POV Liam.
Saguão do Hotel, 29 de Dezembro de 2016.
Harry e eu chegamos à recepção do hotel para verificar os papéis de nossa estadia, conforme a camareira de nosso andar, Kate, havia nos avisado.
Não demorou muito para que uma simpática recepcionista chamada Lauren atraísse a atenção de Harry em uma conversa engajada que ia além de assuntos de estadia. Assim que ela descobriu que éramos de Nova York, meu irmão que, por sua vez, não costuma perder tempo quando encontra uma jovem bonita e simpática, animou-se ao saber da naturalidade nova-iorquina da moça.
Logo os dois já estavam em um papo eletrizante. Para eles, pensei. Entediado, me vi indo sentar em alguma das poltronas que ficavam distribuídas a frente da recepção. Peguei algumas revistas inglesas sobre uma pequena mesa a minha frente, mas por mais que buscasse interesse nelas eu simplesmente não conseguia. Um certo par de olhos chocolates invadiram meus pensamentos não permitindo que nenhuma notícia, por mais importante que fosse, pudesse atrair minha total atenção.
Me sentia estranhamente atraído em descobrir mais sobre Luna. Queria entender algumas coisas sobre ela como, por exemplo, o fato de eu ter sonhado com ela antes mesmo de conhecê-la, a maneira como ela se foi do aeroporto sem ao menos se despedir, e por que afinal eu estava tão empenhado em tentar descobrir essas coisas. A última pergunta era muito mais para mim, do que para ela.
Observando Harry de longe, percebi que a conversa com a recepcionista iria além de alguns minutos e decidi que ele não notaria minha ausência, caso eu fosse de volta para o nosso quarto. Eu já tinha minha própria chave, então não precisaria ficar ali assistindo meu irmão galinha, paquerar enquanto tudo que eu queria, era um banho quente e uma cama.
Sem que Harry notasse me dirigi ao hall do hotel pegando o elevador para o nosso quarto no décimo oitavo andar. Assim que as portas se abriram no corredor onde ficava minha suíte, uma sensação estranha, porém de certa forma gostosa, passou por mim, me causando um calafrio.
Alguns passos antes de chegar finalmente a porta, notas de uma música tocada, no que parecia ser um piano, invadiram o ambiente. O mais engraçado é que eu poderia jurar que a música vinha de dentro do meu quarto. Peguei a chave cuidadosamente em meu bolso levando a até a fechadura da porta de maneira que se alguém realmente estivesse dentro do quarto, não pudesse perceber minha presença. Por mais que eu soubesse que o correto seria denunciar aquilo para alguém da segurança do hotel, eu não me via fazendo isso, a melodia era tão bonita que me atraiu instantaneamente à curiosidade de saber quem a tocava.
Delicadamente abri a porta sem o menor ruído e me vi imóvel ao ver a figura pequena de traços delicados dedilhar seus dedos sobre o enorme piano de calda na ante-sala que havia em minha suíte. Luna tocava tão compenetrada que nem sequer percebeu minha presença ali, as notas do piano misturadas ao som de sua voz cantando me trouxeram uma estranha sensação de alegria que há muito eu desconhecia.
Seus dedos eram tão ágeis sobre o instrumento e seus olhos fechados indicavam que ela cantava com o coração. Quando a última nota soou e ela virou-se em minha direção, seus olhos demonstravam a surpresa em me ver ali.
Talvez esse fosse o momento em que eu deveria dizer algo do tipo como “Ei, o que você está fazendo no meu quarto”? ou “Como você entrou aqui”?, mas tudo que consegui pronunciar foi
-Você toca muito bem!
Luna continuou a me encarar surpresa por minhas palavras tão despreocupadas, e confesso que eu mesmo estava surpreso com minha calma aparente, mas sabia que por dentro eu estava uma pilha de nervos com a presença dela ali. Nervos que não eram afetados por ter uma intrusa no meu quarto, mas simplesmente por ser ela a mulher dos meus sonhos, sentada no piano da minha suíte em frente a mim.
A mulher dos meus sonhos.
Sorri mentalmente em como a duplicidade do significado daquela frase. Poderia representar várias coisas, mas para mim significava apenas o fato de eu ter sonhado com ela, antes mesmo de conhecê-la e não de desejá-la como a mulher que sempre sonhei. Esta infelizmente, já não estava mais neste mundo. Luna deve ter percebido a mudança na minha expressão, pela lembrança que eu tivera de Isabel, mesmo sem saber do que se tratava. Provavelmente ela devia imaginar que finalmente a minha ficha havia caído, e que ela era apenas uma estranha invadindo meu quarto.
Desajeitada, ela se levantou do piano como quem pede desculpas por estar ali, e caminhou em minha direção. Só agora pude perceber que continuava imóvel em frente à porta. Ela veio, e parou a minha frente, esperando que eu abrisse caminho, para que então pudesse sair do meu quarto. Seus olhos me encararam de forma travessa por ter sido pega, e uma mecha de seu cabelo caiu desobedientes por seu rosto, e sem que eu percebesse, estava pousando minha mão sobre aquela parte dela, colocando a pequena mecha atrás de sua orelha.
Ela arregalou seus olhos, surpresa com minha atitude e não pude conter um sorriso pela sua expressão. Vendo meu sorriso ela pousou sua mão sobre a minha, que ainda segurava a mecha por trás de sua orelha e deu um passo á frente, em minha direção. Perdi uma batida do meu coração, e dos meus pulmões, não havia entrada ou saída de ar.
Meus olhos se prenderam com os dela num contato visual íntimo demais para dois estranhos, e antes que eu pudesse perceber, ela estava perto demais, próxima demais. Pude sentir o cheiro de morangos exalando dela, como um golpe de ar fresco nos meus pulmões vazios. De repente senti minhas pernas tremerem com o contato tão íntimo de nossos olhos. Meus olhos instantaneamente se fecharam e eu nem sabia do porquê os estava fechando, mas sabia que assim deveria ser.
- Liam. – Ela sussurrou. E pude sentir seu hálito quente invadir minhas narinas.
- Luna. – Respondi instantaneamente sem controle sobre minhas palavras.
- Liam, acorda cara. Liam, Liam! – Uma voz no fundo da minha consciência me chamou tirando-me daquela sensação boa de estar com Luna, e de repente, me deparei com um Harry impaciente na minha frente me sacudindo enquanto todos a nossa volta, observavam.
- Já pode me soltar Hazza. Eu já estou bem acordado. – Disse a ele enquanto tentava entender o que estava acontecendo.
- Cara, você estava dormindo aqui no meio do saguão.
- Ai Harry, desculpa, é que você demorou. Cara você não toma jeito, não é?
- Eu? – Harry falou com cara de desentendido.
- A recepcionista Harry, não pense que eu não notei. – Disse rindo.
- Bom, pelo menos eu vivo em mundo com mulheres reais e não por aí sonhando, não é? – Retrucou.
- E quem foi que te disse que eu estava sonhando alguma coisa? – Perguntei a ele, implorando para que eu não tivesse falado durante o sonho.
- Eu e o hotel inteiro. Cara um dia quando decidir parar de me enganar você me conta quem é essa Luna que você tanto sonha?
Guardei para mim a resposta que eu planejei mentalmente responder para o meu irmão. Sinceramente, eu não entendia o que estava acontecendo comigo, mas tive que confessar somente a mim, claro, que fora um dos melhores sonhos que tive nos últimos tempos.
POV Luna.
Quarto de Liam e Harry, 29 de Dezembro de 2016.
- Liam. – Consegui pronunciar em sussurro.
- Luna. – Ele me chamou de volta.
Me aproximei lentamente sentindo o calor de sua respiração contra o meu rosto. Era um perfume maravilhoso, não existia nada igual aquilo. Mas mesmo desconhecido, era reconfortante, como se de repente, eu estivesse em casa. Fechei meus olhos à espera de receber seus lábios contra os meus, ansiando por saber qual seria seu gosto. Mas de repente eu não sentia mais sua mão quente embaixo da minha, eu não sentia o calor de sua respiração, eu não sentia nada.
Nada!
Abri meus olhos e fitei o vazio a minha frente, a porta do quarto continuava fechada como se ele não estivesse ali segundos atrás.
Olhei ao redor procurando encontrar Liam, só que ele não estava mais lá e quando meus olhos se voltaram para porta quase morri pela segunda vez, se é que isso era possível, ao ver Gabriele parada na minha frente.
- Ei, não me olhe assim, quem estava sonhando acordada aqui era você. – Ela me disse notando a minha provável cara de espanto ao avistá-la.
- Sonhando acordada? – Perguntei tentando me lembrar de que sonho ela estava falando, pois para mim tudo havia sido tão real. Eu não tinha criatividade suficiente para imaginar aquele perfume.
- Me conte você Luna, o que foi que aconteceu?
Conto ou não conto? Ok, eu conto.
Decidi contar a Gabriele o que tinha acabado de acontecer, pensei que se alguém poderia me dar algum tipo de resposta, essa pessoa seria ela. Então contei desde o início, do momento em que cheguei a suíte, a conversa que eu ouvi, o piano, a música, Liam parado na porta, o toque de sua mão ajeitando a mecha do meu cabelo e como ele simplesmente desapareceu.
Quando terminei de passar a ela o relato completo dos últimos acontecimentos, um click em minha cabeça me chamou a atenção para algo que eu ainda não havia me dado conta.
- Aonde você quer chegar Luna? – Ela me questionou.
- Gabriele, você não está vendo. – Comecei a explicar algo que para mim de repente parecia óbvio demais. – Ele pode me ver, mas mais que isso, ele pode me tocar e então como você me explica o fato de ele poder fazer tudo isso estando vivo e eu morta, não seria impossível? Sem falar no fato de ele simplesmente desaparecer, pessoas vivas não desaparecem dessa forma.
Gabriele me fitou por um tempo absorvendo tudo que eu acabara de falar, e então após um longo suspiro ela finalmente se pronunciou.
- Luna, veja bem, eu não quero que você fique magoada nem nada disso, mas a verdade é que você esteve sozinha o tempo todo no quarto.
- Hã? – Perguntei sem entender.
Gabriele só poderia estar maluca, eu tinha certeza do que tinha visto e acontecido, será que além de morta agora eu era louca? Não! Isso estava fora de cogitação, Liam estava no quarto comigo, eu o vi, o toquei. Eu tinha certeza disso.
- Luna, eu estou no quarto há alguns minutos já, e bem você estava exatamente como quando eu a encontrei pela primeira vez.
- Como no alto daquele prédio? – Perguntei me recordando o dia em que Gabriele e eu nos conhecemos.
- Sim, exatamente. Quando eu cheguei aqui você estava sentada no piano e fingia tocar alguma música, não sei exatamente o que você estava fazendo.
Senti o ar me faltar nessa hora, bem, eu realmente já não precisava mais dele, porém eu tinha certeza de que tinha tocado aquele piano.
- Gabriele, você está errada. – Disse a ela sentindo minha voz falhar com a revelação. – Eu toquei aquele piano.
- Não Luna, você não tocou. – Ela respondeu.
Caminhei na direção do piano e me sentei na frente dele, eu queria provar a Gabriele que eu não estava louca e que ela estava errada. Estralei meus dedos no ar como os grandes pianistas fazem, e dei um sorriso gentil para Gabriele, se ela duvidava, ela iria ver agora.
- O que vai fazer? – Ela me perguntou observando minhas ações em frente ao piano.
- Eu vou tocar, vou provar a você que eu realmente toquei.
- Luna, n...
Mas antes que ela pudesse concluir sua tentativa de me parar eu coloquei meus dedos sobre as teclas, mas havia algo errado. Eu não conseguia movê-las, por mais esforço que eu fizesse, o piano permanecia do mesmo jeito, nenhum som saia dele.
Levei meus olhos para baixo, observando o movimento das minhas mãos e percebi que diferente de minutos atrás elas não alcançavam as teclas, elas...
Elas as ultrapassavam.
- O que está acontecendo Gabriele? – Perguntei assustada olhando para as minhas mãos enquanto me levantava do piano e seguia de volta em sua direção.
- Luna, deixe me contar o que eu vi e você tira as suas conclusões, está bem?
Eu não tinha forças para desacordar, estava assustada demais, confusa demais, então apenas assenti e Gabriele começou a falar.
- Como eu te disse, quando eu cheguei aqui, você estava sentada no piano, parecia realmente que você estava tocando, você estava muito concentrada, eu a chamei por algumas vezes, mas você não respondeu então, depois de certo momento, eu concluí que você só poderia ter entrado naquele transe de novo, como no dia em que nos conhecemos.
A medida que Gabriele contava, eu simplesmente não tinha palavras para responder. Então permaneci quieta enquanto ela relatava o que tinha visto.
- Enfim, depois de um tempo você ficou olhando para a porta, mas não tinha ninguém lá, porém eu poderia jurar que você estava vendo alguma coisa e foi aí que você se levantou e caminhou em direção a saída do quarto e ficou lá parada, até chamar pelo nome do tal Liam. Vendo que eu ainda não falava nada Gabriele me fitou assustada, provavelmente perguntando-se o que estava passando pela minha cabeça ou seu eu tinha entrado no tal “transe” de novo. Mas, eu apenas assenti a ela mostrando que eu estava bem, e a incentivando a continuar. Ela me mediu, e constatando que eu estava bem continuou.
- Como eu pouco estava entendendo o que estava acontecendo eu fiquei ao seu lado com medo de que você saísse pelo hotel, já que este rapaz pode te ver. E quem garante que outros também não possam? Então, quando eu me coloquei na sua frente para te impedir caso isso acontecesse, foi a hora que você me viu. E foi isso que aconteceu.
Eu não tinha palavras para o que Gabriele acabara de me contar, ela simplesmente havia detalhado toda a cena entre Liam eu há alguns minutos atrás com a diferença é que na narrativa dela não havia Liam nenhum naquele quarto. Será mesmo que quando a gente morre enlouquece?
Eu tinha que parar de pensar que eu era louca ou qualquer dia eu iria mesmo ficar, mas afinal de contas o que foi então que aconteceu?
- Gabriele, eu não entendo. – Falei olhando para minha amiga que estava compadecida da minha confusão mental. – Tudo pareceu tão real.
- Luna, eu não posso te explicar o que aconteceu, por que eu mesma não estou entendendo muita coisa, alucinações seria o mais provável, mas eu não acredito que isso aconteça quando estamos mortos, então eu simplesmente não sei o que te dizer.
Se Gabriele que era minha única esperança não sabia o que falar, eu menos ainda sabia o que pensar. Ficamos ali olhando uma para outra, a confusão evidente em nossas expressões. No meu rosto se via a interrogação de quem queria respostas, no dela o desapontamento em não me ajudar.Quando ouvimos o click da maçaneta girar foi que nos demos conta de que ainda estávamos em um quarto que não nos pertencia. Para Gabriele não havia nenhum problema já que pelo pouco que sabíamos Liam ou Harry não poderiam vê-la, mas quanto a mim precisava sair dali o mais rápido possível.
- Vamos Luna, pense na colina e estaremos lá em instantes. – Ela me disse enquanto ouvíamos o som da porta se abrindo.
Fechei meus olhos e os abri novamente, mas eu continuava no mesmo lugar, Gabriele me olhava com desespero enquanto eu simplesmente não conseguia me teletransportar como mais cedo. Vendo que não estava dando certo ela me puxou através das portas que davam acesso as camas dentro da imensa suíte.
- Ótimo. – Disse a ela. – Agora além de morta, louca, eu estou com defeito. E da próxima vez que decidi atravessar paredes comigo me avise.
- Shhiu. – Ela ralhou comigo. – Assim eles vão nos ouvir, quer dizer te ouvir.
Revirei meus olhos com as palavras de Gabriele, por que para mim tudo aquilo além de sem sentindo começava a parecer estúpido.
- Escute Luna, eles estão conversando, parece ser algo sobre você.
- Sobre mim? – Perguntei enquanto chegava minha cabeça perto da porta para ouvi-los.
- Harry é sério, eu sonhei com ela aqui, no nosso quarto e ela tocava piano, exatamente aquele piano. – Era a voz de Liam, quando ele disse as palavras piano, ela, aqui, nosso quarto, eu tive que me conter enquanto Gabriele me fulminava com os olhos para que eu ficasse quieta.
- Liam, eu acho que você deveria procurar um psicólogo, não é normal ter esses sonhos ainda mais quando se está na recepção de um hotel.
- Você não acredita em mim mesmo, não é? – Ele disse.
- Eu só não acredito que você não a conheça, e acho que você poderia muito bem parar com este mistério e me contar de uma vez por todas quem é esta garota.
- Harry, eu já te disse, eu não sei, eu simplesmente sonhei com ela há dois dias e desde então esses sonhos vem se repetindo e pode acreditar que eu fiquei tão surpreso quanto você, quando a vi no aeroporto, eu não tenho a menor ideia de quem ela é.
- Quer sabe, se você não quer me contar eu simplesmente não toco mais nesse assunto, eu vou tomar um banho e sair que eu ganho mais.
E assim foi que ouvimos fortes passadas em direção ao quarto em que estávamos, Gabriele se pudesse teria uma sincope, mas ela se controlou bem, apenas olhou para mim como se dissesse “Não vá falhar agora” e eu assenti a ela. Segundos depois estávamos na colina ao lado do aeroporto.
- Deus, eu não podia só morrer e ver anjinhos? – Eu disse a ela assim que percebi que estava segura para falar.
- Luna, eu acho que já sei o que está acontecendo, você não vê?
- Eu? – Do que Gabriele estava falando? – Eu não vejo nada além de absurdos, você consegue ver alguma coisa nessa história maluca?
- Luna, preste atenção garota. – Gabriele me fitava como se tudo fosse óbvio demais. – Você prestou atenção no que eles conversaram?
- Sim, mas... – E de repente se fez a luz na minha mente. – Ele sonhou, exatamente com o que aconteceu, é isso?
Como eu não prestei atenção antes? Claro, Liam havia dito ao tal Harry que havia sonhado comigo, no seu quarto, tocando piano, mas o que aquilo tudo queria dizer? Isso eu ainda não havia entendido.
- Sim, Luna é isso, veja só. – Gabriele começou então a me explicar. – Você não se lembra de mim no quarto, certo?
- Não, mas, o que isso tem a ver?
- Luna, é simples, você e esse rapaz por algum motivo estão entrando em conexões e pelo que eu percebi isso acontece com frequência.
- Conexões? – Perguntei intrigada.
- É Luna, é mais ou menos assim, ele sonha com você e isso de alguma maneira é para você como um chamado entende, ou vice-versa, é por isso que você entra nesses apagões. Eu poderia apostar com você, que quando você está nestes apagões são os momentos em que ele está dormindo.
- Mas ele já me viu estando acordado Gabriele, isso não faz sentindo.
- Talvez, mas nós poderíamos testar, o que você acha?
- Você deve estar ficando louca.
- Louca ou não, eu acho que não custa a tentativa, e depois o que você tem a perder?
- Talvez eu nada, mas ele sim, quem sabe ele enfarte quando descobri que está lidando com uma morta, está bom pra você?
- Luna, deixe de ser boba, ele vai estar dormindo, e não saberá de nada.
Gabriele e eu ficamos naquela discussão por algumas horas. Ela achando que eu deveria testar as tais conexões, enquanto eu achava tudo aquilo muito arriscado, depois de uma longa discussão Gabriele me venceu, mas eu decidi que tentaria aquilo dentro de uma semana, afinal eu não tinha a menor ideia de como fazer aquilo dar certo, e precisava me preparar.
Uma semana depois...
Colina ao Lado do Aeroporto de Londres, 05 de Janeiro de 2017.
- Luna, você está certa do que vai fazer?
Gabriele e eu já havíamos repassado aquela conversa durante toda a semana, mas eu não tinha a menor ideia de como iria fazer aquilo.
Estávamos na colina ao lado do aeroporto de Londres observando a cidade afastada de nós, enquanto eu me preparava para minha primeira invasão oficial aos sonhos de Liam.
A ideia de invadir a mente de uma pessoa soava tão estranha quanto à ideia de Michael Jackson ter morrido, mas bem, o Michael realmente havia morrido e eu precisava de alguma maneira descobrir o que me conectava a Liam da maneira como havíamos nos conectado no hotel há uma semana. Minha mente dava voltas e voltas enquanto eu pensava em como faria aquilo, e por um instante me perdi na conversa que estava tendo com Gabriele.
- Luna, você está me ouvindo? – Ela me tirou de meus devaneios com sua pergunta
- Oi? Desculpe, eu estava pensando em como fazer isso dar certo.
- Luna, vocês já se conectaram antes e bem, eu não vejo como isso não dar certo. – Minha amiga me incentivava enquanto eu era puro nervosismo. – Você acha que está preparada? Você está certa do que vai fazer?
- Definitivamente não, mas eu preciso entender o que acontece entre eu e este rapaz, Gabriele, não é mais uma questão de eu estar preparada, mas de compreensão. – Respondi a minha amiga.
- E é claro de que o fato de ele ser absolutamente lindo também não tem nada haver com isso certo?
- Deixe de ser boba. – Eu realmente achava Liam extremamente bonito, entretanto eu estava morta e ele vivo e isso não ajudava em nada. – Até onde eu me lembro eu estou morta e ele vivinho então não tem nada haver com ele ser bonito ou não.
Se Liam e eu tivéssemos nos conhecido há dois anos, eu com certeza pensaria de outra forma, ele tinha algo de especial além dos lindos olhos, sem falar no corpo perfeito e na boca convidativa.
Ok! Liam era lindo.
Mas eu estava morta, e contra isso nada eu poderia fazer a não ser tentar descobrir por que Deus foi tão injusto comigo a ponto de me fazer conhecer um cara como Liam em um momento tão inapropriado para mim. Eu não tinha mais certeza de absolutamente nada, não sabia o que faria quando visse Liam e nem sabia como eu simplesmente poderia entrar em seus sonhos, mas, eu esperava ter algum tipo de respostas com aquilo.
Senti meu estomago se remexer dentro de mim e definitivamente não era de fome, eu havia me preparado durante toda a semana evitando ao máximo pensar em Liam para que eu pudesse estar consciente caso a conexão desse certo e eu realmente esperava que ela desse.
- Luna, já é tarde ele deve estar indo dormir, você não quer ir para o hotel agora?
Era bom estar morta em momentos como esse, assim transparecer o nervosismo com perguntas como essa ficava menos evidente.
- Acho que está na hora não é? – Perguntei a Gabriele enquanto esboçava um sorriso amarelo.
- Você quer que eu vá com você?
- Não, eu tenho que descobrir isso sozinha, não se preocupe eu vou estar aqui antes do nascer do Sol.
Gabriele e eu nos despedimos com um abraço, ela me desejando sorte e eu me desejando... bem eu me desejava qualquer coisa mais que sorte, por que só isso não seria o suficiente. Por experiência, Gabriele e eu sabíamos que eu poderia fazer isso a distância, mas eu havia decidido estar no mesmo lugar que ele já que diferente da vez em que eu estava em cima do prédio da qual eu não me lembrei de nada depois, no hotel as coisas haviam sido mais reais, o que imaginávamos significar que quanto mais perto mais forte a conexão.
Projetei todos os meus pensamentos no quarto de Liam torcendo para que ele não estivesse acordado para me ver chegando e no segundo seguinte eu estava em sua suíte.
Dei uma olhada rápida no ambiente e eu estava dentro da ante-sala que compunha a suíte, não havia ninguém ali exceto eu.
Olhei o piano de calda encostado ao lado da grande parede de vidro, agora fechada por cortinas e não tive como conter o sorriso lembrando da sensação que tive ao tocá-lo.
Segui em direção a ele e tentei correr meus dedos sobre as teclas, mas assim diferente da última vez eu não as alcancei apenas as transpassei como havia acontecido quando tentei provar a Gabriele o que havia ocorrido. Notei um pequeno pedaço de papel sobre o piano com uma letra garranchada.
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Liam,
Sai para dançar já que você não sai de dentro desse quarto, devo voltar tarde, não espere por mim.
Harry.
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Ele estaria sozinho? Perfeito!
Enquanto eu observava o vazio eminente na sala um som de chuveiro no outro cômodo me chamou a atenção. A porta entre a ante-sala e a do quarto estava aberta o que eu agradeci mentalmente, pois a experiência de atravessar cômodos ainda soava estranho para mim.
Quando entrei no quarto as camas ainda estavam arrumadas e havia algumas roupas jogadas sobre a cama. Eram deles.
Fiquei ali um tempo parada absorvendo o cheiro do perfume impregnado no quarto, e mesmo que seu dono não estivesse presente eu sabia exatamente a quem pertencia àquela fragrância única.
O quarto estava escuro, iluminado apenas pela fresta da porta do banheiro que encontrava-se aberta e eu não resisti em dar uma espiadinha, afinal uma única olhada não faria mal a ninguém, certo.
Segui em direção a luminosidade e o barulho da água ficou mais alto conforme eu me aproximava, pela fresta de porta entreaberta eu pude ver a silhueta de Liam através do box esfumaçado pelo calor do chuveiro. Eu nunca antes havia visto um homem nu em minha frente e bem, tecnicamente eu não estava vendo já que o calor dentro do cômodo formou uma barreira de fumaça me impedindo de vê-lo por completo. Exceto por alguns detalhes, que eu não chamaria de detalhes.
Apesar de não vê-lo por completo eu podia enxergar seus olhos fechados enquanto a água caia sobre seu corpo, suas mão massageando o cabelo enquanto flocos de espuma do shampoo escoavam por seus ombros.
Enquanto Liam enxaguava seus cabelos, uma estranha sensação correu por meu corpo, um frio tomou minha espinha e de alguma forma eu sabia que aquela sensação não era de medo.
O chuveiro foi desligado e eu sai o mais rápido dali antes que pudesse ser notada, entrei no quarto me escondendo atrás de uma poltrona que ficava de frente para as camas torcendo mentalmente para que ele não ligasse a luz. Liam saiu do banheiro dentro da suíte enrolado apenas em uma toalha, e eu tive que controlar um suspiro preso em minha garganta quando ele a jogou sobre a cama.
Enquanto eu olhava aquele homem se vestir na minha frente, milhares de sensações passavam por meu corpo e pensamento que antes eu nunca havia tido.
Quando finalmente ele se vestiu com um calça de moletom preta, e uma camisa branca surrada eu agradeci a mim mesma por todo o controle que minha mente teve ao ver aquele homem se trocando.
Liam se deitou apagando a luz do banheiro que ainda permanecia acesa causando a luminosidade do quarto e em poucos minutos eu sabia de alguma forma que ele já estava dormindo.
Então, essa era a hora.
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