Era domingo, quando chegamos em casa às quatro da manhã sem nenhum objetivo de vida além de encontrar uma cama para dormir, eu nem pensei muito, eu estava meio bêbada e tudo que eu lembrei antes de cair no sono foi que eu queria muito sonhar com Kim Taehyung. Eu não sonhei, mas tudo bem, para quê sonhar se eu posso estar com ele na realidade. Vamos ser positivos!
No outro dia eu acordei bem, ainda mais feliz do que quando fui dormir, eu tenho muitos privilégios na vida, devo admitir, mas um deles é meu preferido: não ter ressaca. Enquanto todas as outras pessoas ficavam com dor de cabeça, olhos sensíveis e estômago embrulhado — o que para meus amigos não é de se estranhar, não fizemos uma festa hiper agitada mas bebemos pelo menos metade das bebidas que Taehyung tinha no freezer, isso no espaço da meia noite até às três da manhã. Conversei com o pessoal do grupo e fora eu, Lisa e Jimin todo o resto estava praticamente em estado vegetativo. Jennie praticamente me bateu quando tentei abrir a porta do quarto dela e uma mínima claridade entrou, então eu nem ousei chegar perto, e Rosé estava com tanta dor de cabeça que precisou de dois comprimidos para dor, e Lisa quem teve que a levar para casa, por que ela disse que seus olhos estavam embaçados. Então só sobrou eu naquela casa enorme e vazia. Dalgom apenas estava deitado ao lado de Kuma, que a mãe de Jennie trouxe, já que os cachorros de Nini ficavam na casa dela, por ter mais espaço para os dois, mas frequentemente ao menos Kuma ia parar em nosso apê e a dona dele estava muito ocupada com sua sensibilidade à claridade então eu tive que atender a porta e bater um papo com a senhora Kim, ela me adora porque acha que eu sou uma boa influência para Jennie, então foi até divertido. Mas ela também se foi e eu apenas fiquei jogada no sofá assistindo Disney e chorando a cada maldito filme.
Fun Fact: eu choro, tipo, muito mesmo com animações. Por exemplo, quem chora assistindo Barbie e o Castelo de Diamantes? Eu mesma.
Então digamos que eu chorei a tarde toda, sem pausa e com uma tigela de pipoca de microondas de chocolate no colo. Chorei tanto que Jennie me mandou mensagem perguntando se deveríamos ir ao hospital ou eu só precisava de um psiquiatra. Durante o dia foi incrivelmente fácil me manter ocupada, eu adiantei algumas coisas pra faculdade lá pelas cinco da tarde e depois fui tomar meu banho, Jennie levantou somente às dezenove horas, quando teve certeza de que poderia se expor a luz sem queimar as retinas ou algo assim, eu fiz frango xadrez com espaguete e salada de rúcula (sim, eu sei que é amargo, mas eu adoro!), que era a melhor coisa que eu sabia fazer sem queimar ou estragar nada. Era engraçado como eu sabia fazer coisas mais elaboradas na cozinha, mas nunca em toda minha vida soube fazer um arroz que não ficasse parecendo uma perfeita massa de tteokbokki.
Por fim, Jennie saiu de casa, iria encontrar com o namorado, as coisas não pareciam tão legais assim entre eles, provavelmente teriam aquela conversa. Mas Jennie Kim é de lua, então eu nem me preocupo mais. Voltei ao meu quarto com uma caixa de leite de morango e li meus emails, não tinha nada novo mas eu gostava de checar toda noite. E aí entrei num abismo sem fim que é a internet, saindo do Instagram para o Twitter repetidamente nessa ordem, e em minha passagem pelo Instagram vi uma foto de Taehyung, Jungkook e Jimin, eles estavam na casa do moreno, provavelmente de ontem e a partir daí foi só ladeira abaixo. Como eu disse, durante o dia é fácil de se manter ocupada, mas a noite é quando as coisas acontecem. Basicamente eu passei a noite toda rolando pelo feed do Instagram de Taehyung, pensando que agora um dos melhores amigos dele sabia e eu estava com meu segredo por um fio, isso se Jimin já não tivesse contado tudo. Eu tinha afastado tudo isso da cabeça durante a tarde, porque sabia que poderia facilmente cair em uma pilha de pensamentos e acabar achando problemas onde não tinha, mas no escuro da noite é simplesmente impossível não olhar para o teto e ver uma miragem da sua vida. Droga. Eu não tinha nem um plano para caso minha hipótese fosse real, então quando minha cabeça estava cansada demais para pensar aproveitei a oportunidade para fixar em meus pensamentos de forma positiva que ele não tinha contado. Mesmo que eu mesma não acreditasse nisso.
No fim, foi uma noite horrível, só consegui pegar no sono a uma da manhã e no outro dia acordei como se dormir não tivesse sido uma opção para mim. Eu sou uma pessoa metódica, preciso de um certo tempo de sono para conseguir dar o meu melhor em um dia e graças a deus eu não tinha nada tão importante para fazer na faculdade, então aproveitei essa oportunidade e reuni minhas forças restantes em apenas uma missão: achar Park Jimin. Era incrível como ele e Jungkook nunca mais saíram da fase de se esconder dos amigos para dar uns amassos, eu rodei a faculdade de dança inteira com ajuda da Lisa e não encontrei nem rastro daquele loiro. No almoço, por incrível que pareça todo mundo se reuniu, isso raramente acontecia na faculdade por que sempre tinha alguém que tinha um horário diferente, mas infelizmente nem com esse milagre acontecendo eu encontrei Jimin. Mas Taehyung estava lá, e pelos meus incríveis conhecimentos de leitura corporal eu iria descobrir se ele sabia de algo. Nós conversamos, eu fiz perguntas normais sobre ele e seu dia, e por mais interessada que eu estivesse — e eu realmente estava — eu precisava saber sobre Jimin e todas as possíveis palavras que aquela boca bonita que ele tinha podiam dizer para Taehyung.
— Então, falou muito com o Jimin? — Meu deus, que tipo de pergunta estranha. — Sabe, ele dormiu lá e tudo.
Taehyung ergueu as sobrancelhas com tal pergunta repentina e esquisita. Ele estava sentado ao meu lado no refeitório e nem a presença intoxicante dele me fazia esquecer completamente o assunto inacabado que eu mesma tinha criado. Bem, não completamente.
— Ah, na verdade sim, ele ficou a tarde de domingo lá em casa. Foi divertido, Jungkook tentou fazer panquecas para a gente, mas ele errou ao menos umas três antes de acertar no ponto. — Contou e soltou uma risadinha, e eu sorri junto a ele. É simplesmente inevitável.
— Hey! Ele é um chefe subestimado! — Brinquei ao defender meu amigo, mesmo que ele agora fosse um traíra que preferisse o namorado aos amigos. Traidorzinho.
E novamente eu entrei em uma conversa paralela com Taehyung, olha eu juro que eu tentava manter meu foco mas a tentação de escutar ele falar mais de seu dia e sobre ele mesmo era muito grande, e eu não conseguia resistir. Talvez Taehyung fosse lerdo ou apenas ignorasse meu olhar, ou pensasse que isso fosse o meu normal, mas eu ficava grata por essas opções por que eu não saberia reagir se ele perguntasse o por quê de eu ficar olhando para ele como se ele fosse uma lua cheia em um céu estrelado numa noite de verão enquanto eu era um cientista da nasa.
Veja bem, primeiro eu gostei de Taehyung pela aparência dele, eu admito isso, a aparência sempre é a chave para o começo, é a atração pela pessoa, sabe. Cada um se atrai por belezas diferentes, e Taehyung era meu tipo ideal de beleza, mas eu tento evitar ser superficial e não dei tanta atenção a isso, fora que eu não tinha vontade de entrar em um relacionamento e não consigo ser o tipo de pessoa que fica e depois vai embora, então quando percebi que gostava dele sabia que eu não conseguiria simplesmente deixar isso para trás. E fora a aparência dele eu percebi o quão bonito ele poderia ser por dentro, sem trocar muitas palavras com ele eu o via conversar com nossos amigos, como ele falava de sua avó com todo o carinho em sua voz, como sentia falta dos pais que moravam em outra cidade, e como sempre mantinha seu sorriso bonito no rosto. Taehyung era bom, bom demais para ser verdade, seria uma ótima frase para ele.
Perdi meu ponto quando Taehyung começou a falar que tinha um cachorro que tinha ido para a casa de sua tia com sua mãe no dia da festa, e depois disso eu também falei sobre Dalgom e a conversa a seguir foi compreensível somente para pais e mães de pets. Conversamos tanto sobre que quando deu o horário para a minha próxima aula eu considerei fingir que ela não existia somente para continuar a conversa, mas eu lembrei que a minha próxima aula seria conjunta com o pessoal de música, e adivinha quem faz música? Bom boa parte dos meus amigos, mas a questão é que eu estou focada nesse momento no namorado de um certo alguém. Se eu não encontrasse Jimin, ao menos Jungkook devia servir de alguma coisa. E ele estava lá! Com uma expressão chateada típica de quando não estava com Jimin. Céus, eles eram tão grudados que até me senti diabética. Mas mesmo com os altos níveis de glicerina eu corri para me sentar ao lado dele, que nem notou meu empenho, estava preso em sua nuvem deprimente de amor.
Deus se um dia eu e Taehyung namorarmos, não permita que eu haja assim.
— Jungkook. — Eu chamei, visto que ele nem notou minha presença, e se notou estava emo demais para dizer algo.
Basicamente Jungkook era a pessoa mais emo, dark, trevosa e vampira das trevas quando Jimin não estava por perto, lembro até hoje de quando Lisa brincou dizendo a ele que era só uma fase e ele ficou sem falar com a tailandesa por dias. Uma fase permanente eu diria. Já Jimin era aquela coisa iluminada e saltitante que fazia meu amigo ver o lado brilhante da vida, então eu realmente não me importei com sua atual apatia. Antes de Jimin ele costumava ser pior.
Ele respondeu sem me olhar e em tom baixo, sem muita vontade, apenas com um aceno de cabeça. E esse moleque poderia ser o próprio Lúcifer, mas ele ainda me deve respeito, então ele nem conseguiu desviar quando eu desferi um tapa em sua nuca, que aparentemente o fez acordar de sua nuvem própria e me olhar com olhos arregalados e colocar a mão por cima de onde eu bati. Eu tinha uma mão pesada, mas eu nunca bateria nessa criatura para machucar de verdade.
— Noona? — Ele proferiu meio indignado pelo tapa, eu costumava repreendê-lo bastante antigamente, mas então ele começou a ter algo com Jimin e eu confiei o adestramento a ele, então era normal a sua surpresa.
Mas mesmo com aqueles olhos grandes me olhando e meu objetivo principal, eu ainda não tinha esquecido que ele praticamente me ignorou durante esses últimos meses.
— Você! — Exclamei e ele rapidamente se encolheu na cadeira, porque sabia que eu usava esse tom quando estava brava.
Seria engraçado ver um cara de mais de um e setenta se encolher na cadeira para uma menina de um e sessenta e dois, a vida tem dessas.
— Eu não fiz nada. — Ele murmurou, já cruzando os braços.
— Será que não Jeon? E aquele meme que eu te mandei a dois meses e até hoje você não visualizou? — Questionei e ele sorriu amarelo, fingindo achar graça, mas eu sabia que esse pivete sabia do que eu estava falando. — Jungkook você me deu um vacuo! — Soltei indignada.
— Veja bem, se eu nem cheguei a visualizar não pode ser considerado como vácuo. — Se defendeu.
— Então você sabia que estava lá?
— Não!
— Não? — O encarei de olhos semicerrados e ele engoliu em seco.
— Sim…— Escorregou mais uma vez na cadeira.
A partir disso eu dei um sermão muito grande nele sobre responsabilidade e até usei a icônica frase do pequeno príncipe: você é responsável por tudo que cativa. Jungkook não falou nada porque sabia que estava errado, eu até poderia estar sendo um pouco dramática mas Jungkook realmente andava preso demais na bolha que ele construiu com Jimin e eu até entendo que relacionamentos no começo são sempre assim, mas eu não estava acostumada a não ter essa criança por perto, então esse era o meu jeito de dizer: "volte para minha vida, sinto sua falta" e espero que ele tenha compreendido. Depois de tudo isso o professor chegou, o professor Choi sempre se atrasa nas aulas dele, é impressionante, acho que eu deveria começar a chamá-lo de Kakashi Sensei em vez de Senhor Choi.
No fim da aula eu estava livre até mais ou menos uma hora e nisso encontrei a oportunidade perfeita para falar sobre Jimin com Jungkook, porque sabia o horário dele e que ele também estava livre. O destino às vezes é bem conveniente.
— Preciso falar com você, sério.
— De novo? Duas vezes em um dia, Noona tenha dó. — Choramingou e eu ri de sua expressão, logo indo para o seu lado com meus livros, começando a caminhar lado a lado.
— Agora é diferente… eu queria falar sobre o Jimin. — mordi meu lábio inferior, pois meu coração estava acelerado só de pensar que Jimin pudesse ter dito alguma coisa, e agora eu estava ainda mais próxima dessa alternativa.
— Quer falar sobre o Jimin ou sobre o Taehyung? — Jungkook soltou isso rápido demais e eu não estava pronta, então foi inevitável o choque. Eu não cheguei a cair ou me engasgar como nos filmes, mas meu coração com certeza deu um duplo carpado.
Eu tomei uma grande quantidade de ar e não conseguia formular uma resposta ou pergunta ou qualquer coisa que fosse para continuar aquela conversa, eu estagnei no meio do corredor.
— Noona? — ele chamou, mas eu não respondi — Noona? O que foi? — Mas apesar de ouvir eu não conseguia mais distinguir e entender o que ele estava dizendo, por que eu só pensava em uma coisa. Jimin contou. Jimin contou, a droga ele contou.
Isso piscava em letras vermelhas néon dentro da minha cabeça, e posso apostar ter ficado branca dos pés a cabeça, Jungkook me chamou mais vezes mas dessa vez eu não escutei direito, mesmo que estivesse vendo ele mexer a boca e gesticular na minha frente. Eu pensei em Taehyung e meu coração acelerou, senti meus pulmões queimando e Deus, eu posso jurar que o mundo está girando agora.
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