Yi...
Esse evento tinha até nome apropriado:
Ansiedade...
Seria hoje que eles decidiriam de uma vez sobre o que Shen havia pedido, e conforme fosse, as chances de ainda partirem hoje atrás do moreno da mecha azul eram altas...
Havia alunos praticamente crianças no dojo, e a forma que ele foi atacado era imperdoável para Yasuo, e saber que eles eram os últimos membros da Ordem das Sombras praticamente o guiava a caça-los...
Ainda estava muito escuro lá fora, mas ele decidiu deixar Yi descansar e ir treinar um pouco, apenas por que odiava permanecer parado, talvez sejam as consequências de sua vida de andarilho, depois de se trocar e fazer uma rápida higiene matinal. Ele desceu as escadas aproveitando a ausência de alunos no dojo, eles estavam em seus dormitórios dormindo, mas não apenas eles, como qualquer outro ser humano provavelmente estaria dormindo.
E caminhando devagar, novamente apreciando o lugar que Shen e Zed haviam erguido, mas no meio do caminho, ainda nos corredores, o barulho de madeira chocando-se com madeira de forma bruta dominavam os arredores, e pelo estilo de combate rápido que a pessoa tinha, Yasuo tinha fortes teorias sobre quem era... E como vastayas não são exatamente seres humanos, ele estava certo ao pensar que ninguém estaria acordado, enquanto mais ele andava mais o barulho crescia, deixando o corredor da sala quase insuportável, mas ele apenas pensava em como Wukong podia estar irado com toda essa situação...
E então a ficha caiu um pouco...
Certas feras precisam caçar, não havia discurso ou técnica que Yi ensinasse que mudaria isso, pelo menos era o que Yasuo pensava...
E então talvez fizesse sentido ele estar lá, Yasuo agora o observava da porta, e Wukong estava lá, sem armadura, apenas com um quimono aberto preso à sua cintura, fazendo com o tecido grosso e delicado quase tapassem inteiramente suas pernas, tudo sendo observado sem ele reparar.
O vastaya estava focado, com o bastão em mãos e praticando os movimentos que aprenderá recentemente, focando em deixa-los cada vez mais rápidos, fortes e suaves, usando como combustível de tudo isso o ódio reprimido.
Yasuo não falou com ele direito desde que Karlyah havia morrido, e de novo, a sensação de luto voltava, mas para Wukong, não era preciso que as emoções voltassem... Elas estavam lá, alimentando ele de todas as formas, sua mente transbordava pensamentos, e mesmo depois de tanto tempo ele não entendia como Yi havia conseguido superar a morte de sua família, por que até antes, ele não havia experimentado a perda, a simples injustiça com uma de suas amigas tirava seu sono de forma insana, ele não queria estar ali, mas em meio aos golpes, pequenas lágrimas misturavam se ao suor...
Karlyah era mais que uma amiga
Ela era vastaya como ele, eles se entendiam, eles tinham pouco, mas Wukong queria tanto ter tido o tempo para fazer mais...
Ele não a viu morrer ao seu lado, por ser fraco e deixar uma simples magia lhe cegar...
Ele não se dava o direito de se perdoar...
Não importava quantas lições Yi havia lhe ensinado, ele queria ir atrás do rapaz dos cabelos negros com a mecha azul, e de quem seja lá esteja com ele, Wukong não media a força de seus golpes, apenas deixava sua mente trabalhar e imaginar todos seus problemas no formato daquele alvo de madeira, aquilo era a única defesa que tinha no momento, espancar aquilo e esperar que com o tempo, ele mesmo se perdoasse, mas a resistência do alvo não batia com o tempo que ele precisava e com um ultimo movimento a madeira de seu bastão partiu ao meio o boneco em que ele descontava sua raiva.
E como Karlyah, ele se partiu, e voou para longe dele.
A refinada e tinta de seu bastão havia riscado, fazendo que madeira antiga aparecesse, ele não se importava, havia valido a pena cada pancada, e seu corpo transpirando mostrava isso, seus músculos pulsando com o sangue ainda fervendo, cansando, mas aliviado.
Tudo isso, de alguma forma lhe acalmava, e quando ele sentou-se se recuperando um pouco, uma mão repleta de calos encostou seus ombros e o usou de apoio para sentar-se ao seu lado. Ele carregava um copo com alguma bebida alcoólica, e os cabelos preguiçosamente ajeitados, provavelmente não esperando que alguém o visse, mas mesmo assim, ainda era um rosto amigável, mesmo com os acontecimentos de anteontem.
-Usar o ódio como combustível sempre funciona quando se trata de inimigos despedaçados, – Yasuo disse tomando um gole de sua bebida – mas quando se trata de si mesmo, é sempre uma desgraça – ele pegou a mão dele e deixou a palma visível, e as marcas de golpes executados de mau jeito, alguns calos, e por fim, manchas roxas, ele havia se colocado até o limite, sem nem ao menos perceber, e se importar...
-Não aguentava mais ficar parado pensando que não era minha culpa, – O peito dele ainda subia e descia, fazendo sua voz soar abatida – porque em partes é, e quando eu percebi que nunca mais escutaria ela batendo na minha porta de noite, para ficarmos juntos, não suportei, e no outro segundo aquele alvo estava sendo surrado...
-Não vou dizer que não é sua culpa, eles estavam caçando ela, a fumaça roxa percorreu todo o dojo e parou apenas quando a encontrou... - Yasuo encarava as lascas de madeira, a conversas não tinha contato visual – Ela tinha problemas, tinha segredos, mas não nos confiou a eles, simplesmente ficou aqui, achando que não a encontrariam...
-Por que infernos esta me dizendo isso? – Wukong bateu os dedos no chão, queria se isolar, fugir, mas seu corpo não tinha coragem de levantar e ir embora, ele tinha que estar ali...
-Shen me pediu para ir atrás de Kayn... – Yasuo disse fazendo Wukong encara-lo pela primeira vez na conversa – A sobrinha de Karlyah, Fareeah tem poderes, ela não os controla, ele apenas a protege, pelo menos por enquanto, Shen e Zed não podem sair, eles vão protege-la, mas precisam de respostas, e Ionia, precisa a Ordem das Trevas completamente extinta...
-Eu... – Wukong sonhava com que isso acontecesse que ele tivesse a chance, mas agora, parecia errado - Eu... n-não estou pronto, eu..
-Eu vi você Wukong... – Yasuo o acalmou – Diversas vezes, você já era espetacular em combate, um prodígio, mas lhe faltava algo para acreditar, algo para crer, é o momento para se encontrar, mas você precisa ser forte, mais do que já é, não pode se confundir em momento algum, Karlyah precisa de...
-Justiça... – Wukong o interrompeu – Ela precisa de justiça, não de vingança!
-Sim! Lute por isso, por aqueles que se foram, aqueles que você ama, lute pela vida...
-Eu quero... Não! Eu vou! – Ele disse repetindo as três frases como um mantra na cabeça - Mas, e você, pode dizer que funcionou para você?
-Não, eu lutei por aqueles que se foram, lutei pelo meu país e pela vida... – Yasuo dizia se relembrando, mas não ficando tenso por resgatar isso de sua memória... – Por que não tinha ninguém pra amar, e quando eu estava me perdendo, meu próprio país me traiu, e eu perdi os motivos pra lutar...
-Como pode ter tanta certeza que vai dar certo pra mim? – Wukong tinha apenas uma fagulha de dúvida.
-Diferente de mim, você é inteligente, e escolheu sair de casa para ficar forte ao ponto de protegê-los, já eu? Saí para festejar.
-Pelo menos você se divertiu? – Wukong respondeu rindo...
-Obvio que não, o saquê que bebo aqui é o mesmo... – Yasuo tomou mais um gole de seu copo.
-E o resto?
-Desgraça Wukong, só o saquê era interessante! – Yasuo respondeu virando o copo e ambos gargalharam, fazendo o clima mudar, ao ponto de repararem o sol raiando na janela da sala de treinamento, a atmosfera de luto havia sumido...
Mesmo Wukong já tendo uma família, um mestre e algo para acreditar...
Um amigo era o que Yasuo queria ser pra ele...
E nesse momento, ambos riam e dividiam um pouco de álcool, fazendo que as risadas saíssem cada vez mais fáceis.
Talvez Wukong fosse o vastaya mais talentoso e sortudo de Ionia...
Ao mesmo tempo que...
Yi acordou completamente renovado da semana exaustiva, sua mente ainda não processava os acontecimentos, apenas reparava que Yasuo não estava no quarto e que seu corpo precisava de um bom banho, ele não era muito alto ou forte, mas sim definido, sua pele encontrou a água morna da banheira, fazendo o sono passar... Logo as lembranças da noite anterior voltaram, suas bochechas coraram e ele ainda não tinha muita fé que desta manhã em diante, estava namorando com Yasuo, assim, de forma tão simples ao ponto de irrita-lo.
E o maior nem estava na cama a lhe esperar, ele olhou para a janela, esperando estar quase de tarde, para ter um motivo para Yasuo não estar no quarto, mas era cedo, bem cedo, o sol ainda estava saindo do horizonte e por isso naquela manhã o frio matinal deixava os banhos quentes mais longos...
Mas a pergunta nunca saia de sua cabeça - Onde ele está?
Yi refletiu, encurtou seu banho com um pequeno pesar e vestiu sua bata branca com as primeiras calças que encontrou, ainda descalço saiu do quarto procurando o maior...
Jin Chuu ainda estava no seu último dia de luto, então era normal que ainda não tivesse muita gente circulando por aí, mas havia alguns alunos focados e decididos a melhorar suas técnicas, das salas de treinamentos podia se ouvir espadas de madeira se chocando e até mesmo projeteis afiados sendo lançados contra alvos, Yi apenas imaginava que Wukong estaria por aí, fazendo o mesmo...
Mas não havia muito espaço em sua mente para se interessar de fato no que Wukong estaria aprimorando, o vastaya já era perfeito em todos os sentidos quando se tratava de Wuju, cada dia ele era mais preciso, mais certeiro e forte, e isso assustava Yi, foram apenas alguns anos de treinamento, ele sabia que logo teria que ver seu aprendiz partir, mas não estava pronto, e talvez, as vezes ele se obrigava a acreditar que era culpa do aluno, mas era apenas medo da solidão lhe atacar novamente...
Mas nos dias hoje parecia tão idiota pensar nisso com Yasuo em sua vida, a pergunta cada vez se transformava em, eu tenho motivos pra temer a solidão?
Sua mente e seu corpo, pelo pouco que ele havia sentido ele, gritava que não, que não tinha por que ter medo, mas o passado, todos sempre eram arrancados de Yi, e depois o assombravam. O Wuju, servia para não deixar isso o consumir, mas ele precisava subir um degrau hoje, um degrau que ele não parecia ser capaz de subir...
Talvez eu devesse ter ficado com sono na cama, esperando ele voltar... Ficar sem raciocinar é tão mais fácil do que criar coragem e agir... - Pensou Yi, andando por Jin Chuu sem nem sequer saber pra onde ia, esperando encontrar a razão de todas essas dúvidas...
Não era exatamente o oposto que Yi dizia para seu aprendiz todo dia? Ele não dizia para Wukong descobrir o mundo e o novo, céus... Ele estava tao perdido, até mesmo no dojo, não fazia ideia de onde estava, ainda era tudo familiar, mas não mais que isso, ele virou à direita e por estar desatento seu corpo chocou-se contra um homem alto e forte, ele esperava que a pessoa pelo menos tentasse o segurar, mas não aconteceu, sua bunda foi de encontro ao chão e ele olhou pra cima vendo Zed com Aliyah nos ombros e Fareeah nos braços...
Tá, ele tinha desculpas para não segura Yi antes de cair...
Como ele consegue? - Pensou Yi, vendo ele sendo um perfeito pai para as duas, e o sorriso no rosto dele mostrava em como ele as amava...
-Parabéns pai! Você derrubou ele...- Aliyah berrou nos ombros de Zed, bagunçando o cabelo dele...
-Eu percebi filha, - respondeu ele tentando de alguma forma ajudar Yi a levantar... - me desculpa, você ta bem?
-Sim... - Yi riu se levantando, batendo levemente a parte de trás da calça, tirando um pouco de sujeira...
-Desculpa mesmo, não prestei atenção aonde andava, – Disse Zed colocando Aliyah no chão, a mesma se aborreceu e mandou rapidamente a língua para o pai, que pareceu não perceber – mas nós estávamos te procurando...
-Sem problema, foi minha culpa, eu também estava desatent... – Yi dizia, mas ao perceber a ultima frase de Zed mudou de assunto – Espera, estavam?
-Sim! - Zed respondeu... – Já faz alguns minutos, estávamos indo no seu quarto...
-Por que? - Yi perguntou vendo Aliyah aproveitando que ele já estava de pé de novo, ela andava como se estivesse em uma missão super secreta, ela parou ao lado de Yi, feliz com o sucesso da missão de provocar o pai, Zed revirou os olhos levemente e apenas mostrou sua língua rapidamente para ela...
-Na verdade, Shen queria conversar com você, você já deve saber o assunto... - Zed simplificou.
-Sim, – Yi respondeu sereno como sempre – mas, mudando de assunto, você viu Yasuo por aí? - Ele disse com rubor nas bochechas.
-Hmmmm... - Aliyah murmurou com um sorriso safado no rosto – Seus danadinh...
-ALIYAH! - Zed a interrompeu puxando a para perto de novo - Já disse que você tem que se controlar um pouco...
-Desculpe, foi mais forte que eu – Ela riu e depois se escondeu atras do pai, envergonhada pela sua indecência...
E Yi ainda estava completamente envergonhado, e sem saber aonde enfiar sua pessoa...
-Mas vocês o viram? - Ele repetiu a pergunta, olhando pra Zed, por que sabia que Aliyah estaria com aquele sorriso maroto no rosto...
-Não... - Zed respondeu – Mas acho que ele deve estar com Wukong, mas, se já quiser falar com Shen, ele está em casa, descansando, vou cuidar do dojo sozinho hoje...
Aliyah chutou a perna do pai com um pouquinho de força...
-Sozinho? - Disse ofendida...
Aliyah fez um bico, falando para o pai que ajudaria se fosse preciso, Zed sabia, mas fazia porque a irritava ele apenas ria da filha fazendo sua pirraça fofa, sem perceber, os dois deixaram Yi solitário, ele apenas os observando, com um sorriso antigo e seco ao mesmo tempo, reparando na família a sua frente e relembrando da sua antiga...
Passado, isso é passado... Essa família nem de longe lembra a sua Yi, é, de fato nem um pouco... - Ele dizia a se mesmo, fazendo Aliyah reparar que Yi sempre ficava um pouco desconfortável perto deles, mas a garota não entendia, isso apenas a chateava, ele não gostava de mim? - ela pensava ficando um pouco triste...
E Yi pensava nele, em todas as visões que já teve de Yasuo, ele estava perdidamente apaixonado por ele, apenas com medo de dizer...
-Vou indo logo ver Shen então, – Foi a primeira desculpa que encontrou para não ficar ali... - se encontrarem Yasuo, diga a ele que estou lhe procurando...
-Tudo bem... – Aliyah disse ainda pensando que talvez fosse chata, e que Yi, não a suportasse...
Mas Zed logo a cutucou e perguntou se estava tudo bem...
Seu pai logo tirou aqueles pensamentos dela ao agachar no chão de costas viradas para ela, e no segundo depois, ela já estava em seus ombros, explorando Jin Chuu novamente...
Então todos apenas continuaram a caminhar, Zed com suas duas filhas, e Yi sozinho, indo em direção aos jardins, onde pela primeira vez conheceria a casa do casal dono do dojo, os corredores foram curtos e depois de alguns minutos, o vento de uma manhã um pouco fria acolhia sua pele branca, as flores e plantas exalavam seu cheiro doce por toda a área externa...
Deixando algo parecido como os dias de fim de inverno, aonde as flores começavam a desabrochar e se mostrar...
Jin Chuu era acima da cidade, e a casa do casal poderia ser considerada ainda mais alta que o dojo, ela era tão colada ás arvores que parecia ter sido fruto das mesmas, a relva crescia de forma selvagem, bela e quase livre, tudo tinha seu espaço para crescer, mas ao mesmo também havia espaço para o que agora são duas meninas brincalhonas se divertirem, e também espaço para um casal ter seus momentos a sós...
Era perfeita, deslumbrante, feita de madeira e pedras, lembrava ao dojo, mas remetia a Odjjin, e também, remetia a família ali dentro...
Yi continuo andando pela trilha feita de pedras brancas, até chegar na porta da casa, suas mãos medias bateram nela três vezes, de forma rápida e sútil...
-Aliyah?! - A voz de Shen gritou de lá de dentro...
-Não... - Yi o respondeu – Sou eu, Yi, Zed disse que queria conversar comigo... - Disse ele ainda olhando a porta de madeira fechada, esperando que ela fosse aberta ou uma permissão para entrar...
-Ah, entre, está aberta! - Shen respondeu e Yi entrou logo depois, vendo o interior e avaliando sem ao menos perceber a casa por dentro, ela tinha móveis simples que pareciam feitos a mão por um ótimo marceneiro, mas eles ainda eram simples, porém eram bem feitos, variados e aconchegantes...
Yi não via Shen pela casa, mas ele decidiu simplesmente entrar em alguns cômodos e procurá-lo...
A sala de jantar tinha uma mesa redonda de madeira, ali mesmo haviam escadas que levavam para o piso superior, e do lado, a cozinha, aonde Shen estava, sem nenhum tipo de armadura ou máscara, apenas seu rosto bonito e roupas finas, ele estava cozinhando comida suficiente para bezerros, mas parecia adorar tudo que fazia...
-Você cozinha? - Yi perguntou sentando-se nos bancos da bancada, aonde algumas frutas estavam sendo descascadas e um peixe ainda com escamas parecia esperar o cozinheiro prepara-lo...
-Sim, quer dizer... - Shen coçou sua cabeça – De vez em quando Zed me obriga a ficar em casa de folga, quando isso acontece aproveito para mimar um pouco os três bisões famintos...
Ele fala como se Fareeah estivesse há séculos na casa... – Yi não conseguia parar de reparar em como a garota vastaya já era especial para eles...
YI voltou para a realidade, afastou seus pensamentos e voltou a prestar atenção no que Shen dizia...
-Mas as vezes é chato ficar aqui em casa, mas eu gosto de cozinhar... - Shen disse se aproximando com uma faca de cozinha e a entregando para Yi – Pode descascar pra mim?
-Claro... - Yi pegou a faca em uma mão e uma laranja em outra, começando a corta-la com facilidade... Ele já havia feito aquilo com pessoas, laranjas não eram lá muito desafio... - Mas não está um pouco cedo?
-Está, mas a comida não é quente, quanto mais cedo começar melhor...
-Você se acha ansioso ou organizado? - Yi ironizou e Shen riu...
-Só um pouquinho... - Shen virou para ele após pra pegar o peixe e começar finalmente a tirar suas escamas - E você?
-Eu o que? - Yi questionou já na sua quarta laranja...
-O que faz quando se estressa?
-Medito...
-E quando está cansado de meditar?
-Medito mais para resolver essa incógnita...
Shen gargalhou e virou o peixe, começando a tirar as escamas do outro lado, enquanto Yi terminava as laranjas e começava a espreme-las dentro de uma jarra...
-Não faz muito tempo que eu tinha a mesma rotina... - Shen cortou a fina pele do peixe que estava e começou a retirar pedaços da carne branca...
-E o que o mudou? - Yi disse ansioso para que talvez indiretamente, Shen lhe ajudasse...
-Eu meditava para fortalecer meu lado espiritual e estar cada vez mais no nível das sombras que já controlaram Zed... - Shen disse lembrando dele e de Zed adolescentes, lutando até os limites... - Meu pai me contatou, me fez enxergar o que eu não via, e hoje, medito só para agradece-lo, e você? Ainda busca a paz?
Não apenas ela...
-Sim... - Disse ele largando as laranjas e começando a embrulhar o peixe e o arroz nas algas, junto com raízes forte e algumas tiras de vegetais variados... – Eu tento alcanç...
-Não precisa explicar... – Shen o interrompeu cortando a alga já recheada em vários pedaços, todos perfeitamente divididos – Eu conheço a história do último mestre de Wuju...
-C-Como você? - Yi disse largando os vegetais...
-Não importa, mas o que de fato importa, é que tem pessoas na sua vida, te esperando para construir algo novo, você devia se entregar, seu passado é tenebroso, mas não é eterno...
-E-eu e-estou confuso... - Yi olhava Shen falar enquanto se movia na cozinha, cuidado de varios procedimentos ao mesmo tempo, tudo sozinho...
-Não fique – Ele parou e encarou Yi – eu apenas reparei algumas coisas e agora estou te falando, o Wuju e o Wukong te ajudaram a não ficar cego de ódio e procurar vingança, e agora, talvez o azulado seja o cara pronto pra te fazer esquecer a dor, ou pelo menos, viver com ela... - Shen disse colocando a primeira tabua em cima do balcão, começando a preparar outro peixe diferente...
-Foi o que Zed fez com você? - Yi perguntou, fazendo Shen lhe encarar...
-Zed fez mais do que me livrar de Kinkou, ele me deu uma nova vida... - Shen disse voltando a fatiar o peixe alaranjado...
-Por que me chamou aqui? - Yi mudou de assunto, ainda com tudo que Shen havia lhe dito em mente...
O ninja largou a faca e lavou suas mãos rapidamente, apenas para começar a andar em direção as escadas da sala...
-Me siga... - Disse ele já subindo os degraus, e Yi o acompanhou, um pouco tenso...
O amarelo o seguiu por um corredor até Shen entrar em seu quarto, Yi entrou logo depois, observando o quarto do casal, era normal, não havia muitas coisas diferentes do que ele imaginava, ele olhou para o ninja esperando uma explicação...
-Eu devia ver algo? - Yi disse olhando em volta...
-Ainda não... - Shen disse, logo depois começou a movimentar sua mão rapidamente, sem as fechando em símbolos que serviam como selos protetores espalhados por toda Jin Chuu, ela já foi o Olho do Crepúsculo, era seu dever ser perfeito nos rituais ninjas, e também em selos ninjas, ele usava esse conhecimento para proteger sua família...
E para mostrar a Yi o que havia visto, suas mãos começavam a recriar detalhe por detalhe a cena da madrugada de ontem.
Conforme Shen mexia suas mãos em diversos símbolos ninjas que Yi não conseguia acompanhar, ele sentia a atmosfera no quarto mudar, era diferente da realidade, era algo leve, frágil e delicado, tudo puxava ao tom do mais claro roxo, e Yi tinha a sensação de que se pulasse, talvez flutuasse...
Shen seguia focado, dizendo mantras do antigo dialeto Ioniano, o espadachim podia sentir a magia anciã circular por todo o ar ali...
Yi reconhecia algumas palavras, poucas, mas as que mais eram claras e altas ele compreendia...
Tuytn sael Yu...
Saelye...
Shen estava recriando uma recordação, uma memória não muito distante, e a reproduzindo, perfeitamente na frente de Yi. ele percebeu que as paredes e tudo que não estivesse nas representações da memória sumiram, havia apenas a escuridão como horizonte, havia luz apenas onde ele e Shen estavam, e aonde ele queria que tivesse, e quando os objetos começaram a surgir, eles eram etéreos, roxos, transparentes, a luz os iluminava, mas os atravessava, mas ao mesmo tempo, eles também reproduziam sua própria luz...
E quando Shen terminou, a memória que existia apenas em sua mente estava viva a frente de Yi...
Na visão um berço ficava no centro de tudo, Fareeah estava dentro, ela chorava, e de fora da luz, das sombras saiu uma segunda imagem, era Shen, ele tentou se aproximar do berço e acalmar a garota, mas quanto mais tentava, mais seu corpo parecia grudar no chão, algo o impedia de prosseguir...
Era uma força, algo que o queria longe, e queria estar perto da garota, ela passava por todos os objetos e os derrubava, os brinquedos e tudo que alcançasse, tudo voava parecendo uma ventania sinistra, mas Yi conseguia ver algo tão antigo poderoso tentando entrar, mas ele falhava, sempre que tentava atingir Fareeah ou Shen, uma força boa, calma e renovadora era superior, ela impedia a maldade de atingir os dois, era algo que não podia ser controlado, um instinto que os protegia, e quando aquilo que os afligia desistiu, Shen pode ir até sua filha que ainda chorava, ele pode colocá-la em seu colo, e acalma-la, o olhar dele era confuso e preocupado, enquanto a menina agora o sorria...
O Shen que recriava a memória observava tudo aquilo com pesar, medo, mas ao mesmo com uma postura de guerreiro...
A visão se distorceu e mudou para Shen com Fareeah nos braços de novo, mas em outro lugar, que Yi reconheceu como a cozinha do primeiro andar...
Das trevas, dois olhos vermelhos encaravam os dois como se fossem pedaços de carne, os olhos eram ameaçadores, e o ninja encarava aqueles olhos com uma horrível familiaridade, aquele era a maldade que atacara os dois antes, mas ele não atacava agora, a força que protegia os dois era maior, mais poderosa e impedia que ele sequer conseguisse se mostrar por inteiro, e todo essa bondade, essa esperança vinha de Fareeah...
Ela era maior que as sombras...
A garota não estava mais chorando, ela encarava o demônio e o expulsava com o olhar, sem medo, entendendo seu propósito, mesmo sendo tão nova...
Quando a força de Fareeah era insuportável para os olhos escarlates, ele foi embora, e ao sumir, a visão se desfez, e Shen desfez os símbolos com as mãos, com um filete de sangue saindo do nariz, e os olhos inchados em um vermelho exausto...
-O demônio é o meu passado... - Shen disse ainda olhando para o lugar aonde segundos atrás era a imagem etérea dele e de Fareeah – E ela é meu futuro, eu preciso protege-la, preciso ficar com ela todas as noites, afastar as sombras, mas preciso saber mais...
Yi escutou, com seus olhos ainda não acreditando no que havia visto...
Ele foi até o ninja e tocou seus ombros, e trouxe o olhar de Shen para si...
-Minha espada está ao seu dispor... - Ele se ajoelhou, jurando que deste dia em diante, levantaria sua espada contra as sombras que afetam a família em sua frente...
Contra as sombras que afetam Ionia...
No almoço...
Depois escutar o que Shen tinha a dizer, ele escutou algumas informações para começar a tarefa, eles conversaram e Yi ajudou Shen terminar o almoço, o ninja ofereceu para que ele ficasse, chamasse Yasuo pra que todos almoçassem juntos, mas Yi recusou, deixaria o momento apenas pra família, e assim que Zed e as meninas entraram em casa, Yi começou a ir direção à saída.
-Tem certeza que não quer almoçar com a gente, Yi? - Shen disse realmente querendo que ele ficasse.
-Tenho! – Ele apenas queria encontrar Yasuo e passar o fim daquela manhã a tarde toda com ele, para de noite, partirem em direção ao vilarejo onde Karlyah havia nascido... - Prometo que na próxima eu e Yasuo almoçaremos aqui...
-Vou cobrar... – Shen disse desistindo e deixando ele ir embora...
-Ah, – Zed chamou a atenção de Yi antes dele sair da casa – Yasuo esta te esperando no quarto de vocês...
O amarelo imaginava, mas agradeceu Zed pela informação mesmo e logo depois saiu da casa, deixando a família com sua privacidade...
-O almoço está pronto? - Zed disse se aproximando lentamente do menor...
-Está, - Shen disse como se não percebesse os movimentos do esposo – onde está Aliyah? - Perguntou vendo o maior empurrando com delicadeza seu corpo contra a parede que dividia a cozinha e sala...
-Está lá em cima, tomando banh... - Shen o interrompeu e beijou finalmente seus lábios, Zed abraçou seu corpo descendo os braços para a cintura do menor, calmamente trazendo o em seu colo, fazendo que ele soltasse um gemido fraco ao sentir a pressão dos músculos do maior o desejando em todos os sentidos, Shen levou suas mãos até as costas largas de Zed e as dedilhou, ele já sabia o desenho delas, mas adorava sentir a pele dele sob seus dedos, enquanto ele atacava seu pescoço sem piedade, fazendo ambos arfarem quando o folego perdia seu ritmo...
Pequenos passos foram ouvidos descendo as escadas, fazendo Zed gemer em negação e soltar o menor ouvindo a voz da filha cantarolando cada vez mais perto, Shen apenas riu e arrumou as roupas amassadas de ambos, e quando a menina chegou na cozinha, ela olhou para os pais com um olhar desconfiado, seu cabelo estava molhado e jogado para trás, seus braços estavam na cintura e seus olhos verdes os mediram por alguns segundos enquanto eles apenas esperavam que ela terminasse sua cena...
-Seu pescoço foi atingido por um bastão papai? - Ela disse encarando algumas marcas roxas no pescoço de Shen, ela não entendia, só sabia que eram esquisitas...
Aliyah não entendeu muito bem o que estava acontecendo, mas depois que disse isso, seu pai foi até o espelho do lavabo e ao ver as marcas começou a gritar e bater em Zed, que tentava se defender, mas tudo não era em tom sério, e sim em algo divertido, como se fosse uma piada entre o casal...
Aliyah nunca entendia quando isso acontecia, o que eram as marcas? Mas ao mesmo tempo ela gostava de ver os pais naquele clima, e enquanto Shen tentava esconder as marcas no pescoço, Aliyah brincava com os dedos de Fareeah...
-Nossos pais são um pouco anormais... - Ela disse dando pra menina seu brinquedo favorito, era uma imitação do yordle de capuz roxo que Zed havia esculpido há alguns anos para a mais velha, o brinquedo de madeira era inspirado em Kennen, Aliyah amava o brinquedo, mas Fareeah amava o três vezes mais, e quando a menina o viu na estante ontem, chorou pra ficar com ele, Aliyah deu para ela um pouco chateada, mas desde então Fareeah não o soltava mais... - Mas você vai adorar se acostumar a eles, e também vai amar a tia Akali e o tio Kennen...
Disso ela tinha certeza...
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