A Maldição da Desistência
"Não há finais felizes se todos são obrigados a recomeçar o triste início que os levou até ali, e se não possuem o livre arbítrio para decidir se querem ser um herói ou um vilão. A loucura de reviver esses momentos repetidamente pela eternidade, mesmo os momentos bons, é o que transforma um conto de fadas em uma história de terror."
Quando a primeira rachadura foi encontrada, parecia uma crise fácil de se resolver. A barreira mágica nunca foi vista como uma prisão propriamente dita, porque ela não os impedia de sair tanto quanto impedia as outras criaturas de entrar, mesmo que a maldição se encontrasse do lado de cá. E, por falar em maldição, a mesma já havia se tornado parte de Eventyr com tamanha força que os mais novos não sabiam que havia um mundo sem ela, crentes de que era a ordem natural das coisas, e que seus destinos dependiam daquilo. Era apenas uma rachadura fácil de controlar.
A segunda rachadura estremeceu as Terras Encantadas como um todo, mas os estudantes da Red Hearts College estavam dormindo, acostumados com as inconstâncias das noites na fronteira com o País das Maravilhas, e pouco se impressionaram com os tremores, alheios ao que estava por vir. A universidade fundada pela Rainha Iracebeth era um lugar seguro, o lugar perfeito para formar jovens adultos a salvo do crescente desespero que estava tomando os outros reinos de Eventyr, tudo que eles tinham que se preocupar era o baile de inverno, as provas e, mais tardar, a cerimônia que decidiria o destino deles baseados em seus legados como filhos dos maiores heróis e vilões de contos.
A terceira rachadura, acompanhada da abertura de algumas passagens na barreira mágica, já não era mais um aviso, e sim um anúncio de guerra. Finalmente Terras Encantadas e Terras Humanas conseguiam se enxergar e, quando os primeiros humanos pisaram em Eventyr e vice-versa, o motivo foi puramente curiosidade: havia algo em chamativo em descobrir que as histórias contadas por seus pais eram mais reais do que aparentavam, assim como havia certa liberdade em não estar preso a um conto infinitas vezes, podendo simplesmente explorar o mundo mais uma vez, como uma pessoa quase normal.
Infelizmente, a curiosidade não dura muito, e da mesma forma que agora ambos podiam se ver, eles também podiam se atacar, e logo os humanos foram tomados pela ganância, e principalmente, pelo medo de existir alguém mais poderoso, que tivesse o que eles queriam: a vida eterna. Não era mais uma crise fácil de se resolver, mas sim uma batalha que acabaria em sangue de ambos os lados, e como em toda guerra, era sangue inocente. Diversas fadas, feiticeiros e magos se juntaram para restaurar a barreira que os protegia, mas não houve solução.
Eles tinham duas escolhas: se entregar de livre e espontânea vontade, em um acordo que protegeria seus filhos mas que provavelmente os matariam, ou lutar o quanto pudessem. Então eles lutaram, e lutaram até cair.
E caíram porque suas terras e números eram menores, porque os humanos tinham mais sede de sangue e armas mais tecnológicas, e principalmente porque, no fim das contas, os encantados tinham muito a perder e lutavam com medo, e por isso foram vencidos, levados presos um a um, para serem estudados, como animais de laboratório.
A magia parecia tê-los deixado, no momento em que mais precisaram.
Ou assim eles pensavam, porque ainda havia esperança, e ela residia em sua prole, protegida de tudo e de todos dentro da Red Hearts College.
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