Não romantize
o que te rasga
o peito.
Don't Start Now.
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Os céus despencaram naquela noite, chorando em lamento pelos últimos acontecimentos.
Era quatro de junho, pouco antes das férias de verão, e os alunos do campos corriam de forma animada com as últimas notícias. Claro, uma feira de atividade gigantesca que envolveria todos os lados artísticos dos cursos de artes não era uma notícia que se recebia todos os dias, muito menos todos os anos. Era algo quase que inédito, pelo menos para nossa protagonista, que ainda não havia se acostumada com a vida da cidade grande.
Vinha do campo, acostumada com a enorme fazenda de sua família, e os incontáveis parentes que costumavam habitar seu lar. Desde muito pequena, sonhava em rodar o mundo e surpreender a todos com sua arte, mas nunca pensou que realmente fosse acontecer.
No início, aceitará a carta convite da academia apenas para ficar mais próxima de seu amado, Ōtsutsuki Toneri.
Talvez, mais para frente, possamos falar sobre o relacionamento conturbado dos dois. Mas, agora, precisamos relatar os últimos acontecimentos na cidadezinha de Leeds.
Nossa protagonista, Hinata, também se encontrava ansiosa com a enorme possibilidade que a feira podia a proporcionar. Diversos olheiros estariam por lá e, com um pouco de sorte, poderia ser selecionada para uma vaga de estágio na galeria de seus sonhos, a Insomnia Museum of Arts.
Com isso, saiu de sua casa em direção ao Platti, o restaurante italiano favorito de Toneri, com uma boa sensação no peito. Se sentia contente, tudo estava andando conforme os planos, e logo sua mesa digital chegaria pelos correio, e sua HQ seria lançada. Tudo bem, alguns detalhes ainda estavam fora do lugar, mas tudo podia ser resolvido com o tempo.
Estacionou o carro na vaga mais próxima possível, se olhando no espelho antes de descer do automóvel de maneira elegante. Aquela era a sua noite, e nada poderia sair errado. O vestido era perfeito e ela havia gastado horas na roupa e na maquiagem.
Finalmente, depois de três anos de espera, aconteceria.
Encontrou Toneri na recepção, segurando um lindo buquê de rosas vermelhas.
— Hina. — ele sorriu assim que a viu, entregando-a o buquê de flores. A azulada rapidamente o puxou para um selinho.
— Toni. — a mulher entrou na brincadeira, admirando o buquê de flores. Em seu peito, um pequeno desapontamento aparecia. Talvez fosse um sentimento de decepção pelas flores recebidas, que não eram aquelas que gostava.
— Vamos entrar, reservei uma mesa para nós.
O albino guiou-a até a mesa de ambos, localizada no fundo do ambiente, ao lado de uma gigantesca janela de vidro.
Era uma boa vista, diga-se de passagem. A noite estava realmente bonita, apesar da leva garoa que caía naquele instante. As chuvas de verão eram realmente agradáveis.
— Então...— Toneri mexeu em seus fios claros, parecendo um pouco sem jeito. — Está quentinha? — perguntou.
— Estou. — assentiu a mulher, estendendo a mão para tocar a do parceiro, que se esquivou do toque.
Toneri mordera seu lábio inferior de maneira nervosa, suspirando brevemente ao olhar para mesa ao lado.
— Hinata — ele tornou a dizer e em seu rosto se formou uma careta. — Precisamos dar um tempo.
— O que? — os olhos claros se arregalaram, incrédulos.
— Nós dois… — apontou para a azulada, e depois para si mesmo. — precisamos dar um tempo.
— Você só pode estar brincando. — disse a mulher, ainda em choque. — Mas, por quê?
Toneri franziu o cenho e fez uma careta para o nada.
— Preciso pensar sobre umas coisas, e acho que você também.
Incrédula, a azulada soltará uma longa e sarcástica risada. Ela riu, chegando a gargalhar. Toneri ficará assustado no início, mas também riu da situação. Talvez pensasse que tudo aquilo seria um alívio para ela, tanto quanto era para ele.
Subitamente, Hinata deixou de sorrir, assumindo uma feição seria. — E eu faço o que nesse meio tempo enquanto você fode com metade da cidade? — rosnou, olhando-o de cima a baixo, decepcionada. — Eu devo sentar e chorar por você, e daqui a um mês abrir minhas pernas para você como as pessoas que nesse meio tempo vão? Olha, admiro essas pessoas, mas não vai ser isso que vai acontecer.
— Do que você está falando, Hinat–
— Nós vamos terminar aqui e agora, Toneri.
Os olhos azuis dele se arregalaram, em choque.
— É assim que você quer terminar o nosso relacionamento de três anos? — se fez de rogado, indignando-se diante da resposta da perolada.
Não evitou rir novamente. Como se ela estivesse errada, e tudo o que estava acontecendo fosse ocasionado pela azulada.
Oh, não, ela não deixaria as coisas desse jeito.
— Pensava que iria saber lidar com isso, entender que é só um tempo...
— Toneri, vá à merda! — rosnou a menina, levantando de supetão. Os olhos claros dançaram sobre a mais baixa, ainda arregalados. — Você é um babaca.
Grunhiu, deixando o restaurante rapidamente, sem nem mesmo olhar para trás. Não estava com a menor paciência para pensar e a decepção lhe batia a face. Era cômico o fato da situação ter chego naquele ponto, com a azulada completamente revoltada, se negando a soltar uma única lágrima.
Girou a chave na ignição, dando partida no carro. Dirigia concentrada, tentando não pensar muito no que acabará de acontecer na rua principal.
Quando virou na esquina de sua rua, a garoa pirou, transformando aquela noite tranquila em uma terrível tempestade. O vento cortava o ar, levando folhas e até mesmo alguns objetos.
Estacionou, batendo as mãos no volante em um ataque súbito de raiva.
A azulada deixava o carro furiosa, com os olhos vermelhos e os pés tropeçando uns nos outros. Seus pensamentos estavam a mil, e a vontade de socar o rosto de alguém, mais especificamente o de seu, agora ex, namorado, não a deixava em paz. Talvez, a única coisa que pudesse sentir naquele momento fosse aquilo, raiva, ódio.
Uma raiva gritante e descomunal por se tão estúpida. Era estúpida por diversos fatores, e era capaz de listar cada um deles bem ali, na recepção vazia do prédio.
Para começar, havia sido estúpida o bastante para atravessar o país com o albino, ignorando os diversos conselhos de sua família para com o Ōtsutsuki.
Segundo que estava em uma cidade completamente desconhecida, sem nenhum amigo ou conhecido e com o coração completamente destroçado em mil pedaços.
E, por fim, era estúpida o bastante para ter enfrentado uma tempestade até o prédio e mesmo assim ter que refazer todo o caminho, por ter esquecido a chave de sua porta dentro do porta-luvas.
Aquilo sim a fez chorar como uma criança, desabando no chão do hall do prédio e largando sua bolsa em um canto qualquer. Céus, como se sentia estúpida.
Estivera completamente cega por conta de um mal conhecido como amor, e a única coisa que o amor havia feito por si naquele instante havia sido a quebrar em mil pedaços, em uma cidade pouco conhecida, com uma chave de apartamento dentro de um carro perdido no meio de uma tempestade.
Então, sim, ela merecia derramar um pouco de lágrimas.
Merecia gritar até perder a voz sobre o quanto a vida era injusta, mas ela não faria isso, por que a vida nunca havia sido injusta com ela. Ela tinha um ótimo apartamento, em uma ótima cidade, com uma boa localização, além de um bom emprego, comida e uma família que a amava. A vida não tinha nada de injusto com ela.
E então, ela fez o qualquer cidadão em um estado mental fragilizado e, com um leve toque de estupidez faria, arrancou seus saltos e partiu em direção a chuva, correndo até o outro lado da rua em busca das chaves. Claro que, se estivesse em um estado mais são, perceberia que poderia pedir uma cópia da chave na recepção e não que não iria precisar se prestar a aquele ato.
Logo, estava completamente encharcada, com seus fios de cabelo grudando em sua pele. Sua missão havia sido um sucesso, encontrando a chave dentro do porta-luvas, acompanhada de uma cópia que havia mandado fazer para o senhor vamos-dar-um-tempo. Não conseguia nem mesmo olhar para aquele pedaço de metal sem sentir raiva. Novamente, se sentia burra. Havia sido tão estúpida, que não pôde deixar de rir de toda aquela situação. Ria e chorava ao mesmo tempo, debaixo daquela chuva forte.
Céus, estava completamente acabada.
A perolada saiu de perto do carro, levando as duas chaves em mãos, voltando até o prédio alaranjado com os ombros caídos, completamente derrotada.
O porteiro, Shinobu, a olhou atordoado. Nunca havia visto a menina naquele estado tão… decadente.
— Senhorita Hyuuga, você está bem?
— Eu estou bem, obrigada por perguntar. — a mulher fungou, fugindo do olhar do mais velho, correndo em direção ao elevador antigo do prédio.
Não podia, e nem queria, ligar com ninguém naquele momento. Ela só precisava ficar um pouco sozinha e pensar.
O elevador havia feito um barulho e arranho, anunciando sua chegada ao térreo. E ela entrou, encharcada pela chuva, molhando o piso da caixa de metal. Seus dedos trêmulos e gelados apertaram o botão indicando o andar em que morava, e ele logo começou a subir lentamente.
Enquanto isso, Hinata bem que tentou não olhar para o espelho em sua volta, mantendo seu olhar preso ao chão. Mas fora inevitável, seu olhos foram atraídos quase que automaticamente para o objeto espelhado, como se pudesse sentir algum tipo de prazer em se sentir ridicularizada.
Talvez sentisse mesmo.
Hinata focou bem nas duas orbes peroladas que tanto amava, mas que agora se encontravam avermelhadas devida a enorme quantidade de lágrimas. Depois, ficou em seu nariz, também vermelho. Por último, a boca, que estava seca e borrada.
Ela se sentiu mais estúpida ainda ao constatar que ainda chorava. Não queria chorar, mas não conseguia parar. Toneri não merecia nenhuma lágrima sua, porém seu corpo parecia entrar de acordo com seus pensamentos.
Quando o elevador chegou ao andar indicado, a azulada saiu em disparada pelo corredor branco, fugindo seu caótico reflexo. Seu corpo todo doía e ela estava tão… cansada. Cansada do fato de morar ali há quase um ano e, mesmo assim, não conhecer um terço da cidade, Cansada de tentar agradar os colegas de curso, quando sabia que nenhum deles gostava verdadeiramente dela. Estava cansada de tentar pensar positivo, fingindo não ver todos os sinais de que aquela relação estava fadada ao término.
Estava tão cansada, que só conseguia pensar em beber uma boa garrafa de vinho e cair em sua cama macia, regando a noite com choradeira. Talvez, se atreveria a interromper a noite de sono de seu gênio, que sabia ajudá-la. Mas, antes, ele passaria um longo sermão sobre o quanto a havia alertado sobre o albino.
Ela apenas pensava em cair sobre sua porta, largada no chão, meditando sobre todos os acontecimentos recentes. Talvez até sobre os mais antigos.
Contudo, parecia que alguém já havia feito esse serviço por si.
O corpo estava jogado em frente a sua porta, e ela não tinha a plena certeza de se ele estava ou não acordado. Mesmo assim, ela rapidamente enxugou os olhos, pensando que era, outra vez, alguma brincadeira sem graça da vida, mas de fato não era. Realmente havia um homem adulto jogado em frente a sua porta, e ele nem mesmo parecia consciente disso.
— Com licença? — disse a ele.
Os olhos negros se moveram até ela, sonolentos. O rosto firme era enquadrado por um longo cabelo escuro. Hinata torceu o nariz ao sentir o enorme fedor de cerveja que o homem exalava. Não só a cerveja, com certeza havia várias misturas de bebidas por ali, mas aquele era o cheiro que predominava.
Ele deveria ser o mais novo vizinho da frente, que havia excedido seu limite para bebidas, e agora estava achando divertido tampar a porta da mulher tola que havia acreditado nas palavras eu te amo.
— Toda. — o homem riu, abrindo os braços, dificultando ainda mais a entrada.
— Você pode, por favor, dar licença? — a azulada tentou dar um sorriso, soando o mais educada possível. Mas a sua raiva parecia extravasar por seus poros, e ela era capaz de agredir o homem sem pensar duas vezes. — Tipo, tirar essa sua bunda daí e movê-la para a sua porta?
O bêbado gargalhou, olhando-a de maneira debochada.
— Se está tão inconformada deveria se sentar no meu colo. — a voz estava tomada pela embriaguez, causando uma torção no rosto da mais baixa.
— Qual o sentido que isso faz? — bufou a mulher, puxando seus fios de cabelo, estressada. Ótimo, agora estava até discutindo com bêbados. — Quer saber, eu vou empurrar você, então apenas não ligue.
A azulada agachou ao lado do corpo forte do rapaz, empurrando-o com toda a força que possuía naquele momento – que não era muita – e falhando miseravelmente. Suas mãos frias entraram em contato com a pele extremamente quente do rapaz, e ela até tentou mudar de posição, aplicando uma quantidade maior de força na ação. Mas, novamente, de nada havia adiantado. Ele era mais forte do que ela, e aparentemente muito mais teimoso também.
— Você está queimando, sabia disso? — disse, ainda tentando, sem sucesso, empurrá-lo.
— Você também é bem quente, gata. — as mãos grandes do homem percorreram a cintura fina da mais baixa, tentando encontrar o que a azulada jurou ser suas nádegas. Mas, antes mesmo que ela pudesse pensar sobre isso, seu corpo fora mais rápido e sua mão fora de encontro ao rosto do moreno.
— Pela Deusa! Me desculpe! — Hinata sentiu seu rosto pegar fogo e, envergonhada, ela recolheu rapidamente sua mão. — O que? Porque eu estou pedindo desculpas? Me desculpe uma ova! Não tente abusar de mim novamente seu–
— Meu nome é Sasuke. — uma risada saiu de seus lábios. — Qual o seu nome, esquentadinha?
— Não te interessa.
— Muito prazer, não te interessa. — ele riu novamente, se divertindo com toda a situação. — Você tem uma bela bunda.
— Vou bater na sua cara novamente. — rosnou a mulher, levantando outra vez a mão direita.
Sasuke, outra vez, riu de tudo o que acontecia.
— Acho que vou dormir aqui mesmo.
— O que?! — ela praticamente berrou, choramingando logo em seguida. — Eu preciso entrar e você está atrapalhando a minha passagem.
— Ou… — o homem sorriu sugestivo. — Eu poderia dormir na sua casa.
— Nem pensar, eu não faço a menor ideia de quem você é! Pode ser um estuprador e, além disso, você está fedendo muito.
— Porque está sendo tão malvada, não me interessa? — sorriu ladino, fixando seus olhos em algum ponto. Hinata até tentou seguir seu olhar, mas não havia nada além de uma parede recém-pintada de marrom. Suspirando, ela voltou a olhar para Sasuke, que havia pendido sua cabeça para o lado, e seus olhos escuros haviam se fechado completamente.
— Não, não, não, não! — furiosa, ela sacudiu o corpo esbelto do homem, tentando acordá-lo. — Não pode ser verdade.
No auge de sua fúria, ela apenas pegou as duas chaves, abrindo a porta de seu apartamento, sem se importar com o que aconteceria com o homem desacordado.
O corpo de Sasuke caiu para trás com tudo, e ele bateu a cabeça no assoalho com toda a força. Hinata fez uma careta com o baque – aquilo realmente doeria na manhã seguinte, juntamente com a ressaca gigantesca que o acompanharia o resto do dia. Mas nada que uma aspirina não pudesse resolver.
Mas ela não se importava, não é mesmo?
Hinata olhava para Sasuke, e via um corpo musculoso de um homem que poderia a estuprar ou a matar a qualquer minuto. Mas, mesmo assim, seu coração bondoso a impedia de abandoná-lo ali, no meio de um corredor vazio. Suspirando, ela arrastou os braços do homem com muito custo, juntamente com o resto do corpo para dentro de seu apartamento. Largou-o no tarde, se jogando no sofá após o trabalho árduo.
Seus olhos pesavam por conta da enorme quantidade de lágrimas que tinha expelido mais cedo, mas ainda assim se obrigava a se manter acordada.
Sasuke se moveu rapidamente, como se tivesse acabado de acordar de um terrível pesadelo. Ofegante, grudou suas orbes negras nas peroladas dela. Parecia ter algo realmente importante para contar, e até mesmo conseguiu prender a atenção da mulher.
— Qual o seu nome? — foi tudo o que disse, desmaiando logo em seguida.
— Boa noite, Sasuke. — bufando, a mulher se levantou do móvel acinzentado.
Talvez, aquela fosse a última vez que fora estúpida naquela noite. Mas ainda havia muitas oportunidades ao longo do ano, onde certamente cometeria erros e, mais para frente, aprenderia com ele. Seu pacote de estupidez havia sido aberto no exato momento em que decidira se mudar de Oberderdingen.
Talvez, tivesse iniciado um novo ciclo ao deixar Sasuke entrar em seu apartamento no meio de uma tempestade. No momento em que arrastará seu corpo embriagado para dentro de sua casa e, consequentemente, para dentro de sua vida também.
Só restava saber se ele desejaria permanecer por lá.
Você está certa...
você tentou
& tentou
& tentou
& depois tentou
mais um pouco,
mas talvez
eles apenas não
sejam capazes
de amar você
afinal de contas.
Agora eu lhe pergunto: e daí?
— o único amor de que você precisa é o seu.
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