Aomine chegou em casa exausto, suas pernas o levando automaticamente para o quarto. Sua mãe mencionou algo sobre comida, mas ele a ignora, deixando-a falando sozinha. Passou direto pelo pai, que tentava lhe dar uma bronca, e entrou no quarto, trancando a porta atrás de si.
A ruga em sua testa parecia aprofundar-se, e seu coração doía intensamente, com a dor aumentando a cada lembrança de S/N. Por que doía tanto? Ele não era dependente dela. Ou era? Claro que não. Nunca havia dependido de ninguém.
Aomine se sentou na cama e olhou ao redor. Por que seu quarto parecia mais dela do que dele? Tudo o fazia lembrar de S/N. Seus olhos pousaram na escrivaninha, trazendo à tona a memória dela o ajudando a estudar para os exames às vésperas do Intercolegial.
“— Presta atenção, Daiki! — exclamou S/N, batendo na mão dele que estava em sua cintura. — Não vai encostar em mim enquanto não responder direito essa pergunta.
— Ah, mas quem se importa com Masamune e Shingen? O que isso vai mudar na minha vida? — Aomine rebateu irritado, recebendo uma reguada na nuca. — Ai! Isso dói!
— É para doer mesmo — S/N afirmou, indiferente. — Se você não tirar boas notas, não vai jogar, e você sabe disso.
— Eu sei! — Aomine exclamou, voltando seus olhos entediados para o livro de história. — E o que eu ganho se tirar boas notas?
Ele sorriu maliciosamente para a namorada. S/N corou violentamente e bateu com o livro na testa dele. — Vai conseguir a passagem para o Intercolegial. Agora cala a boca e leia.
— Chata! — Aomine resmungou, mas não conseguia tirar o sorriso dos lábios.”
O moreno lançou mais um olhar pelo quarto, e o guarda-roupa trouxe à tona a lembrança de S/N revirando suas roupas e, acidentalmente, encontrando suas revistas eróticas.
“— Aomine Daiki-kun... — S/N chamou, seu sorriso nervoso mal escondia a seriedade em seu olhar, fazendo com que Aomine parasse de jogar no celular e prestasse atenção. S/N segurava uma das revistas da Maki-chan, que ela tinha pego acidentalmente enquanto procurava uma camisa para usar.
A expressão de Aomine ficou tensa ao ver a revista em mãos de S/N, seus olhos ardiam de raiva. Aomine se sentiu envergonhado e incapaz de responder. Desde que começou a namorar S/N, ele vinha ponderando sobre o que fazer com as revistas, mas ainda não havia encontrado uma maneira de se livrar delas sem que seus pais descobrissem. Engoliu em seco, pensando em todas as respostas possíveis, mas antes que pudesse falar, as revistas começaram a voar uma a uma para o chão.
— Isso vai tudo para o lixo! — exclamou S/N, deixando Aomine alarmado, que até se levantou da cama ao ouvir aquilo.”
No desfecho, Aomine não conseguiu detê-la, e todas as suas revistas acabaram no lixo. Nunca se sentiria tão envergonhado como naquele momento. Embora tenha soltado uma risada ao observar o móvel, seu ânimo desmoronou quando seu olhar se voltou da cama para o guarda-roupa. Foi então que o coração doeu ainda mais e as lágrimas, que tanto tentará conter, escaparam.
“— S/N? — chamou Aomine, envolvendo-a em seus braços enquanto ela se aconchegou sem responder. — Está dormindo? — indagou, mas o silêncio persistiu. Pela primeira vez, permitiu-se admirá-la mais atentamente.
Ela era deslumbrante, com a pele suave e lábios convidativos. Sentia-se extraordinariamente bem ao lado dela, embora nem sempre soubesse expressar isso quando ambos estavam acordados. Aomine acariciou suavemente o rosto de S/N, observando-a sorrir levemente por reflexo. Acomodou-se melhor na cama, preparando-se para dormir. Teria que acordar cedo para não se atrasar para o encontro. No dia seguinte, enfrentaria Kaijo no litoral, e ele não queria ser importunado, especialmente para evitar mais petelecos na orelha dados por S/N, algo que detestava.
Aomine envolveu-a mais firmemente em seus braços, finalmente pronto para adormecer. S/N se moveu para se ajustar melhor, suspirando de satisfação.
— Eu te amo, Daiki — murmurou ela, ainda adormecida, e Aomine parou abruptamente.
Seu coração disparou, compreendendo completamente o significado de ‘derreter-se por alguém’ naquele momento, pois era exatamente assim que se sentia por S/N.
Com as bochechas coradas, aproximou os lábios do ouvido dela e sussurrou: — Eu te amo, S/N."
Reviver aquele momento o fez desabar na cama. Agarrado ao travesseiro, entregou-se a um momento de fragilidade. Abaixou suas defesas e deixou as lágrimas fluírem livremente. Estava só; ninguém entraria seu quarto. Chorou por horas, ora golpeando o travesseiro, ora abraçando-o com firmeza. Por que S/N precisava ser assim? Por que não podia ser como as outras garotas da escola?
Não. Foi exatamente por essa singularidade que Aomine se apaixonou por S/N. Ela destacava-se, era decidida e independente. Sentia uma mescla de raiva e amor por todas as coisas cruéis que ouvira da garota. Não entendia por que todos insistiam para que ele treinasse, para que aprimorasse algo no qual já era excelente. Era como se estivessem subestimando suas habilidades, e isso o frustrava. Afinal, não havia ninguém que pudesse vencê-lo.
“Espero que Kuroko-san e Kagami-san esfreguem com gosto uma vitória bem merecida na sua cara...”
Aomine apertou os lábios, sufocando um grito de raiva ao reviver aquele momento. Como ela ousava dizer tais palavras? Como podia subestimá-lo e ferir seu orgulho daquela maneira? As palavras gélidas atingiram seu orgulho com uma intensidade dilacerante. Num acesso de fúria, arrancou as alianças do bolso do casaco e as lançou com violência contra a parede. Os objetos ricocheteiam, voando em direções opostas.
— Que se dane tudo... — Murmurou, ofegante, deixando-se tombar na cama.
Aquela seria, sem dúvida, a pior noite de sua vida. Pelo menos era o que ele presumia.
***
No dia seguinte, pela manhã, S/N foi para a escola após ser persuadida por seus pais. Ela sabia que, embora não demonstrasse, ambos estavam satisfeitos com o fim de seu namoro com Daiki. "Não se deixe abalar. Mantenha a cabeça erguida e o orgulho intacto. Não se abata por quem não te valoriza", foram as palavras de seu pai antes de sair para a escola.
A armadora estava exausta. Não havia dormido nem por um segundo na noite anterior. Seu quarto parecia sufocante, cheio de lembranças que dilaceraram ainda mais seu coração partido. Por que Aomine não podia ser como os outros garotos? Não precisava ser completamente diferente, apenas mais romântico, mais sensível e sem toda aquela arrogância. Ela mesma seria menos assertiva com ele se ele fosse menos agressivo com ela. Se Aomine fosse diferente...
Não. Foi exatamente por ele ser do jeito que era que ela se apaixonou, mas sua arrogância era insuportável. Sempre detestou pessoas prepotentes e aguentou muito de Aomine apenas por causa do amor que sentia, mas sua altivez a irritava. Não gostava de vê-lo desprezar seus adversários e humilhá-los. Já detestava isso quando era contra qualquer outro time, mas sua repulsa era ainda maior ao vê-lo jogar contra Seirin e Kaijo no Intercolegial. Nunca ficou tão enjoada de assistir ao namorado jogar.
S/N entrou no prédio com uma expressão neutra, sem prestar atenção às pessoas ao seu redor. Estava perdida em seus pensamentos enquanto se dirigia ao armário de sapatos. Nem sequer ouviu Satsuki a cumprimentando enquanto entrava na academia. Momoi ficou intrigada com a amiga a ignorando, sabendo que ela só faria isso se estivesse completamente absorta em seus pensamentos, então decidiu se aproximar. S/N continuou sua tarefa sem dar atenção a nada, apenas parou quando Momoi a deteve e a colocou em seu campo de visão.
Os olhos inchados e avermelhados pelo choro e pela falta de sono alarmaram a estrategista do time de basquete, que demonstrou surpresa com a aparência da amiga. S/N desviou o olhar, pedindo mentalmente para que Momoi não dissesse nada, mas a garota não captou totalmente a mensagem.
— Foi o Dai-chan, não foi? — Momoi perguntou, recebendo apenas um aceno de cabeça confirmativo.
Momoi suspirou, sentindo-se penalizada. Ela, mais do que ninguém, sabia o quão complicado era lidar com Aomine. Ver S/N daquele jeito a fez sentir-se culpada, afinal, fora ela quem ajudou os dois a se juntarem e formarem um casal. Momoi tinha esperança de que S/N seria capaz de fazer Aomine melhorar, mas, aparentemente, não foi o caso. A garota teve ainda mais certeza da gravidade da situação ao notar a ausência da aliança no anelar de S/N quando esta afastou uma mecha de cabelo do rosto.
— Não vou te forçar a contar nada, Ok? — disse Momoi, e S/N sorriu agradecida, recebendo um abraço caloroso da garota, correspondendo instantaneamente ao gesto. Realmente estava precisando daquilo. — Sempre que precisar, pode contar comigo.
— Obrigada, Satsuki. — S/N se afastou da amiga, que logo foi para o seu armário com um sorriso gentil.
— Ahn... Eu sei que neste momento não quer saber do Dai-chan ou do basquete, mas... — começou Momoi, já antecipando uma possível reação negativa da amiga. — Por favor, não me olhe assim. Eu só queria que você fosse ao jogo contra Seirin hoje.
— Ah, não sei não, Satsuki. — S/N alegou séria, sem muita convicção.
— Estou te pedindo isso porque eu também estarei lá. Não jogando, claro. E tem a promessa do Tetsu-kun. — Momoi acrescentou, terminando de trocar de sapatos e guardando os seus no armário.
— Promessa do Kuroko-san? — S/N olhou confusa para a amiga. Não entendia o que uma coisa tinha a ver com a outra, então ela decidiu esperar.
— Sim, por favor, apenas vá. — Momoi pediu, e S/N suspirou com os olhos fechados. — Tenho a impressão de que as coisas vão mudar hoje.
— Está bem, mas quero deixar bem claro que vou por você e se eu conseguir ser liberada do treino de hoje. — S/N disse assim que pararam em frente à sala de Momoi.
Ao olharem para dentro, S/N pôde avistar claramente o ex-namorado, sentado na última carteira da segunda fileira, próximo à janela. Aomine também dirigiu seu olhar para ela no mesmo instante em que ela o fitou. A tensão no ar era palpável, e Momoi ficou pronta para intervir caso um deles resolvesse explodir. A rosada conhecia o temperamento dos dois: S/N era tão obstinada e impulsiva quanto Aomine.
Ao ver S/N parada na porta de sua sala, Aomine sentiu seu coração bater mais forte do que nunca antes. Ele não conseguia decidir se estava feliz ou incomodado com a presença da garota. Sempre gostara das aparições dela. Ex-namorada. Ainda não estava acostumado a estar solteiro novamente.
"Espero que Kuroko-san e Kagami-san esfreguem uma vitória merecida na sua cara para deixar de ser estúpido."
Lembrar novamente daquela frase fez uma veia saltar em sua testa. Como ela teve a audácia de dizer aquilo para ele? Aomine desviou o olhar na hora, sentindo uma onda de raiva que até lhe causou uma pontada no pescoço tenso. S/N também desviou o olhar da mesma forma, com duas veias saltadas e uma careta de raiva. Nem mesmo conseguiu se despedir de Momoi, simplesmente saiu pisando firme em direção à sua sala de aula.
'Afinal eles sim são os melhores jogadores de basquete que já vi... pelo menos melhores que você. '
Outra veia saltou na testa de Aomine. Isso era inadmissível, Tetsu nunca seria melhor que ele. Nem mesmo sabia arremessar a bola. E Kagami, nem se fala, uma luz fraca como a dele jamais poderia ser tão forte quanto a sua.
— Dai-chan? — Momoi chamou assim que se acomodou na carteira à frente de Aomine.
— Nem vem, Satsuki. – Momoi estacou no lugar, enquanto Aomine não dirigia o olhar para a rosada. Ele apenas continuou olhando para qualquer coisa do lado de fora da sala de aula.
***
A palavra "derrota" nunca esteve no vocabulário de Aomine Daiki, mas ela foi enfiada goela abaixo por Kuroko e Kagami naquele dia, assim como S/N havia dito. A vitória da Seirin era amarga demais. Ele se consolava com a reconciliação com Kuroko, mas ainda assim, ver a Seirin comemorando doía muito. E essa derrota não era o único golpe em seu ego inflado.
Mais uma vez, a frase de S/N da noite anterior ecoou em sua mente, e seus olhos arderam. Ela estava certa, S/N estava certa. Kagami e Kuroko foram melhores do que ele no basquete. Admitir isso era doloroso, um golpe para o seu orgulho já ferido.
Depois de cumprimentar o time adversário junto com o seu, Aomine se apressou para o vestiário, trocou de roupa às pressas e saiu antes dos outros, com sua mala na mão esquerda e o casaco azul-marinho vestido. Foi quando ele se deparou com S/N parada no corredor.
Ela ainda estava usando o uniforme do colégio, apesar do frio do inverno, segurando o casaco nos braços. Parado no lugar, Aomine sentia seu estômago revirar só de olhar para a ex-namorada. Era um turbilhão de sentimentos que o atormentava; a última pessoa que ele queria ver naquele momento era ela. Era estranho vê-la encará-lo sem saber o que fazer, desconfortável.
— O que você está fazendo aqui? — Aomine perguntou, sem esconder o desconforto.
— Vim assistir ao jogo. — S/N respondeu, desviando o olhar, visivelmente desconfortável.
— Não preciso que venha torcer por mim. — Ele retrucou, mais para atingi-la do que por convicção, mas percebeu ao vê-la revirar os olhos.
— Sua prepotência não some nem mesmo depois de uma derrota, não é? — S/N perguntou, após a provocação, observando uma veia saltar na testa do rapaz. — Vim porque a Satsuki me pediu, e pelos senpais, não por você.
"Claro que ela não viria por mim, ainda mais depois de quase ter me acertado com toda sua mobília." Aomine pensou, magoado, ao ouvir a resposta.
S/N desencostou da parede e se aproximou do jogador. Ele deu um passo para trás, receoso do que poderia fazer. S/N não se fez de rogada e continuou avançando. "Por que estou me sentindo intimidado por uma garota quase metade da minha altura?" Pensou Aomine, então desistiu de recuar. Os dois mantiveram o contato visual, com pouquíssimos centímetros os distanciando. O coração de S/N batia forte por tê-lo tão perto, mas ao mesmo tempo tão distante.
— Mas você jogou bem. — S/N acrescentou, mantendo o olhar sério.
— Não o suficiente. — Rebateu rude.
— Isso é óbvio. — S/N devolveu no mesmo tom. Aomine apenas fez uma careta raivosa e apertou o punho com força.
— Você só pode ser uma bruxa, não é? — Aomine disse em puro deboche e S/N o olhou sem entender, franzindo a testa ao mesmo tempo que dava um passo para trás. — Me amaldiçoou para que eu perdesse hoje. É uma praga!
— Como é? — S/N bufou.
— Isso! Essa é a única explicação que eu encontro. — Aomine esbravejou, gesticulando enquanto S/N o olhava, horrorizada.
Como assim ele tinha a audácia de chamá-la de bruxa? "Eu não acredito que reconsiderei falar com ele para ouvir isso?!" Pensou S/N.
— Você é mesmo um estúpido, Aomine Daiki! — S/N exclamou, espalmou suas mãos no peito do rapaz, deixando seu casaco cair no chão enquanto Aomine cambaleava para trás. — Quer saber! Não sei por que ainda tenho esperanças de que você tome jeito. Foi bem feito que tenha perdido! Só sinto muito que os veteranos tenham que passar por uma derrota em seu último ano por culpa do seu egoísmo.
Aomine crispou os lábios, queria responder, mas novamente não encontrava palavras. S/N também não esperou por qualquer resposta que ele pudesse dar, abriu a porta do vestiário e entrou para cumprimentar a todos pelo jogo, deixando um silencioso e irritado Aomine para trás. Não tinha mais jeito. Mesmo perdendo, Aomine não baixava a crista, e isso partia ainda mais o coração de S/N.
***
S/N não acreditava o quanto tinha ficado explosiva naquele momento. Deixara seu casaco cair, esquecendo-se completamente de pegá-lo de volta. Ao retornar, não o encontrou mais. Procurou pela peça de roupa com Momoi e Wakamatsu, mas sem sucesso.
"Ainda bem que o Wakamatsu é prevenido. Quem diria que ele tinha duas blusas?" pensou, ao adentrar seu quarto.
— Vou devolver amanhã e tomar cuidado para não perdê-lo. — Olhou para o tecido. — Agora, por causa disso, terei que ir ao ginásio no treino dos rapazes.
"Espero que ele não esteja lá," pensou.
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