História Eu e Ele - Como tudo começou...

Acho que a minha vida só começou depois que eu o conheci, talvez por ele estar na maioria das minhas lembranças ou por eu não ter nenhuma antes dessas.
Não me lembro bem quando o conheci, mas não me julguem, eu tinha, provavelmente, apenas algumas semanas de vida e ele apenas quatro meses e umas semanas a mais que eu. Nossas mães eram melhores amigas, foi inevitável não nos tornarmos amigos, estávamos sempre juntos, mesmo quando elas não estavam conosco.
Infelizmente não tenho muitas recordações de nossa infância, apenas de alguns dias de quando tínhamos quatro anos, talvez por conta dos acontecimentos que mudaram a minha vida para sempre...
Me lembro que meu aniversário daquele ano foi do Sítio do Pica-Pau Amarelo, eu estava tão feliz por ter ganhado uma Emília que era bem maior do que eu, e ele estava lá com seus quatro anos, quatro meses e uma semana, gordinho com aquele sorriso que me deixava encantada ( mesmo não sabendo disso naquela época ). Não sabia que aquele aniversário seria o último que eu passaria com a minha família toda unida, talvez eu tivesse aproveitado mais se soubesse, ou não , afinal eu era só uma criança.
Alguns meses depois nossas mães receberam um telefonema, era da escolinha, falando que tinha aberto vagas e perguntando se queriam nos mandar para lá. Eu fiquei tão feliz, sempre quis ir para a escola, aprender e fazer novos amiguinhos. E então nossas mães nos matricularam, me recordo de termos ido juntos comprar os materiais e o uniforme, fomos no carro do pai dele, o lugar que fomos fazer o uniforme, se me recordo bem , era no segundo andar e o local era um pouco escuro no fundo da sala, mas isso é normal já q estava cheio de roupas, foi um dia muito divertido, divertido o bastante para ficar gravado na memória.
No primeiro dia de aula eu acordei super animada, me vesti com aquela camisa branca com uns desenhos de palitinho em vermelho , e aquela calça vermelha que tinha uma lista branca de cada lado, e corri para o primeiro andar da minha casa onde , de acordo com o meu pai, a minha mãe estava preparando o café da manhã. Eu nunca vou esquecer da cena que eu encontrei na metade da escada, ao olhar para baixo, eu pude ver, no chão da sala, ao lado da TV, a minha mãe caída, com uma poça de café do lado e uma bita de cigarro do lado, entrei em choque , chamei ela , fiquei cutucando tentando acorda-la mas nada deu certo, minha avó ( que morava na casa que ficava no fundo da minha ) abriu a porta da cozinha e me viu tentando acordar ela, chamou pelos meus irmãos e meu pai, depois disso só me lembro da minha irmã terminando de me arrumar e minha avó me levando para pegar a piruá com Ele.

Ele ficou comigo o tempo todo, e depois do colégio eu fui deixada pela piruá na casa dele, fiquei lá brincando até uma amiga da minha irmã me levar pra casa dela. Mais a tarde, quando eu voltei para casa, a minha irmã estava me esperando na esquina, me pegou no colo e falou assim;  'A mamãe agora se transformou em uma linda estrelinha, e vai ficar lá no céu brilhando e olhando por nós" e tudo o que eu falei foi: "A mamãe morreu ? ", isso foi o suficiente para minha irmã cair no choro e eu pular do colo dela e correr para a minha casa, que estava cheia de pessoas, na sala tinha um caixão, e no caixão tinha a minha amada mãe. Logo me tiraram daquele local , me levarão para o quintal aonde ele estava me esperando, com aqueles bracinhos gordos para me abraçar, ele e a mãe dele. As vezes me pergunto: Se eu tivesse gritado assim que eu avistei ela lá caída, ela estaria viva ?

Meu pai passou a noite em claro, juntamente com a minha avó, velando o corpo da minha mãe, eu fui dormir na casa da vizinha, no dia seguinte foi o enterro, me lembro que tinha várias pessoas chorando, minha irmã cantou uma música Love in the afternoon do Legião Urbana. Minha tia por parte de pai passou um tempo na nossa casa depois disso, ela rezava o terço toda noite, bem alto, não me deixando dormir , não me leve a mal, eu sou religiosa, mas não como a minha tia. Apesar de todo esse sufoco eu sempre tive pessoas para me apoiar, tinha minha avó, meus irmãos , minha família, meus amigos e é claro, Ele.

O tempo foi passando e muitas coisas mudando. Quando eu tinha seis anos me perguntaram se eu já queria começar a fazer a primeira série , e eu animadamente falei que sim, e como eu estaria mudando de colégio é claro que ele mudaria junto comigo. Caímos na mesma sala, nos primeiros dias de aula ficávamos sempre juntos, sentávamos juntos , comíamos juntos... Até que um dia umas meninas me chamaram pra sentar com elas e eu fui, esse foi o primeiro passo para a nossa amizade mudar, se eu soubesse que iríamos nos tornar mais distantes ( mesmo que seja só um pouco ) eu não teria aceitado ir sentar com aquelas meninas, que hoje eu nem lembro mais quem eram, eu teria fica ficado ao lado dele.

Com o tempo, eu fui percebendo que o que eu sentia por ele era mais forte do que uma amizade, mas sabia que não tinha nenhuma chance, eu era apenas uma menina baixinha, magrinha que ele considerava como sua irmãzinha, enquanto um monte de meninas lindas viviam atrás dele. Nós estudamos juntos até a terceira série, aonde fomos separados, cada um para uma sala. Confesso que uma parte de mim ficou um pouco feliz, pois essa era a chance que eu tinha de tentar esquece-lo , eu sofria ( o máximo que uma menininha de oito anos poderia sofrer) por amor, e essa distancia poderia me ajudar a esquecer, até porque esse sentimento era apenas capricho meu, era apenas por ele ser o menino mais próximo de mim, ou pelo menos era isso o que eu pensava. Apesar de estarmos em salas diferentes eu o via todos os dias, íamos juntos, e as vezes voltávamos juntos também , eu ia na casa dele treinar pois segundo ele eu precisava aprender a me defender, já que certa vez uma menina queria me bater por não dar o número dele para ela.

Na quarta série caímos em salas diferentes mais uma vez, na minha sala tinha um menino, um menino que gostava de mim, eu também gostava dele, esse menino me pediu em namoro e eu aceitei, mas era aquele namoro de criancinha que falavam que eram namorados mas nem se olhavam direito, Ele nunca ficou sabendo disso, quase ninguém sabia, somente minha melhor amiga e o grupinho dele. Não me arrependo de ter aceitado esse pedido de namoro, o menino era uma graça, um cavalheiro e conseguia afastar Ele de meus pensamentos, bom... Pelo menos por um tempo. Com o fim da quarta série fomos obrigados a trocar de escola mais uma vez, e o meu namorado foi para uma escola diferente. E mais uma vez eu e Ele estávamos em uma escola nova, juntos e na mesma sala, quando vi nossos nomes no mural na mesma folha meu coração bateu rápido, voltaríamos a estudar juntos depois de dois anos.

Quinta série é um choque de realidade, tudo muda, agora não é só um professor, são vários, e muitas matérias novas, mas eu gostava e me dava bem na maioria das vezes, sempre que ele tinha algum problema ou dúvida ele ligava para mim e eu ia correndo ajudar. Estava na época do Orkut e eu fiz um para ele, nós vivíamos nos falando por lá, até que o meu namorado ( que eu não falava desde o fim da quarta série , o que já fazia um bom tempo ) falou que eu estava traindo ele, e eu como uma menina covarde excluí ele sem pensar em como ele iria se sentir, fiz a coisa errada eu sei, e me arrependo disso até hoje, afinal ele era uma boa pessoa, um menino sem outro igual, que conseguiu a proeza de me fazer pensar menos Nele, não merecia o que eu fiz.

Quando chegou a sexta série, eu fiz várias amigas novas, porém todas gostavam Dele e sempre me contavam o quão tristes estavam por ele não ser apaixonado por elas, e choravam rios, e eu só escutava e tentava aconselhar e consolar do melhor jeito possível. Eu nunca teria coragem de falar o que sentia por ele para elas, já que elas já tinham concorrentes o suficiente, eu não queria vê-las chorando por minha causa, não queria que elas perdessem o ombro amigo que elas corriam quando queriam falar dele. Certa vez eu cogitei confessar meus sentimentos, em uma noite enquanto andávamos de bicicleta disse que precisava falar com Ele, todas as tentativas foram falhas,nada saia, ele me incentivou a falar, parece até que já sabia sobre meus sentimentos, porém de nada adiantou e mais uma vez eu guardei tudo para mim. E esse ano passou assim: Com novas amizades, choros e o sentimento que eu nutria por ele só crescia.

A sétima série foi a última que eu passei ao lado dele, aquele ano foi cheio surpresas boas e desagradáveis. Meus laços só se fortaleciam com as minhas amigas e ele fazia elas chorarem cada vez mais, então eu decidi falar com ele, para que prestasse mais atenção nos seus atos, e não querendo me gabar, ele sempre me ouviu, então as coisa melhoram um pouco. Até que veio o Baque: " Eu estou apaixonado" foi o que ele disse, eu fiquei com vontade de chorar, mas sorri e perguntei: "Sério? Por quem ?" ,quando ele me respondeu eu senti um aperto no coração... Era por uma das minhas melhores amigas, considerada a menina mais bonita e desejada da sala. Ela também gostava dele, ambos me pediram ajuda e, apesar de querer correr pra longe e me esconder, eu só consegui dizer que iria ajudar. E eu cumpri com a minha palavra, em três dias os dois estavam namorando e uma outra melhor amiga estava chorando no meu colo por conta disso. Éramos um grupo bem unido de cinco pessoas, aonde quatro dessas pessoas eram apaixonadas por Ele, então mesmo felizes por uma delas as outras não poderiam deixar de se sentirem um pouco tristes. Só que eu não podia chorar na frente delas, já que elas não sabiam sobre meus sentimentos, a minha sorte é que a quinta integrante do grupo não gostava dele, ela era o meu ombro amigo pra desabafar, o que acabou fortalecendo muito a nossa amizade. Passada exata uma semana, o namoro dos dois acabou, e eu fiquei com tanta raiva, raiva por ter passado por cima dos meus sentimentos e ter juntado os dois por acreditar que eles se amavam de verdade, e no final era apenas fogo de palha, o coração de quatro amigas ( e quem sabe de mais algumas garotas) foram machucados, por puro capricho.

Tem uma lembrança, do tempo em que ele estava apaixonado por essa menina que ele só namorou por uma semana, que eu considero uma das minhas melhores, que é a de nós dois na varanda da minha casa, comendo chocolate branco e escutando música romântica, eu amo essa recordação, gostava de imaginar que ele era apaixonado por mim.  Essa é a minha preciosa lembrança, o meu tesouro, naquela noite eu senti que estávamos tão próximos quanto antes.

As coisas iam bem para mim , minha irmã tinha ficado noiva e se mudado para outro estado, apesar da saudade eu estava feliz por ela, por ela estar com a pessoa amada e por essa ser a pessoa mais legal do mundo todo, minha avó a uns anos atrás tinha conseguido minha guarda e meu pai tinha se mudado de vez. Mas sempre que as coisas estão indo bem de mais, tende a acontecer uma tragédia ( pelo menos foi isso o que eu aprendi com a vida ) e realmente aconteceu, minha avó descobriu que estava com câncer de pulmão por conta do maldito cigarro e teve que operar. Três dias passados depois da operação ela veio a falecer, a primeira pessoa que eu corri foi para Ele, o abraço dele que me acalmou, ele disse que sempre estaria lá por mim. Ele tinha acabado de perder a avó também, umas semanas antes, foi quando eu prometi que nunca o deixaria sozinho. Senti falta dele no velório, a mãe dele estava lá, mas ele não, porém eu tinha o apoio das minhas amigas, que quando souberam saíram correndo da escola e foram para minha casa me animar e depois ao velório. No dia seguinte todos os meus professores me ligaram, não tenho do que reclamar, sempre tive sorte com as pessoas que entraram na minha vida, elas  são muito preciosas para mim.

Minha irmã teve que voltar para me buscar, eu teria que me mudar de estado junto com ela e abandonar tudo o que eu conhecia, todos aqueles que eu amava , eu teria que ir para longe Dele, não preciso nem dizer que não gostei da ideia né?

Mas não tinha nada que eu pudesse fazer, apenas aceitar e ir, me despedir de todos foi a coisa mais difícil que eu já fiz.