O clima não era dos melhores no quarto do Uchiha; na verdade, achava que nunca tinha sentido tanta tensão por parte dele na vida. Ambos sentados, com Tobirama ainda chorando, mas agora silencioso com a cabeça no ombro do outro, que acariciava seus cabelos lentamente, ainda sem pronunciar nenhuma palavra depois que o Senju contou a história toda.
Subitamente, ele abraçou o seu corpo pelo lado, a cabeça sobre a sua, beijando seus cabelos curtos e brancos como a neve gelada parada lá fora.
— Me desculpe. — ele falou com a voz embargada — Me desculpe, eu não deveria ter proposto aquilo pra você.
Se fez silêncio por um tempo enquanto o albino entendia finalmente as palavras dele.
— Você não propôs nada Izuna, só... aconteceu.
— É, aconteceu e... e agora você vai embora.
Quis o olhar, mas quando levantou a cabeça ele se virou e pegou algo na cômoda. Quando o conseguiu ver de novo ele usava a bombinha, os olhos brilhantes e pequenas lágrimas no canto deles. Ele o puxou de novo para deitar e quando o fizeram, pôs a cabeça sobre o peito dele, ouvindo o coração acelerado e ele respirando com ajuda do instrumento. Massageou o peito dele, no intuito de o acalmar, mesmo que quem precisasse se acalmar agora era ele.
— Durma, Tobirama. Eu juro que iremos ficar bem.
E então, como pedido, fechou os olhos e adormeceu.
×××
Izuna sentiu quando ele dormiu. Fechou os olhos, franzindo o cenho enquanto continuava usando a bombinha. O estômago embrulhava seu ser, os pulmões pareciam diminuir a cada vez que respirava e pensava sobre a situação.
Mas não queria pensar, queria dormir assim como ele e esquecer do mundo, porque o mundo esqueceu deles primeiro.
×××
— Quero ir até lá.
Tobirama virou a cabeça lentamente para o outro. Ainda estava sonolento, tinha acabado de acordar e descobriu que estavam no fim da tarde. O sol passava através da janela deixando a luz alaranjada os cobrir. Izuna estava sentado e olhando para a frente sem emoção aparente, parecia que algo tinha sugado sua alma.
— O quê? — não tinha entendido direito o que ele quis dizer
— Quero ir no observatório.
Suspirou e sorriu, levando uma mão até a coxa dele a acariciando.
— Eu também. — começou a se levantar — Vamos, hum?
O Uchiha concordou, se levantando e indo até o guarda roupa. A roupa do Senju estava toda amassada por ter dormido com ela, mas não se importava dela estar assim da mesma maneira. Contanto que o esquentasse, estava tudo ótimo. Quando o moreno ia tirar a camisa do pijama, ele virou para trás, sorrindo quando viu o albino o observar. Tirou a peça e jogou na cara dele.
— Eu disse que era um pervertido. — riu ao final da frase, vendo ele se aproximar com o mesmo humor que si
Tobirama negou com cabeça, entregando a roupa para ele e tocando o peito nu.
— Por você eu sou qualquer coisa. — brincou, vendo ele revirar os olhos e rir mais uma vez
Aproximou o rosto do dele e o beijou pela primeira vez no dia. Segurou seu rosto com ambas as mãos, enquanto Izuna soltava a camisa e apanhava sua face da mesma maneira. Deu um passo para a frente para o Uchiha se encostar no guarda roupa e intensificou o ósculo, precisando dar pausas para recuperarem o ar e de novo continuar e continuar até não aguentarem mais. As línguas se moviam lentas e intensas, o Senju tocava o interior de suas bochechas o fazendo cócegas e suspirou quando ele sugou o seu lábio inferior.
— Eu... — não sabia o que dizer — Eu realmente não sinto mais falta daquele virjão.
O albino riu alto, corando fortamente e se afastando dele. Ele riu também e se virou de novo para de trocar de uma vez. Tobirama se sentou na cama ainda o observando, principalmente quando ele estava prestes a tirar a calça, mas o mesmo a subiu novamente e riu alto, virando para o Senju.
— Assim não dá merda. — negou com a cabeça — Sai pra eu me trocar.
— Depois de tudo que a gente já passou? — fez um falsa cara triste
O moreno revirou os olhos e o mandou sair de novo. O albino deu de ombros e se levantou para sair, mas assim que abriu a porta, quase tropeçou junto do outro garoto que ouvia tudo do outro lado da madeira. Kyojuro soltou um soluço assustado e se afastou, o olhando estranho enquanto ia embora para longe do quarto do irmão e do seu antes secreto namorado. Tobirama arregalou os olhos e fechou a porta na hora com força, ocasionando um alto barulho que assustou o que estava dentro do cômodo.
— Puta que pariu, Tobirama!
×××
Tobirama ainda estava meio travado, tão pálido quanto papel enquanto era carregado pela mão por Izuna, que por sua vez estava vermelho como o cachecol que usava ao redor do pescoço. Não sabia o que poderia encontrar pela frente, mas sentia que seria uma das piores e mais constrangedoras experiências de sua vida.
Quando desceram as escadas, pararam ao ver todos da casa na sala, sentados no sofá ou em poltronas. Na hora em que seus pés tocaram o chão do térreo os olhares unanimamente negros foram diretamente para os dois, curiosos, surpresos e meio raivosos. O Uchiha que ainda segurava sua mão olhou ameaçador para Kyojuro que desviou o olhar na hora, com medo do irmão, mas claramente nada arrependido.
— Vocês não tem nada pra falar não? — Isoko perguntou, arqueando uma sobrancelha com um mínimo sorriso
Aquela expressão lembrava a de Izuna, e quase sempre não era legal.
— Eu... — estava mudo, sem nem um fio de voz
— Nós vamos sair. — o moreno ao seu lado anunciou, o puxando novamente para saírem
— Usem camisinha ouviram?! — Madara gritou e seus dois irmãos mais novos riram
— Vão tomar no cu! — Izuna berrou de volta
— O linguajar, Izuna! — Tajima disse
— Foda-se o linguajar. — ouviu ele sussurrar antes de fechar a porta, proclamando a saída deles — Ai, que ódio, que vergonha do caralho!
Ele bateu no chão com um dos pés e soltou sua mão, parecendo prestes a chorar. Começou a rir baixinho da situação, fazendo ele dar um tapa em seu braço. O Uchiha revirou os olhos lacrimejantes e começou a andar sem si, cruzando os braços enquanto suas botas tocavam pesadas a neve sob elas. Começou a rir mais alto e correu até ele, corando enquanto o susto passava e abraçou-o de lado, e mesmo quando ele tentava o afastar, beijou seus cabelos, ouvindo ele reclamar.
— Estamos no meio da rua, Tobi.
— Já estamos no fundo do poço, então acho que não tem problema se algumas pessoas verem.
Ele parou de andar, abraçando sua cintura enquanto o obsevava, tombando a cabeça para o lado. O moreno sorriu.
— É, acho que tudo bem.
Ele ficou na ponta dos pés para aproximar as bocas, que se uniram sem cerimônia. Ele segurou seu rosto em seguida, quando se separaram e uniu as testas, ainda com os olhos fechados enquanto os do Senju brilhavam em sua direção.
— Eu quero que você fique. — ele sussurrou e o albino suspirou, apertando mais os braços ao redor de seus ombros
— Eu também queria ficar.
Izuna sorriu terno, se afastando um pouco de si, mas agora segurando uma de suas mãos e o puxou um pouquinho mais para continuarem o caminho até o lugar deles.
×××
O local não tinha ninguém por justamente ser somente o começo da noite e ainda estar na época fria, as estrelas nem ao menos poderiam ser vistas direito. Nenhum deles trouxe nada porque estavam apressados e muito cansados para fazer tal coisa. Lá estava como sempre, silencioso e pouco iluminado, o lugar perfeito para olhar o luar. O vento soprava fraco, ainda tinha neve fofa e branca no chão. Não fariam o trabalho de se ajeitarem muito ali, então, só deitaram um ao lado do outro, ambos largados e cansados psicologicamente. Seus dedos ainda estavam entrelaçados e os dois olhavam o céu. Depois de um tempo, quando as visões ficaram mais focadas e despertas, as estrelas já estavam ali, lindas e em seus respectivos lugares para agraciar os olhos de quem vê a beleza natural do anoitecer.
Tobirama virou o rosto, enxergando o perfil do namorado que só prestava atenção ao céu estrelado. Uma das mãos pálidas foi até uma mecha de cabelo e a ajeitou para pôr atrás da orelha. Viu a mesma corar e então Izuna virou o rosto também, os narizes quase se encostaram com os rostos próximos e ambos sentiam a respiração alheia. A mão livre do Uchiha foi até sua bochecha, a acariciando e o Senju não aguentou mais, sentindo as lágrimas se acumularem de novo em suas órbitas enquanto franzia o cenho levemente. O moreno sorriu, continuando a o acariciar enquanto o albino começava a chorar silencioso. Depois de um tempo, Izuna o puxou para outro abraço apertado, e então o apertou como se ele fosse de pelúcia enquanto ele próprio era somente uma criança assustada com medo de perder seu brinquedo mais especial.
Afagou o rosto em seu peito, enlaçando uma de suas pernas com suas próprias e apertando a cintura alheia. As estrelas os vigiavam, sendo telespectadores de algo que nunca poderiam interferir. Elas eram sua infância inteira, e as tinha quase esquecido neste meio tempo com o Uchiha. Elas eram uma das coisas mais importantes para si antes dele chegar, mas mesmo assim nunca as deixou de lado completamente; não, sua fascinação por elas não terminou por começar um namoro com alguém tão especial quanto era o seu primeiro amor.
O moreno fez carinho em seus cabelos, aproximando a cabeça para os beijar, sorrindo triste.
— Calma, eu estou aqui. — disse ele
— Mas eu não estarei mais logo logo.
Ele riu sem humor, continuando tentando o acalmar.
— Não diga isso.
— É a v-verdade, não é?
Izuna não falou mais nada, só continuou o abraçando enquanto chorava, pensando em tantos planos quebrados se partiram e foram jogados no lixo, o quanto seu pai e mãe eram egoístas e, principalmente, o quanto a vida seria ruim sem Izuna ao seu lado como sonhava um dia.
×××
Se passou exatamente dois dias até que seu pesadelo chegasse ao ápice.
Durante estas quarenta e oito horas, a maior parte do tempo permaneceu na casa dos Uchiha's que o trataram super bem, o mimando mesmo tristes com o que viria a acontecer; voltava para casa tarde da noite e quando encontrava algum de seus pais, os ignoravam totalmente, se trancando no quarto. Aliás, quando já era um dia antes da sua grande viagem, viu em seu quarto duas malas grandes e cheias, seu guarda roupa vazio assim como a maior parte da decoração de seu quarto; até mesmo a sua luminária de estrelinha que usava quando menor estava lá dentro de uma das bolsas.
No mesmo momento que a olhava, os irmãos entraram no quarto e vieram ao seu lado, o abraçando, Hashirama e Itama chorando enquanto Kawarama deitava em seu colo. Sua mãe observava tudo no pé da porta, seu olhar era triste e quase arrependido, mas Tobirama não ligava, na verdade, queria que ela ficasse triste mesmo com sua partida, queria que doesse nela e em seu coração — mesmo que aquilo fosse um pensamento horrível.
Se perguntava como seria agora longe, distante de tudo que conhecia. A falta de seus irmãos seria maior que tudo, se imaginava sem Hashirama para o abraçar quando estava com raiva, sem Itama para invadir o seu quarto e sem Kawarama que sempre lhe trazia sanduíches que não conseguia terminar.
Sentia que tudo ficaria vazio.
Sem os professores, principalmente e inesperadamente o professor de sociologia. Sem aquela coordenadora meiga e dissimulada. Sem Kagami nem Minato para andar de skate ou brigar para ver quem buscava o lanche na cantina. Sem seus irmãos para o consolarem e brincarem consigo. Sem seus pais, que mesmo sendo meio cruéis agora, sempre o amaram como deveriam amar um filho. Sem Izuna para amar e cuidar como queria fazer um dia e para todo o resto de sua vida.
Sentiria falta de tudo, e antes mesmo que pudesse se despedir da maneira certa, um carro parava lá fora, pronto para o levar embora e para longe de tudo que conhecia e amava.
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